In My Head escrita por IsabelNery


Capítulo 20
Outra guerra?


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem!



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P.O.V. 3ª Pessoa

— I’m scared! (Estou assustada) – Foi a primeira coisa dita por Isabelle quando caíra no meio de uma selva escura e chuvosa, com bastante verde e repleta de insetos estranhos. A situação se tornara um pouco mais complicada, pois a única palavra que Tyler compreendia em português era "obrigado", o que fazia com que a brasileira tivesse que falar em inglês o tempo todo, ela sentia saudade da língua portuguesa e de Filipe.

— I know, I know, but don’t worry, I’ll take care of you. (Eu sei, eu sei, mas não se preocupe, eu vou tomar conta de você) – Tyler disse, ele não sabia o por quê, mas ela lhe lembrava bastante de Mary, sua irmãzinha, e isso tornava tudo mais doloroso ainda. Contudo, ele sabia que não podia ficar lá, parado, com fome. – Follow me, can you walk? Cause if you can’t, I’ll carry you. (Me siga, pode andar? Porque se não puder, eu lhe carrego) – Tyler perguntou, ela havia se machucado na queda do buraco negro que não durou nem cinco segundos. As costas de Isabelle doíam e ela possuía um leve corte na testa, mas estava bem, ao menos fisicamente. Ela não respondeu, continuava em estado de choque.

— Ok, then. (Ok, então) – E a colocou nas costas. Andaram por um longo tempo, na verdade, Tyler andou e, por várias vezes, correu quando viu um animal estranho. A chuva não cessava nunca. Ao longe, ouviam-se bombas, o americano estava indo na direção oposta ao som das mesmas. Eles caíram na armadilha. As bombas eram lançadas à esquerda para que as “vítimas” fossem para à direita, onde o exército esperava. A armadilha não era para eles, e sim para o exército inimigo, estavam no meio de uma guerra, mais uma delas, e foram pegos. Tyler não era muito esperto, mas não era nada burro, ligou os pontos, sabia onde estava, e todo o resto de esperança que tinha se esvaiu. Seu queixo caiu, seus olhos arregalaram e Isabelle o olhava assustada enquanto eram carregados por três soldados com vestimentas verde. – “What?” (O quê?) – A brasileira fez o movimento com a boca. – Vietnam (Vietnã) – Respondeu com outro movimento labial sem emitir sons e a deixou com a mesma cara de espanto que possuía. Ao longe, as bombas eram ouvidas e, pela primeira vez em 48 horas, Isabelle chorou.

E, então, tudo mudou e nada mudou. Tyler sabia que o melhor que lhes podia acontecer nas mãos daqueles homens era a morte, ele não queria nem imaginar as outras terríveis possibilidades. Ele não aguentaria que matassem aquela garota, seria mais doloroso ainda, outra irmã morta, então ele bolou um plano. Em cerca de 10 segundos, tudo havia mudado para Tyler, mas a situação era a mesma, por enquanto. Seu cérebro nunca trabalhara tão rápido e, pelos seus cálculos, só teria 3 segundos, talvez menos. Ele deu uma forte cotovelada nos homens que o seguravam e eles foram para o chão. Logo em seguida, deu um chute na cabeça do soldado que segurava Belle, esta despencou e rolou para o lado, estava atônita. Os outros dois primeiros soldados se levantaram, mas Tyler já havia pegado a arma do que segurara Belle e disparou em todos os três soldados ali presentes.

Foi mais ou menos um minuto depois de continuar batendo furiosamente nos corpos dos soldados ensanguentados que Tyler percebeu uma coisa. Ele não estava batendo neles só porque lhe carregaram para uma possível morte ou tortura, ele estava batendo neles porque eles carregaram Belle, e ninguém podia mexer com sua família, era impossível olhar para ela e não ver Mary. Estava batendo para vingar a morte de Michael, para ele, não bastava que o governo a vingasse, sempre lhe faltou um pedaço, e agora, esse pedaço tinha 1% de preenchimento. É loucura pensar assim, mas essa história nunca foi normal, não é mesmo?

Enfim, a brasileira estava chorando muito, de novo. Foi o seu choro pela primeira vez que ativou a sede sanguinária de Tyler, e o mesmo choro parou-a. O americano deixou os corpos de lado, mas trouxe consigo as armas e uma Isabelle chorosa em seus braços, ela era tão leve, só tinha 13 anos. Caminhou pela vasta selva e, em meio a isso e ao som dos tiros que nunca cessavam ela parou de chorar, até pediu para andar. E assim, foram atrás de comida. Mas no meio do caminho ela parou de andar.

— Eu não aguento mais isso. – Murmurou enquanto enxugava com o dorso da mão as gotas de suor que brotavam em sua testa pelo abafado.

— What? (O quê?)

— I CAN´T HANDLE THIS ANYMORE! I wanna die, give me that one (EU NÃO AGUENTO MAIS ISSO! Eu quero morrer, me dê aquela) – Falou apontando para a arma.

— Oh, do you mean this? (Oh, você quer dizer isso?) – Tyler jogou as armas no chão e pisou em cima delas até quebrá-las. – Ok? That is enough, get up, get up now, we will find food and a safe place to stay, ok? So, just follow me and don’t give up, cause if you do, Filipe will kill me, and I’d rather to be alive even with everything. (Ok? Já foi suficiente, se levante, se levante agora, nós vamos achar comida e um lugar seguro para ficar, ok? Então, apenas me siga e não desista, porque se você desistir, Filipe vai me matar, e eu prefiro ficar vivo mesmo com tudo isso) – Deu uma pausa e falou bem baixinho, quase inaudível. – I’m not ready to meet Michael yet. (Eu não estou pronto para encontrar Michael ainda)

— Ok, I’m sorry, let’s find food. (Ok, me desculpe, vamos encontrar comida) – Belle sorriu como se não quisesse se matar há um minuto e eles começaram a caminhar pela selva se esquivando dos animais. Conversaram bastante, principalmente quando se deram conta de que antes dessa missão, só haviam se falado raríssimas vezes, mas não se lembravam de nenhuma. Apesar de tudo, eles conversavam apenas para tentar – mesmo sem conseguir – esquecer a preocupação, de Tyler para com Rosa, e de Isabelle para com Filipe. Tyler roubou comida de um grupo de soldados acampados, mas um deles lhe viu. Ele correu para junto de Isabelle e os dois escalaram uma árvore. Os tiros continuavam, os soldados os procuravam, e isso durou toda a noite, bem, pelo menos comeram em cima da árvore. E, como se fosse possível, a selva ficou mais perigosa ao anoitecer. Por incrível que pareça, a brasileira queria estar de novo naquela aula de ciências, sem ter ofendido o professor, queria muito ver a peste, queria ver Charlie também, mas não sabia o que iria lhe dizer, e ainda tinha pesadelos com os rostos cinzas. Agora era mais que certo, odiava essa cor.

— Just sleep, thats all we have to do to go back. Shh, just listen to the night and sleep. (Apenas durma, é tudo que temos que fazer para voltar. Shh, apenas escute a noite e durma) – Tyler susurrava para Isabelle, só queria que aquele pequeno corpo se acalmasse, mas não fazia ideia que a mente dela estava a mil, e é claro, com mil arrependimentos, algumas lágrimas caíram, mas ela enxugou rapidamente.

— When we come back, would you study Portuguese? It is not a cool language, I don’t like it so much, but it’s my native  tongue. (Quando nós voltarmos, você estudaria português? Não é uma língua muito legal, eu mesma não gosto muito, mas é minha língua nativa) – Os dois riram.

— Of course, I promess, I will talk Portuguese better than you. (Claro, eu prometo, vou falar português melhor que você)

— Ha, ha. – Deu uma pausa e analisou o local pela décima vez, o galho em que estavam era encoberto com folhas, e vez ou outra matavam algum inseto estranho perto deles. Sentada de lado e com os pés balançando, ela não estava muito desconfortável, mas podia estar melhor, apenas tentava ao máximo não lembrar do seu pequeno – Que agora parecia gigante – medo de altura. O vento ali em cima não era forte, e sim frio, o que sempre lhes causava arrepios. A densa folhagem mais alta do que o local onde estavam impedia que uma boa parte da chuva atingesse-os.

— I have an ideia! You sit in there, with the backs on the tree, and I lay down on your leg, what you think?(Eu tive uma ideia! Você senta lá, com as costas na àrvore e eu deito na sua perna o que acha?)

— Ok, let’s try. (Ok, vamos tentar.) – Se arrumaram, e conseguiram ficar confortáveis, apesar de que se Isabelle se mexesse, ela cairia.

— Good night, Tyler. Thank you for everything! (Boa noite, Tyler. Obrigada por tudo) – Isabelle dormiu na hora.

— Good night, Mary. (Boa noite, Mary)– E então, antes de dormir, Tyler fez algo estranho, rezou para um Deus que não acreditava, agradecendo pela nova irmã que não existia realmente.

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Às vezes, quando algum problema ocorre e, mesmo que ninguém diga que a culpa é sua, você não tem mais ninguém para culpar, ou até tem, mas já se assumiu, mesmo que haja a possibilidade de tal culpa não ser sua, entendeu? Às vezes, nos culpamos por coisas que não somos realmente culpadas e, cada um se culpa por um motivo diferente, pode ser apenas a verdade, pode ser um masoquista, etc. Bem, nessas horas, quando a culpa é sua, o mundo parece desmoronar, e você foi a pessoa que apertou o botão vermelho e, tudo que ocorre é o arrependimento: Por que apertei o botão vermelho? Não sei, mas não devia, nem queria, ou será que queria? Enfim, às vezes o mundo parece que vai desmoronar e, era quase assim que Filipe se sentia, pois o seu mundo havia desmoronado milhões de vezes, mas essa vez foi, como dizem, a última gota d’água.

Ele caiu com a cara na areia, mas não quis se levantar e, apesar de seus olhos estarem fechados, lágrimas escorriam pelo seu rosto. Apenas não sentia vontade de sofrer em pé, se podia muito bem sofrer silenciosamente sentado.

— Estàs bien? (Tudo bem?) – Rosa perguntou.

— Si (Sim) – Filipe respondeu levantando. “Pelo menos fisicamente”, completou em sua mente.

— Entonces, bamos a hablar espanõl? (Então, vamos falar em espanhol?)

— Yo no veo por qué no (Não vejo por que não)– A loira olhou ao redor, estavam numa praia, o mar era de um azul brilhante, se estendia por uma imensidão que parecia não ter fim e, após um pedaço de areia, avistava-se uma floresta, mas não daquelas florestas densas e escuras, era até uma floresta “clara”, o sol era escaldante e as árvores pareciam se mover às vezes, seriam pessoas? – Por favor, levantate, creo que hay alguien o algo em el bosque. (Por favor, se levante, acho que alguém ou algo está na floresta) – Filipe ergueu a cabeça, se sentou, passou a mão no rosto para enxugar as poucas lágrimas que ainda cobriam-lhe o rosto, logo em seguida, se levantou e foi para perto de Rosa.

— Donde está? (Onde está?) – Ele perguntou e ela apontou para o meio da floresta, onde as plantas balançavam, Filipe olhou melhor e rapidamente puxou Rosa pelo braço e correu para se esconder atrás de uma grande pedra.

— Que se passa? (O que está acontecendo?) – Ela sussurrou.

— Tienen las personas con pontiagudas lanzas. (Há pessoas com lanças pontiagudas) – Ela assentiu e se abaixou, aquelas estranhas pessoas saíram para a praia, sim, elas carregavam lanças, mas tinha um pequeno detalhe que Filipe não havia visto, elas estavam quase nuas, com suas intimidades cobertas por pequenos panos. – Afinal, que tipo de ilha é essa? – Os dois pensavam, porém lá no fundo da mente de Filipe, uma lembrança vinha se formulando, algo bem distante, mas era só uma hipótese. Entretanto, infelizmente ao longe, eles viram que alguns barcos estavam chegando, os olhos de Filipe se arregalaram e Rosa o olhava assustada, por que ele ficou tão preocupado apenas por uns barcos chegarem?

— Filipe?

— Shh, espera. – Ele olhava atento à cena, quase sem piscar. Dos barcos grandes, saíram pequenos barcos e estes foram até a praia, pessoas com longas e ricas vestes e com perucas chegaram à areia, os nativos se assustaram e ergueram suas lanças, mas logo as abaixaram. Filipe estava em choque, a mesma bandeira estava em todos os barcos, fora ela que confirmara sua teoria. Malditas bandeiras verde e vermelho com o símbolo em dourado. Aquela bandeira que conhecia tão bem, a sua bandeira, pelo menos, do seu país.

— Que se passa? Habla (O que está acontecendo, fala)

— Não pode ser, isso é uma brincadeira de muito mal gosto, o que Deus tem contra mim? – Ele sussurrou para si mesmo, esquecendo-se de falar em espanhol para Rosa entender.

— Qué? Hablas em espanõl, por favor. (O que? Fale em espanhol, por favor)

— Rosa, perdona me, yo no tengo certeza, ma yo creo que estamos em el Brasil. (Rosa, me desculpe, eu não tenho certeza, mas acho que estamos no Brasil) – Já não bastava o buraco em seu coração, agora estava na terra natal dela, de Belle. Ele agora tinha a certeza de que Deus lhe odiava, apesar de não saber o que tinha feito para tal ódio. E Filipe sabia que, por pior que a situação fosse, ali era muito melhor do que sua antiga vida, apenas havia duas coisas ruins mesmo para ele nessa realidade, a primeira era o medo de que seus irmãos fizessem com sua irmãzinha o mesmo que fizeram com ele por anos e anos, e a segunda, era estar sem a brasileira. Se bem que, as coisas ruins eram, na verdade, praticamente a mesma, ele queria proteger uma garota mais nova apenas, cresceu protegendo uma, e agora, se sentia desonrado por não estar ao lado da outra. Contudo de uma coisa ele tinha certeza, quando voltasse, isto é, se voltasse, exporia um a um de seus irmãos, eles foram os culpados, seu pai teve culpa em parte por não estar presente para se defender, mas os irmãos foram piores, afinal, somente uma mente insana levaria um garoto de oito anos para uma boate de strip e o puniria severamente por não fazer o que lhe mandassem lá? Ele não tinha contado essa punição para ninguém, ainda, só imaginava uma parede com cinco cabeças penduradas, os olhos delas arregalados, seus irmãos decapitados, sim, Filipe continuava sanguinário e desejava que se algum dia revesse seus irmãos, que eles sofressem a punição eles mesmos.

— Filipe? – Rosa tirou o português de seus devaneios.

— Hola (Oi) – Ele disse com os olhos ainda no horizonte.

— Què sucede agora? Yo no sé de la historia de Brasil. Y, que acemos? (O que acontece agora? Eu não conheço a história do Brasil. E o que faremos?) – Ele sorriu para ela, a deixando mais confusa.

— Bueno, yo no lo sé, pero voy a averiguarte, sigueme. (Bem, eu não sei, mas vou descobrir, me siga) – E saiu o mais discreto possível, para não chamar atenção dos portugueses, nem dos índios, em direção à floresta.


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Notas finais do capítulo

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