In My Head escrita por IsabelNery


Capítulo 15
Resquícios do Passado


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem!



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P.O.V. Filipe

Quando você é pequeno, seus pais (Isto é, se eles lhe derem atenção) lhe dizem que você não deve falar com estranhos nunca. No meu caso, ou seja, com fome e sede, morrendo de sono e na companhia de três desconhecidos, eu acho correto falar e seguir dois estranhos. Não faço a menor ideia de onde eles vão nos levar e pela cara de Belle, ela vai desmaiar daqui a pouco. Em menos de vinte minutos, chegamos ao que parecia ser uma vila, havia estradas de barro, mais camelos, crianças negras carecas correndo e mulheres com roupas estranhas. Era de um aspecto humilde. Ainda havia sol e bastante areia, que vez ou outra esvoaçava. A única comida que havia era grãos secos e para beber cada um de nós recebeu um gole de água. Acho que todo mundo estava encarando a gente, a maioria com ódio, mas os caras que nós encontramos de azul e verde eram legais. Tudo estava calmo, tranquilo, Tyler até foi brincar com as criancinhas. Ao longe, enxergava-se mais visitantes vindo, mas estavam com feições fechadas e raivosas.

Eles chegaram atirando contra a população indefesa, até mesmo nas crianças. Tyler foi atingido no ombro, Rosa foi mancando até ele e os dois foram se proteger dentro de uma tenda. Belle estava agachada ao meu lado, nós fomos engatinhando até a tenda que os outros dois estavam. A poucos metros da tenda, um dos caras armados puxou Belle pelo braço consigo. Ela foi arrastada gritando e tentando ao máximo se soltar. Corri atrás deles, os outros soldados estavam ocupados demais atirando em outras pessoas, aquele som acabava comigo. Só de saber que cada tiro, era uma vida indo escorrendo pelos corpos, me dava arrepios.

Antes que ele me notasse chutei sua arma para bem longe, atingiu um pouco a sua mão, com a dor, ele soltou Belle. – Corra! – Falei para ela que meio indecisa correu para a tenda. Quando voltei meus olhos para o cara, o miserável tinha uma faca em suas mãos, e antes que pudesse fazer alguma coisa, ele cortou meu rosto. Mesmo com o sangue escorrendo pela minha bochecha, dei-lhe um chute no meio das pernas, ele urrou de dor e eu peguei a faca. Se esse capanga pensa que acabou, está muito enganado, toda a sede de água que eu tinha se transformou em sede de vingança. O cara veio pra cima de mim, me deu vários socos enquanto eu lhe chutava. Até que não suportei e enfiei a faca na sua perna, ele choramingou no chão e eu fui embora. Depois de algum tempo andando, apesar de estar feliz por ter me vingado, eu não sabia para onde estava indo. Ao longe, a voz de Belle gritava – Cadê você? – Espera um pouco, eu já vivi isso! Como é mesmo o nome? Deja vú! Foi isso mesmo, eu não me encaixar na cena, alguém gritando, eu estar feliz e sangrando no meio do deserto. Isso tinha sido meu sonho no último dia de vida normal. É, estou ficando doido. Bom, eu continuei andando para o nada, num calor miserável e morto de fome. É horrível andar em areia, ainda mais quando ela é quente e você está descalço. Quando olhei pros meus pés vi que havia pisado em uma poça de sangue. O nojo me fez vomitar o nada que tinha no meu estômago, mas senti muita pena do homem que morreu, seu corpo estava há poucos centímetros e o sangue o cercava. Saí correndo dali, as lágrimas me acompanharam, vez por outra encontrava outros corpos, até que cheguei à parte da vila que meus "amigos" estavam.

A principio, isto não parecia nem um pouco com a vila que havia conhecido, os homens armados já haviam ido embora, mas o que deixaram foi muito pior do que eu podia imaginar. Foi fácil achar meus companheiros, que haviam sobrevivido, Belle estava tentando ajudar alguns feridos, enquanto Rosa retirava a bala do ombro de Tyler. Antes de me aproximar, Belle me viu e veio correndo me abraçar.

— Obrigada! Muito Obrigada mesmo! Você se machucou? – Eu indiquei minha bochecha cortada. Ela enrolou um pouco de pano no meu rosto e foi ajudar as crianças. Rosa me deu um meio sorriso e pediu para eu segurar Tyler, que estava aos prantos. Ela conseguiu retirar a bala, antes dele quase esmagar minha mão, e enrolamos o ombro dele com um pano. Fui procurar Belle, ela estava chorando no meio dos corpos das crianças, apenas duas haviam sobrevivido. A abracei e ela continuou a chorar no meu ombro, eu não sabia o que fazer. Tyler e Rosa chegaram e se sentaram ao nosso lado com as duas crianças. Dividimos algumas frutas secas que sobraram, mas em pouco tempo todo mundo estava chorando. O que a gente podia fazer? Nada. E mesmo que quando nós dormíssemos fossemos embora dali, aquelas crianças continuariam lá, sem ninguém para ajudá-los. Quantos anos eles deveriam ter? Cinco? Seis? Só podia ter pena.

Esperamos a tarde inteira, mas ninguém veio, polícia, socorros, será possível que ninguém se importava com um massacre?! Só de noite, algumas pessoas chegaram, nem ouviram nada, apenas pegaram as crianças e acharam que NÓS tínhamos feito isto, apenas porque não falávamos sua língua. Tivemos que sair correndo pela areia para fugir deles, quando estávamos suficientemente longe, paramos e sentamos. Fizemos uma espécie de quadrado, para ninguém dormir com a cabeça da areia. Belle apoiou a cabeça nas minhas pernas, eu coloquei a minha nas pernas de Tyler, que colocou a cabeça dele nas pernas de Rosa, que colocou a sua cabeça nas pernas de Belle. Mesmo no silêncio extremo, eu sabia que ninguém estava dormindo, apenas contei carneirinhos, ouvindo o choro das garotas e os gemidos de dor de Tyler. Adormeci depois dos 400.

 

 

P.O.V. 3ª Pessoa

Isabelle foi a primeira a acordar naquele dia, e foi o melhor dia que ela poderia ter no quarto cinza. Na nova porta, havia um quarto com um piano de cauda, um violão, uma guitarra, uma tela de pintura com tintas, uma grande parede de escalada com equipamento, uma esteira e pesos de musculação. Com um pequeno detalhe, com exceção das tintas, das teclas no piano e de algumas partes da parede de escalada, TUDO era cinza. A garota ficou maravilhada com o piano, um amigo tão antigo, desde quatro anos ela tocava. “Seria muita coincidência, ELES que me colocaram aqui, seja lá quem forem, já vem me observando e pesquisando há algum tempo. Será que algum deles também toca?” Ela pensou, mas não aguentou a saudade, aquele ser inanimado, mesmo que cinza era a sua última lembrança da vida antiga, e sempre foi um excelente amigo nas horas ruins. Se sentou e pôs tudo para fora, como era bom tocar de novo, aquelas companheiras de sempre. Quando acabou a primeira música, a porta estava aberta e nela estavam três boquiabertos, que aplaudiram-na, e a brasileira corou.

— Morning, you are also!! (Bom dia, você é incrível!!) - Tyler falou

— Err, Thank you. (Err, obrigada) 

— Belle, porque tu não me dissestes que tocavas? Pois, tocas muito bem! - Filipe disse sorrindo

— Obrigada. – Ela sorriu de volta e Filipe se virou, e em menos de dois minutos ele mesmo se colocou o equipamento de escalada e começou a fazê-la, Rosa foi pintar e Tyler para a musculação, tudo isso ao som das adoráveis músicas de Isabelle. Em menos de uma hora, todas pararam e foram para a porta ao lado ver se tinha comida, infelizmente, não tinha. Dessa vez, Tyler foi tentar escalar com Filipe, mas não tinha tanta habilidade e caiu várias vezes, não se machucou devido ao equipamento. Rosa pintava um lindo pôr-do-sol e Isabelle estava tocando violão em vez do piano, cantava baixinho, mas todos escutavam.

Apesar de serem os melhores passatempos que eles tem, ou que tinham, não podiam ignorar a fome por muito mais tempo. E os esforços físicos dos garotos os cansavam mais ainda. Isabelle voltou ao piano, o quadro de Rosa estava magnífico, ela também recebeu elogios. Filipe inventou de escalar de costas enquanto Tyler corria na esteira, mas assim que o português chegou lá em cima, uma sirene absurdamente alta veio de todos os lados possíveis. Ele caiu, e mesmo com o equipamento, se machucou. Tyler também caiu da esteira, Rosa derrubou tintas no chão (O pouco que sobrara delas) e Isabelle caiu do banco do piano.

— BULLSHIT! (BOBAGEM!)– Tyler gritou ao tempo que a sirene acabava e o mesmo aviso ressoava, na mesma ordem de idiomas. – I’m full of this! Let’s get out of here, NOW! (Estou cheio disto! Vamos cair fora daqui, AGORA!)– Se dirigiu a porta, e acenou com a cabeça para que os outros lhe acompanharem. Passaram no banheiro antes, mas foram correndo, porque estavam com muita fome.

Quando saíram do banheiro, o buraco negro já estava lá. Tyler esqueceu que se pulasse sozinho, iria sozinho para o lugar, e correu em disparada para lá. Sorte a sua que Filipe correu e segurou sua roupa cinza, mas foi puxado junto. Antes do buraco engoli-lo, ele gritou com toda força que pode, e o eco do seu grito pode ser ouvido alguns instantes depois que se foram: BELLEEEE!!!

Isabelle e Rosa correram atrás deles, mas já era tarde, de qualquer forma, pularam juntas, com algumas lágrimas no rosto. A queda durou no máximo quinze minutos e foi tranquila para elas, mas estavam preocupadas com os garotos. Por incrível que pareça elas foram parar no World Trade Center em Nova York. Era a Nova York basicamente atual, mas não foi muito difícil para Belle definir o porquê de estarem lá. Pois as torres gêmeas estavam lá, elas estavam assustadas. Entraram num fast-food e pegaram os restos de comida de uma das mesas. Saíram correndo, mas rindo e um com um pouco menos de fome. Belle até entendia um pouco quando Rosa falava.

— ¿Por qué estamos aquí? ¿Alguna idea? (Por que estamos aqui? Tem alguma ideia?)

— Acho que é 11 de setembro. – E em seguida o primeiro avião veio. Uma dor veio no coração delas, e elas não conseguiam tirar os garotos da cabeça. Os homens começaram a saltar, e tudo que elas podiam fazer era ver e chorar. Tyler não era de NY?

 


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Notas finais do capítulo

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