To Let The World Be escrita por americangods


Capítulo 4
Capítulo 2 - Não




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/12560/chapter/4

Capítulo 2 - Não

“São quantos?” Octopus perguntou enquanto trocava o cartucho de munição de sua arma.

Snake, abaixado, esgueirou-se pela parede da casa abandonada. De onde estavam podiam ver perfeitamente o heliporto, que não passava de uma grande estrutura de concreto no nível do chão para que o veículo voador pudesse pousar e decolar. Falando nesse, ele ocupava quase que totalmente a área de pouso. Era dos grandes, para transporte de carga pesada.

O velho agente não teve problemas em identificá-lo como um CH-47D Chinook, especial para operações de ataque. Possuía dois armamentos de artilharia pesada que dariam muito trabalho se usassem contra o velho e sua parceira caso fosse utilizado contra eles. Ainda havia espaço dentro dele para mais de dez homens. Deveria ser mais ou menos isso que tinha ali, mas Solid preferiu ter certeza para comunicar à Octopus.

“Nenhuma FROG, nove mercenários, a Naomi e...” Ele fez uma pausa, visivelmente preocupado com o que vira. “Vamp...”

“Então os mercenários são o nosso menor problema” A loira comentou, tentando parecer o mais otimista possível.

A jovem deitou no chão e foi se arrastando por detrás de Snake. Colocou a máscara e esperou sentir o leve formigamento pelo corpo todo. Estando agora quase invisível a olho nu, aproveitou a cobertura oferecida pelo canto da casa e posicionou-se para atirar com sua arma.

A posição em que estava a forçou a mudar a mão em que atirava. Com o indicador da mão esquerda acariciando o gatilho da metralhadora, esperou pelo comando da lenda-viva ao seu lado.

“Eu vou acertar o Vamp. Você consegue pegar os três da sua esquerda?” Esperou a garota assentir, então pegou seu rifle M4 e preparou-se para atirar.

Assim como em sua pistola, não havia nenhum acessório no rifle de Snake. Laser, lente, sequer um silenciador. Apenas a pequena elevação circular na parte de cima da arma. O velho respirou fundo, e trancou a respiração. Esperou o pequeno círculo centrar na cabeça do homem de aparência ameaçadora.

A pele branca e os cabelos negros, ajudados pelo sobretudo preto que usava, realmente davam a aparência de um vampiro. Mas Snake não acreditava nessas coisas. Vamp não poderia ser um ser paranormal ou mágico. Esse tipo de coisa fantasiosa não existia. Mas a pequena – ou melhor, mínima possibilidade – disso ser verdade, explicava muitas coisas.

Por exemplo, o fato do romeno simplesmente não morrer. Viu ele levar dois tiros na cabeça há cinco anos atrás e não morrer. E não era só isso. A aberração de sobretudo ainda tinha uma agilidade sobrehumana, sendo capaz de desviar de tiros com a maior facilidade, pular mais alto que qualquer humano ou animal e ignorar totalmente as leis da física e andar sobre paredes.

Octopus estava certa, pensou Snake. Os mercenários realmente eram o menor problema deles. Talvez até as duas artilharias do helicóptero se incluíssem nessa. Só que não restava outra alternativa a ele. Era atirar na cabeça do ser bizarro e torcer para que demorasse a se levantar. Foi o que ele fez. Foi o que aconteceu.

O barulho das hélices do helicóptero ajudaram a encobrir o som do tiro que atingira seu alvo com perfeição. Bem acima dos olhos do romeno um buraco de bala surgiu. Ele girou, como se executasse algum movimento de balé, mas conseguiu recuperar o equilíbrio e ficar de pé.

Virou para os soldados que já estavam no helicóptero, fazendo com que o ferimento escorrendo sangue encarasse cada um deles, e deu uma ordem aos encapuzados. Os soldados trataram de cumpri-la logo, indo até um canto do veículo e pegando algumas seringas em uma caixa. Injetaram cada qual em seu pescoço e correram para fora.

Quando o último deles botou o pé no chão, Vamp caiu para dentro do helicóptero. Agora a única ali dentro era uma mulher de jaleco branco.

Em um frenesi momentâneo, o seu indicador apertava descontroladamente o gatilho da metralhadora. Apesar disso, Octopus conseguia mirar em seus alvos. Os tiros não eram perfeitos, mas acertou diversas vezes as suas três presas.

Percebeu uma leve poeira levantando perto de seu rosto, por sorte não eram tiros, mas sim Solid Snake, que começou a correr em direção do helicóptero ao mesmo tempo em que atirava no restante dos mercenários. Ela não pode evitar de sentir-se preocupada pela manobra quase suicida do novo companheiro, mas forçou-se a acreditar que ele ficaria bem.

Quando se deu conta, não havia mais ninguém de pé naquele campo, com exceção de Snake e Naomi Hunter, que ainda estava no helicóptero. Por um momento pensou que tudo estava perdido ao ver a aeronave se afastar do chão. Mal teve tempo de levantar e ouviu um barulho de cigarras. Ela sabia o que era. Mais problemas.


Em segundos, uma dezena de monstros de metal invadiram a área do heliporto. Eram os Geckos. Suas pernas negras e parecidas com as de animais se esticaram, deixando o tanque bípede de metal há bons três metros de altura.

Todos, sem exceção, voltaram suas armas para Solid Snake, e antes de começar a atirar, produziram um som aterrador que ela não conseguiu distinguir. Talvez um dinossauro, um leão ou até um mugido de vaca. Que por mais engraçado que isso parecesse soar, não era.

Octopus fechou os olhos com força por um momento, eles arderam levemente e começaram a ficar pesados, como se quisessem expressar alguma coisa. Sentindo que lágrimas logo viriam a sair deles, a loirinha se permitiu pensar no pior. Nem Solid Snake sobreviveria a dez Geckos atirando violentamente. A única coisa que restava fazer era deixar a adrenalina e a idiotice tomarem conta de seu corpo e correr na direção do herói. E morrer ao lado dele.

Antes que pudesse ir de encontro a morte, a garota ouviu outro barulho. Dessa vez não era nenhuma maldita cigarra, mas sim uma espécie de estouro. Olhou para trás e viu dois pedaços de grade voando e um APC – veículo blindado de transporte – invadindo o território.

Passou a poucos metros dela e foi de encontro aos Geckos e Snake. Atropelou dois deles, jogando-os ao chão instantaneamente. Começou a frear e derrapou até parar totalmente embaixo do helicóptero. Como se aquilo tudo não fosse bizarro o bastante, viu um pequeno macaquinho cinza sair de dentro da escotilha e começar a brincar e dançar ali.

“Snake! A seringa” Naomi Hunter gritou, chamando a atenção de Snake. Ela injetou em si mesma, tentando fazer o velho imitar o processo. E foi o que ele fez.

Naomi não pensou duas vezes e se jogou do helicóptero, caindo de joelhos em cima da dura superfície do blindado. Os ossos de suas pernas fizeram com que rejeitasse qualquer possibilidade de se colocar de pé. Engatinhou com muito custo até a ponta dele, onde encontrou Snake. Ele fez sinal para que ela se jogasse. Apesar de estar toda dolorida, foi o que fez.

Caiu nos braços dele, se surpreendendo que o corpo velho do agente agüentasse segura-la sem maiores problemas. O grisalho a carregou até a traseira já aberta do veículo e fez com que sentasse em um dos bancos. Naomi segurou as pernas com força apesar de saber ser inútil. Aquilo não faria sua dor passar mais rápido. Nem percebeu Snake sair do veículo.

Octopus foi ao chão. Não entendeu porque aquilo aconteceu, mas a explicação provavelmente estava na dor que sentia. O seu corpo todo doía. As extremidades tremiam furiosamente e o sintoma logo passou para o seu corpo todo. Sentiu uma pontada no coração, depois, outras duas na barriga.

A dor foi se espalhando por todo o seu físico, até mesmo na cabeça. Não sabe como, mas conseguiu levar suas mãos ao peito, cabeça e todas as outras partes que sentia uma dor extrema. Não havia nenhum ferimento. Não via sangue a sua volta e a idéia de estar sendo fuzilada pelos Geckos logo foi descartada quando viu que nenhum deles atirava em sua direção. Talvez por causa da OctoCamo.

Sua visão começou a embaçar e viu um vulto acinzentado vir ao seu encontro. Era Solid Snake, que rapidamente a apanhou nos braços e começou a carrega-la em direção ao blindado. A jovem se pegou murmurando o nome dele, além de algumas palavras que a própria não conseguia entender.

Enquanto nos braços dele, viu de relance a pistola sobre o coldre na cintura do outro. Seus olhos se arregalaram quando um pensamento indesejado passou pela sua cabeça. Ela pegou a arma e a forçou no queixo dele, fazendo com que o velho parasse subitamente.


Snake fechou os olhos. Como foi burro em baixar sua guarda. Como foi estúpido em acreditar nela. Prometera nunca mais deixar as emoções tomarem conta de suas decisões. Foi por isso que se isolou do mundo, foi por isso que deixou sua vida de lado para caçar Metal Gears através do globo, foi por isso que aceitou a missão suicida do Coronel Campbell. Foi por isso que deixou Meryl. Pois emoções não tinham lugar em sua vida. Até o dia de hoje, quando encontrou Laughing Octopus. A garota que era uma incrível combinação de inocência e crueldade fez com que pensasse que talvez valesse a pena novamente dar espaço as emoções em sua vida.

Mas ela o traiu. A crueldade venceu a inocência, e lá estava ela, com uma arma em seu rosto pronta para puxar o gatilho e acabar com sua vida. Snake não conseguiu largá-la no chão, tentar tomar a arma ou revidar. Ele apenas ficou ali parado. Não. Solid Snake conseguiu esboçar uma reação. Ele olhou para aquele rosto encapuzado, cobrindo um sorriso maldoso ou uma cara chorosa. Não haviam lágrimas em seus olhos, ele jamais se permitiria a isso. Mas uma coisa ele não conseguia controlar por mais que se esforçasse: decepção. Foi com um olhar cheio disso, para aquela face obscura, que ele resolveu se despedir do mundo.

Quando viu os dois olhos azuis de Snake os seus responderam com mais lágrimas. Tentou tirar a arma do rosto dele, mas não conseguia. Alguma coisa a incentivava a fazer isso. Uma força maior que sua vontade de não faze-lo. Seus dois dedos indicadores estavam sobre o gatilho, um forçando a apertar, enquanto o outro empurrava o perigo para o mais longe possível. O que era aquilo? Que força era essa que a fazia agir contra sua própria vontade? Não queria matar Snake. Queria ajuda-lo. Ele poupou sua vida, porque não conseguia retribuir, fazer o mesmo?

Ignorando toda a dor que sentia: a cabeça fervendo, o coração parecendo a ponto de explodir, uma dor no ventre insuportável, reuniu o resto de força que ainda tinha. Não conseguia nem mesmo respirar, seus olhos azuis estavam na escuridão já a um bom tempo e nada os fazia buscar por luz.

Sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto. E gritou. Gritou com tanta força que seu corpo passou a doer mais ainda. Suas mãos e pernas passaram a estar a beira de um espasmo. Tudo isso por causa de uma palavra:

“NÃO!”

Isso pareceu acordar Snake. Viu a máscara que a garota usava se contorcer enquanto ela gritava. Totalmente trêmula ela largou a arma que caiu sobre sua barriga e logo depois no chão. Era agora. A oportunidade perfeita de se livrar dela, deixa-la ali ou até mesmo executa-la. Nem uma nem outra. O velho, com Octopus em seus braços, voltou a correr para o blindado. Chegando lá encontrou uma Naomi Hunter histérica.

“Snake! O que você está fazendo? Tire ela daqui!” Naomi começou a gritar.

“Naomi! A injeção, rápido!” Ignorou a cientista.

“Você ficou louco? Ela é a Laughing Octopus! Que tentou lhe matar no laboratório! Deus, ela tentou te matar agora mesmo!” Naomi estava visivelmente desesperada, tentando fazer Snake enxergar um pouco de bom-senso.

“NAOMI!” O grito que ele deu fez a bela cientista gelar.

“Por favor, Naomi. Me de a injeção” Foi uma súplica, mas não pareceu. O olhar e a voz dele simplesmente descartavam qualquer possibilidade de súplica. Para Naomi Hunter, aquilo era uma ordem.

Sentindo um arrependimento fora do comum, a geneticista pegou sua injeção e sem se preocupar com qualquer espécie de delicadeza, enfiou com força a injeção no pescoço da jovem nos braços de Snake. Com a enferma já sem máscara, ela pode bolar algumas teorias do porque de Solid Snake querer ajuda-la. Todas elas envolviam alguma malícia. Ela tinha de admitir, a garota era realmente linda. Seria perfeitamente normal um homem como Snake se preocupar com ela. Era óbvio que ele tinha segundas intenções. Que homem não teria, pensou Naomi.

Snake já arriscara sua vida por uma mulher antes. Ele podia muito bem fazer isso de novo. O que mais incomodava Naomi era a burrice que ele cometeu em ambas as vezes. Ou pelo menos era isso que queria acreditar.

“Snake, temos companhia. Mais Geckos!” uma voz falou da frente do veículo, provavelmente era o motorista.

“Naomi, você-”

“Não confia em mim, Snake?” Naomi perguntou visivelmente irritada. “É claro que eu cuido da sua amiguinha. Agora vá nos salvar!” E apontou para a escotilha.


Snake não disse nada. Apenas assentiu para Naomi em sinal de agradecimento, e fez o que ela mandou. Subiu a pequena escadinha de metal e abriu a escotilha, fechando-a logo em seguida pelo lado de fora. Assim que isso aconteceu, o carro começou a andar, sem a menor sutileza.

Naomi relutou um pouco, mas sentou ao lado da loira e pôs a cabeça dela sobre o seu colo. Sentiu a pulsação dela. Estava rápida, mas diminuindo a cada segundo que passava. Se os efeitos do SOP não a afetaram por muito tempo, então logo ela deveria recobrar a consciência. A doutora Hunter balançou a cabeça em desaprovação e suspirou. Aquela podia ter sido a pior decisão que Snake já tomara.

Ouviu um pequeno barulho, parecia com uma latinha de refrigerante sendo aberta. Olhou para frente e viu um macaquinho cinza com um recipiente na mão. Ele fez uma palhaçada qualquer como se quisesse agrada-la, e estendeu a lata de refrigerante para ela.

“E por que não?” Deu uma risada e aceitou o presente do símio. Tomou um gole e sorriu para o animal. Nesse exato momento, ouviu barulhos de tiros.

--

Notas do autor:
É isso aí. Logo, logo upo o próximo cap, só falta a revisão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "To Let The World Be" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.