POV Renesmee

  Por que ele não me beijou? Depois de tanto tentar, ele finalmente teve a chance e não aproveitou. O pior de tudo é que eu iria deixá-lo me beijar, e isso não era certo. Já podia imaginar a Treinadora Black me expulsando da equipe se descobrisse que eu andava beijando seu filhinho.

  _Se deu bem hoje – disse a voz da senhora Flowers, que fazia tricô no sofá. – Aquele carro... O garoto deve ser podre de rico.

  _Não quero conversar, Sra. Flowers. Vou para o meu quarto e nunca mais fale sobre isso.

  _Contanto que você continue pagando o aluguel no final do mês... – disse ela. – Eu nunca vi um carro branco que só gente rica tem parado ali fora.

  _Obrigada – eu disse. – Boa noite.

  Subi e fui direto para o meu “antro”. Tive que pelejar muito até a porta abrir. Entrei, peguei minha toalha e minhas roupas e fui tomar um banho. Depois voltei para o quarto e caí na cama, mas demorei à dormir. Fiquei imaginando como seria o beijo de Jacob. Eu deveria sonhar com isso. É, literalmente, proibido. Pelo menos para mim.

  Consegui acordar na hora e não cheguei atrasada na QOTIC. Vesti o uniforme e fui para a pista, sem esperar as outras garotas ou a treinadora. Bree e Claire me acompanharam.

  _Não acredito que James te demitiu – disse Claire. – Cachorro!

  _Pelo menos você já conseguiu um novo emprego – disse Bree. – E no Red Club! Não é o máximo?!

  _É sim – eu disse. – Mas se não fosse pela ajuda de alguém, eu nunca me lembraria do Red Club.

  _Ajuda de quem? – As duas perguntaram juntas.

  _Um amigo novo – eu disse.

  _Amigo? – Disse Claire. – Bem que você poderia nos apresentar.

  _Quem sabe – eu disse. – Mas vocês já conhecem.

  Elas se entreolharam e depois olharam para mim, com uma interrogação no olhar.

  _Vamos patinar – eu disse.

  Conforme patinávamos, as outras garotas foram entrando na pista. A Treinadora Black nos vigiando. Jacob nos olhando, com uma prancheta na mão.

  Estávamos fazendo um alongamento de 30 minutos antes de começarmos com a coreografia. Leah estava bem longe de nós, graças a Deus!

  _Treinadora Black! – Chamou ela. – Estou com dificuldades em alongar as pernas. Será que a Sra. não poderia me ajudar?

  _Não – disse ela. – Jacob, ajude a garota.

  Leah sorriu. Aposto que era isso que ela queria.

  _Ahnn... A Cullen acabou de me pedir ajuda – disse ele. – Desculpe, Clearwater.

  Ele foi calçar os patins, enquanto Bree e Claire sorriam para mim, dizendo Sortuda só mexendo os lábios. Jacob entrou na pista e deslizou sobre o gelo. Ficou por trás de mim, as palmas das mãos em minha barriga.

  _Não preciso de ajuda – sussurrei.

  _Nem ela – disse ele. – Então, eu prefiro ajudar você.

  Jacob desceu sua mão por minha perna, a puxando para trás, devagar, fazendo com que eu inclinasse meu corpo para frente.

  _Acho que ela gosta de você – eu disse.

  _Que pena – disse ele. – Eu estou afim de outra pessoa.

  Fiquei de frente para ele. Levantei minha perna esquerda e ele a segurou, a mantendo no lugar. Olhei para o lado para ver a reação da Treinadora Black, mas ela nos olhava com orgulho, como se estivesse orgulhosa pelo filho estar gostando do trabalho. Ela que não sabe que ele está ali por outro motivo. Desci minha perna e levantei a outra.

  _Te vejo no Red Club à noite hoje? – Perguntei.

  _Claro – disse ele. – Não mudei de ideia.

  Eu sorri.

  _Que bom – eu disse.

  Olhei para Leah. Ela me fuzilava com os olhos e soltava fogo pelas ventas. Se deu mal!

  Eu e Jacob mantínhamos nossos olhos fixos. Aquilo me deixava maluquinha por dentro. Oh tentação!

  Acalme-se, Nessie. Ele é o filho da ceifeira. E está louquinho por você! O que eu faço? Bom, o que tiver de ser, será.

  _Já tá bom – eu disse. – Acho que já alonguei de mais.

  _Tem certeza? – Perguntou ele.

  Eu queria dizer que não, mas apenas balancei a cabeça, assentindo.

  _Ok – disse ele, me soltando e saindo da pista.

  _Acho que agora ele pode me ajudar – disse Leah.

  _Nada disso – disse a treinadora. – Acabou o tempo do alongamento. Agora vamos treinar!

  Eu ri em silêncio.

  Depois da aula, fiquei pagando as minhas duas horas extras. Bree e Claire ficaram ali comigo. Quando meu tempo já estava terminando, Jacob apareceu no ginásio.

  _Oh, desculpe – disse ele. – Achei que estivesse sozinha.

  Eu parei e olhei para as meninas.

  _Como assim? – Perguntou Bree. – Vocês estão se encontrando escondidos?

  _Claro que não – respondi, mais rápido do que deveria. – Quero dizer... Não.

  _Verdade – disse Jacob. – Não estamos nos encontrando escondidos. Não escondemos de ninguém. – Ele riu. Eu fiz uma cara indignada.

  Saí da pista.

  _Por isso que você quis ajuda-la na aula – disse Claire. – Vocês foram um casal bonito.

  _O quê? – Eu disse. – Não... Não estamos saindo... Quero dizer, namorando. Jacob é só meu amigo.

  _Sei... – disse Bree.

  _Bom – disse ele. – Eu vim ver se você não queria uma carona. Nesse caso, vocês.

  _Eu quero – disseram Claire e Bree juntas.

  Olhei feio para as duas, que deram de ombros.

  _Eu vou trocar de roupa – falei.

  Depois de me trocar, seguimos para o carro de Jacob.

  _Eu vou para o Red Club – disse ele. – Vou jogar hoje.

  _Você joga? – Perguntou Claire. – O quê?

  _Hockey – eu disse, antes dele responder.

  Entramos no carro e seguimos para o Red Club.

  Assistimos Jacob jogar hockey. Bom, na verdade eu e Claire assistimos. Bree ficou dando em cima de Alec. Bem que ele gosta disso tudo. Depois do jogo, Jacob se sentou com a gente – ele já tinha tomado banho.

  _O que acharam? – Perguntou ele.

  _Você joga muito bem – disse Claire. Depois, sussurrando: - Você não poderia me apresentar o goleiro do seu time?

  _Claro – disse Jacob. E bem na hora, o cara passou perto de nós. – Ei, Rob! Vem cá, cara!

  E Rob veio, nos cumprimentou e se sentou.

  _Essas são Renesmee e Claire – disse Jacob, depois sussurrou alguma coisa no ouvido de Rob.

  _Eu vou ficar a toa à noite – disse Rob. – Quer ir no cinema? – Perguntou, olhando para Claire.

  _Claro – disse ela. – Que horas?

  _Te pego às oito – disse ele. – É só me dar o seu endereço.

  Claire ficou toda eufórica e passou seu endereço para ele.

  _Até lá, então – disse ele.

  Ela disse um até lá, suspirou e ficou toda agitada, dizendo que precisava ir para casa para se preparar. Se despediu de nós e foi embora.

  _Ela vai te agradecer pelo resto da vida – eu disse a Jacob.

  _Não tem necessidade – disse ele. – Rob sempre agradece quando tem a chance de sair com uma garota diferente.

  Eu ri.

  _Acho que vou indo também – eu disse, colocando a bolsa pelo pescoço e me levantando. – Até mais tarde.

  _Nada disso – disse Jacob. – Meu tá lá fora.

  _Não, obrigada – eu disse. – Não acho que seria uma boa ideia chegar no meu “antro” com esse carro de novo.

  _Por que não?

  _As pessoas pensam coisas – eu disse. – E os pensamentos delas não são positivos.

  _Acham que você está... Saindo com algum ricaço? – Sugeriu ele.

  _Por aí – eu disse.

  _Vou te contar uma coisa – disse ele. – Eu estou pagando aquele carro até hoje.

  Ele riu, e me fez rir também.

  _Não precisa se importar com o que os outros vão dizer – disse ele. – É só aceitar a carona.

  Olhei para ele, que havia se levantado também.

  _Tá bom – eu disse. – Mas daqui a pouco eu vou ficar mal acostumada.

  Ele me abraçou e me deu um beijo na bochecha, que por poucos centímetros não foi em outro lugar. Ele colocou seu braço sobre os meus ombros e fomos para a saída do Red Club assim. Ocorreu a desventura de encontrarmos Leah, que entrava no RC.

  _Ah! – Disse ela. – Muito esperta você, Renesmee.

  _Do que está falando? – Perguntei.

  Ela riu.

  _A coisa mais óbvia – disse ela. – Devia ter percebido isso hoje. Mas isso é trapaça sabia? – Ela apertou os olhos. – Está dando para o filho da treinadora só para conseguir ser a nova capitã da equipe.

  _Escuta aqui, sua ordinária – eu disse, querendo avançar nela, mas Jacob me segurou.

  _Não, por favor – disse ele. – Não quer perder seu emprego, não é? E você – ele se dirigiu à Leah. – É melhor ficar quieta e não fazer intrigas se não quer que eu acabe com as suas chances de ser a capitã da equipe.

  Leah engoliu em seco, mas não recuou.

  _Eu nunca deduraria vocês – disse ela. – Só disse aquilo por dizer.

  _Então controle a sua língua – eu disse.

  Eu e Jacob passamos por ela e seguimos para o carro.

  _Desgraçada! – Eu disse ao entrar.

  _Não liga pra ela – disse Jacob. Ligou o carro e deu a partida

  _Leah é uma invejosa – eu disse. – Sempre. Desde o colegial. Dei muito azar de ela também gostar de patinar e ter entrado para a mesma equipe que eu. Mas ela não vai conseguir fazer com que eu desista.

  _Isso mesmo – disse Jacob. – Nunca desista.

  Conversamos todo o caminho. Deixamos o assunto “Leah” de lado. Quando chegamos na pensão, Jacob me surpreendeu com a pergunta:

  _Posso entrar?

  Olhei para ele, com uma interrogação nos olhos.

  _Como? – Perguntei.

  Ele riu.

  _Quero ver como é – disse ele. – Quero conhecer o seu “antro”. Se eu puder, claro. Ou você se importa com o que os outros vão dizer? Juro que vou me comportar.

  Suspirei, olhei para a rua e para a pensão. A maioria dos moradores deveriam estar trabalhando. Só a senhora Flowers deveria estar lá, fazendo seu tricô.

  _Tá legal – eu disse. – Mas tem que ser uma visita rápida.

POV Jacob

  Eu não acredito que pedi para entrar ali. Mas era Renesmee. Tudo parecia bonito se ela estivesse. Entramos e subimos direto para o seu quarto. Depois de tentar bastante e dar um soco na porta, ela conseguiu abrir.

  O quarto dela era bem arrumado, comparado com o resto do lugar. Pelo menos não tinha cara de morte ou velharia. Tudo organizado e em seus devidos lugares. O forro de cama era limpo e não era amarrotado.

  _Então? – Disse ela.

  _Melhor do que eu imaginava – eu disse. – Sendo sincero.

  Ela sorriu. Tirou a bolsa e colocou em cima de uma cadeira e depois tirou o casaco. Olhei um porta-retrato em cima do criado-mudo perto da cama. Era ela no meio de um homem e uma mulher mais velhos.

  _São meus pais – disse ela, se colocando ao meu lado. – A última foto que tiramos juntos. Fazem cinco meses.

  _Eles devem sentir sua falta – eu disse.

  _Eu também sinto bastante – disse ela. – Queria poder vê-los todos os dias.

  _Onde eles moram? – Perguntei.

  _Califórnia – ela respondeu.

  Ela saiu de perto e foi até uma mini-geladeira. Me sentei na cama.

  _Quer refrigerante? – Perguntou. – As duas últimas latas.

  _Quero sim – eu disse.

  Ela pegou as latas e me entregou uma, então se sentou ao meu lado.

  _Não é muito emocionante, não é? – Disse ela. – Apenas um quarto de pensão qualquer.

  _Não é qualquer quarto – eu disse. – É o seu quarto. E eu gostei bastante.

  Nos olhamos, uma coisa que me fez saltitar por dentro. Fui aproximando mais nossos rostos. Hoje sim eu teria que beijá-la. E juro que não seria a única vez. Quando nossos lábios estavam a apenas centímetros um do outro, ela quebrou o momento.

  _Acho melhor você ir agora – disse, se levantando.

  _Tem certeza?

  _Tenho – disse. – Te vejo mais tarde.

  _Tudo bem – falei.

  Segurei seu rosto com uma mão e dei um beijo em sua bochecha.

  _Até mais tarde, Nessie.

  Saí do quarto e desci as escadas correndo. Passei por uma senhora, mas nem olhei em seu rosto. Entrei no carro e fui direto para casa. Quanto mais eu ficava longe de Renesmee, mais vontade dela eu tinha. Queria estar com ela agora, mesmo que fosse apenas para conversar.

  Não sei como, mas acho que estou apaixonado por essa garota.

  Esperei as horas passarem, com raiva do relógio por não andar mais depressa. Dessa vez não me atrasei, e quanto cheguei ao Red Club, Nessie nem estava lá ainda. Chegou alguns minutos depois.

  _Acho que você está mais ansioso que eu – disse ela.

  _Só queria chegar na hora dessa vez – eu disse. Já estava na pista esperando por ela.

  Ela se trocou e veio se encontrar comigo. Patinamos, perfeitamente. Nessie não precisava mais desses treinos sobre rodas para conseguir dar as suas aulas. Mas eu não falaria isso para ela. Não conseguiria ficar sem esses encontros.

  _Você está ótima – eu disse.

  _Posso ficar melhor – disse ela, e riu.

  Segurei sua mão, e antes que ela pudesse fazer algum movimento, a puxei de encontro ao meu corpo. Ela colocou as mãos na frente quando bateu em meu peito. Coloquei meus braços em volta de sua cintura, a prendendo ali. Ficamos parados.

  _Jacob...?! – Disse ela.

  _Shh... – fiz. – Por favor, não fala nada.

  Ela se calou, e eu inclinei minha cabeça para frente. Ela fechou os olhos. Fiz o mesmo. Era agora, e não tínhamos mais como escapar disso. Nossos narizes se tocaram, e finalmente nossos lábios se encontraram, receptivos. O beijo começou lento, inocente. Mas ela abriu um pouco a boca, dando passagem para a minha língua, que imediatamente se enrolou na dela. Era como se estivéssemos em uma fogueira, pois rapidamente o calor começou a nos percorrer. O beijo foi longo, mas tive que interromper, pois estava ficando sem ar.

  Não dissemos nada, apenas encostamos nossas testas e ficamos recuperando o ar.

  _Não sabe o quanto eu queria fazer isso – eu disse, finalmente.

  _Não deveria – disse ela. – Sua mãe vai nos matar.

  _Não importa – eu disse. – Tudo o que eu quero é você, Renesmee. Só você.

  Coloquei minha mão em sua nunca, enterrando meus dedos em seu cabelo, e a beijei novamente. O treino? Deixamos pra depois. Tinha muito o que ser feito primeiro.