POV Renesmee

  O beijo de Jacob me levou às alturas e depois me trouxe de volta para o chão. Eu sei que tinha aceitado no início, mas isso não era certo.

  Coloquei minhas mãos em seu peito e o empurrei, separando nossos lábios. Ele me olhou com uma interrogação nos olhos, mas apenas patinei para a saída da pista.

  _Nessie... – ele chamou.

  _Desculpe, Jacob – eu disse, já tirando meus patins. – Mas isso tá errado. Eu tenho que ir.

  Enquanto ele estava saindo da pista, corri para o vestiário e me troquei. Do lado de fora, Jacob ficou batendo na porta.

  _Escuta – disse ele. – Eu gosto de você. Eu juro. Nunca senti isso por ninguém antes. Minha mãe? Ela não é a rocha que vocês pensam que ela é.

  Não falei nada.

  _Nessie – ele continuou -, você se importa tanto com o que as pessoas vão dizer? Com o que as meninas da QOTIC vão pensar? Eu sei que você também quer ficar comigo.

  Eu já havia trocado de roupa. Fiquei em frente à porta, tentada em abri-la e cair nos braços dele. Mas não foi isso o que fiz. Abri e o empurrei para o lado, passando rapidamente por ele, que veio atrás de mim. Saímos do Red Club. Passei por seu carro sem nem ao menos dar uma última olhadinha.

  _Ei! – Disse ele. – Espera.

  Segurou meu braço, me fazendo girar e ficar de frente para ele. Encarei seus olhos.

  _Por que tá fazendo isso? – Perguntou ele. – Eu achei que...

  _Que eu também estivesse afim de você? – Eu completei. Ele não respondeu. – Pior que estou, Jacob. – Ele me olhou com uma cara de qual é o problema então? – Mas eu também estou afim de ser a capitã da equipe, e estou afim de ter a chance de ganher o campeonato. Sabe quantas fofocas rolariam por aí se a namorada do filho da treinadora for a nova capitã? – Ele abaixou os olhos e negou com a cabeça. – Diriam que eu não tenho potencial, que só estou na liderança por causa do meu relacionamento com você, diriam que a treinadora está protegendo a nora querida. Isso não seria nada bom para mim, para sua mãe e para a equipe.

  _Então tudo o que importa é a patinação? – Disse ele.

  Suspirei.

  _Isso é tudo o que eu sempre quis, Jacob – eu disse, algumas lágrimas atrevidas descendo por meus olhos. – Desde criança meu maior sonho é ser uma patinadora prestigiada. Eu não posso jogar fora tudo o que consegui até agora.

  _Então você quer dizer que ficar comigo seria desistir de tudo? – ele disse, seu rosto ficando com uma expressão de incredulidade. – Talvez você esteja certa. Eu não quero que você perca o que mais ama. Isso nunca teria dado certo mesmo.

  Ele se virou e começou a andar até o seu carro.

  _Jacob... – eu disse, mas ele não se virou. Seguiu em frente. Entrou no carro, e parou com ele ao meu lado.

  _Vou te levar para casa pelo menos – disse ele de dentro do carro. – Pela última vez. Não vou deixar você aqui sozinha.

  Limpei algumas lágrimas com as costas da mão, e depois de hesitar por um tempo, abri a porta e entrei no carro.

  Ele dirigiu em silêncio. Não trocamos nenhuma palavra até chegarmos na pensão. Olhei para ele. Ele olhava para o lado, batia a mão direita na perna. Parecia impaciente. Saí do carro apressadamente, e assim que estava na calçada ele ligou o carro e saiu em disparada.

  Foi melhor assim, pensei. Entrei na pensão e subi correndo as escadas. Xinguei bastante a minha porta por não abrir depressa, e assim que estava dentro do meu quarto e com a porta trancada, desabei na cama, chorando sem parar.

  Idiota, idiota, idiota...

  Eu não precisava ter sido tão dura com ele. Mas agora não tem mais volta, e foi melhor assim. Eu tinha apenas que fingir que aquele beijo nunca existiu.

  Mas era impossível. Aquele foi o melhor beijo que eu já tive. Foi carinhoso, caloroso. Foi dado com... amor. Mas nunca daria certo entre nós.

  Ou eu fui muito precipitada?

  Droga, Renesmee!

  Entre soluços e lágrimas, nem me lembro quando eu dormi.

  Acordei na hora certa, e já estava no ônibus indo para a QOTIC quando me peguei pensando em como eu iria encarar Jacob hoje.

  Nos falaríamos como se nada tivesse acontecido? Ou ele me ignoraria e seria como se nunca tivéssemos nos falado desde que ele estava ali?

  Joguei todos esses pensamentos fora. O que tiver que ser, será.

  Quando cheguei na QOTIC, Bree e Claire já estavam lá. Fui ao encontro delas.

  _O Rob é tão fofo! – Disse Claire. – Foi tão atencioso e carinhoso no cinema ontem. E beijo dele... Ai, garotas!

  Beijo...

  _Que cara é essa, Nessie? – Disse Bree. – Parece que tá viajando.

  _Desculpe – eu disse. – Mas, vocês vão se encontrar de novo? – Perguntei para Claire.

  _Claro! – Disse ela. – Ele marcou comigo no final de semana. Então, se vocês não forem fazer outra coisa no final de semana, terão que fazer o Cineminha sozinhas.

  _Tudo bem – disse Bree. – A gente entende.

  _Agora eu vou contar o que aconteceu enquanto estávamos na sala de cinema...

  Aí eu parei de escutar Claire. Estávamos sentadas nos bancos azuis do ginásio, e Jacob havia acabado de chegar com a Treinadora Black. Abaixei os olhos quando ele olhou em nossa direção.

  _Eu vou me trocar – eu disse para as meninas. Uma mera desculpa para ficar um pouco fora de seu campo de visão.

POV Jacob

  Eu ainda não podia acreditar que Nessie tinha medo de perder seu prestígio como patinadora só por ficar comigo. Isso ia só ajuda-la mais. Minha mãe nunca a colocaria como capitã da equipe só por ela ser minha namorada, mas a colocaria por seus esforços, sua profissionalidade, e por patinar como ninguém. Mas ela não entendia isso. E quem sou eu para fazê-la mudar de ideia.

  Quando chegamos na QOTIC, Nessie já estava lá com suas amigas. Quando me viu, deu uma desculpa qualquer para elas e entrou no vestiário feminino.

  As outras garotas chegaram, e logo começou o aquecimento do dia.

  Renesmee estava com suas amigas, como sempre. Eu não estava com cabeça para monitorar nada, mas mesmo assim andei com minha prancheta de um lado para o outro.

  Eu sei que não deveria fazer isso, mas eu queria fazer um pouco de ciúmes nela, ver se ela cai na real. Eu disse que não poderia fazê-la mudar de ideia, mas pensando bem, eu não vou desistir tão facilmente.

  _Acho que a Clearwater precisa de uma ajudinha – eu disse bem alto para minha mãe.

  _Então vá ajuda-la – disse ela.

  Pude ver Leah sorri de canto, e vi Nessie ficar incrédula.

  Coloquei os patins e patinei até Leah.

  _Obrigada – disse ela.

  _Não me agradeça – eu disse.

  A virei de costas e a coloquei contra meu corpo. Ela deu um gemido baixo quando seu bumbum chocou com o meu amiguinho. Olhei de soslaio para Nessie. Ela tinha uma expressão de raiva no rosto. Sorri por dentro.

  _Vamos ver se você é bem elástica – sussurrei no ouvido de Leah.

  Devagar, desci minha mão por sua coxa direita, e quanto chegou na dobra do joelho, segurei e comecei a levantar sua perna.

  _Muito bem – sussurrei de novo, e dei uma mordidinha em sua orelha. Ela gemeu novamente. Safada!

  Olhei para Nessie. Ela havia virado de costas.

  _Já tá bom – eu disse, deixando Leah.

  _Ei! – Disse ela. – Não me sinto preparada ainda.

  _Hora de tentar sozinha – eu disse. Ela bufou.

  Enquanto patinava para a saída da pista, Nessie olhou para mim. Pisquei e dei um sorriso de canto para ela. Acho que entendeu o recado.

  Minha mãe anunciou o fim do aquecimento e começou a ensaiar com as meninas.

  Depois do treinamento, Nessie ficou para pagar as suas duas horas extras. Suas amigas não puderam ficar com ela hoje.

  Entrei no ginásio enquanto ela estava treinando.

  _O que achou? – Eu disse. Ela olhou para mim com um olhar severo.

  _Estava querendo fazer ciúmes? – Disse ela. Eu ri. – Você é mesmo um sem vergonha.

  _Essa doeu lá no fundo – eu disse, ironicamente.

  _Não posso acreditar que teve coragem de ficar... passando a mão naquela cachorra só para me deixar com raiva. Fica esperto viu. Aquela lá não vai mais te deixar em paz.

  _Eu cuido dela – disse ele.

  _Foi o que disseram a metade dos garotos da escola com quem ela dormiu – disse Nessie. Não parou de patinar um segundo sequer. – Ela perseguiu todos até ficar cansada e mirar em um alvo novo.

  _Hmmm... – eu disse. – Se bem que ela é bem...

  _Bem o quê? – Disse Nessie, praticamente gritando. – Ela é bem pu...

  Mas ela não conseguiu continuar, pois se desequilibrou e caiu. Corri até ela. Ela massageava o tornozelo. Me abaixei ao seu lado.

  _Você está bem? – Perguntei.

  _Não – disse. – Tá doendo. Droga, Jacob! Eu não posso ter quebrado.

  _Não, você não quebrou – eu disse.

  Sem dizer mais nada, a peguei no colo e corri até o meu carro.

  _O que está fazendo? – Ela perguntou.

  _Te levando pro hospital – falei.

  Ela não protestou. Entrei no carro e dirigi até o hospital mais próximo.

  Fiquei com ela durante todo o exame médico.

  _Não está quebrado – disse o doutor. – Você apenas torceu. Agora, respire fundo e seja forte, porque eu vou tentar colocar no lugar.

  Ela fez o que ele pediu, e quando ele começou a tentar colocar no lugar, ela agarrou minha mão e a segurou com tanta força, que até eu prendi a respiração.

  _Pronto – disse o doutor. – Não faça muito esforço com ele hoje, mas amanhã já pode voltar ao normal. E mais cuidado.

  _Pode deixar – disse ela.

  Desceu da maca e saiu sem me esperar.

  _Você está mancando – eu disse.

  _Bela observação – ironizou ela.

  _Vem, eu levo você – eu disse.

  _Não vai me carregar no colo dentro de um hospital – ela disse. – E eu já estou bem. Pode ir embora e procurar a Leah para ficar passando a mão nela.

  Ficamos em silêncio enquanto saíamos do hospital.

  _Acho que consegui – eu disse.

  _O quê? – Ela perguntou.

  _Te deixar com ciúmes – respondi.

  _Ha ha ha – ela fingiu dar risada.

  _Admite – eu disse.

  _Não tenho que admitir nada – disse ela.

  _Cabeça dura! – Eu disse.

  _Me deixa em paz! – Disse ela. – Que droga, Jacob!

  _Para com isso – eu disse, a fazendo parar. – Eu sei que você se arrepende do que disse ontem. Você quer ficar comigo tanto quanto eu quero ficar com você.

  _Não seja ridículo – disse ela, mas sem olhar para mim.

  Não consegui me conter. Segurei seu rosto e lhe dei um beijo rápido. Pelo menos ela não me deu um tapa.

  _Jacob, por favor... – disse ela.

  _E se ninguém saber – sugeri. – E se... namorássemos escondido.

  _O quê?! – Disse ela. – Tá de brincadeira, né?!

  _Claro que não – eu disse. – Se o problema é o que os outros vão pensar por você estar com o filho da treinadora, a solução é ninguém saber que você está com o filho da treinadora.

  _Não sei se isso pode dar certo – disse ela.

  _Claro que pode – eu disse. – E, admite, escondido é mais gostoso.

  Ela fez cara de incrédula e me deu um tapa de leve no braço. Eu ri.

  _Então – eu disse. – Você aceita namorar escondido comigo?

  Ela olhou para as mãos, depois para o lado. Enfim olhou nos meus olhos.

  _Aceito – disse.

  Não me contive e agarrei ali, lhe dando um beijo daqueles. A levantei no ar, e tudo o que eu não queria era parar.

  _Agora, vamos – disse ela. – Tenho que ir para o meu “antro”. Tenho que descansar, lembra?

  Assenti. Lhe dei outro beijo e fomos para o carro.

  Eu não queria namorar escondido, mas já que essa era a única solução...