POV Renesmee

  Na sala de reuniões estava James, Kyra, Anne e Tiffany. Aqui na Abduction há mais funcionários. Não sei por que somente nós estávamos lá.

  _Alguma coisa de errado, James? – Perguntei.

  _Sim... e não – respondeu ele. – Tenho um comunicado a vocês três.

  _Então diga logo – disse Kyra. Parecia já estar perdendo a paciência.

  _Haverá mudanças em nosso grupo – disse ele. – Começando por vocês. A Abduction está atrás de pessoas novas, competentes...

  _Está dizendo que não somos competentes? – Questionei.

  _Renesmee, você é muito competente – disse ele. – Me dói ter de fazer isso com você também. Mas mudar é preciso. E os clientes já estão enjoados da sua cara. Me colocaram contra a parede.

  _Mas você não é o chefe? – Disse Tiffany.

  _Sim, sou – disse James. – Mas tenho que agir de acordo com as vontades do público. Já tenho novas contratadas. Vocês... estão demitidas.

  Fiquei meio zonza, e reprimi a vontade de querer tacar alguma coisa quebradiça na cabeça de James.

  _Você não pode fazer isso – disse Anne.

  _Eu sou o chefe, não sou? – Disse ele, com um sorrisinho.

  Eu não disse nada. Além do mais, nem conseguia. Deixei as garotas discutindo com James e saí apressada, passando por Jacob sem ao menos olhar em sua direção.

  _Ei, espera! – Gritou ele, vindo atrás de mim.

  Continuei andando rapidamente, os olhos molhados. Jacob continuou atrás de mim, conseguindo ficar ao meu lado. Me parou segurando meu braço.

  _O que aconteceu? – Perguntou ele. Eu mantive minha cabeça baixa. – Ele te machucou? Fez alguma coisa contra você? Fala, que eu vou lá e arrebento aquele cretino agora mesmo.

  _Não – eu disse, a voz fina e fraca. – Eu... eu fui demitida.

  _O quê? Ele não pode fazer isso com você.

  _Pode – eu disse. – Ele é o dono.

  Ficamos em silêncio. Vieram mais lágrimas, e eu comecei a chorar de verdade.

  _Acabou, Jacob – eu disse. – Acabou competição, acabou patinação... Acabou tudo.

  _Não, não acabou – disse ele, me puxando para seus braços.

  Encostei minha cabeça em seu peito e continuei chorando, enquanto ele acariciava meus cabelos.

  _Claro que acabou – eu disse. Podia sentir seu coração batendo. – Não vou ter mais dinheiro para pagar a QOTIC. E provavelmente vou ficar sem casa. Estou ferrada!

  Pude sentir seu peito levantar, enquanto ele respirava fundo.

  _Vem comigo – disse ele.

  _Para onde? – Perguntei.

  _Você nunca pensou em trabalhar no Red Club?

  _Na verdade, não.

  _Então comece a pensar. Vamos de ônibus. De novo.

  Jacob tinha razão. Como eu não pensei no Red Club? É o único lugar em que eu sempre deveria ter pensado. É tão óbvio, que eu deveria me considerar uma débil por não me imaginar naquele lugar.

  _Alec – eu disse quando chegamos lá -, onde está a Mandy?

  _No escritório dela, lá em cima – disse ele. – Por quê?

  _Preciso conversar com ela – eu disse. – Será que posso subir?

  _Claro – disse ele.

  Me direcionei para a escada.

  _Vou esperar você aqui – disse Jacob.

  Assenti, então subi. Lá em cima havia várias caixas amontoadas em um canto, e em uma porta azul havia uma placa com os dizeres: Gerência. Bati.

  _Entre.

  Abri a porta devagar e avistei Mandy sentada em sua mesa.

  _Posso ajudá-la? – Perguntou ela.

  Mandy era uma mulher bonita. Cabelos loiros e lisos, olhos azuis. Devia ter uns trinta e poucos anos.

  _Pode sim – eu disse, me sentando na cadeira em frente a sua mesa. – Eu queria saber se não há como você... Ãnn... Me contratar. Eu sei fazer de tudo. Eu posso limpar as mesas, atender, limpar a pista de patinação. Qualquer coisa.

  _Calma, respire – disse ela, rindo. – Realmente estava querendo aumentar meu casting. Você chegou em boa hora, ... ãnn... Qual o seu nome?

  _Renesmee Cullen.

  _Isso – disse ela. – Você chegou em boa hora, Renesmee. Mas, me diga: o que você sabe fazer bem? Qual é a melhor coisa que você faz?

  _Bom, eu sei patinar – respondi. – Patino muito bem. Mas... é somente no gelo.

  _Qualquer pessoa que patine no gelo pode patinar em salão. Depois de algumas horas sobre as rodinhas, você estará craque.

  _Então...

  _Então que eu estava procurando uma professora de patinação – disse ela. – Sabe, para ensinar crianças e adolescentes que desejam aprender essa arte. Será que posso contar com você, Renesmee?

  _Claro – eu disse. – Mas como você mesma disse, preciso de algumas horas praticando. Acho que consigo.

  _Não ache – disse ela. – Tenha certeza.

  _Então, eu tenho certeza. – Sorri para Mandy, que retribuiu o gesto.

  _Quando você pode começar? – Perguntou ela.

  _Eu poderia treinar hoje, quando o Red Club fechar – eu disse.

  _Perfeitamente – disse Mandy. – Já temos algumas pessoas inscritas para as aulas. Já tem um tempo que tenho esse projeto em mente. O que acha das aulas serem aos sábados?

  _Perfeito – eu disse. – É o melhor mesmo. Nos dias de semana eu tenho patinação.

  _Então, ótimo! – Disse Mandy – Agora, vamos ao seu salário. U$1.500,00 por aula, mais comissão dos pagamentos dos alunos. O que, por enquanto, deve dar, aproximadamente, U$1.800,00.

  _Perfeitamente – eu disse.

  _Então, vou agora mesmo ligar para os alunos já inscritos e dizer que nesse sábado já temos aula. O Red Club fecha ás 23:00h nos dias de semana, então você pode estar aqui para treinar às 23:30h. Ok?

  _Ok – eu disse. – Muito obrigada, Mandy.

  _Que isso – disse ela. – Você é que veio na hora certa.

  Nos despedimos e eu desci, totalmente feliz.

  _E aí? – Perguntou Jacob.

  _Fui contratada! – Eu disse.

  Ele sorriu e me abraçou.

  _Que bom – disse ele, me erguendo no ar. – E qual será a sua área?

  _Patinação – eu disse. – Serei professora de patinação. As aulas serão no sábado.

  _Mas você consegue...

  _Pois é. Foi o que eu disse à Mandy. Ela disse que qualquer um que saiba patinar no gelo, pode, perfeitamente, patinar normalmente. Só precisa de algumas horas praticando. Por isso, hoje, ás 23:30h eu estarei aqui para treinar.

  _E eu virei com você – disse Jacob. – Afinal, eu sou um expert em patins sobre rodas. Você tem muito que aprender comigo.

  _Rá, rá, rá – eu disse. – Muito engraçado. Mas eu admito que será bom ter você por perto.

  _É sempre bom me ter por perto – disse ele, se aproximando mais.

  Seu hálito em meu rosto me deixava tonta. Eu queria respirar seu ar, sempre sentir seu cheiro. Estar...

  Acorda, Renesmee!

  Me afastei.

  _Vamos? – Perguntei.

  _Vamos – disse ele.

  Eu mesma havia me dito para não me aproximar do filho da treinadora, mas aqui estou eu, tomando sorvete e sentada num banco de praça com ele. Na verdade, Jacob é divertido. É bom ficar com ele. Não posso dizer o mesmo da mãe, mas deixa baixo.

  _E os seus pais? – Perguntou ele. – Por que não mora com eles?

  _Desde pequena sempre quis ter minha própria vida – respondi. – Assim que completei 18 anos saí de casa. Não me arrependo, apesar de viver onde vivo agora. Eles sempre foram bons pais, mas eu queria seguir meu próprio caminho, lutar pelas minhas coisas, sem a intromissão deles.

  _Eles não apóiam seu sonho de ser patinadora?

  _Pelo contrário. Eles colocam a maior fé. Mas se eu continuasse com eles, não teria as responsabilidades que tenho, não teria amadurecido como amadureci. Provavelmente agora eu estaria em casa, vendo TV, enquanto meu pai trabalha para pagar as contas da casa e a QOTIC. Nossa! Você não sabe como é bom trabalhar para pagar suas próprias contas.

  _É, você tem razão – disse Jacob.

  _Eu não quis ofender.

  _Não ofendeu – disse ele. – Sabe, agora eu me pergunto: o que eu estava fazendo da minha vida? Festas, balada, mulher todos os dias.  – Ele riu. – No final, isso não vai servir de nada para mim.

  _Tá na hora de crescer – eu disse. Ele olhou para mim.

  _Sim – disse ele. – Mas quero ser criança um pouquinho.

  Dizendo isso, ele passou o sorvete no meu nariz.

  _Ohhh... – Eu disse rindo.

  _Então vamos ser crianças – eu disse, passando o meu sorvete em suas bochechas.

  E ficamos nessa guerrinha de sorvete até que já estávamos bem lambuzados.

  _Já chega – eu disse, tirando um pouco de sorvete do cabelo. Ele riu.

  _A princesa do sorvete – disse ele.

  Passei a mão pelo rosto. Estava toda lambuzada. Mas, sei lá, não me sinto mal com isso.

  Jacob foi até o trailer do sorvete e pediu dois panos de prato. Limpamos nossos rostos, mas ficaram bem grudentos.

  _Só você para me divertir – eu disse. – Logo no dia em que eu perdi meu emprego.

  _Mas conseguiu outro – disse Jacob. – Outro bem melhor que o anterior. Você vai fazer o que gosta. Mesmo que seja com algumas modificações.

  _Tem razão – eu disse. – Mudar é preciso. E sempre mudar pra melhor.

  Jacob assentiu. O silêncio que se seguiu foi muito constrangedor, apenas ficamos um olhando para a cara do outro. E que cara que ele tinha... Deus!

  _Acho melhor eu ir embora – eu disse.

  _Eu posso acompanhar você...

  _Não – eu disse. – Não precisa. Até mais tarde, Jacob.

  _Até mais tarde – disse ele. – Ei, espera! Me dê seu número. Sabe, se nos desencontrarmos hoje, eu posso ligar para você.

  _Claro – eu disse.

  O passei meu número e fui embora. O conheci hoje e já era difícil deixá-lo. O que está havendo comigo? Não posso gostar dele. É o filho da ceifeira. Corri para o ponto e esperei pelo ônibus.

POV Jacob

  Pois é, não foi dessa vez que consegui a gata. Mas não vou desistir. Ver ela hoje, toda triste por causa do bendito emprego, me deu um aperto no coração. Não queria ver ela triste daquele jeito. Então pensei no Red Club, e agora ela será a professora de patinação do local. Hoje à noite posso tentar mais uma vez, senão ficarei louco. Sabe, estou super ansioso para poder ajudá-la a treinar sobre as rodinhas. Poder tocar o corpo dela novamente será maravilhoso.

  Fui para casa e esperei pela hora.

  Tá, ficar esperando não é uma coisa que eu faça muito bem. Acabei dormindo e só acordei quando já eram 23:30h. Nessie já devia estar treinando. Tomei um banho, me arrumei, peguei meu carro e fui correndo para o Red Club. A porta de entrada estava fechada, então passei pela porta de acesso restrito. Quando cheguei no coração do local, Nessie já estava lá, se matando de tanto treinar.

  Ela era esplêndida. Mesmo sem experiência, ela patinava muito bem sobre as rodas. Peguei um par de patins e fui para a pista. Acho que ela não havia me visto chegar, pois se assustou quando cheguei por trás e a peguei pela cintura, a guiando.

  _Desculpe pelo atraso – eu disse. – Acabei caindo em um sono profundo.

  _Não tem problema – disse ela. – Não é obrigado a vir aqui.

  _Eu sei – eu disse. – Mas quero ajudá-la.

  _Então, obrigada – disse ela. – E chegue na hora da próxima vez.

  Nós rimos.

  A peguei pela mão, ficando a sua frente. A guiei pela pista, fazendo voltas e movimentos difíceis. Sua experiência no gelo fizeram com que ela fizesse tudo com perfeição.

  _Acho que já está pronta – eu disse. – Uma patinadora completa.

  _Acha mesmo? Não, tenho que treinar mais um pouco.

  _Por que é tão insegura? – Perguntei.

  _Medo de estragar tudo – disse ela. – Sempre faço tudo o máximo que posso, para ter certeza de que está tudo certo, perfeito.

  _Mas você já está perfeita – eu disse, e não era mentira. – Você precisa descansar. Amanhã tem QOTIC, se esqueceu? E você pode vir aqui e treinar amanhã. Suas aulas só começam no sábado.

  A guiei para a saída da pista.

  _Confie em mim – eu disse.

  Ela suspirou.

  _Tudo bem – disse. – Eu confio.

  Depois de se trocar, saímos do Red Club.

  _Agora eu exijo que aceite minha carona – eu disse. – Está tarde. Não é aconselhável ficar esperando pelo ônibus.

  _Jacob...

  _Por favor.

  Ela suspirou, cedendo.

  _Tudo bem – disse ela. – Mas só dessa vez.

  Seguimos para o carro.

  _Nossa – disse ela. – Você tem um belíssimo carro.

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  _Obrigado – respondi. – Pode entrar.

  Ela parecia encantada com o carro. Dei a partida.

  _Onde você mora? – Perguntei.

  Ela me deu o endereço e segui.

  _Quer ouvir alguma coisa?

  _Claro – disse ela.

  Liguei o rádio, e uma música romântica estava começando.

http://www.youtube.com/watch?v=Lw0fETc9XEE

  _Adoro essa música – disse ela, no mesmo instante em que eu iria mudar. Claro que desisti. – É tão romântica.

  _É muito bonita mesmo – eu disse. – Combina com você.

  Ela riu.

  _Amanhã será um longo dia – eu disse. – QOTIC, hockey, treinamento com você.

  _Você virá?

  _Claro – eu disse. – Serei o seu “mestre”.

  Ela riu novamente. Eu gostava da risada dela. Me fazia bem. Me faria melhor ainda se eu pudesse beijar aquela boca gostosa.

  _O que vai fazer depois da QOTIC? – Perguntei.

  _Não sei – disse ela. – Provavelmente passarei o dia com Bree e Claire. Por quê?

  _Nada de mais – eu disse. – É que, sei lá, você poderia ir me ver jogar hockey.

  _Se você me prometer que não vai machucar ninguém como da última vez, eu posso convencer as meninas a irem ao Red Club. Bree vai adorar.

  _Vai?

  _Vai – eu disse. – Ela é completamente apaixonada pelo Alec. E acho que ele gosta dela também.

  _Mesmo?! – Nessie assentiu.

  Fiquei aliviado. Eu que achava que aquele Alec dava em cima dela. Ele gosta da amiga. Menos mal.

  Chegamos na “casa” de Renesmee. Na verdade era uma pensão velha. Como ela poderia morar aqui.

  _Obrigada por me trazer ao meu antro – disse ela. – Até amanhã, Jacob.

  _Até amanhã – eu disse. – Ei, espera! – Pedi, antes que ela saísse do carro.

  Ela olhou para mim, seus olhos pareciam confusos. Me inclinei para ela, que permaneceu imóvel. Sua boca apenas a centímetros da minha. Chegando cada vez mais perto, e ela estava pronta para me deixar beijá-la. Parecia que ela queria também. Mas... Eu não consegui. Se fizesse isso, provavelmente acabaria tudo agora, e eu precisava de mais tempo com ela. Virei minha cabeça um pouco para a direita e lhe dei um beijo na bochecha.

  _Até amanhã – repeti, e ela saiu do carro, apressada.

  Quando ela entrou em seu “antro”, liguei o carro e rumei para casa.

  A única coisa que não saia da minha cabeça era: por que não consegui beijá-la? Era tudo que eu precisava para acabar com esse desejo e partir pra outra. Mas esse era o ponto da questão. Eu não queria partir pra outra. Eu queria Renesmee e somente ela. Eu queria fazer tudo com calma, porque, mesmo tendo a conhecido hoje, ela mudou alguma coisa em mim. E isso me deixará maluco.