Tanya Denali escrita por AnnaJoyCMS


Capítulo 17
Capítulo 16. Fogo no Gelo


Notas iniciais do capítulo

N/A: Bom, este é o primeiro capítulo que escrevi ouvindo música! Então, leiam e vejam o que acham do resultado!
São elas:
— The Verve - Lucky Man
— Muse - Neutron Star Collision (Love is Forever)

Aqui estão os links para quem quiser ler ouvindo as músicas:
http(**)//letras(*)terra(*)com(*)br/the-verve/41844/traducao(*)html
http(**)//letras(*)terra(*)com(*)br/muse/1687273/traducao(*)html



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16. FOGO NO GELO

Ignorei a entrada teatral de minha irmã, dei-lhe as costas e pela extensa parede de vidro da estufa passei a observar a neve caindo lá fora. Ouvi seus passos se aproximando de mim. Ela pousou uma mão em meu ombro esquerdo e, em tom condescendente, sussurrou:

– Você só está confusa, só isso...

Houve silêncio.

Era verdade. Ela tinha razão, eu estava confusa.

– Sei que te deixei só... Não planejei me apaixonar por Garret...

– Oh, não! Kate!... – eu a interrompi em choque, olhando para ela e balançando minha cabeça infinitesimalmente. – Você não me deve explicações. Do que você está falando?

– Eu sei que te deixei sozinha quando você mais precisou de mim... – seus olhos suplicantes nos meus.

– Kate... – mas onde ela queria chegar com isso? Nunca me ressenti com relação a isso.

– Essa noite percebi o quanto nós nos afastamos e isso me assustou de verdade. Mas eu quero que você saiba que estamos juntas, Tanya. Você é minha irmã querida e eu...

– Nunca duvidei disso, acredite. – ela tinha que ver a sinceridade em meus olhos. – Fiquei feliz e aliviada que você tenha encontrado o amor. – menti... Não! Eu já havia superado esse sentimento. Kate merecia mais do que isso.

– Então, escute bem, Tanya. Sei que a chegada desse lobisomem mexeu com você... – paralisei imediatamente com suas palavras. Ela percebeu, é claro! Depois continuou. – Não sou cega e te conheço bem demais. – ela fez uma pausa. – É estranho! Não entendo como seus instintos permitem isso, mas tenha cuidado... Isso não pode estar certo. Isso não vai dar certo! – eu me retraí com suas palavras.

Kate estava certa e eu precisava ser sincera com ela, ao menos tentar explicar o que estava sentindo.

– Você sabe que se ele fosse humano... – sugeri.

– Sim! Eu sei...! – respondeu com malícia, a sobrancelha arqueando-se e o lábio, do mesmo lado, repuxando-se em um sorriso torto. No segundo seguinte de volta à seriedade e invadindo meus olhos como só ela sabia. – Mas ele não é...! É um inimigo natural de nossa espécie, que será no máximo um aliado. – e agora ainda mais veemente. Mais dura. – Se você precisa de alguma diversão, vá a Anchorage. Ou ao Canadá.

Ela não entendia. Não se tratava de diversão.

E como eu poderia explicar? Era algo novo. Se eu não tivesse conseguido uma noite de diversão no Brasil, há pouco tempo, não teria parâmetros para comparar. O fato é que se a noite com o belo espécime na Chapada dos Guimarães não foi capaz de preencher o vazio; por outro lado, cinco minutos na companhia de meu ‘novo amigo’ pareciam me desestabilizar tanto a ponto de eu simplesmente esquecer que existe vazio dentro de mim... Isso sem mencionar a forma totalmente nova que meu corpo tem se comportado em resposta a ele. De uma forma que humano nenhum foi capaz de fazer.

Mas, ainda assim, eu não podia ignorar a lógica de Kate. É claro que a opinião dela vinha carregada de um preconceito inato fruto da inimizade natural entre as espécies. Com o tempo isso ia ceder? Ia, é claro. Assim como aconteceu com os lobisomens quileutes, porque não havia concorrência pela presa. Todos nós respeitávamos a vida humana...! Contudo, ela tinha razão quando dizia que não ia dar certo. Eram tantas complicações... Eu tremia só de pensar.

Por fim, minha irmã pareceu incomodada com a minha pausa mais longa, provavelmente achando que havia me magoado. Assinalei, então, colocando um fim naquele assunto e a tranquilizando:

– Não se preocupe. Seremos tão somente amigos... Bons amigos. – esforcei-me num sorriso. Deve ter sido bom, pois Kate também sorriu.

– Fiquei enciumada por ter sido Bella a te dizer isso quando deveria ter sido eu, mas ela tem razão. Eu também tenho certeza de que você vai encontrar um vampiro maravilhoso e vocês vão se apaixonar e serão como as duas partes de um todo. – Sorri tristemente e sem os dentes para ela. Kate então me deu um beijo no rosto e saiu.

Recordei as palavras de Bella e não me lembro, exatamente, da ênfase num ‘vampiro maravilhoso’.

Por que tinha que ser um vampiro?

Permiti-me ficar entre as orquídeas um pouco mais. Algumas horas depois me arrastei de volta para dentro, já passava da meia-noite e uma brisa gelada soprava agradável. Tinha parado de nevar e os ânimos lá dentro do chalé estavam agitados.

Bella tinha subido há algumas horas com uma Nessie desacordada, que esta noite, dormiria em uma cama. Lucca também havia se recolhido à sua barraca para recuperar de vez seu sono. Era Emmett que agitava a todos. Ele estava na garagem ligando o carro do gelo, que usávamos para tornar o lago bem liso quando queríamos patinar nele.

Acontece que, circundando as grandes montanhas, aos pés das quais nosso chalé estava escondido, há uns cinquenta metros de distância de casa, o rio formava um pequeno e lindo lago, que com frequência usávamos quando queríamos nos divertir patinando um pouco. Já tinha algum tempo que não fazíamos isso e Emmett teve a excelente ideia de desenterrar aquele passatempo, pensando na diversão de Nessie. É claro!...

Então, enquanto ela dormia, ele ia transformar o lago em um ringue de patinação profissional. Nosso carro do gelo estava há muito tempo parado, então não queria pegar. Quando eu entrei no chalé era possível ouvi-lo tentando colocar o carro para funcionar lá na garagem agora mesmo. Rose disparou para lá, a fim de dar uma olhada no motor. 

Carlisle, Esme e Edward estavam na sala, aproveitei para conversar um pouco com eles. Kate havia saído com Garret; Jasper estava no escritório com Eleazar, e Alice estava com Carmem no segundo andar preparando o nosso figurino para a patinação no gelo de mais tarde.

– Jacob fez novo contato? – perguntei ao me sentar no sofá.

– Ainda não. – respondeu Edward. – Mas não acredito que vá aparecer mais alguém por lá.

– Na verdade, estou esperando aqueles dois nômades chegarem aqui a qualquer momento. – ponderou Carlisle. – Eles não vão demorar muito para desconfiar de que estamos aqui.

– Eles devem estar correndo. – concluiu Esme. – Por isso a demora.

Neste momento, o motor explodiu acelerando alto na garagem, ouvimos Emmett manobrando e pegando a pequena trilha para o lago, vagarosamente; pois, para seu desgosto o carro apesar de muito útil, não tem nada de veloz. Quando passava exatamente nos fundos do chalé, ele gritou:

– Anda logo, Edward! – reclamando com o irmão, que revirou os olhos e se levantou falando comigo.

– Tanya, vou preparar o aparelho de som do escritório, ok?!

– É claro, Edward! – revirei os olhos. – Fique à vontade. Eleazar vai te mostrar onde estão os fios e as caixas amplificadoras.

Ele foi para o escritório e minutos depois saiu carregando todo o sistema e caixas de som nos braços, porta afora. É claro que um peso daquele, um humano com o porte físico de Edward, não suportaria carregar por toda aquela distância, ainda mais correndo como ele foi.

Uma hora depois Alice desceu trazendo consigo o pequeno baú onde Kate guardava as malhas e os patins. Ela e Carmem bordaram todos os vestidinhos enquanto conversávamos, e ela queria nos mostrar.

– Ficaram lindos! A Nessie vai adorar! – ela saltitava animada. – Vejam, Esme e Tanya, Carmem bordou este especialmente para ela. – levantou orgulhosa um tutu bandeja rosa bebê, bem levantado e totalmente bordado em strass para Nessie. Esme arfou:

– Oh! Carmem! Ficou lindo! É claro que a Nessie vai amar!

Gracias... – ela respondeu sorrindo, sentada na poltrona.

– Este... – continuou Alice, levantando uma linda malha azul turquesa, toda bordada com paetês – é para a Bella! – Carlisle e Esme pareciam incrédulos, mas sorriam. Ela continuou:

– Este aqui para Rose... – era uma malha vermelha sangue, perfeita para Rose. Eu dei voz aos meus pensamentos.

– Perfeito Alice! – ela sorriu orgulhosa e continuou.

– Bom, esta é a minha. – disse jogando a malha sem dar muita importância e sem nos mostrar. Eu reclamei.

– Ah, não, Alice! Mostre melhor a sua! – ela revirou os olhos e levantou seu vestidinho preto, todo bordado com vidrilhos pretos brilhosos. Lindo. Eu sorri aprovando. – E os meninos, Alice? – perguntei a instigando.

– Bom, como Edward e Emmet não aceitam vestir as malhas, o que seria mais adequado, eu separei alguma coisa mais confortável e sem brilho para eles. – Ela revirou os olhos e torceu o nariz, e continuou. – É melhor do que jeans... – conjecturou e após uma breve pausa continuou – separei algo também para Garret e veja o vestido de Kate – disse ela, levantando uma malha em tom de uva muito bonita e brilhosa.

– E Jasper? – eu perguntei.

– Eu vou competir sozinha, já que Jasper não quer competir comigo... – respondeu ela fazendo beicinho. Carlisle e Esme riram. Esme justificou.

– Querida, patinação no gelo é demais para o sulista Major Whitlock! – Alice fez uma careta e completou.

– Então; seremos eu, você e Nessie na categoria individual, Tanya...

EU? – minha voz subiu uma oitava. – Alice, quem disse que eu...

– Não, você não vai fugir. Aqui está. – Ela jogou uma malha em cima de mim. Eu, imediatamente, levantei para inspecionar melhor. Era dourada e toda bordada, além de ser a única tomara que caia. Não era um dourado forte e brilhoso demais; era um tom de dourado claro e sofisticado. Muito linda. Mesmo assim, não deixei de estreitar os olhos para ela percebendo sua ironia, por causa da história da ‘vampira dourada’. Ela riu alto e descarada, se entregando.

– E os outros? – perguntei, desafiando-a.

– Serão os juízes: Carlisle, Esme, Eleazar e Carmem. Além de Jasper, é claro! – disse decidida, sorrindo e exibindo-se. Notei que ela não incluiu Lucca em nada, mas arquivei esta observação cuidadosamente e me calei. Alice, então, pulou agitada e saiu porta afora explicando. – Preciso ir preparar a decoração lá no lago. Logo Nessie estará acordada.

De fato, algumas horas depois Nessie descia as escadas saltitando ainda de pijama. Bella vinha logo atrás e Edward já esperava na cozinha. Era possível sentir o cheiro da omelete lá da sala. O dia já ia alto e o tempo tinha melhorado consideravelmente. É claro, que Alice previra aquilo. Ela, na verdade, prometera até algum sol, bem fraquinho lá pro meio do dia.

Da sala ouvi a voz de Lucca cumprimentando a todos na cozinha, um pouco antes de Kate e Garret chegarem a casa. Voltei minha atenção para a cozinha esperando que ele perguntasse por mim, mas isso não aconteceu. Pressenti que as coisas estariam estranhas hoje, mas me obriguei a esquecer isso. Alice, Emmett e Rose retornaram dos preparativos no lago e a baixinha nos levou todas para cima para nos trocarmos.

Alice inspecionava cada detalhe. Do meu quarto ouvi Bella reclamando para colocar sua malha de paetês turquesa. Ouvi quando Edward e Emmett, já prontos, foram para o lago levando Lucca e “os juízes” com eles. Rosalie primeiro arrumou a sobrinha e depois se trocou. Eu fui a última a descer, todas elas me esperavam na sala para irmos juntas encontrar com os outros no lago. Kate quando me viu, assobiou alto e disse:

Wow, Tanya! Você está linda, irmã! – e dirigindo-se a Alice, sorrindo. – Isso não é justo!

– Tanya só precisava iluminar-se um pouco... – disse Alice vagamente e eu percebi que aquilo não era só para animar a Nessie.

É evidente que eu não estava totalmente elétrica como Alice e Nessie, mas resolvi embarcar na brincadeira. Percebi o mesmo estado de espírito em Bella. Nessie estava muito animada, era contagiante. Ela parecia uma bailarina miniatura com aquele tutu, ainda mais que Rose havia puxado seus cachos cor de ferrugem em um coque preso com uma redinha também rosa. Era possível notar o toque artesanal de seu tutu, o que o deixava ainda mais bonito. Ela estava muito fofa!

Bella tirou uma foto usando seu celular e enviou para Jacob. Então, partimos em uma corrida até o lago, mas sem nos apressarmos muito para que Nessie pudesse nos acompanhar.

Chegando lá, rimos da decoração perfeita de Alice. Apesar de ser dia, ela encheu o lugar de luzinhas brancas de Natal. Todo o contorno do lago estava iluminado, bem como as árvores mais próximas, o que em contraste com a neve no chão e nas copas das árvores, dava um efeito muito bonito.

Os olhares de Edward, Emmett, Jasper e Garret faiscaram para suas respectivas parceiras e cada um reagiu orgulhosa e possessivamente a sua maneira. Edward tentava dar atenção à filha e à Bella ao mesmo tempo. Mas seus olhos não saíam da esposa. A impressão que eu tinha é que ele ia levantá-la nos braços a qualquer momento e disparar com ela dali, para algum lugar em que pudessem ficar a sós.

Neste exato instante, ele me olhou e riu torto confirmando minha desconfiança!...

Emmett sem notar meu olhar observador, prendeu Rose em seus braços pela cintura fina e deslizou seus lábios no pescoço dela muito sutilmente. Jasper abraçou Alice por trás e cochichou algo no ouvido dela muito baixo e que eu, realmente, não fazia a menor questão de ter escutado!...

Garrett e Kate só se olharam e sorriram. Ele parecia um menino que acabara de ganhar algum prêmio no parque de diversões, o que contrastava com a expressão dela, que era de pura malícia.

E ainda havia Lucca. Obriguei-me a não olhar para ele primeiro, do contrário não teria observado nada dos outros como observei. Não teria nem sequer me lembrado o que vim fazer aqui.

De fato, ele não me decepcionou. Seu olhar já estava plantado em mim, quando eu o fitei e sorri timidamente. Por um milésimo de segundo pensei que talvez fosse assim que as adolescentes humanas se sentiriam nessa situação; mas o olhar dele era tão intenso, tão cheio de desejo, que afastei rapidamente este pensamento. Essa atração estava longe de ter a pureza e a delicadeza de um romance adolescente. Ambos já tínhamos bagagem de experiências demais nas costas para nos darmos a esse luxo.

Lucca me olhava de um jeito que parecia que se ele me tocasse naquele momento precisariam cobrir os olhos de Nessie rapidamente. Isso fez a corrente elétrica pulsar pelo meu corpo. Não a antiga de todos os séculos de conquistas humanas, mas a nova. A que somente ele vinha produzido desde que chegou aqui.

Uma parte pequena de minha mente lembrou-se que a malha que Alice me dera mostrava mais da minha pele do que as das outras. Será que ela fez isso de propósito? Bella tinha um decote canoa, muito delicado mostrando discretamente seu lindo colo; Rose tinha um decote em V, que evidenciava seus seios fartos; Kate e Alice usavam vestidos sem manga e marcados no busto, mas que subiam rendados e bordados até o pescoço, na linha da clavícula, e eu era a única em um tomara que caia... Dourado – e eu não podia me importar menos com isso! Meu modelo tinha tudo para estar vulgar, mas não estava. Estava perfeito porque foi produzido por Alice Cullen. Ela me conhecia e sabia que eu não me sentiria bem se não me destacasse de alguma forma. Todas tínhamos saias bem curtinhas, bordadas e brilhosas. 

Jasper, Eleazar, Carmem, Esme e Carlisle tomaram seus lugares nas mesas reservadas para eles. Alice já estava colocando seus patins. Jasper levantou-se, foi até a mesa do som e vasculhou entre os CD’s escolhendo a música que ela deveria usar. Eles trocaram um olhar profundo como se ela soubesse exatamente qual seria e a música tivesse mil significados para eles.

Alice posicionou-se no centro do lago transformado em pista, levou seus braços ao alto cruzando-os no pulso e levantou o olhar como se contemplasse suas mãos graciosas. As pernas também estavam cruzadas graciosamente. Ao seu sinal, Edward manipulou o controle remoto do som e as primeiras notas do The Verve invadiram a paz de nossa montanha, fazendo algumas aves levantar voo próximo dali, assustados. Não que eles estivessem muito próximos. Afinal, éramos uma família de vampiros!

Alice começou seu footwork de improviso girando no próprio eixo sobre a perna direita, a perna esquerda foi levantada e deu o impulso. Algo totalmente impossível para uma patinadora humana. Depois com suave e gracioso movimento dos braços ela saiu deslizando no gelo.

.

Lucky Man

.

Happiness

More or less

It's just a change in me

Something in my liberty

Oh my, my

Happiness

Coming and going

I watch you look at me

Watch my fever growing

I know just where I am

.

A força de nossos membros nos dava essa vantagem sobre os humanos. Ela contornou o grande arco fazendo a volta do lago. O corpo e os braços metamorfoseavam em movimentos graciosos. Ela deu duas voltas encantadoras, dessa forma, no contorno do lago e depois serpenteou pelo centro para seu primeiro salto.

O salto indescritível e inumano arrancou aplausos de Nessie e Bella, e assobios de todos os outros. Agora usando os pés para deslizar, desenhar com perfeição pelo gelo e tomar impulso, sua velocidade aumentou; quando de repente ela voltou da outra ponta do lago alternando spins e saltos em uma sequencia alucinante.

.

But how many corners do I have to turn?

How many times do I have to learn?

All the love I have is in my mind?

Well, I'm a lucky man

With fire in my hands

.

A música continuava, emocionando. Era óbvio que se tratava de uma declaração de amor de Jasper para ela e ela dançava para ele. E é claro, aproveitando que estávamos aqui, para se exibir só um pouquinho!...

Não pude deixar de notar nos olhos dele assistindo Alice dançar. A intensidade, a intimidade me fez sentir como se todos nós fôssemos intrusos ali.

O amor se manifestava em cada simples movimento dela. Sua expressão era serena, o sorriso era suave, e ela continuava deslizando como se estivesse flutuando.

Entendi porque ela não insistiu para que Jasper dançasse com ela. Sendo Alice, aquilo me surpreendeu. A tendência seria ela insistir com ele até a morte, fazendo inclusive beicinho para consegui-lo. E teria conseguido! Era evidente que ele faria qualquer coisa que ela quisesse. Mas, não! Ela não insistiu porque a ideia de dançar para seu o amor parecia muito mais atraente. E se a expressão de Jasper era qualquer indicativo disso, ela estava certa!...

.

But how many corners do I have to turn?

How many times do I have to learn?

All the love I have is in my mind?

I hope you understand

I hope you understand

Gotta love that'll never die

.

A música parecia estar terminando e ela ganhava velocidade novamente preparando-se para seu grand finale. Tratava-se de um giro fora do seu eixo, muito rápido; impossível para um humano, mas lindo de se ver, porque ela mudava as formas que seus braços e tronco com tanta rapidez que parecia com mosaico descontrolado dentro de um caleidoscópio que gira insanamente. Até que a velocidade começou a diminuir gradativamente... E caiu... Caiu aos poucos até que ela parasse delicadamente na última forma do giro.

Quando a música acabou e Alice, finalmente, parou de girar todos nós explodimos em aplausos, gritos e assobios. Ela agradeceu graciosamente e saiu da pista saltitando direto para os braços de Jasper, que já a aguardava de pé. Depois de um breve beijo, ela gritou:

 – Agora é você, Nessie!

 Eu olhei incrédula para Nessie, mas ela já estava deslizando para o centro do lago muito séria e compenetrada. Ela própria fez questão de escolher sua música. Colocou seu próprio aparelho MP3 na USB do aparelho de som e disse que era algo que Jacob cantava sempre para ela dormir, antes que seu pai a levasse para o quarto, todas as noites.

Quando as primeiras notas começaram, ela deslizou suavemente pelo gelo. Não mostrava a mesma habilidade da tia que ela observara antes, mas conseguiu reproduzir vários saltos de Alice e demonstrou uma graciosidade que muitas bailarinas profissionais não tinham.

Todos aplaudíamos e gritávamos. Isso parecia incentivá-la e ela sorria levemente, mas sem se desconcentrar. Criou seus próprios movimentos, sem copiar a coreografia de sua tia.

Bella filmava tudo para mostrar para Jacob depois. Edward fotografava.

Enquanto Nessie se apresentava, senti alguém se aproximando de mim, e o perfume me deu a certeza de quem era.

– Você está... Muito bonita... – disse Lucca baixinho. Meu corpo pulsou.

– Obrigada... – foi só o que consegui responder polidamente.

Depois disso os casais se apresentaram.

Edward e Bella emocionaram a todos dançando ao som de uma linda versão orquestrada de Claire de Lune, de Debussy. Foi um improviso muito, muito romântico. Eles não faziam movimentos sincronizados, pareciam estar contando sua própria história enquanto dançavam. Nessie assistia sem nem ao menos piscar, foi preciso que Alice a cutucasse lembrando que ela havia parado de respirar. Seus pais começaram graciosamente algo como um duelo entre um leão e um cordeiro, mas era tudo tão delicado, que parecia que trocavam carícias, enquanto faziam rapidamente no gelo figuras que sugeriam os fatos que ambos tentavam nos contar.

Esme arfou emocionada.

A expressão dos dois era de entrega total, parecia que não estávamos aqui, parecia que eles estavam presos em uma bolha particular e só deles. Com os movimentos Edward falava da proteção e do amor absurdo com que sempre se relacionou com ela, e Bella respondia com movimentos de completa entrega, confiança. Então, Edward a erguia em saltos e piruetas impossíveis aos casais de patinadores humanos, e Bella ‘se jogava’ sem medo. Não houve intensidade, nem sensualidade. Eles patinando demonstraram o quão puro pode e deve ser o amor.

E assim, se seguiram Kate e Garret, em um improviso mais sensual. E depois, Rose e Emmett, que foram os menos intuitivos. Eles tinham técnica, já haviam feito aquilo juntos antes, ao contrário dos outros dois casais, e poderiam humilhar qualquer um de nós aqui. E o fizeram! Foram os mais aplaudidos.

E, por fim, chegou a minha vez.

Olhei para a pequena que saltitava animada e disse:

– Nessie, você quer escolher a minha música?

– Mas é claro! – exclamou ela depois de soltar um gritinho de empolgação.

Quando eu finalmente terminei de calçar os patins e ia me dirigir para nossa pista de patinação improvisada, Edward comentou se dirigindo às nossas famílias:

– Acho que nós fomos imensamente indelicados com o visitante convidado por Tanya! Nem perguntamos se ele gostaria de patinar também...

Eu girei meu corpo em choque. Não precisava ser a Alice ou ler mentes para saber o que ele pretendia. Mas já era tarde demais. Alice já estava dançando na direção de Lucca e o puxando para se apresentar comigo.  

Lucca, surpreso, olhou de Alice para mim. A expressão vazia. Parecia me sondar na tentativa de enxergar o que eu queria. Parecia deliberar por um segundo, para no segundo seguinte soltar rapidamente um:

– Claro! – e sorriu um pouco tímido vindo na minha direção. Eu não encontrei voz para protestar, nem sei se eu queria.

Emmett entregou-lhe seus patins, como um empréstimo, e Lucca os calçou. Procurei a expressão de Kate, não consegui ler nada ali. Estava séria, apática.

– Você já?... – perguntei sugestivamente enquanto nos dirigíamos para o lago.

– Sim, mas já faz tantos anos... Décadas. Marconi ainda era criança. – disse ele, sorrindo. – Também em um lago improvisado... – e completou vago, lembrando. Eu assenti.

Procurei não pensar muito no que estava prestes a fazer, só me posicionei no centro do lago de frente para ele. Lucca olhava dentro dos meus olhos intensamente, como sempre. Sustentei seu olhar e comecei a respirar, desnecessariamente. Constrangidos demais para procurar uma pose mais graciosa para começarmos, ficamos assim, nos fitando.

Quando, de repente o sol saiu fazendo com que todos, menos Nessie e Lucca, reluzissem. Ele piscou surpreso por um segundo, e depois olhou para minha pele do rosto e colo, e sussurrou:

– Linda... – seu hálito quente de obsidiniuns soprou em meu rosto.

– Nessie, querida, podemos começar? – perguntou Edward.

– Sim! Aperte o play papai! – cantou Nessie empolgada.

.

Neutron Star Collision (Love is Forever)

.

I was searching

You were on a mission

Then our hearts combined

Like a neutron star collision

I have nothing left to lose

You took your time to choose

Then we told each other

With no trace of fear that...

Our love would be forever

And if we die We die together

And lie, I said never

‘Cause our love would be forever

.

Quando ouvimos o primeiro verso do Muse, nós começamos timidamente a deslizar frente a frente em movimentos sincronizados, como num espelho. Lucca era mais elegante do que eu imaginava. Parecia um príncipe. Um príncipe que vestia jeans e uma camiseta preta colada ao corpo, destacando cada músculo perfeito do seu tronco. A cor preta da camiseta combinava com seu o cabelo e os seus olhos, mas contrastava com sua pele clara. Ele estava sério, concentrado e, incompreensivelmente, conseguia me acompanhar sem tirar seus olhos de ônix dos meus.

.

Our love would be forever

And if we die We die together

And lie, I said never

‘Cause our love would be forever

.

Ao som da primeira batida da bateria da música, suas mãos se plantaram em minha cintura, então eu perdi o senso. Esqueci onde eu estava e quem me assistia, e simplesmente me entreguei.

Entreguei-me ao impulso elétrico que percorreu todo meu corpo vertiginosamente, ao som da guitarra. Canalizei essa energia para o que estávamos fazendo e dancei no gelo, acompanhada por Lucca.

Se ele também se sentia assim, eu não sabia.

O que eram todas essas sensações que ele causava em mim. Eu também não sabia.

Só me entreguei.

.

The world is broken

Halos fail to glisten

You try to make a difference

But no one wants to listen

Hail,

The preachers, fake and proud

Their doctrines will be cloud

Then they'll dissipate

Like snowflakes in an ocean

.

 Percorremos toda extensão do lago fazendo um amplo arco. Ele me pegava por trás pela cintura, enquanto nossas pernas esquerdas estiradas atrás mantinham o ângulo de 90° em relação às pernas direitas que deslizavam eretas desenhando no gelo.

Quando completamos toda a volta, serpenteamos para o meio do lago e ele me ergueu, como se eu fosse um prêmio, espalmando o meio das minhas costas. Eu me deixei cair, languidamente, movendo meus braços com graça.

Cada toque dele aumentava a eletricidade pelo meu corpo e se transformavam em movimentos que eu não fazia a menor ideia de onde eu tirava, com os quais Lucca interagia e participava harmonicamente. Nós nos olhávamos nos olhos, ofegávamos juntos.

Esse era o momento mais erótico de toda minha segunda vida...

Todas aquelas conquistas, humanos e vampiros, perderam totalmente o valor, o sentido, no momento em que ele me tocou.

.

Love is forever

And we'll die, we'll die together

And lie, I say never

‘Cause our love could be forever

.

Ao ouvir o refrão da música, numa explosão de intuição e compreensão, tudo fez sentido.

Eu o amava.

Estava apaixonada por Lucca.

Era verdade. Foi inevitável e era irreversível e inegável. 

Era dessa entrega, dessa confiança, sem traço de medo, que Bella falava. Foi por este sentimento que Garret e Eleazar mudaram seus estilos de vida e abandonaram suas convicções ideológicas. Foi este amor impossível que impediu Edward de matar sua humana irresistível.

.

Now I've got nothing left to lose

You take your time to choose

I can tell you now without a trace of fear

That my love will be forever

and we'll die we'll die together

Lie, I will never ‘Cause our love will be forever.

.

Minha mente processava toda essa explosão de informações, mas também percebia que ninguém aplaudia nossas piruetas e saltos. Havia uma tensão no ar e não tinha nada a ver com o suposto preconceito entre vampiros e lobisomens. A tensão emanava de nós, Lucca e eu. Era pesada. Estávamos afogueados.

Eu, inevitavelmente, roçava meu corpo no dele para realizarmos as manobras e movimentos ao sabor insano da música, percebi que ele cheirou meus cabelos. Deslizou sua mão pelo meu pescoço para me conduzir pela nuca a uma manobra em que eu deslizaria no gelo, onde ele me jogaria para o alto pelo tornozelo. Nada que um casal humano pudesse fazer, mas nós executávamos com facilidade, apesar da eletricidade em nossos corpos.

Ganhamos velocidade pela última vez, já pressentindo o término da música e partimos para um final em giro ininterrupto, de velocidade inumana.

Até que a música acalmou-se em um piano tranquilizante.

Reduzimos a velocidade de nossos giros até que paramos frente a frente, ofegantes. Fitávamos um ao outro, deslumbrados. Nossos lábios a centímetros de distância...

 – Desse jeito vamos ter tirar a Nessie daqui rápido... – cantou Emmett cheio de malícia. Edward rosnou baixo repreendendo o irmão. E Nessie explodiu em um aplauso inocente e empolgado, seguida, aos poucos pelos outros.

Voltamos para a neve de mãos dadas.

Arrisquei uma olhada para Kate e ela encarava nosso gesto incrédula.

Obviamente, que os juízes eram simbólicos, a Nessie seria a campeã. Esse era o objetivo de toda a brincadeira, mas eles não chegaram a se pronunciar, porque Alice girou em direção ao chalé, com o olhar vidrado e gritou:

Parem!!!

Edward e Jasper imediatamente estavam junto dela. Um sentindo sua angústia, o outro assistindo a sua visão.

– O que foi Alice? – aproximou-se Carlisle como um borrão. Foi Edward que respondeu.

– Eles estão chegando... Os nômades que passaram por Forks a nossa procura. Estão chegando...


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Notas finais do capítulo

E foi isso! Espero que tenham gostado!
Lembrando sempre que todos os personagens e o universo pertencem à Stephenie Meyers!
Sem querer soltar spoiller, mas já soltando! Preparem-se para, no próximo capítulo, entrar na cabeça do Lucca! ;D
.
*.*bjokas*.*

Façam esta autora feliz. COMENTEM!