Gato Preto escrita por Lilly


Capítulo 7
Sonhos pt II - Capítulo 7




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_Cherie, não dá, simplesmente não dá! Eu não vou te seguir por aí sem ter ideia de para onde estamos indo! Eu não sou um cachorrinho - Christian se sentou e cruzou os braços após uma hora de caminhada. Estava com sede, fome e cansado, não tinha tempo para as brincadeiras da gata.

_Não estaria te ajudando se fosse um cachorro - ela observou. - E de qualquer jeito, devia estar honrado em ter uma criatura esplêndida como eu para te guiar.

_Pois eu não saio daqui sem algumas respostas.

_Pois não saia - deu-lhe as costas, colocando-se novamente a andar.

"Ela vai voltar", refletiu. "Antes que eu perceba, ela vai estar de volta".

De certa forma Christian estava certo: Cherie ainda iria voltar. Mas, é claro, não foi algo particularmente rápido. Gatos, como todos sabem, são criaturas extremamente orgulhosas.

Aquela gata em especial, não pensou no menino humano nem mesmo uma vez antes de acordar dentro de outro sonho, o que para ela já começava a ficar extremamente desagradável. Não é educado bagunçar os sonhos de um gato, você sabe.

_O filhote não está muito perto hoje - uma mulher baixinha de 70 e poucos anos, usando uma túnica cor-de-rosa comentou.

_Como?

_O humano - a mulher repetiu.

_Não está.

_Sabe, se ele ficar sozinho, certamente será devorado.

_Há todo tipo de criatura nessa floresta - uma voz distante acompanhou o aviso da velha.

_Onde querem chegar? - perguntou, inabalável pela chegada de uma segunda voz.

_A lugar nenhum, minha querida - a velha replicou.

_Mas queremos que você restitua nossa honra - veio a segunda voz, o dono, ainda completamente oculto.

_De nada adiantará se o garoto for devorado pela floresta - a senhora serviu-se de uma xícara de chá, os elementos iam surgindo em suas mãos conforme a necessidade.

_O garoto é inútil. E um reclamão– ela torceu o nariz.

_Mas precisamos dele - a segunda voz argumentava - sabe disso, não sabe?

Ela ficou em silêncio. Bem, precisavam dele, isso era fato, mas... Por que ela, logo ela, tinha que lidar com isso?

_Vamos, são três da manhã. Busque-o - a senhora disse-lhe em tom afável.

Cherie abanou as orelhas. Certo, tinha de se lembrar de seu objetivo, tinha de destruir aquela mulher, e para isso, precisava de um humano, que para seu completo horror, não fazia ideia do que estava fazendo e parecia curioso demais.

_Entendeu, não? - a voz novamente lhe perturbava.

Assentiu, e assim que o fez, sentiu-se acordar num pulo.

Enquanto tudo isso ocorria, Christian não tinha conseguido pregar o olho. Estava encolhido, escondido atrás da maior árvore que achou após ficar por horas e horas fugindo de uma sombra estranha, maior do que qualquer criatura que já tivesse visto. Agora, só ouvia uma respiração pesada, que ia e vinha, e pedia aos céus com todas as suas forças que aquela coisa não o encontrasse.

Alguns passos pesados, cessaram atrás da árvore. Ele sentiu os pelos do braço se arrepiarem e olhou ao redor, procurando qualquer coisa que pudesse usar como arma. Consigo, só tinha um isqueiro e um pedaço de plástico, cujo qual, não fazia ideia de onde diabos tinha surgido. Nada realmente útil. Ajeitou o corpo e saiu em disparada, na direção onde mais árvores surgiam e mais escuro ficava.

A sombra o seguia em velocidade que logo o alcançaria. Christian sentia vontade de chorar - se soubesse que seria isso o que aconteceria, nem mesmo teria entrado na casa, policiais nem de longe eram tão ameaçadores.

Suas pernas começavam a falhar quando ele avistou a construção. Era a coisa mais impressionante que já havia visto.

À sua frente se estendiam ruínas de uma palácio feito de pedras, muito maior do que qualquer coisa que já tivesse visto, muito maior do que jamais imaginou seria possível. Plantas cobriam a superfície das pedras mais expostas, criando cortinas verdes que seria muito bonitas se não estivesse tão apavorado. Identificou diversos buracos por onde poderia entrar, e, mesmo sem saber se seria a coisa mais prudente a fazer, acabou entrando. Entrou acidentalmente, quando tentou se apoiar à parede e descobriu ser ali apenas um cortina criada pela relva.

Se arrastou sentado para longe, quando a criatura se aproximou, e para seu total espanto, ela não entrou para matá-lo, ela recuou. Não se aproximou mais do que de um metro de distância das ruínas, e ali se manteve por um longo período. Isso, claro, Christian não descobriu, pois assim que constatou que provavelmente estava à salvo, resolveu adentrar ainda mais no buraco escuro por onde tinha se enfiado.

Demorou alguns minutos, mas por fim, após se arrastar pelo túnel ridiculamente estreito até seus cotovelos e joelhos ficarem totalmente ralados, chegou à um espaço razoável, onde podia ficar em pé.

Era um cômodo interessante. Estavam dispostos três baús trancados com pesados cadeados e três portas, atrás deles estava dispostas, igualmente trancadas. Sentando-se sobre o baú do meio, fitou o buraco por onde entrara. Certo, agora, realmente estava com problemas.

Cherie estava preocupada. Talvez ele já tivesse sido devorado e ela já não tivesse mais chance de restituir sua honra. Gritava o nome do rapaz a plenos pulmões pela floresta, se embrenhando em direção às ruínas, com a esperança de que ele tivesse sido naturalmente atraído até lá, tal como tinha de ser. Quando parou em frente ao palácio decadente, parou para respirar e avaliou curiosas marcas no chão.

Eram as marcas pesadas de um ser com garras afiadas, não tinha dúvida. Sentindo um desespero cada vez maior, tornou a gritar:

_FILHOTE! CHRISTIAN OU SEJA LÁ COMO FOR SEU NOME!

Ela seguiu o som. Era o som de algo grande se arrastando, e ela logo descobriu, o som de Christian saindo de um buraco.

_Cherie!

Ela deu um passo para trás, pasma. Ele tinha respondido e estava ali, por mais que imundo. Recuperando sua postura usual, torceu o nariz e lhe direcionou olhar intimidador:

_Não disse que não ia se mexer?!


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