Gato Preto escrita por Lilly


Capítulo 8
O Palácio - Capítulo 8




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_Sabe, eu não pretendia me mexer - ele balançou os ombros. - E você demorou bastante...

_Por que se mexeu? - Agora ela cruzava os braços, agindo como se esse tipo de exigência fosse perfeitamente natural. Christian apenas sorriu, no curto período em que tivera com Cherie, já tinha tido tempo de se acostumar com esse tipo de atitude.

_Um troço veio atrás de mim - explicou, sentindo um arrepio somente por lembrar da sombra que o perseguira - acho que se tivesse ficado por lá teria morrido... Ou algo pior, não sei...

_Um "troço"?

_Era uma espécie de sombra, um monstro enorme, disforme... Não consegui entender bem o que era aquilo, para ser honesto...

_Um sobrevivente - ela torceu o lábio. - Sim, era melhor não ter ficado por lá.

_E um sobrevivente é um...?

_Alguém que sobrevive a algo - torceu as sobrancelhas, ainda tinha de se lembrar constantemente de ser paciente com aquele filhote.

_E ele sobreviveu a o que? - Rendeu-se por fim, soltando um suspiro cansado.

_Ao incêndio - disse vagamente, voltando os olhos às grandes pedras do antigo palácio, que apenas agora Christian reparava, tinha de fato sinais de incêndio.

_Na história que me contou... Era a esse lugar que se referia?

_Obviamente.

_Disse que era uma casa! - protestou - casas são muito menores!

_Bem, não para a realeza.

Ele abanou a cabeça positivamente. Contrariar Cherie até o momento tinha se mostrado inútil, e ela tinha resposta a praticamente tudo o que ele dizia.

Ela caminhou ao redor do lugar, abanando as orelhas como se estivesse tentando ouvir algo em algum lugar muito distante, o que sua expressão confirmava de certa forma. Se aproximou da pedra e a arranhou, marcando-a com as garras e proporcionando um som bastante desagradável. Em seguida, se agachou, mantendo o rosto perto do chão enquanto farejava com certa curiosidade, avançando devagar na direção do buraco por onde Christian havia saído.

_O que tem aí? - apontou a relva que cobria a entrada.

_Uma passagem. Vai até uma sala com uns baús e umas portas, mas está tudo trancado.

_Três baús, três portas?

_Isso.

Antes que ele sequer terminasse de pronunciar essa única palavra, Cherie enfiava-se lá dentro com enorme rapidez, tal como era esperado de um gato. Ele se pôs a arrastar-se atrás dela, mas demorou muito mais do que esperava. Era como se o buraco tivesse ficado mais estreito desde a última vez que tentara passar ali.

Cherie estava analisando de muito perto cada baú e cada cadeado, depois passou para as portas e seus próprios cadeados, analisou o piso e até mesmo o teto, muito mais interessada naquilo tudo do que o rapaz pensou que ela pudesse ficar por qualquer coisa que fosse algum dia.

Ela subiu sobre o baú do meio e se esticou o máximo que podia, com os braços sobre a cabeça, balançando-os de forma aparentemente sem sentido, mas quando desceu e sentou-se sobre um deles, pôde ver que havia uma pequena chave em sua mão.

_Isso é...?

_Uma chave.

_De alguma coisa aqui dentro?

_De todas as coisas daqui - fez um gesto amplo com o braço esquerdo.

Ele logo deixou a curiosidade tomá-lo, passando os olhos maravilhado por todas as portas e baús e imaginando tudo o que ali poderia encontrar.

_"Só um cadeado poderá se abrir sem que sua vida venha a ruir." - ela recitou como se adivinhasse o que existia nos pensamentos do moreno.

_Como é?

_Vamos abrir só uma das portas. O problema é que não sei qual delas.

_Por que só uma?

_Acabei de dizer por que - torceu o nariz.

_Certo... E como sabemos qual abrir?

Apertou as sobrancelhas, duvidando internamente que algo de fato pudesse acontecer se viessem a abrir mais do que um cadeado.

_Isso é você quem deve saber. É para isso que está aqui. Abra o caminho - deu-lhe a chave.

Ele avaliou a chave em suas mãos com curiosidade, revirou-a entre os dedos, Algo daquilo tudo lhe fazia algum sentido, por isso, levou-a para perto dos olhos, tentando reconhecer dela cada detalhe. Ela pequena, do tamanho de seu polegar, um dourado fosco e envelhecido a coloria. Os dentes eram pontudos, pareciam mesmo com dentes, e a cabeça era triangular, com um leve arredondado suavizando suas extremidades.

_E se... Eu não souber o que ela deve abrir?

_Então estamos presos. O buraco já se fechou - disse indicando o local por onde entraram. - Vamos, procure se lembrar - ela disse, e ele, tamanha surpresa sentia pela entrada ter sumido que mal pôde notar o "lembrar", na frase dela.

Respirou fundo e se encostou à parede, tentando compreender a forma como aquele cômodo funcionava. Tinha alguma pegadinha, sempre tinha alguma, principalmente com essa história de que somente um dos cadeados podia ser aberto, tinha sempre uma piada interna naquela história.

_Só podemos abrir uma.

_Só uma.

_E é sempre a mesma?

_Isso não tem como eu saber.

Ele abanou a cabeça.

_Pode levantar, por favor?

Ela não respondeu, simplesmente se encolheu e encostou-se na parede ao seu lado.

_Cherie, se eu errar...

_Não vai errar, não tem a menor chance - ela respondeu. - Você não pode ter deixado tudo de lado, portanto, anda logo que não temos o dia todo.

_"Deixado de lado"?

_Abra e eu penso em responder.

Ele respirou fundo. Foi até o baú do meio, o baú onde ela estava sentada e imediatamente os pelos da gata de eriçaram. Ele não se abalou. Enfiou a chave no cadeado e girou, arrancou-o num único movimento e empurrou a tampa. Uma longa escada se punha ali, descendo em direção à total escuridão. Cherie se colocou ao seu lado, parecia impressionada.

_Então era um baú.

_Todos são as portas certas. Você só não pode abrir mais de uma.

Ela lançou um olhar claramente satisfeito e disse, enquanto rapidamente descia à sua frente.

_Finalmente está de volta, Tobias.

Ele sorriu. Por mais que aquele não fosse seu nome, havia algo muito certo em ser chamado dessa forma.


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