Gato Preto escrita por Lilly


Capítulo 3
Na teia da aranha - Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Talvez eu mude e daqui a um tempo não seja mais um texto classificado como livre... Depende muito de como vai andar, eu tenho certa tendência a colocar sangue nas histórias que escrevo.



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Cherie seguiu Ed por um corredor longo, ela já conhecia bem o lugar, mas de alguma forma, nunca conseguia decorar seus caminhos. Os corredores do palácio sempre camuflavam suas saídas para ela. Ed não parecia ter a mesma confusão mental que ela sempre vivia, mas também, aquilo era um sonho, talvez ela mesma pudesse achar o caminho se desejasse com força.

No terceiro corredor Christian apareceu. Seu rosto mostrava-se confuso, usava as roupas que ela dera a ele, mas parecia mais saudável, como se a massa que faltava em seu corpo tivesse sido completamente recuperada. Ele abriu a boca para dizer-lhe algo, mas apenas um chiado desagradável foi produzido, fazendo com que Ed parasse para lançar um olhar curioso ao garoto.

_Quem é essa criança? - questionou a Cherie.

_Um humano de rua - respondeu secamente.

Ed fitou-a incrédulo enquanto a gata em movimentos rápidos e suaves se botava a menos de trinta centímetros de distância do rapaz.

_Está dentro do meu sonho, pequeno invasor - ronronou, com um sorriso atrevido. A língua dele pareceu se desenrolar e a garganta que até segundos antes estava completamente seca pareceu umedecer-se novamente.

_O que quer dizer com dentro do seu sonho?

_Exatamente o que disse.

Ah, ótimo, é claro que ela responderia isso, era o que acontecia ao falar com um gato. Olhou ao redor, nada ali lhe era conhecido. Era um corredor tão longo que mal podia encontrar o final com os olhos, as paredes eram altas e tinha um tom de amarelo suave, salvo por algumas áreas onde delicadas flores douradas pintadas à mão a enfeitavam. O piso era azul como o seu e refletia a imagem dos três perfeitamente e pilastras de pedra entalhadas no formato de árvores sustentavam o telhado. Ele foi até a janela com esperança de conseguir descobrir com mais exatidão onde estavam, mas viu esse desejo frustrado: Do lado de fora só se via árvores e um céu limpo, sem presença de nuvens ou sol.

_Desista - Ed ordenou, sem dar espaço para que Christian continuasse com sua análise. - E ande logo, não temos tempo para isso.

O moreno avaliou a situação por alguns instantes. Não lhe agradava seguir ordens, mas também, estava num sonho estranho onde mais nada além disso lhe ocorria para fazer. Soltando um som estranho de cansaço assentiu e assim seguiram pelos corredores até que estes acabassem. Logo percebeu que não estava em forma nem mesmo em seus sonhos, pois até chegarem à porta no final do corredor ele ofegava, tinha as pernas doloridas e trêmulas. Tentou não pensar muito nisso, mas era visível seu cansaço.

Cherie passou à frente com um riso cínico, empurrou a porta e entrou, revelando ali um enorme salão completamente vazio, exceto pela presença de uma pequena mesa redonda e um tapete vermelho enfeitado com desenhos de pássaros e borboletas nos altos galhos de uma árvore.

Ed se encostou à mesa, virando-se de frente aos dois e mostrou-lhes um sorriso bonito e entusiástico. Voltou o olhar à gata e questionou no tom mais casual que possuía.

_Confia nessa criança, minha querida?

Ela olhou para o garoto analiticamente e após alguns segundos o rodeando, acenou positivamente com a cabeça. Se a confirmação os surpreendeu ou não, nenhum dos dois deixou muito claro.

_Pois bem - começou. - A rainha pediu-me para convocá-la, meu bem.

_Não vou ser enfiada na caixa - respondeu energicamente.

_Minha querida, vossa majestade deseja negociar...

_Não estou interessada - cortou.

Agarrou descuidadamente o pulso de Christian, enfiando as garras em sua pele. Em meio a um gemido de dor, a cena se embaraçava, tornava-se turva como fumaça e logo agitada como a água de uma cachoeira, ao passo em que a escuridão avançava sobre eles.

E então, Cherie abriu os olhos. Preguiçosamente se esticou, soltando bem os membros e levantou da forma mais lenta que lhe era possível. Desceu até a sala de entrada, apertando de leve as sobrancelhas. Christian estava sentado no sofá, olhando para a parede, com aparência um pouco perdida. Voltou o olhar a ela e desviou rapidamente, dando de ombros.

_Foi real - ela disse com simplicidade, caminhando agora até a geladeira. Num salto ele saiu do sofá e a seguiu, formulando mentalmente todas as perguntas que tinha a fazer.

_Como?

_Está com fome?

_Sim, mas responda a pergunta.

_Como... Eu me pergunto...

_... Você não sabe? - soltou um longo suspiro.

_Aquele humano é engraçado. Não conta seus segredos, mesmo a algo tão maravilhoso como eu... - ronronou, exigindo que Christian afagasse sua cabeça.

_Foi ele então - o garoto concluiu, obedecendo quase no mesmo instante a exigência. - E o que foi aquela conversa?

_Exatamente o que você ouviu - ela se abanou, lembrando-se que humanos, não sendo excepcionais como gatos, tinham dificuldades em compreender aquilo o que viam, ouviam e sentiam. Ela tinha de ser paciente.

_Isso eu sei - ele insistiu. - Quero dizer... Do que ele falava quando falou de rainha e negociação?

_Da rainha Zorana, claro - a gata deu de ombros.

_Zorana - ele repetiu. - Conheço esse nome...

_Claro, ela é a rainha - Cherie perdia a paciência.

_Rainha do que, exatamente?

A felina piscou incrédula. Avaliou se ele estava ou não brincando, e num longo suspiro que indicava alguma irritação, respondeu:

_A rainha desse país, é claro.

_... Você quer dizer a presidente?

_Você realmente não sabe onde estamos, sabe?


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