Fiamma escrita por Akahana


Capítulo 3
Zero II - Sangue na Noite


Notas iniciais do capítulo

Kamiori adora das presentes pros outros. Ainda não decidi se isso é bom ou ruim.



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  Eu me lembro claramente da primeira vez que a vi, pois foi muito marcante. O que ela me fez prometer ainda está sendo cumprida, embora, talvez, não por muito tempo. Por enquanto isso não importa. Só importa a nossa história, não é mesmo?

Aquela noite, o céu estava excepcionalmente estrelado, fugindo de alguns perseguidores, me vi embrenhada em uma floresta densa e escura. Ainda se podiam enxergar as estrelas no lençol negro em que vivem.

  Andei mais e mais, os moradores daquela vila não tem coragem de entrar numa floresta assim à noite, e eu não tinha pressa alguma. De um machucado, que tinha feito enquanto fugia, o sangue escorria e eu ficava olhando para ele sem pressa enquanto andava por cima das raízes de árvores.

  Sem dar indício algum de que havia alguém morando ali, ao dar um passo a mais com o pé esquerdo eu vi uma clareira. Parecia amigável. Embora que, naquele momento, amabilidade não fosse bem o que eu desejava, me abaixei num arbusto ao lado de um pequeno chalezinho, peguei uma das facas e comecei a fazer mais cortes no meu braço. Aquilo, tanto a dor quanto a visão do sangue, eram um anestésico para todas aquelas palavras que a mim haviam dito. Se hoje me perguntassem quais eram aquelas palavras, eu não saberia dizer, o evento a seguir disso me fez esquecer a maioria das coisas ruins que eu sabia que tinham me ocorrido comigo naquele dia.

  Porque depois disso, apareceu uma garota, uma criança, na verdade e se agachou na minha frente. Naquele momento imaginei que aquela garota sorrisse durante a maior parte do tempo, mas agora ela parecia triste.

  - Não fique assim, moça. Você parece que já se machucou demais por dentro então pare de se machucar por fora também. Eu posso ver em você, ver nos seus olhos, que você não merece isso. Não sei se você é assim por causa da aura negra em volta de você, mas veja, mesmo que isso assuste um pouco, a noite também é preta, com algo branco que nem em seus cabelos, e a noite é muito bonita. Eu adoro a noite e acho que você também, não é? – Ela me indagou dando um temporário fim ao seu discurso. As palavras de uma criança estavam muito mais certas do que eu já fui ao dizer algo. E eu ainda não acreditava nisso. Só assenti enquanto ela tirava a faca da minha mão e cortava o pulso esquerdo, já enfaixado, assim como o resto do braço.

  - Veja a Lua. – Ela continuou. – A Lua está diferente hoje, porque você está triste. Ela está triste porque você, que é a Noite, está triste. Porque hoje, a Noite está chorando. E eu não quero que você chore. – Nesse momento ela ficou surpresa. – Seus olhos mudaram de cor, moça. Agora eles estão verdes, mas antes eram vermelhos. – Eu nem percebi essa mudança, e eu geralmente percebo. Mas o mais estranho era o fato de que meus olhos não se tornavam verdes a muitos anos. Eu ainda olhava para a Lua, e então lembrei do pulso dela sangrando. Ela parecia não se importar com o fato.

  - Você gosta de se cortar quando está com emoções ruins. Por isso, eu estou aqui me machucando por você que já recebeu muito mais do que qualquer idiota acha que você merece. Porque você é muito boa, moça. Nós somos parecidas, moça. Ambas estamos sozinhas, gostamos da noite e nos machucamos de um jeito ou de outro. – Então eu olhei para seu rosto e ela estava corando e eu percebi que também estava chorando. Ela me abraçou e continuou a chorar no meu ombro.

  - Não chore, por favor, não chore, criança. – Eu não sei de onde tirei forças para falar. Eu só não queria que ela chorasse mais.

  Hoje, fazendo as contas, vejo que temos sete anos de diferença. Kamiori tinha onze anos na época. Somente onze. Depois de chorar por muito tempo, ela se recuperou um pouco e falou:

  - Prometa pra mim, moça. Prometa que não vai se machucar na minha frente outra vez.

  - Prometo. – Eu não sei porque eu prometi isso, mas o fiz. E ela sorriu para mim e me deu um ônix. Isso, aquela pedrinha bem preta. Ela estava encrustada em um arco de violino. Bem na ponta, mas sem atrapalhar o movimento que seria tocar.

  Naquele dia eu não entendi absolutamente nada, mesmo que me lembre das exatas palavras que ela disse. Hoje eu entendo que aquele arco servia para eu me lembrar daquela promessa. Ao tocar meu violino, atualmente, sempre uso aquele arco. Sempre.


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