Innocenza escrita por medusa


Capítulo 10
Ele não chegou.


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez não demorei tanto para postar, né?
Boa leitura :D



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“Não olhar para trás, não olhar para trás” Beatriz repetia mentalmente enquanto cruzava a porta da sala de aula. Seria difícil resistir à tentação de olhá-lo, mas... Não, não podia. Ela tinha que esquecê-lo.

Porém, foi impossível. Ao entrar na sala, a garota já percebera que ele não estava lá. Bem, seria mais fácil não olhá-lo se ele chegasse depois.

A professora entrou na sala, dando início a aula. Ele não chegou.

Beatriz ficara a aula inteira olhando o reflexo da janela, lembrando daquele garoto que sempre estava sério e sentado atrás de sua carteira. Ela estava preocupada sobre o motivo pelo qual ele poderia ter faltado.

Que preocupação idiota. Não há nada de anormal em faltar na aula uma vez ou outra. Ele pode ter dormido até mais tarde, ou ter algum compromisso. Talvez não veio porque não quis. Ou porque estava... Se drogando.

Mesmo assim, seria talvez uma coincidência que ele tivesse faltado justamente um dia depois da briga. Briga? Enfim, depois do dia no qual Beatriz decidiu nunca mais olhar na cara dele.

Meu Deus, o que ela estava fazendo? Ficou o tempo todo pensando nele – não cumpriu sua promessa. Por que era tão difícil controlar isso?

Decidiu: ligaria para ele assim que saísse do colégio. Falaria que... Era para falar sobre o trabalho. De qualquer forma, precisavam acabá-lo.

Primeiro toque. Nada.

Segundo toque. Nada.

Terceiro toque. Nada.

Quarto toque.

Alô? – Era uma voz grossa.

Desliga isso daí, amor! – Ouviu-se uma voz de mulher ao fundo.

– Ah, oi... O Felipe está aí?

A pessoa do outro lado da linha riu de deboche.

Aquele vagabundo foi preso ontem à noite, minha filha. Agora com licença que eu tenho uma gostosa para comer.

Desligou.

Beatriz paralisou-se. Como assim foi preso? E agora?

Sim, ela estava muito preocupada com ele e... Foda-se aquela promessa de não pensar nele novamente.

Ela precisava visitá-lo, perguntar como ele estava, saber o que aconteceu, saber onde ele estava, precisava ao menos ouvir a voz dele dizendo que está tudo bem!

Respirou fundo. Primeiramente precisava se acalmar.

Como descobrir onde ele estava? Ligar para a casa dele com certeza não seria uma boa ideia. Talvez ela devesse ir a alguns D.P.s e perguntar sobre ele até encontrar alguma informação.

Precisava primeiramente ter alguma ideia de onde ele poderia estar. No próprio bairro dele? Não, provavelmente não. Lá é um lugar conservador. Talvez estivesse na casa de um amigo... Não, como a polícia iria até lá para prendê-los? Seria possível, mas... Não, não devia ser isso. Talvez ele estivesse em algum lugar do centro.

No dia seguinte, sábado, Beatriz pediu a sua mãe que a levasse para andar por algumas ruas do centro para fazer compras. Um disfarce, é claro.

– Mãe, posso dar uma olhada em uma loja de sapatos no final da rua? – Falou, a certo momento enquanto entravam em uma loja de artesanato.

– Sozinha? Não, filha, fique aqui comigo e depois vamos lá, juntas.

Droga.

– Mas eu queria ir agora... Eu vou rapidinho e já volto, levo até meu celular.

– E se você for roubada?

Revirou os olhos.

– Mãe, eu não vou ser roubada. Ok?

Vilma olhou a filha, se perguntando quem era aquela garota em sua frente. Não parecia nada com a garota meiga de algumas semanas atrás.

– Vai. – Disse, seca.

Beatriz percebeu essa mudança de humor da mãe mas ignorou – tinha algo mais importante a fazer.

Andou rapidamente para chegar a um Departamento Policial que havia na rua atrás daquela em que estivera anteriormente.

– Bom dia – falou, chegando a um balcão.

– Bom dia, posso ajudá-la? – Uma policial disse.

– Sim, hum... Eu tenho um amigo que foi preso, eu precisava saber onde ele está, pois não tenho nenhuma informação dele.

– Quais informações você tem sobre o garoto?

– Ele se chama Felipe Berganotti e tem dezessete anos.

– Soletre o sobrenome dele para mim, por favor.

– B-E-R-G-A-N-O-T-T-I. – Beatriz riu baixinho ao lembrar essa mesma cena acontecendo há algumas semanas atrás.

– Só isso? – Arqueou uma sobrancelha.

– Sim.

A mulher digitou algumas informações no computador. Esses segundos eram uma eternidade para a garota.

– Estou tentando encontrar mais informações sobre ele, mas será demorado por causa da própria falta de informações.

– Ah... Ok.

Depois de um minuto a mulher se pronunciou, lendo informações no computador.

– Bem, eu encontrei aqui o número do RG dele. De acordo com o sistema ele não foi levado a esse Departamento, que é o Quarto, mas sim ao Sétimo Departamento Policial. Lá você poderá encontrar mais informações sobre Felipe.

– Mas... Onde fica isso? E como farei para encontrar meu amigo?

A policial olhou para um lado e para o outro. Todos estavam ocupados. Ela se inclinou para frente e falou baixo:

– Olha, não é certo fazer isso mas você parece ser uma boa menina. – Ele escreveu um número em um papel qualquer e passou para Beatriz por baixo da proteção de vidro que há no balcão. – Esse é o número do RG desse seu amigo. Está escrito aqui que ele foi para a Fundação CASA, que é uma instituição que servirá para “corrigir” ele. A localização você encontra em sites. Provavelmente ele está na unidade da periferia dessa cidade, que é a mais próxima. Não conte a ninguém que eu te disse isso.

– Obrigada – Beatriz abriu um sorriso do tamanho do mundo, enquanto se dirigia para a porta do local.

Imediatamente após sair do lugar lembrou-se de encontrar sua mãe, e colocou o papel no bolso de trás da calça. Saiu correndo, pois havia se atrasado e talvez Vilma já estivesse na loja de sapatos procurando por ela.

Chegou à loja de sapatos, ofegante.

– Onde a senhora estava? – Falou a mãe, assustando a filha, que ainda não a havia visto.

– Ah, eu... Vi uma loja de acessórios e decidi ir lá, mas esqueci de te avisar e estava voltando aqui para falar com você! É, foi isso.

– Verdade?

– Verdade.

Vilma ergueu a sobrancelha para a filha. Virou-se e continuou andando.

“Ufa”, Beatriz pensou.

Hora do intervalo. Felipe estava vestido com o uniforme daquela instituição, uma camiseta branca simples e uma calça larga laranja.

Ao chegar ao pátio, se sentou em um banco afastado.

Fitou aquelas crianças brincando de pega-pega no pátio. Tiveram sua inocência roubada. Quantas nunca tiveram nada nessa vida e por isso cometeram algum crime? Quantas não tinham o que comer e roubavam para matar a fome? Quantas delas foram obrigadas a vender drogas por pais traficantes? Quantas delas estão simplesmente a salvo por estar naquele lugar, desejando não sair para aquele mundo cruel que elas sabem que existe depois dos muros?

Ele simplesmente poderia não estar ali. Era só uma questão de querer e batalhar. Mas não, ele não fez isso. Ele preferiu ir para o mais fácil caminho. Ele era um idiota mesmo. Ninguém merece ficar se lamentando por ele. Talvez tenha sido melhor ter brigado com a Beatriz, assim ela poderia esquecê-lo de uma vez.

Embora ele simplesmente não pudesse aguentar nunca mais vê-la...


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Notas finais do capítulo

O que acharam? HAHAH :D


Beijos, M.