-Mamãe pediu pra você não sumir. - disse Ricardo. 

   -Ah. Tá bom. - respondeu Alice, desapontada. 

   Não era o "garoto da prancha". Ela ficou desconcertada. Primeiro porque achou que fosse ele, quando na verdade era o pestinha do seu irmão. E depois, porque acreditou que ele viria falar com ela. Com ela! 

   "Fala sério, Alice. Ele só deu uma pancada em você. E depois pediu desculpas. Só isso. Não foi nada de mais", disse para si mesma. 

   E então, se levantou, um tanto desanimada e irritada. Antes estava alegre e sentia uma sensação de paz olhando para o mar. Agora só queria voltar pra casa. Quem sabe sua mãe já havia feito algo para comer. 

   Chegou em casa, sua mãe estava fazendo arroz. Abriu a geladeira, não havia nada. Metade das coisas ainda estavam no carro. Lembrou-se do seu saco de jujubas. 

   Abriu o porta mala, fuçou em algumas sacolas e achou. Abriu a embalagem, pegou meia dúzia de jujubas e enfiou na boca. Depois, abriu sua bolsa e pegou sua carteira. Mastigando com preguiça as balinhas coloridas, foi para a praia outra vez. 

   Sentada em um quisque em frente à praia, Alice procurou outra vez o "garoto da prancha". Ele não estava mais lá. 

   Procurou de novo, mas só viu os amigos. 

   "Que merda", pensou ela. 

   O garçom chegou e anotou seu pedido: uma enorme porção de fritas. 

   Olhando para o mar, e comendo jujubas, ela esperou. 15 minutos se passaram, e então seu pedido chegou. 

   Com um jato de catchup, outro de maionese, Alice começou a comer suas batatas. 

   -Parece com fome. - disse uma voz, conhecida e divertida, atrás dela. 

   Alice paralisou por um instante. Olhos arregalados, três ou quatro metades de batatas para fora da boca, e seu queixo sujo com maionese. 

   Rapidamente ela socou as batatas na boca, na tentativa de não parecer esfomeada ou retardada, e engoliu assim mesmo, sem mastigar. Limpou a boca e ainda conseguiu alguns segundos para sua franja, que havia caído em seus olhos.

   -O que disse? - perguntou ela, virando para trás. 

   -Disse que parece com fome. - respondeu, e abriu um sorriso. 

   Alice já havia conhecido aquele sorriso horas antes. Era o "garoto da prancha".