Alice ficou ali, parada, sentindo sua perna formigar de dor, por causa daquela prancha que a acertara 20 minutos atrás. 

   Nem sequer se deu ao trabalho de olhar para ver se havia ficado roxo. Não dava pra tirar os olhos do mar. 

   Ele surfava no mar agitado, e a cada onda em que conseguia se equilibrar, gritava e ria com os amigos. Alice tinha a impressão de vê-lo voar. 

   Não tinha cara de um garoto que faz o tipo "genro perfeito". Muito menos um garoto que tinha uma garota só. Alice ficou imaginando quantas caíam aos pés dele. 

   E então se lembrou que estava com a sua câmera na mão. Era uma Cannon. Alice passou três anos guardando dinheiro para comprá-la. A fotografia, assim como o mar, era sua paixão. 

   Decidiu fazer algumas fotos dos garotos que ali surfavam, e aproveitou para dar zoom no que chamara sua atenção, e que, agora ela tinha percebido: ele acabou deixando uma marca roxa nas suas pernas. 

   Andou um pouco. Mais um pouquinho. Parou ali, e esperou o mar vir cumprimentá-la. A água bateu de leve em seus pés, e ela sentiu a espuma desfazer-se em seus dedos. Olhou para o horizonte e tudo o que conseguiu ver foi que uma grande onda se formava, e o "garoto da prancha" (como intitulara o surfista que a acertara) esvata prestes a fazer algumas manobras.

   -Você vai ver, não vou cair! - gritou ele para um de seus colegas. 

   -Tomara que não. - disse ela baixinho, dando um sorriso enquanto ligava sua câmera. Modelo lindo, paisagem maravilhosa. Ótima foto. 

   A onda formou-se, e o "garoto da prancha" cumpriu seu combinado com maestria. Ouviram-se vários "OOOOH!" e "UUAU, MANO!", enquanto ele ria e se vangloriava por sua manobra. 

   Alice olhava em sua câmera: o foco estava ótimo, havia dado o clique no momento certo. "Garoto da prancha" era mesmo um ótimo modelo. 

   Voltou para a areia, sentou e ajustou o contraste das fotos. Ficou concentrada ali por alguns minutos.

   Ao olhar para a frente percebeu um par de pés. E eles não eram seus. 

   Ela olhou para a câmera, e depois para os pés outra vez. Seu coração acelerou, e por um minuto pensou que os pés pertenciam ao "garoto da prancha". Olhou para câmera, desacreditando. E depois olhou para cima, vendo o rosto do dono dos pés.