Amz escrita por MissBlackWolfie


Capítulo 9
A Fuga


Notas iniciais do capítulo

Será que teremos alguma coisa nessa fuga???? apostas.... leiam... e me digam...



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Capitulo 8


Sentada naquele sofá antigo e empoeirado, onde havia vários buracos de diferentes tamanhos, comecei a repassar toda a história que tinha acontecido comigo depois do meu primeiro encontro com Lisa ontem.

Sem nenhuma dúvida, tudo ocorreu muito rápido e de maneira intensa. Nunca poderia sonhar, por mais insanos que os sonhos normalmente são, com algum tipo de enredo como esse que eu estou vivendo. De todos os livros que eu li, e foram muitos, não consigo recordar nenhum com tamanho mistério, onde houvesse tantos acontecimentos em tão pouco tempo.


Acredito que se eu fosse um ser humano normal, estaria com medo do desconhecido, contudo estou ansiosa em viver logo esse futuro eminente, minha vida de dor me deixaram propicia aceitar qualquer gesto de cooperação do destino para mudar a minha historia.

Minha inquietação, que surgiu depois de encontrar a mulher dos olhos lilás, já esta se tornando parte do meu ser. Sua pulsação esta sincronizada com meus batimentos cardíacos.

A certeza que eu encontrei o meu destino e a minha fuga, encheram meu peito de felicidade, que logo conectaram com os meus ductos lagrimais. Fazendo gotas salgadas rolarem sem permissão pelo meu rosto, mas não me incomodavam, na verdade até me acariciavam.


No meio de meus devaneios senti uma mão de Ernesto tocar meu ombro, roçando os dedos delicadamente pela minha pele, ele sempre foi muito carinhoso comigo. E a outra pegando uma lágrima que descia até meu queixo. Nossos olhares cúmplices se encontraram e inevitavelmente eu sorrir para ele.


–Espero que esse vazamento de gotas seja de felicidades. Certo? – Ele agora sorria para mim.

–Sim. E de alívio também. – Comecei passar a palma da mão no meu rosto o enxugando.

–Bom temos que ir embora logo. Porque se ficarmos aqui podemos arrumar mais confusão. – Se colocando de pé e estendendo a mão para mim. – Além do mais, não temos mais motivos para ficar aqui. E também temos que nos apressar para encerrar nossa conta nesse hotel maravilhoso.

–Com certeza. - Revirei os olhos, peguei sua mão e me pus de pé ao seu lado. – Vamos. Temos arrumar nossas coisas.


Sai andando, quando senti um puxão no meu braço. Virei e olhei para meu irmão, que me encarava incrédulo.


–Que coisas? – Seu tom era de zombaria. – Quem olha você falando assim, até acredita que você tem um armário repleto de roupas novas.

–Você é terrível. – Não contive minha risada. – Mas eu tenho algumas coisas quero levar.

–Então vai lá arrumar sua mala. Cuidado não exagerar no tamanho dela. Afinal não quero pagar excesso de bagagem. – Ele deixou seu corpo cair no sofá, levantando poeira por todo canto, nos fazendo tossir. E também rir do seu jeito brincalhão.


Caminhei em direção ao meu quarto, Ernesto continuou sentado no sofá assoviando animadamente, querendo demonstrar pura despretensão. Mas sabia que ele estava ali na verdade de guarda, vigiando se Alex e Carlos apareceriam para nos azucrinar.


Abri meu baú, peguei algumas mudas de roupas, aquelas que ainda estavam em melhor estado, as que estavam menos rasgadas. Coloquei tudo em cima da cama, analisei por alguns segundos, e pensei: “eu preciso achar uma bolsa para colocar os meus poucos pertences”. Fiquei mais alguns poucos segundos tentando lembrar onde eu poderia achá-la. Recordei que havia na cozinha um armário onde eu colocava algumas sacolas.


Assim fui até o armário velho da cozinha, quando abri a porta vi uma sacola grande amarela de pano, um pouco puída pelo tempo. Ela iria servir, afinal não havia tanta coisa para levar.


Voltei para o quarto para continuar arrumação. Imediatamente pus as roupas no fundo da sacola, retornei ao baú, ainda havia algumas peças de roupas. O diário de Sarah entrou também na minha sacola também.

No fundo do baú havia o meu maior tesouro, o vestido da minha mãe, unica recordação concreta da sua existencia, o seu perfume estava impregnado naquela tecido. Ele não ficaria para trás, o coloquei dentro da sacola de maneira delicada. Pronto, eu estava pronta para minha nova vida.


Peguei a bolsa e fui para o quarto de Ernesto. Eu não iria deixá-lo ir embora somente com a roupa que estava usando no corpo. Entrei no cômodo e fui direto ao cesto de palha onde suas roupas, ou farrapos como ele costumava chamá-las, eram guardadas. Escolhi algumas bermudas e blusas, que estavam em melhores condições, tarefa essa realizada com certa dificuldade, afinal as roupas estavam bastante gastas.


Coloquei as poucas peças dentro da sacola, que agora estava lotada com as minhas roupas e as de Ernesto. Entretanto eu a carregava com facilidade no meu ombro, seu peso não me incomodava. Caminhei até a sala, e os olhos do meu irmão logo miraram a bolsa.


–Clair, você me impressiona, sabia?- Ele me olhava fingindo certa admiração, mas sabia que estava brincando comigo. Mas eu ia perguntar o por que desse comentário.

–Por que Ernesto? – Já fui sentando ao seu lado.

–Eu estava aqui pensando que você não teria nada para levar. Afinal somos dois pobres órfãos sem nada. Mas você conseguiu me mostrar que você tem muita coisa para levar.

Seus olhos marotos foram para sacola no meu ombro, ironia era o nome do meio do meu amado irmão, junto com bom humor.

–Aqui não tem só roupas minhas. – Ele arqueou as sobrancelhas mostrando surpresa. - Você acha que eu ia deixar você ir somente com a roupa do corpo?

–Não precisava levar nada para mim.

–Você ia ficar com essa roupa ai para sempre? – apontei para ele, que estava com uma bermuda bege e uma regata branca. – ou vai aderir o nudismo?

–Quem sabe? – ele soltou uma risada divertida. – Não é uma ilha? Posso querer uma vida mais livre e solta.

–Só você para ter uma idéia dessas. – Eu agora estava gargalhando.

–Vamos. Quero sair logo daqui.


Ele pegou a bolsa do meu ombro, e a colocou no seu. Ficou de pé olhando para mim, puxando-me para ficar ao seu lado. O sorriso do meu irmão era contagiante, não havia outra maneira se não sorrir junto com ele.

O bom humor dele sempre foi um dos motivos de me deixar algum rastro de felicidade na minha vida infeliz dentro da casa do Fonseca.


– Está pronta para deixar essa vida besta para trás? – Perguntou Ernesto, seu costumeiro tom brincalhão.

–Estou sim. E você? – Respondi tentando entrar na sua brincadeira.

–Então vamos embora daqui. – Ele deu um beijo no meu rosto. Me surpreendi com isso, mas achei graça.

De repente ouvimos um barulho vindo do lado de fora, não conseguimos identificar de imediato o que era. Então Ernesto foi verificar, colocou a cabeça para fora da porta, olhou para os lados por alguns segundos. Ele parou em uma direção e ficou olhando por um pequeno tempo.


Depois disso, meu irmão deu alguns passos para trás, arrumou a bolsa em seu ombro, agarrou a minha mão e começou a nos puxar para fora da cabana. Eu não estava entendo o motivo daquele comportamento de Ernesto. Até alguns minutos antes estávamos em um clima agradável e descontraído, agora ele estava visivelmente nervoso.


Seus passos eram fortes e apressados enquanto atravessávamos o jardim, ele não falava nada, aquele mistério estava consumindo minha curiosidade. Meu dragão também estava desconfiado dessa pressa de Ernesto. Então me sugeriu perguntar o que estava acontecendo.


Parei abruptamente, fazendo meu irmão levar um pequeno solavanco para trás, afinal estávamos de mãos dadas. Ele me olhava sem compreender o motivo da minha parada.


–O que você viu que te deixou assim? – perguntei com certo receio.

–Eu vi Carlos. – Seu tom de voz era seco. Ao ouvir aquele maldito nome, meu tigre mostrou seu melhor sorriso.

– O que será que ele ouviu? – Eu sussurrei de medo, pois eu temia o que ele poderia fazer conosco sabendo do nosso plano de ir embora.

–Não sei o que ele ouviu ou por quanto tempo. Só sei que temos que ir embora logo.


Concordei com ele, e continuamos caminhar para fora do terreno da família Fonseca. Estávamos praticamente correndo agora. Em momento algum olhamos para trás, deixando tudo no passado e querendo escrever um novo futuro. Longe de Estela, Alex e principalmente de Carlos.


Senti meu tigre agitado, com essa nova perspectiva de vida, ele rosnava nervoso dentro de mim, parecia estar sentindo um tipo de dor. Isso me incomodou, afinal ele mostrava o quanto me afastar daquele monstro do Carlos ia me custar. Haveria uma falta no meu peito, porque eu não poderia mais negar: eu o amava. Mesmo sabendo o quanto doentio era esse sentimento, mas ele existia, fazia parte de mim.


Enquanto caminhava pelas ruas de Jilas, fui me despedindo mentalmente daquele lugar. Tudo ficaria no campo das lembranças, mesmo nunca sendo feliz aqui, era o lugar onde eu cresci e vivi dezenove anos da minha vida. E agora eu estava embarcando em uma loucura desconhecida, entretanto estava contente com minha escolha.


Ernesto ainda caminhava na minha frente, estávamos de mãos dadas. Como eu estava atrás, sendo conduzida pelo meu irmão, pude notar as mulheres o encarando admiradas pela sua beleza. Isso me fez sair do meu mundo de pensamentos e me divertir com os olhares indiscretos delas. E ele estava alheio a isso tudo, e tornando o quadro mais engraçado ainda.


Algumas lançavam olhares desejosos, outras paravam e ficavam encarando, mas ele estava tão concentrado em chegar logo a praia que nem notava todas as investidas femininas. Eu já estava rindo daquilo. Então ele me ouviu, puxou minha mão para ficarmos lado a lado, e perguntou ainda andando:


–O que você está rindo Clair?

–Você não vê? – eu agora estava espantada, mas continuava rindo. – Todas essas mulheres olhando para você?

–O que você esta falando? – Seu rosto era de espanto, ele não acreditava no que eu estava falando.


Nesse momento passou uma menina que deveria ter aproximadamente quinze anos, olhando para ele abobada. Como se tivesse vendo uma miragem. Apontei para ela exemplificando o que eu tinha acabado de falar. Olhei para meu irmão, que agora estava com rosto vermelho. Fazendo-me rir mais ainda, minhas bochechas estavam doendo, porque eu nunca havia o visto assim sem graça.


–Clair pare com isso. Temos um objetivo aqui. – Ele tentava ficar serio, contudo ele não estava conseguindo, começando a rir timidamente comigo.


O clima entre nós era de pura descontração, nós dois riamos daquela situação. Em meio ao nosso divertimento percebi que já havíamos chegado a praia. Nesse momento senti a minha inquietação acelerar um pouco, me deixando mais atenta aos movimentos ao meu redor.


Olhamos a faixa de areia, procurando a pessoa que nos interessava, entretanto sabíamos que ela não estaria agora ali, afinal ainda era cedo para isso, faltariam algumas poucas horas para o nosso encontro.


Convidei Ernesto a sentar comigo em baixo de uma das castanheiras, que ficavam ao redor da praia. Acomodamos-nos e observamos as pessoas se divertindo naquele lindo dia de sol. Elas estavam tendo um dia feliz. E eu me sentia muito bem vendo a felicidade alheia. O tempo passava por nós sem ser sentindo.


–Nunca tive aquele tipo de momento. – Apontei para uma família, onde os pais estavam brincando com seu casal de filhos, eram tantos risos e carinhos entre eles. – Mas sinto que agora eu vou ter alguma coisa parecida com isso.


Meus lábios formaram um sorriso, dentro de mim havia uma certeza de felicidade impulsionada pela minha inquietação. Ela conseguia ser mais insana que minhas outras feras internas. Meu irmão estava sorrindo também, e falou:


–Espero ver sempre esse sorriso.

–Eu também espero por isso. – Eu respondi ainda olhando aquela família.


Ernesto me abraçou e beijou o topo da minha cabeça. Ficamos assim por alguns minutos, só observando tudo a distancia. Havia uma alegria absurda dentro de mim, que nem meu tigre tristonho, que parecia estar choramingando, a abalaria. Era uma paz por mim nunca experimentada. O doce sabor da liberdade.


Eu estava mais uma vez perdida dentro dos meus pensamentos, quando senti algo se mexendo nos arbustos que ficavam na mata próxima a praia. Deveria ser um bicho, logo pensei retornando a minha contemplação do dia ensolarado. Contudo minha inquietação começou a ficar agitada. Quando eu ia novamente olhar para a origem daquela movimentação vi Lisa parada bem atrás da gente.


Isso nos fez assustar, quase soltei um grito, mas Ernesto foi mais rápido e tapou minha boca. Lisa parecia agitada, mas ainda transmitia calma e segurança. Comecei a observá-la: ela usava um vestido longo, verde claro com mangas curtas que ficavam na altura do começo dos ombros, ele ajustava perfeitamente no seu corpo, entretanto não era colado nele, havia uma fluidez. Era uma peça muito bem feita, a costura perfeita e caimento excelente.


–Temos que sair logo daqui. - Suas palavras eram urgentes.


Logo nos colocamos de pé ao seu lado. Seu olhar estava atento ao que acontecia ao nosso redor. Ela pegou a minha mão direita e começou a caminhar em direção a mata densa. Inesperadamente senti meu felino ronronar de uma maneira que eu sabia o que ele estava sentindo, olhei para trás de vi o motivo da sua súbita alegria. Lá estava ele, Carlos junto com Alex. Eles estavam do outro lado da praia, mais ou menos a cinqüenta metros da gente.


–Alex e Carlos estão aqui na praia. – Minha voz era abafada pelo meu esforço de falar, caminhar e medo daqueles dois homens.

–Eu já tinha os visto. Por isso temos que ir agora. – Lisa me respondeu.


Entramos na mata, era impressionante a habilidade com que ela andava naquele terreno. Eu às vezes escorregava, cai, ralando minhas mãos e meus joelhos. Lisa vendo minha incapacidade de ter sua destreza pegou minha cintura e puxou para ficarmos com nossos corpos colados lado a lado. Ela me dava sustentação, eu já não mais caia, mas havia algo mais em meus movimentos, estavam parecidos com dela. Andava firme e segura, isso me espantou muito, entretanto não havia tempo para contestações.


Pude sentir minha inquietação me dando a força necessária para caminhar com tamanha agilidade. Ela pulsava junto com meus passos na terra, sentia-se confortável tendo Lisa ao meu lado. Sem duvida alguma Clair forte surgia na presença dessa mulher.


Quando percebi havíamos chegado à praia da Paixão. Possuía esse nome, pois ela era sempre deserta, e assim muitos casais se entregavam ao amor ali.


Na beira do mar eu avistei uma lancha branca de tamanho médio. Chegando perto dela ouvi Lisa mandando a gente subir. Ernesto subiu primeiro, colocando nossa sacola no canto da embarcação. Lisa parou abruptamente ao meu lado, lançou suas duas contas lilás para mim, segurou meus ombros, virou o rosto, parecendo escutar algo que vinha ao longe atrás dela, ficou por alguns segundos assim, depois virou para mim e disse:


–Confie em você, e no seu coração sempre. E deixe isso que está preso dentro de você se libertar.


Meus olhos marejaram ao ouvir as palavras de Lisa. Minha inquietação voltou a pulsar firme dentro de mim. Havia tanta confiança em suas palavras. Ela tinha mais fé em mim do que eu mesma. Isso me fez sentir uma vergonha imensa de mim.

Gostaria ter essa crença na minha pessoa, mas eu conhecia a Clair fraca muito bem e a força que ela tinha.


Ouvimos um barulho na mata, quando olhamos encontramos Alex e Carlos. Os dois ofegando muito. Imediatamente Lisa pediu para Ernesto me colocar no barco, que atendeu ao seu pedido prontamente. Ela continuou de pé na beira do mar, ao lado da embarcação. Mesmo as ondas batendo em suas pernas, sua figura era imóvel.


Eu temia aproximação deles, que caminhavam apressadamente em nossa direção, e Lisa parecia inabalável. Eu sentia medo por ela, conhecia a falta de escrúpulo dos dois. Comecei chamá-la para se juntar a nós, mas ela parecia não me ouvir. Continuava parada encarando aquelas duas figuras que se aproximavam de nós.


Quando meus olhos direcionaram para os dois vi que Alex empunhava um revolve, isso fez meu desespero vim à tona. Ele apontava arma para Lisa, que não movia um músculo sequer, estava firme como uma rocha.


Minhas pernas falharam, quase cai, contudo para minha sorte meu irmão segurava a minha cintura. Impedindo a minha queda. Eu não conseguia falar ou gritar, sentia minha pulsação queimar dentro de mim, ela clamava que eu fizesse alguma coisa. Mas o meu medo calava qualquer ação minha.


Os olhos verdes de Carlos encontraram com meu, ao ver meu estado de medo, ele sorriu de canto de boca. E pude ouvir Ernesto resmungar:


–Cara idiota! – Seu rosto era tenso, havia varias rugas de preocupação na sua testa.


Eles param a mais ou menos a três metros de Lisa, que continuava analisar tudo somente com as suas contas lilás, mas seu corpo estava estático, preparada para lutar.

Sua postura era de defesa conosco, ela queria nos defender, seu corpo dizia isso. Alex apontava arma para ela, Carlos estava ao lado do pai, parecendo adorar aquela situação tensa.


–Onde vocês pensam que vão? – disse Alex com respiração entrecortada pelo cansaço, entretanto ele apontava arma para Lisa.- Você não mudou nada, parece que os anos não passaram para você. É exatamente do jeito que eu me lembrava.


Ninguém respondeu nada, não havia o que falar. Estávamos fugindo deles, da vida medíocre e escrava que eles tinham nos obrigado a ter. Ansiávamos ficar bem longe deles. E também não sabíamos para onde estávamos indo.


O meu lado racional, representado pelo dragão verde metálico, começou a gritar comigo pedindo para eu ficar calma, não demonstrar meu pânico. Contudo meu tigre, o meu lado emocional, estava tão tenso quanto eu, ele estava em prantos.


–Ninguém vai falar nada? –Alex falou calmamente, sem obter resposta alguma, ele engatilhou o revolve. Vi a cabeça de lisa virar em minha direção e dizer.


–Não tenha medo de nada, principalmente de quem você é. – ela retornou a sua cabeça para frente e disse com tom raivoso entre dentes para Alex. - Eu não tenho medo de você.


Ele soltou uma risada amarga. Que fez meu felino e meu corpo tremer inteiro, um arrepio de pavor cortou minha espinha da nuca até o cóccix. Então ele respondeu, com um sorriso malicioso no rosto:


–Você não deveria ter dito isso.

–Pai não faz isso. – ouvimos Carlos falar. Porém antes um pouco dele terminar a frase ouvimos um estampido metálico. Era o disparo da arma de Alex.


Soltei um grito de horror, não queria acreditar no que eu tinha acabado de presenciar. Ernesto me apertou em seus braços, tentando controlar meu terror. Minhas feras urraram junto comigo, elas também estavam sofrendo junto. As lagrimas desciam ferozes pelo meu rosto. Mas meus olhos registraram todos os detalhes, parecia um filme em câmera lenta.


O corpo de Lisa caiu para trás, com o baque da bala encontrando seu peito do lado direito. Uma mancha de sangue tingiu seu lindo vestido verde, as ondas levavam seu corpo de um lado para outro. Ela não se mexia, estava inerte. A minha inquietação agora tinha uma pulsação forte dentro de mim. Gritava que precisava ser feito alguma coisa por Lisa.


O pingente que repousava no meu colo, agora brilhava, com uma luz clara forte. Senti-o também vibrar, parecia que algo estava mexendo dentro dele. Mas a dor de ver aquela cena fez minha atenção menosprezar esse fenômeno que estava acontecendo perto de mim. A única coisa que eu conseguia pensar era tentar de alguma maneira acabar com aquele pesadelo.


Eu queria ajudá-la, precisava sair daquele barco, tentar buscar algum socorro para ela. Contudo quando eu e Ernesto começamos a nos movimentar com intuito de ampará-la. Escutamos a voz seria de Alex.


–Vocês dois fiquem onde estão. – apontando agora arma para nós.


Ernesto bufou de ódio ao meu lado, me colocou atrás dele, me protegendo com seu corpo. Quando desviei meu olhar para corpo de lisa, pude notar que Carlos continuava parado, enquanto Alex andava em nossa direção. Eu e meu irmão demos alguns passos para trás, com medo do descontrole de Alex.


–Carlos, me ajuda entrar na lancha. – Alex gritava para o filho. Que continuava parado com os olhos baixos na direção do corpo de Lisa. – Carlos!


Seu grito ecoou pela praia, fazendo minha alma gelar, apertei as costas de Ernesto de nervoso. Quando olhei por cima dos ombros do meu irmão, vi Carlos despertando do seu transe, e vindo em direção de seu pai.


O ajudou subir na embarcação, e logo em seguida também subiu. Ele sentou no chão com os joelhos dobrados, sua cabeça ficou no meio da suas pernas, as mãos dele estavam no seu rosto. Carlos também, como eu e meu irmão, parecia estar abalado com a cena que tinha acabado de presenciar.


Alex viu seu filho desolado no chão e gritou:


–Não temos tempo para frescura. Amarre-os dois. – Ele ainda apontava arma para nós.

–Como o senhor pode fazer isso? – A voz de Carlos era fraca.

–Você não sabe do que ela é capaz. Lembro muito bem o estrago que ela, e as outras fizeram no rosto do meu sócio no passado. E não precisávamos mais dela para chegar ao lugar onde elas escondem o tesouro.


Enquanto Alex falava, Carlos o encarava seriamente. E o seu pai continuou a falar:


–Você não a ouviu falar na cabana quando conversava com o irmão? – apontando arma para mim- Que ela tem o coração necessário para chegar a ilha. Então não precisamos mais da outra. E agora vamos levante desse chão e amarre os dois.


Imediatamente Carlos levantou e abriu a mochila que estava nas suas costas, pegou dois pedaços de cordas e caminhou em nossa direção. Quando Ernesto viu ele se aproximando de nós, apontou o dedo para ele.


–Você não pense que vai se aproveitar dela. – O tom de voz do meu irmão era sombrio. Carlos parou a sua frente, seus olhos denunciavam o medo que sentia. Em seguida ouvimos Alex falar.


–Ernesto você não está em posição de exigir nada. – mostrando arma para meu irmão. – então vire-se e deixe meu filho te amarrar. Por que eu não pretendo matar você agora, mais tarde quem sabe? Pois não quero estressar o meu mapa.

Ao ouvir o discurso de Alex senti um nó formar na minha garganta. Temia pelo meu irmão, afinal ele sempre fazia de tudo para me proteger. Até quando ele podia zelar por mim?


–Agora virasse – disse Carlos debochado para Ernesto, que lógico não atendeu ao seu pedido, o encarando.


Imediatamente ouvi aquele som assustador, o engatilhar da arma de Alex. Isso era demais para mim, a possibilidade de perder também meu irmão, então meu dragão deu força para as palavras saírem.

–Por favor Ernesto. – fiquei ao seu lado, afagando seu braço. – Faça o que ele está pedindo.

–Ela é mais esperta que você, saco de músculos – disse Carlos para Ernesto,


Meu irmão tinha respiração forte, eu estava vendo que meu irmão tentava se controlar para não brigar com Carlos. Assim ele uniu os punhos lado a lado na sua frente, Carlos pegou e enrolou a corda. Observei que eles dois se encaravam em uma batalha silenciosa.


Depois de amarrar as mãos do meu irmão, Carlos pegou o segundo pedaço de corda e mandou Ernesto sentar. Nunca havia visto meu irmão bufar de tanta raiva, e Carlos parecia se divertir com a submissão do meu irmão. Afinal era primeira vez que ele e seu pai conseguiam controlar Ernesto depois de muitos anos.


Ao terminar o seu trabalho no meu irmão, Carlos foi à mochila e pegou outro pedaço de corda. E veio na minha direção com seus olhos firmes em mim, meu tigre apaixonado estava todo saltitante, fazendo minha respiração ficar descompassada. Logo meu dragão bufou, e mandou-me acabar com aquela cena pseudo-romantica. Ele tinha razão, e assim estendi meus braços de maneira rude.


Evitei encarar seus olhos, limitei encarar o chão da lancha. Sabia que meu tigre não se controlaria ficar tão próximo de Carlos, e acabaria me traindo entregando aquele monstro. Assim eu precisava desviar a sua atenção. Contudo sentia Carlos me analisando enquanto amarrava minhas mãos. Ernesto bufava de raiva ao meu lado.


Enquanto ele passava a corda pelos meus pulsos, a inquietação dentro de mim queimava, estava quase me ferindo. E ela estava misturada com a dor da morte de Lisa. Esse sentimento era dilacerante, mesmo tendo pouco tempo de contato, foi ela que mudou a minha vida e tinha ganhado meu sentimento materno.


Eu lutava para conseguir me manter em pé, porque minha verdadeira vontade era de gritar bem lato, para aliviar essa pressão dentro de mim


Ao dar o ultimo nó na corda que envolvia meu pulso, senti-o puxar levemente meu corpo para encostar-se ao seu. Aquilo me desconcertou, o felino que habita dentro de mim já estava pronto para atacá-lo. Mas ouvimos um pigarro de Alex. Isso o fez se afastar de mim. Meu dragão comemorou, lançando olhares furiosos para minha outra fera, que tinha preferência clara por Carlos.


–Agora sentem os dois- Ordenou Alex para mim e meu irmão. Eu logo obedeci, já Ernesto continuou em pé o encarando. – Ernesto sente agora. A paciência não é uma das minhas virtudes.

–Ernesto senta pelo amor de Deus. – Eu falei tentando controlar o meu tom de voz, para não sair desesperado.


Afinal tudo que eu menos precisava agora era a morte do meu irmão. A minha cota de perdas já havia superado naquele dia com morte de Lisa. Ernesto olhou para mim e voltou a encarar Alex, que engatilhou arma. Ao visualizar esse quadro senti meus olhos soltarem com fúria a cachoeira de emoções que havia dentro de mim. Meu choro era silencioso, aquele que vem da alma, que mostra todo seu sofrer particular.


Ao ver meu momento de fraqueza, Ernesto começou a sentar do meu lado, mas não desviava olhar de Alex, que continuava apontara arma em sua direção. Quando finalmente meu irmão ficou ao meu lado, coloquei minha cabeça no seu ombro, e deixei minhas lagrimas molharem sua pele. E ele sussurrou no meu ouvido:


–Vai ficar tudo bem. – escapou dos meus lábios um soluço involuntário. – Acalme-se, por favor. Eu estou aqui com você.


Senti um beijo no meio dos meus cabelos. Respirei fundo, meu dragão mandava eu me controlar, que desespero agora não ia ajudar em nada. Concordei, deixei as ultimas lagrimas caírem, puxei mais um pouco de ar para meus pulmões. Isso foi me acalmando, na verdade me trazendo um estado estupor.


Alex mandou Carlos ligar a lancha, que o perguntou em que direção ir. O pai só respondeu que deveriam ir para o alto mar. O filho assentiu e colocou a lancha em movimento.


Os últimos raios de sol já estavam se despedindo quando vimos a praia se afastar, na beira dela estava lá o corpo de Lisa. A minha inquietude queimou mais ainda, mas agora ela parecia estar me fortalecendo de alguma maneira. Ela estava tentando me arrancar da inércia por mim sentida por causa da dor da perda de Lisa.


O calor dessa inquietação me aquecia, mexia com meus sentimentos, que agora estavam tão conflitantes dentro de mim. Parecia haver uma guerra dentro de mim, pois ao mesmo tempo que me sentia fragilizada por ver uma mulher tão importante para mim ser morta na minha frente, deixando-me órfã da minha nova vida. Havia do outro lado uma força, a inquietude que surgiu depois de Lisa, me fortalecendo mantendo minha atenção, deixando-me em estado de alerta.


Será que a antiga Clair, fraca e sensível, estava em conflito direto com a nova Clair, desconhecida por mim? Essa nova perece ser mais forte do que anterior. Aparentemente minhas feras internas já haviam escolhido as suas favoritas. Meu tigre logicamente gostava da velha Clair, já meu dragão estava adorando conhecer a nova.


Era tudo tão confuso dentro de mim, havia tanta coisa acontecendo em pequeno intervalo de tempo, que me deixava questionando a minha capacidade de sanidade mental.


Mas a pergunta principal era qual dessas Clair irá prevalecer?



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Notas finais do capítulo

Isso q é vilão hein?? alex... Vms pra ilha... o que vamos achar ali???meninas brigada sempre pelo carinho extremo comigo.. mesmo vc q naum comenta saiba q me deixa feliz....Isso aki é meu sonho.. a minha loucura compartilhada...