Amz escrita por MissBlackWolfie


Capítulo 10
Meu lugar


Notas iniciais do capítulo

Mas eu posso demorar.. mas sempre volto!!!!!
é minha gente.. uma das minhas promessas pra 2013.. é terminar esse livro... q já tah todo rascunhado, pelo menos o primeiro... e que vou postar aqui...
Bem, sei q mta gente nem deve se lembrar da historia.. mas espero q vcs releiam e curtam....



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Capitulo 9

Em meio as minhas lutas internas meus olhos foram capturados pela ultima vez para beira da praia, o corpo de Lisa boiava em meio à areia e às ondas, e uma mancha de sangue tingia a água que estava ao seu redor. Aquele quadro era assustador, uma pontada forte cortar o meu peito, no mesmo local aonde aquela mulher tinha sido atingida.

Havia a sensação dentro de mim que eu havia sofrido aquele tiro, que ele tinha atravessado a minha carne, conseguia sentir a hemorragia quente dentro de mim. Era como uma fogueira, e parecia que estava sendo queimada no meio dela. Essa dor substituiu toda confusão interna que havia há segundos atrás. E a deixei percorrer toda minha mente, me levando para longe daquele barco.    

Mesmo conhecendo Lisa por pouco tempo, ela havia mudado todo o rumo da minha vida, me deu de presente um novo sentido para viver. Realmente eu não sabia o que esperar do meu futuro, mas eu confiava nela, mais do que a mim mesma.

Ela me ajudou a movimentar o meu universo, dando-me coragem de querer escrever outra história, entregando à mim um lápis e uma folha em branco para eu escrever meu novo destino, totalmente diferente.

Lisa foi uma daquelas pessoas que entram na sua vida sem serem esperadas e transformam tudo por completo. Ela havia me dado uma nova Clair, que era forte, e que era impulsionada pela inquietação quente e poderosa. Não sei se essa nova eu irá aparecer sem aqueles olhos lilás, contudo sei que ela está aqui dentro em algum lugar. Ao pensar nisso senti novamente a pulsação marcada da minha inquietude. De certa maneira ela me reconfortava, era prova da existência daquela mulher na minha vida.

Por ela eu senti sentimentos por mim nunca experimentados antes. Como o amor de mãe, que é cultivado durante anos de convivência, mas que naquele caso apareceu em tão pouco tempo. Acho que isso aconteceu dessa maneira tão intensa porque houve uma identificação mutua, mesmo que incompreensível, mas ela aconteceu. Partiu dela também um doce carinho, que chegou para mim como maternal.

Ao pensar nos olhos lindos de Lisa fazia a dor de perdê-la me machucar mais ainda. Contudo mesmo tendo esse vazio dentro de mim, a minha pulsação agora tinha um ritmo marcado e compassado, percebi que ele estaria comigo para sempre, acredito que seria a minha lembrança viva de Lisa na minha vida.

Não sei quanto tempo fiquei perdida no meu interior, mas quando percebi o céu já estava repleto de estrelas. Quando olhei ao meu redor vi que estávamos no meio da imensidão azul escuro. Só havia o luar para iluminar, então Carlos pegou uma lanterna e entregou para Alex, que agora tinha colocado arma no seu cinto.

Lancei meu olhar para Lua, que brilhava imponente no céu, enquanto a admirava o pingente dado por Lisa, começou a brilhar e tremer, sua luz era prateada como o luar. Aquilo estava me assustando, a sua luminosidade estava tão intensa que chamou atenção de Ernesto, que antes estava com cabeça entre os joelhos.

-O que isso Clair? – Meu irmão me perguntou intrigado.

-Não sei, começou a brilhar do nada. – eu disse com tom de espanto.  

Minha inquietação interna logo se manifestou aumentando a pulsação parecia estar no mesmo ritmo do vibrar do pingente. Eles pareciam estar se completando, tudo isso estava me assustando, me fazendo arfar de medo.

Toda essa movimentação estranha chamou atenção de Carlos, que passou a me observar por algum tempo. Então outro clarão capturou a nossa atenção. Uma estrela brilhou intensamente no céu, na direção ao norte, era da mesma cor do pingente. Havia uma ligação entre elas, meu coração sentia isso.

Alex agora observava também toda atividade, ele tinha um sorriso malévolo no rosto, que encarou o filho, com uma expressão que dizia nitidamente: “Não lhe disse.”. Carlos por sua vez parecia não acreditar no que seus olhos estavam lhe mostrando.

Então ouvi a voz grossa de Alex afirmando para o filho:

-Ela é o mapa. – soltou uma pequena risada debochada.

-Como isso é possível? – Carlos perguntou descrente.

-Não importa como, mas sim que vamos conseguir chegar a esse tesouro.

Ao ouvir a resposta de Alex, senti um gosto amargo na minha língua, era a sua ganância que me fazia mal. Pois ele estava indo a ilha atrás de alguma riqueza material, e eu estava indo em busca da minha nova vida. Que eu pretendia ter bem longe deles, contudo mais uma vez eles estragaram tudo.

-Carlos! - Ouvi Alex o chamando. – Segue a direção da estrela.

-Sim pai. – ele virou a lancha em direção ao ponto luminoso.

Enquanto Carlos obedecia ao comando do pai, seus olhos verdes ainda estavam em mim. E inevitavelmente meus olhos traiçoeiros encontraram os dele. Havia algo diferente ali, parecia haver uma certa preocupação, talvez admiração. Isso fez meu tigre ficar interessado pelo aquele novo tipo de olhar lançado a mim, ele parecia contente com aquilo.

Meu dragão em contra partida parecia estar sendo testando a sua paciência, além dessa insistência doentia de admiração pelo Carlos do meu tigre, o que também estava esgotando sua tolerância era o fato de não sabermos para onde estávamos indo. A falta de informação lhe gera muito incerteza, o deixando muito nervoso.

Podia entender o medo dessa minha fera racional, mas ao mesmo tempo senti minha inquietação tentando lhe trazer a certeza em meio toda aquela incerteza. Ela dizia para ele que tudo ficaria bem, que estava tudo seguindo como planejado, e que não havia motivo para medo. Confesso que aquilo não estava convencendo nem a mim, muito menos meu dragão.

Entretanto havia tanta convicção por parte da minha inquietude, suas palavras eram tão firmes dentro de mim, que me deixe ser levada por ela. Talvez porque na verdade eu não teria muito a que confiar se não fosse nessa sensação que no final tudo estaria bem.

Afinal estava no meio do oceano, como refém, indo para um lugar desconhecido. Eu não tinha muita opção. Se não confiar nessa certeza da minha inquietude.

Contudo uma pergunta me afligia, além de todo esse conflito interno que estava vivendo, era algo que minha inquietação não conseguia me responder. Como tudo poderia ficar bem tendo uma morte a sangue frio de uma mulher inocente?

Ao emergir esse questionamento minha inquietação urrou de dor, doía nela também perda de Lisa, porém ela me dizia junto aos batimentos do meu coração que deveria continuar que eu tinha força para isso. Eu não conseguia acreditar muito nisso, mas como já disse não tenho muita opção.        

Mais uma vez fiquei navegando em meus pensamentos e sentimentos por um bom tempo, na verdade a impressão que eu tinha que tempo estava passando de maneira diferente por todos nós naquele barco. Essa idéia pode ter sido causada pela falta de referencia, afinal estávamos em plena imensidão do mar.

Não sei por quanto tempo aquela estrela ficou brilhando firmemente no meio do manto negro da noite. A única coisa que me mantêm consciente, sem me entregar ao cansaço mental que eu estou sofrendo era o vibrar constante daquele pingente. Que eu tinha impressão estar chamando por algo, mas eu não sabia exatamente pelo que. Minha inquietação agora estava forte, mas controlada dentro de mim. Na verdade ela já fazia parte do meu ser.

Em meio a toda essa tormenta que se passava dentro de mim, eu via de canto de olho, meu irmão preocupado ao meu lado esquerdo. E na minha direita, mais a frente estava Carlos que também me encarava com olhar preocupado. Isso levava meu tigre loucura. Contudo havia tanta coisa acontecendo dentro de mim que não conseguia dar importância a ele.

De repente a estrela parou de brilhar, junto com pingente, que agora só vibrava em meu peito. Agora sentia que ele estava chamando pela minha inquietação, que prontamente se mostrou solicita, aumentando sua pulsação. Eu fui tomada pelo martelar rápido e angustiante desse novo ser que existia dentro de mim.

O ar parecia faltar ao meu redor, meus batimentos cardíacos estavam acelerando, tinha impressão que eles estavam tentando afinizar com a minha inquietação. Agora Ernesto estava agitado ao meu lado, e começou a me chamar.

Eu o ouvia me chamar, mas era como se ele estivesse longe de mim. E como eu estava tentando respirar, já que oxigênio parecia teimar em entrar nos meus pulmões, assim não conseguia falar nada. De relance vi que Alex e Carlos estavam me encarando assustado.

Alex estava nervoso, eu o ouvia dizendo para Carlos, que deveria arrancar a informação sobre que rumo tomar agora, já que perderam a estrela como referencia. Seu filho lançou um olhar luxurioso para mim, seria uma diversão para ele isso eu tinha certeza.

Enquanto ele caminhava na minha direção, o meu dragão gritou em meio aquela frenética orquestra de pulsação que havia dentro de mim. “Lembre-se da falta de escrúpulo dele.”. Imediatamente minha inquietação respondeu por mim: “estou preparada para isso”.

Eu ri desse comentário, em meio ao meu arfar. Afinal ela poderia estar preparada, já eu, a Clair frágil, não estava. Logo ao pensar nisso uma cena apareceu em minha mente: Os olhos lilás de Lisa, e sua boca movimentando e dizendo: “Confie em você.”.

Isso fez minha inquietação aumentar, parecia que algo crescia dentro de mim, a sensação que eu ia partir ao meio era muito forte. Fechei meus olhos, queria tentar encontrar algum tipo de calma, eu precisava conter aquela loucura que estava acontecendo. Contudo, quando pensei que ficaria segura na minha escuridão de minhas pálpebras, uma visão invadiu. Lisa na praia me dizendo: “E deixe isso que está preso dentro de você se libertar.”. A voz dela ecoava dentro da minha mente.

Ao terminar de ter essa visão minha pulsação, por incrível que pareça, parecia ter se acelerado tanto que estava quase me enlouquecendo. Contudo minha loucura era interna, por fora eu tentava manter o foco em um ponto especifico, meus olhos estavam virados para frente.

E o pingente tremia ferozmente no meu colo, chegava dar uns pequenos pulos, então virei meu rosto e vi Carlos se agachando na minha frente. Meu dragão protestou, minha inquietação dizia para eu não ter medo. E eu, a Clair frágil de sempre, estava perdida em meio aquele furacão de emoções.

Meus olhos encararam aquelas duas esmeraldas na minha frente, e como em um passe de mágica, minha inquietação ficou em alerta e desacelerou a pulsação, mas o seu martelar ainda era forte, contudo não me deixava mais sem ar, na verdade ela me deixava alerta, como nunca antes estive.     

-Clair, me diga que direção devo tomar agora?- Carlos falou isso enquanto pegava com mão uma mecha do meu cabelo que cobria meu rosto.

Normalmente se isso acontecesse, meu tigre me cegaria e eu estaria derretendo ao toque de Carlos. Entretanto algo dentro de mim estava diferente. Sim, além de haver meu dragão, que odiava aquele ser a minha frente, como também agora havia minha inquietação. Que trazia a tona uma Clair forte. Sinceramente não sei como ela parece, só sinto que ela vai surgir mais vezes, e quem sabe um dia, ela um dia substitua a velha Clair.

Essa inquietude me dava força para encarar Carlos, coisa que eu nunca tinha feito antes, pois temia a reação traiçoeira do meu tigre apaixonado. Porem hoje ele parecia ter sido calado, contudo eu me perguntava até quando ele seria contido? Entretanto hoje ele estava abafado.

Havia uma força incomum dentro, eu podia a sentir sendo irradiada por todo meu corpo.  Algo que nunca havia sentido antes, eu não conseguia me reconhecer.

Os olhos de Carlos me observavam com preocupação, pois eu não havia respondido sua pergunta. E sem duvida essa minha postura determinada o deixava bastante confuso, até eu estava estranhado a mim a mesma.

Novamente Carlos repetiu a pergunta, nesse momento consegui ouvir de maneira clara o que o pulsar do meu coração, que agora era o mesmo da minha inquietude, queria me dizer. “Siga agora para o noroeste.”. A voz dentro de mim era tão firme, que não conseguia se ter duvida da sua convicção.

Contudo não falei nada, eu estava tão assustada, com toda essa minha loucura interna que não conseguia responder. Só continuava o olhar para frente, onde estava a figura de Carlos. Ouvi Alex bufar irritado próximo ao filho, sem duvida havia uma tensão no ar, afinal não era somente eu que estava perdida em alto mar.

Assim meu dragão se manifestou, dizendo que eu deveria falar com aquele monstro à minha frente a direção. Porque infelizmente precisávamos ainda dele.

Em meio a esse meu dialogo mental com as minhas loucuras, vi a irritação surgir no rosto de Carlos, que virou para encarar o pai, que por sua vez o falou:

-Dê um jeito de arrancar dela a resposta. – Alex estava gritando, sua voz ecoava no meio da noite.

-Clair, seja boazinha. – ele parecia falar com uma criança teimosa, mas havia uma maldade ali intrínseca. – Fala para mim.

Pegou a minha mão, isso deu força ao meu tigre, que rugiu forte, desestabilizando a Clair forte e meu dragão. Comecei a ver as mãos dele acariciando as minhas, e aquilo me trouxe uma felicidade, mas logo percebi que seria momentânea. Afinal minhas outras feras reagiram logo, lembrando a mim as varias vezes que ele me humilhou e me chamou de fraca. Mas as suas vozes eram distantes, estavam sendo abafada pelo amor que eu sentia por Carlos.  

Ele não pode exercer esse poder sobre mim, eu racionalizei. Contudo é tão difícil negar o que sinto por Carlos, é algo irracional, sem duvida eu o amava, e isso me consumia de culpa por dentro. Pois eu sabia que ele não era bom para mim.

Mas ao ver todos aqueles momentos sendo jogados na minha frente, alertavam-me que deveria o afastar de mim. Eu precisava tomar alguma atitude, tinha que interromper aquele contato de alguma maneira. Para retornar a ter a força que antes estava sentindo.

-Segue ao noroeste. – Eu falei de cabeça baixa, não ajudava em nada ficar olhando para ele.

-Sabia que você ia me contar. – A mão dele passeava pelo meu braço.

O rosto de Carlos estava próximo a mim, eu podia sentir seu hálito quente, e aquilo começou a abalar o meu foco de me afastar dele. Meu tigre sussurrava para mim: “Deixe esse sentimento fim a tona, eu sei que você o deseja, que o ama”. De fundo meu dragão rosnava sobre protesto, minha inquietação bufava irritada.

Levantei minha cabeça, realmente não havia mais motivo para fugir do meu sentimento. A sensação de derrota invadiu meu ser, deixando a Clair frágil de sempre se apoderar por completo. Ele agora começou passar a mão no meu rosto, e eu fechei meus olhos para sentir por completo o seu toque. Então em plena a minha entrega, ouvi as palavras da verdadeira essência de Carlos.

- Afinal você nunca me nega nada, sempre faz o que eu quero. – Ele levantou displicentemente e foi em direção ao leme da embarcação, e virou na direção que eu falei. Minha respiração ficou irregular tamanho ódio que eu senti.

Aquelas duas frases invadiram meu ser de uma maneira avassaladora, parecia que ele tinha jogado um fósforo acesso em meio a uma poça de gasolina, logicamente haverá um explosão. Foi isso que aconteceu dentro de mim, minhas emoções foram para o ar. E o que o restou foi a certeza da maldade de Carlos.

Sempre serei um objeto para ele, isso era algo que eu já deveria ter aprendido, afinal ele já tinha me mostrado isso. Meu dragão falou: “Tem coisas que nunca mudam.”. Eu sabia que ele se referia a Carlos, e a infantilidade de ainda acreditar nele me irritavam profundamente.      

A frustração da minha idiotice trouxe-me uma raiva gigante dentro de mim, agora eu bufava de ódio. Mas esse sentimento era direcionado a mim, somente a mim. Eu realmente era fraca, não era digna da confiança de Lisa. Afinal ela confiava em mim para chegar a ilha e se juntar a sua família. Não havia dignidade dentro de mim.

Ao pensar isso tudo, ouvir minha inquietação falar: “confie em você”. Como posso fazer isso?, eu questionava a minha inquietude. Pois se com somente um toque e algumas poucas palavras ilusórias, eu me deixava levar por aquela mentira, sem ao menos resistir.

Contudo minha inquietude respondeu: “Vai dar tudo certo. Você é mais forte do que pensa”. Agora sua pulsação voltou a ser forte, o seu bater dentro de mim era intenso, novamente ela me trouxe esperança de que tudo será diferente. Eu preciso e quero acreditar nisso.

-Clair, você esta bem? – Disse Ernesto ao meu lado muito preocupado.

-Estou ótima. – Respondi com tom sarcástico. – Por que você está perguntando isso?

-Porque você está muito estranha.

-Como assim? – Agora encarava o rosto do meu irmão, que se assustou com a forma ríspida que o encarei.

-Eu nunca te vi assim tão inquieta. Tá acontecendo alguma coisa?

-Está acontecendo um monte de coisas esquisitas dentro de mim. – Ao confessar isso para meu irmão, senti um alivio imenso. – Acho que estou enlouquecendo.

-Nem brinca com isso. – ele riu, contudo ele viu agonia nos meus olhos. – Lembre-se, eu estou aqui, não vou deixar você se perder.

-Ernesto, nem você pode me salvar de mim mesma. – Agora as lagrimas invadiam meus olhos, junto com sentimento de vergonha.

-Ei, vem aqui. – mesmo nós dois amarrados, ele se aconchegou para perto de mim. eu coloquei minha cabeça em seus ombros, e deixei minhas lagrimas rolarem silenciosamente.  

Aquilo tudo estava acabando com a minha sanidade e esgotando as minhas forças físicas quanto mentais. Todas aquelas batalhas internas e os últimos acontecimentos, isso tudo junto com a incerteza do nosso futuro, estavam cobrando um esforço inumano de mim. Não consigo acreditar que eu possa lidar com tudo isso.

-Clair, você confia em mim? – ouvi a voz do meu anjo chamado Ernesto.

-Confio. – eu sussurrei.

-Vai ficar tudo bem. Promete que vai ficar mais calma?

-Vou tentar.

-Sei que você vai consegui. Você é mais forte do que você pensa. Agora tenta dormir um pouco.

Eu ri amargamente do comentário de Ernesto, afinal ele e a minha inquietação compartilhavam de uma mesma opinião sobre mim. Que eu era uma pessoa forte, mesmo eu apresentando inúmeras falhas marcantes, principalmente quando me aproximava de Carlos.

Aos pouco senti a inconsciência do sono se aproximando e me dominando. O cansaço me nocauteou e me levou para um descanso, no mundo dos sonhos. Minha mente necessitava por um momento de paz. E assim aconteceu, as minhas feras, junto com o pingente, se acalmaram, havendo um silêncio incomum, mas muito agradável. Isso permitiu que eu dormisse, encostada ao ombro de Ernesto.

Meus sonhos como sempre foram vagos e tranqüilos. Pelo menos nesse campo mental, eu era tranqüila. Isso me alegrava muito ultimamente, afinal ainda havia um refugio sadio para mim.

Acordei com o novo vibrar do pingente em forma de gota, que fazia a corrente de prata tremer por inteiro no meu pescoço. Abri meus olhos, logo vi os primeiros raios de sol invadir o céu que azul turquesa, e nele se fundia uma mancha rosada, onde o sol estava começando a nascer. Ainda havia poucas estrelas que insistiam em brilhar, mas logo foram apagadas pela imponência do astro rei. Fiquei observando aquele quadro por algum tempo, parecia ter sido pintado especialmente para mim.

O tempo que eu fiquei pressa naquela pintura pôde sentir a minha inquietação se harmonizar por completo com o movimento do pingente, eles agora eram complementares. Toda aquela movimentação dos dois já não me impressionava, ela fazia parte de mim. Esses novos elementos já não me assustavam mais, eram agora pedaço de mim, como meu dragão e meu tigre.

Contudo aquilo tudo estava impressionando Carlos, que me observava atentamente, de maneira incomum. Aquilo estava me intrigando mais do que aquela minha esquisitice interna. Seus olhos verdes estavam atentos a todo meu corpo, desde do meu pingente, que quicava contra minha pele até a forma com que eu respirava, que era um pouco ofegante.

Em meio o seu percorrer de olhos em mim, os nossos olhares se encontraram, eles ficaram ligados por poucos segundos, tempo suficientes para eu poder enxergar que ali havia uma duvida. Mas não conseguia entender o motivo dessa.

Meu tigre acordou de imediato e rosnou, doía nele ver algo incomodando seu amor, ficou mais agitado que a minha inquietude. Assim o lancei um olhar mais intrigante, queria ver mais, ir além, descobrir o que incomodava. Contudo isso o assustou e imediatamente Carlos desviou olhar para outro lado, parecia estar intimidado.

Aquele gesto me deixou surpresa, me fez que eu tinha feito algo anormal. Eu nunca encarei Carlos daquela maneira, sempre eu que desviava o olhar, fugia dele de alguma maneira. Mas agora algo estava diferente, eu quis investigá-lo através dos olhar, que dizem ser a janela da alma. Ela pela primeira vez, havia mostrado que há algo para ser descoberto ali, eu vi uma duvida, e quero saber qual é ela. 

-Clair, você está muito, mais muito mesmo, estranha. – Ernesto tinha uma voz com tom sarcástico. Virei meu rosto e vi que ele me olhava também intrigado.

-Estranha como?- Pelo jeito meu irmão também estava observando a minha conversa silenciosa com Carlos.

-Nunca vi você olhar alguém desse jeito. Parecia que você ia entrar dentro do infeliz. – ele estava sussurrando de maneira irritada, mas ainda havia seu humor ali.

-Não sei o que você esta falando Ernesto. – Tentei disfarçar em vão, meu irmão me conhece, às vezes melhor do que a mim mesma. E assim ele arqueou sua sobrancelha direita e mostrou claramente que não tinha acreditado nas minhas palavras. – Ernesto, o que você quer dizer com isso?

-Clair, você não me engana, algo de muito estranho esta acontecendo com você. – abaixei minha cabeça, mostrando para ele que sua suspeita estava certa. – Parece que tem alguém diferente dentro de você.

-É você tem razão. – Nessa hora o sentimento de medo apareceu junto com uma pergunta: será que essas novas loucuras que surgiam sem parar dentro de mim iriam agradar meu irmão? Agora a duvida era minha e a lancei através do meu olhar para meu irmão. Que obvio conseguiu interpretar perfeitamente, e falou.

-Independente do que você sentir e decidir fazer, eu estarei aqui do se lado, ta? – Ele deu um beijo na minha testa. – Você sempre será a minha irmã, não importa o quanto você mude, eu conheço a sua essência.

-Obrigada Ernesto. Não sei o que faria sem você. – As palavras dele tinham me acalmado um pouco. Até o conjunto: inquietação e pingente vibrando, tinham diminuído um pouco sua velocidade.

Então um clarão capturou atenção de ambos. Uma estrela voltou a brilhar, logo percebi que era a mesma que tinha surgido anteriormente para a nós, indicando o caminho da ilha. A luz crescia intensamente, apagando junto com os raio de sol, as outras estrelas. De repente aquele ponto brilhante, começou a se mover para o lado oposto do nascer do sol e começou a cair. Tentei acompanhar com meu olhar, porém ainda estava sentada no chão do barco, e com a minha baixa estatura junto altura da borda embarcação, estava impossibilitando eu enxergar o destino da estrela. Bufei irritada.

Ainda estava encostada no ombro de Ernesto, que por ser mais alto do que eu conseguia ver além da borda a embarcação. Seus olhos estavam vidrados para frente, o que ele enxergava o deixava maravilhado. Estiquei meu corpo, mas não obtive sucesso, continuava ver a faixa branca na minha frente.

Assim percebi que tinha me esforçar mais, imediatamente, mesmo com as mãos amarrada, perdendo um pouco equilíbrio, mas meu irmão me escorou com seu corpo, me ajudando ficar de joelho com corpo ereto. Quando meus olhos captaram a imagem a minha frente, logo entendi o deslumbramento estampado no rosto de Ernesto.

Ao longe eu podia ver uma praia maravilhosa, daquelas dignas de cartão postal. Água era da cor azul escuro, havia pequenas marolas quebrando na beirada. Tinha um conjunto de pedras do lado esquerdo, de varias formas e alturas. A areia era bege clara e bem fofa, a vegetação era bem espessa, havia alguns coqueiros, arbustos e outros tipos de árvores que eu nunca havia visto antes, a brisa balançava suavemente as folhas. Alguns raios de sol iluminavam pontos estratégicos daquela paisagem, fazendo tudo ficar mais magnífico.   

Imediatamente meu pingente ficou da mesma cor do mar. E um arrepio invadiu meu corpo me fazendo arrepiar por completo e arrancando um suspiro. A familiaridade que aquele lugar me transmitia fazia minha inquietação martelar forte dentro de mim. Mais uma vez ela estava crescendo e crescendo no meu peito.

Mesmo com essa inquietude quase me enlouquecendo internamente, o lugar na minha frente transmitia paz, havia uma familiaridade absurda dentro mim olhando aquela imagem. Parecia um local intocável, que nunca foi contaminado pela exploração do homem.

A inquietude confirmou o que eu tinha certeza, ouvi sua voz que era parecida com a minha dizer: “Chegamos. Bem vinda ao seu lar.” Inevitavelmente um sorriso escapou dos meus lábios, meus olhos inundaram de lágrimas, era uma emoção avassaladora. Na minha vida toda me sentia deslocada no mundo e finalmente eu tinha encontrado meu lugar.

Nesse momento ouvi Ernesto falar no meu no ouvido todo animado:

-É aqui, né? – Assenti com a cabeça.- É maravilhoso.

Não conseguia falar nada, eu estava em estado completo de felicidade, que nem a minha inquietação crescente dentro de mim, conseguiu me desconcentrar da minha alegria.    

Do outro lado do barco, perto do leme, vi Carlos comemorando com Alex, eles davam socos leves um no outro, pareciam bastante satisfeitos com o que estavam vendo, falavam do possível potencial econômico para o lugar.

-Se não encontrarmos o tesouro propriamente dito, podemos explorar o turismo aqui. Já imaginou a quantia alta que os turistas pagarão para vir aqui. – Carlos dizia isso com a ganância tingindo seu rosto.

-Meu filho, sem duvida você esta certo. Contudo posso te garantir que aqui há algo o mais do que potencial turístico. Lembre-se das folhas do diário. – ele encarou Carlos com uma sobrancelha arqueada.

Seu filho balançou a cabeça para frente concordando com ele, que por sua fez sorriu satisfeito. A minha inquietação não gostou aquela cena explicita de ganância daqueles dois homens. Pois seu pulsar que antes era controlado, agora era agitado, me fazendo gastar todo meu estoque de oxigênio que havia dentro dos meus pulmões, dessa forma eu estava arfando.

Carlos logo aumentou a potencia do motor, fazendo a lancha ficar em alta velocidade. Isso fez meu corpo desequilibrar, e eu cair por cima de Ernesto, que perguntou se eu estava bem. Respondi que sim, mas mal sabe o meu irmão que minha respiração irregular era por causa do martelar da minha inquietação.

A medida que a embarcação avançava em, direção a ilha, vencendo as ondas, a inquietação pulava em meu peito. Ela parecia estar ansiosa, como um bicho prestes a ver a liberdade. Não era só eu que ansiava essa vida nova, ela também desejava aquilo. Mesmo tendo aqueles dois elementos do meu passado, eu sabia que teria uma vida diferente a partir de agora, e minha inquietude também garantia que eles não irão me atrapalhar nesse meu novo destino.           

Ao nos aproximar da beira da praia, a lancha foi diminuindo a velocidade, até chegar a parar por completo. Porém minha inquietação começou a doer dentro do meu peito, era física a dor, devido o seu pulsar violento. Eu tinha a nítida sensação corpórea que ia romper, algo de dentro de mim ia sair correndo. As palmas das minhas mãos suavam frio, tamanha a intensidade da ansiedade gerada dentro de mim.

Meus sentidos estavam aguçando, senti meu ouvido dilatar, meus olhos pareciam estar se ajustando a uma visão mais nítida. Uma corrente elétrica, que tinha como origem no meu peito, onde a minha inquietude morava, corria por todas as partes do meu corpo. Eu estava entrando em um estado de alerta, as peças que existiam perdidas dentro de mim, que foram criadas desde do meu encontro com Lisa, agora flutuavam soltas, procurando um local para se acomodarem. Entretanto elas estavam agitadas junto com o pulsar da minha inquietude.

Do lado de fora do meu furacão interno, vi Carlos pulando do barco, direto na água, em seguida ajudou Alex a sair. Quando ele ficou de pé, ajeitou arma no cós da calça, mostrando para nós que ele continuava armado. Ernesto bufou irritado ao meu lado e revirou os olhos. Essa reação do meu irmão fez Alex tirar o revolve da calça e deixá-lo na mão. Alheio aquilo Carlos perguntou:

-Para que isso pai?

-Nunca se sabe. – Alex demorou seu olhar no rosto de Ernesto, que parecia se divertir com a irritação dele.- Melhor estar precavido para qualquer coisa. Agora ajude eles dois a saírem da lancha.

Ainda estávamos sentados no chão da embarcação, contudo ao ouvir Alex mandando o filho nos auxiliar a sair dali. Assim me coloquei de pé rapidamente, pois eu já estava de joelho, isso facilitou o meu trabalho. Mesmo com a balançando leve, devido as marolas, mas isso não me atrapalhou, além que os meus pés não estavam amarrados, então foi até fácil levantar.

E assim pude ajudar Ernesto se colocar também de pé. Dei a ele meu braço, para ele escorar e ficar de pé, pois ele ainda estava com os pés amarrados. No entanto no momento que eu estiquei meu braço, uma pergunta feita pelo meu dragão racional logo emergiu do meu cérebro: como eu vou agüentar o peso de Ernesto todo no meu frágil braço? Em seguida ouvi minha inquietação falar: “Você é mais forte do que pensa.”

Antes que eu pudesse argumentar sua afirmativa, meu irmão já estava com seu peso corpóreo em cima de mim. E impressionantemente eu fiquei estável e sustentei-o para que ele pudesse ficar de pé. Olhei para meu irmão com um rosto assombrado, e logo vi que ele estava com a mesma fisionomia do que a minha. Sem querer escapou dos nossos lábios sorrisos.

Não falamos nada, porque não queríamos chamar atenção daqueles dois. Seria o nosso segredo. Assim depois das nossas trocas de olhares cúmplices, ajudei meu irmão a pular até a beira do barco.

Mas inesperadamente Ernesto deu um impulso maior no seu ultimo salto, e pulou do barco. Isso vez a embarcação sacudi e me derrubar. Ele por sua vez caiu sentado na água. Fiquei preocupada, mas ele estava rindo daquilo. Já Carlos olhava com incredulidade, entretanto isso não intimidou meu irmão, que sentado falou:

-Você pode soltar os meus pés agora. – Ernesto viu que Carlos estava desconfiado. – Eu prometo não fazer nada. Dou a minha palavra. Afinal você não vai querer carregar um marmanjo como eu, certo? 

Carlos analisou um pouco mais o rosto do meu irmão, deliberando se aceitava a sugestão do meu irmão. Nesse tempo eu já estava ficando de pé novamente, afinal estava perto da borda da lancha e ela não balançava mais, isso facilitou minhas pernas em ficarem firmes. Os olhos de Ernesto focalizaram meu feito, e de novo sorrimos um para outro. Nossa afinidade era uma das minhas poucas riquezas nessa vida

Alheio aquilo tudo Carlos resolveu finalmente aceitar a sugestão do meu irmão. E assim, pegou um canivete no bolso de trás do seu jeans, logo em seguida pegou o nó que amarrava os tornozelos de Ernesto, jogando o corpo do meu irmão para trás, o molhando completamente. Com corpo quase todo imerso na água, e os pés par cima, Carlos cortou as cordas que imobilizavam as pernas do meu irmão.

-Bem, melhor assim. – Meu irmão se colocou de pé, desequilibrou um pouco, mas continuou em cima das suas duas pernas. – Agora, ajuda a Clair descer.

-Você não manda em mim Ernesto. – Carlos respondeu entre dentes, se pudesse ele estaria rosnando.

-Você vai deixar ela se esborrachar no chão? – Agora meu irmão estava também irritado.

Eu estava ouvindo esse dialogo ao longe porque minha atenção estava para aquele manto verde que a vegetação fazia nossa frente. Em meio aqueles inúmeros tons esverdeados por mim nunca antes visto, consegui ver uma silueta de uma pessoa, que estava nos observando. Tentei focar mais minha visão, de repente uma rachada de vento cortou as folhas, e aquela figura tinha sumido entre a mata. Meus olhos buscaram aflitos aquela pessoa, pois ela tinha acelerado a minha inquietação, mais do que já estava frenética. Contudo esse pique no pulsar dela, já era familiar para mim. 

Só voltei à tona aquela discussão entre os dois quando ouvi voz de Carlos.

-Venha Clair. – Logo vi ele se direcionando para minha frente esticando as mãos para mim.

Não queria tocar nele, pois sabia que corria um grande risco do meu tigre apaixonado se entregar àqueles braços. Mas surpreendentemente minha inquietação estava tomando conta de todos os espaços dentro de mim, sufocando qualquer reação do meu felino emocional. A inquietude estava quente e acelerada dentro do meu corpo, estava dominando seu espaço. E o pingente por sua vez continuava brilhar e a vibrar.

-Clair pula, que eu te seguro. – Carlos falou sério para mim.

E sem pensar em nada fiz isso, apenas pulei. Enquanto estava no meio do meu pulo, só conseguia ver aquelas duas esmeraldas me encarando, ouvi um rugido do meu tigre. Era a satisfação dele, em saber que eu seria amparada por Carlos. Mas minha inquietude não deixou ele festejar muito tempo.

Pois quando meus pés finalmente tocaram a areia fofa, e a minha pele entrou em contato com a água quente do mar. Pude sentir minha inquietação calar e a gota de cristal também. Havia uma paz dentro de mim que nunca experimentada. As peças que antes orbitavam perdidas dentro de mim, finalmente tinham encontrado seus lugares, algumas ainda estavam soltas, mas nada se comparava a antes.

Tudo que estava deslocado se encaixou, era reconfortante ouvir as peças encontrando seus lugares. Parte do quebra-cabeça estava montada, eu sabia disso, entretanto não conseguia ainda ver a figura que elas formavam. Mas só o fato delas não ficarem perdidas dentro de mim já me trazia alivio.    

O silêncio interno estava me incomodando, afinal eu já havia me acostumado com aquela bagunça, até gostava, não fazia eu me sentir sozinha e vazia. Entretanto agora existia uma certeza grande que vinha da minha alma: eu estava em casa. Esse era o meu lugar no mundo.


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Notas finais do capítulo

Ela se encontrou... mas pq ali????



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