Então os dias passaram rapidamente, e eu me sentia mais nervosa a cada minuto que passava – mesmo que não houvesse motivo nenhum para isso. Minhas mãos suavam cada vez que James dirigia a palavra à minha pessoa e meu coração martelava fortemente quando ele me olhava. Eu tinha medo de sofrer um infarto.

Consegui comprar uma fantasia, mesmo que tivesse sido em cima da hora e Sirius disse que tinha ficado bem em mim. Se um maroto popular e pegador aprova uma roupa para você é sinal de que deve estar boa. Ou justa demais. Mas eu preferia acreditar na primeira opção.

Lucia McVann estava completamente ausente da minha vida, e não era como se eu sentisse falta de seus comentários estúpidos era só que eu estava desconfiada de que ela estivesse tramando alguma coisa.

Dorcas dizia que isso eram apenas loucuras conspiratórias de minha mente, mas eu não conseguia ficar calma toda vez que pensava que a garota estava quieta demais.

Sábado da festa chegou e com ele a sensação de que eu era parente de James Bond. Lene e Dorcas foram cedo para minha casa e eu estava apenas esperando Sirius me mandar uma mensagem para poder pegar o celular de Dorcas e começar mais uma parte do nosso plano.

Não podia negar que me sentia em parte um pouco culpada pelo que estava fazendo.

Eu sabia que era para o bem de Dorcas, porque já fazia muito tempo que ela gostava de Remus, mas tinha James também. O motivo principal por eu ter me tornado amiga dele e, conseqüentemente, ter me apaixonado por ele era o fato de que ele queria ajuda para conquistar Dorcas. Não seria uma imensa traição fazer uma coisa dessas com ele? Eu estava com raiva e com ciúmes quando tinha decidido fazer aquele plano.

Mas eu também não podia negar que estava feliz por saber que talvez, finalmente Dorcas fosse conseguir o seu garoto.

Então eu decidi colocar esse pensamento de lado e continuar com os planejamentos enquanto passava pela tortuosa transformação que Lene me fazia.

Eu não gostava de me maquiar, não gostava de toda essa produção. Não era uma coisa que me atraia. Mas Lene não parecia estar muito interessada no que eu achava então ela quase me amarrou em uma cadeira e me obrigou a agüentar enquanto ela me deixava mais parecida com uma palhaça de circo.

Okay, talvez eu estivesse exagerando, eu tinha plena confiança no trabalho de Lene como maquiadora, mas eu tinha medo de ficar... feia demais, enfeitada demais. E essa preocupação com minha aparência estava me assustando ainda mais do que a perspectiva de parecer com um palhaço.

Porque eu também nunca me importei com a minha aparência e eu sabia o motivo para a mudança. James. Sim, porque ultimamente ele era a causa de todas as minhas preocupações e problemas.

Tinha conseguido escapar das perguntas de Lene depois de meu ‘pseudo-encontro’ com James em meu quintal porque minha mãe estava acordada e somente por muita sorte que ela não tinha me visto.

Dorcas não sabia de nada. E eu fiquei feliz por isso. Talvez eu ainda sentisse ciúme dela, mesmo que soubesse que ela gostava de Remus.

Senti meu celular vibrar no bolso e agradeci aos céus por Dorcas estar no banho.

‘Tudo pronto, pode mandar

Sirius B. – o gostoso.

PS.: Diga para Marlene que eu quero que ela fique ainda mais bonita já que vai estar me acompanhando.’

Revirei os olhos quando li a mensagem e ouvi Lene bufar.

– Quem aquele energúmeno pensa que é? – ela resmungou parecendo irritada.

Fui até a mesa onde o celular de Dorcas descansava e comecei a digitar uma mensagem.

‘Me encontre no jardim atrás do ginásio às 21:00

Dorcas M.’

Apertei o botão ‘enviar’ com um aperto no coração.

– Ótimo, volte aqui que eu ainda não terminei – Lene disse, ainda parecendo revoltada com a mensagem de Sirius.

Lene e Sirius eram... Confusos. Sim, essa palavra se encaixava perfeitamente. Os dois discutiam a maior parte do tempo e sempre arranjavam uma forma de se alfinetarem. Havia sido uma imensa surpresa para mim quando soube que eles iriam juntos ao baile. O que, segundo Lene, era ‘apenas para encobrir o plano’ e, segundo Sirius, ‘porque ele era irresistível’.

– Pronto – Lene disse e se afastou de mim sorrindo com gosto. – Uma perfeita morta-viva linda.

Revirei os olhos, mas sentia receio de me encarar no espelho.

E então, eu me vi.

Okay, acho que não tinha pensado que uma fantasia de Sally do filme ‘O Estranho Mundo de Jack’ fosse ficar legal, ou fosse me deixar bonita de alguma forma. Mas eu estava errada.

E até eu confirmar isso me chocou. Porque eu estava realmente bonita. A blusa vermelha remendada – parte da fantasia – estava justa em meu corpo, mostrando curvas que nunca pensei que estivessem ali. A saia longa, também remendada, traçava os detalhes de minhas pernas e quando olhei para meu rosto, não acreditei em meus olhos.

– Como você fez isso? – disse a Lene com a voz estranhamente rouca.

Meus olhos estavam maquiados em um preto forte o que realçava meus olhos extremamente verdes e o batom em minha boca, vermelho, fazia-me ter uma ar...

– Sexy, você está bem mais sexy do que a Sally original – Lene comentou como se fosse normal chamar alguém como eu de sexy. – Lily, você é linda. Só você não percebe.

Eu não contestei. Meus cabelos pendiam em uma meia-cola atrás de mim, cachos nas pontas.

Dorcas saiu do banheiro no exato momento em que seu celular vibrou.

– Uau, Lily, você está linda – ela sorriu para mim enquanto ia até o celular. Seu sorriso foi desmanchando ao ler a mensagem, sendo substituído primeiro por uma expressão de incredulidade e depois por uma palidez mórbida, até que ela corou fortemente e seus olhos azuis pareceram brilhar. – Acho que tenho um encontro – ela sorriu para nós duas e eu fiquei feliz em saber que o plano estava dando certo.

As duas se vestiram – Lene de coelhinha (Sirius iria de Garçom – e eu só esperava que ele fosse com camisa) e Dorcas de princesa Medieval (Remus de guerreiro) – e nós saímos.

Nós descemos do Garanhão de Lene (o fusca azul) e eu senti como se meu estômago tivesse ficado em casa.

Não era acostumada com festas e mesmo que eu tivesse organizado aquela, bem, eu me sentia... estranha.

– Bem chegou a hora – Lene disse e sorriu para mim, mas logo seu sorriso apagou quando ela viu quem esperava por ela em frente as portas da escola.

Seu rosto corou fortemente e eu me controlei para não soltar nenhuma piadinha relacionada a isso.

Talvez ela não fosse tão indiferente à Sirius como aparentava.

Dorcas torcia as mãos ao meu lado e eu quase conseguia sentir seu nervosismo vir em ondas até mim.

Eu não estava muito diferente, eu só não sabia o porquê.

Sirius soltou um sorriso maroto à Lene que parecia recuperada e revirou os olhos.

– Uau, você está...

– Apenas cale a boca e caminhe, fica mais bonito – Lene soltou grosseiramente e eu soltei um sorrisinho.

Sirius abriu a boca para retrucar, mas pareceu pensar melhor e não falou nada. A beleza era realmente importante para ele.

– Que horas são? – Dorcas perguntou e eu puxei o celular de dentro de um bolso da saia e olhei. – 20:56 – eu disse.

Dorcas respirou fundo e olhou para mim.

– Tenho que ir – ela disse e eu sorri.

– Boa sorte – eu lhe disse e ela caminhou pela estradinha que havia e que levava para os jardins.

Assim que ela sumiu olhei para Sirius e Lene.

– É nossa hora – ambos assentiram e nós três sorrimos cúmplices.