Suzumiya Haruki no Monogatari escrita por Shiroyuki


Capítulo 8
Capítulo 8 - Indefinido




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/123891/chapter/8

Era um brilhante e estimulante dia típico de abril, perfeito para ser desperdiçado em atividades pouco produtivas como passeios no parque com cachorrinhos ou pescaria no lago com a família. Qualquer um em sã consciência estaria em pleno fim de tarde de sábado, planejando algo divertido para fazer. Aqueles que não tinham atividades em seus clubes poderiam estar aproveitando seu início de final de semana, planejando encontros sem futuro, ou idas desafinadas ao karaokê. Aqueles que tinham aula até sexta poderiam estar dormindo, ou jogando xadrez com seu avô míope em alguma esquina.

E porque, senhor velho e barbudo que controla meu destino, estou eu aqui, nessa droga de sala mofada, tendo que aturar a falta de senso comum e obedecer às ordens desse ser pervertido e cheio de água no cérebro, que poderia muito bem ser um Kappa? Senhor velho e barbudo, você por acaso estava bêbado quando escreveu minha história?

-

Eu estava sentada na mesa do ‘danchou’, encarando a tela brilhante que parecia zombar da minha falta de iniciativa.

Haruki havia tido a maravilhosa de fazermos uma página na internet para a Brigada, e, obviamente, eu pergunto, para quem ele delegou essa tarefa? Quem mais se não eu, a sua serva B!  E ele ainda conseguiu “me pedir” para fazer isso com um sorriso besta na cara e ameaças de cortar minha cabeça fora. Não seria mais fácil amarrar uma bola de ferro no meu tornozelo e me escravizar de uma vez por todas?

Porque eu tenho que fazer essa porcaria de site, que eu nem mesmo sei pra que serve ou como funciona?

Mitsuru-kun jogava damas com Haruki, sendo que esse o ameaçava a cada cinco minutos para evitar que ele ganhasse. Não que houvesse alguma chance de isso acontecer. Nagato-kun lia calmamente seu livro, que aparentemente, já havia mudado de capa novamente, concluindo que ele já havia lido quatro livros de mais ou menos umas mil páginas cada apenas nessa semana.

Percebe-se que eu era a única que realmente ouvia o que Haruki dizia verdadeiramente, então, não me restava alternativa a não ser aquela na minha frente nesse exato momento: fazer logo essa página, e tentar ir embora o mais rápido possível. O que eu queria mesmo era dizer “você não é ninguém a quem eu tenha que obedecer”, dar as costas de um jeito legal e sair dali de uma vez por todas. Fazer Haruki implorar para que eu voltasse talvez. Mas o fato é que eu me acostumei rápido demais a receber ordens de Haruki, e acabou tornando-se algo quase automático. E também havia a pequena constatação de que haveria algo de interessante em fazer uma página de internet, afinal, eu nunca havia feito uma antes.

— Eeei, Kyonko!! É melhor você se apressar em fazer esse site, ou não vai ir embora daqui! – A voz imperativa dele soou alto em meus ouvidos. Queria ter força de vontade o suficiente para mandá-lo... para aquele lugar onde o sol não bate... mas mesmo que meus atos enganem, eu ainda sou uma garota, e costumo agir como tal. Apenas bufei, e voltei a atenção para a tela.

Seus lábios se esticaram num enorme sorriso, enquanto ele fazia pose de quem sabia de tudo.

— Então você ainda não me perdoou pelo que fiz pelo computador, não foi? – ele indagou, sorrindo. Não respondi, mas senti que o silêncio só o fez ficar mais presunçoso – Aaah, você realmente ficou irritada? – ele arrastou a cadeira até o lado da mesa onde eu estava, e deitou a cabeça nos braços, me encarando com os olhos negros quase brilhando - Não entendo o porquê de ter ficado tão brava comigo – ele disse, sem desviar o olhar. Continuei a olhar para o computador, sem demonstrar que notava a sua presença – e você é completamente reta, como uma criança. Não há nem mesmo um motivo...

— IDIOTA!!! – gritei, com raiva subindo pela minha cabeça, vê-lo com aquela face tranquila me insultando realmente irrita. Fiquei um pouco assustada com a minha própria reação – V-você não entende nada – virei o rosto que queimava para a parede, cruzando os braços, sem conseguir encarar sua expressão de surpresa. Parece que ele não esperava um descontrole da minha parte - Me deixe trabalhar em paz – disse a primeira coisa que veio a minha cabeça, e tornei a ignorá-lo.

Ele voltou a jogar damas com Mitsuru-kun, que assistia a tudo com a boca aberta em espanto. Tentei me concentrar na página, e logo, minha atenção foi tomada novamente.

-

Mesmo tendo reclamado tanto, acabou sendo mais fácil do que eu esperava. Pedi ajuda secretamente à presidente do clube de Informática, que era uma pessoa gentil e prestativa, e não hesitou em me auxiliar e procurar para mim os programas necessários. Ela disse que poderíamos ser amigas desde que eu permanecesse com Haruki longe dos seus equipamentos. Em dois dias, eu já estava com tudo pronto.

Eu não sabia bem o que esperar desse site, então ele estava com a maior parte das lacunas em branco. Haruki que se virasse e escrevesse alguma coisa depois, mas é claro que nada decente sairia daquela mente perturbada...

A escola ainda não tinha ciência de que estávamos usando a sua banda para hospedar um site, e eu imagino que tipo de punições iriamos levar por isso. É claro que Haruki só diria algo do tipo “Não tem problema, é só abandonarmos o site e alegarmos sermos inocente. Não há como provarem nada nesse tipo de coisa!” caso eu o informasse das minhas preocupações. Bem, tenho que admitir que às vezes invejava essa atitude despreocupada e otimista que Haruki apresenta agora, com esse impulso de andar sempre em frente. De maneira alguma eu conseguiria pensar assim.

Desliguei o computador, após ter certeza de que a página carregava. Espreguicei-me, tendo consciência de que havia ficado sentada por tempo demais. Todos já haviam saído há bastante tempo, presumo. O sol poente iluminava toda a sala de laranja, fazendo-a parecer ainda menor. Vesti o casaco, coloquei a bolsa nos ombros e andei rumo à saída, enquanto amarrava melhor os cabelos.

Senti meu braço ser segurado, um toque tão leve que era quase como se fosse fruto da minha imaginação. Virei a cabeça lentamente, sentindo todos os meus sentidos de garota que assiste o noticiário da noite se agitarem inconscientemente. Parado atrás de mim estava Nagato Yuuki, com seu rosto sério e impecavelmente imóvel. Estendia para mim um o pesado livro que, a julgar pela capa, era de alguma das novelas cientificas que ele andara lendo na última semana.

— Para você – ele murmurou, com sua voz rouca por falta de uso arranhando meus ouvidos.

Sorri sem jeito, sem saber se deveria agradecer ou perguntar o motivo disso. Antes que pudesse decidir, porém, Nagato-kun passou por mim e saiu porta afora, com suas costas demonstrando a mesma indiferença de sempre. Fiquei por alguns instantes em dúvida, entre acreditar ou não se isso havia mesmo acontecido, mas o livro em minhas mãos era uma prova irrefutável, ainda que eu não soubesse distinguir as palavras de Nagato de alguma fantasia infantil, afinal, era a primeira vez que ele tomava a iniciativa de falar, mesmo que fossem apenas duas palavras.

Naquele dia, fui para casa cheia de perguntas na cabeça, imaginando que razão Nagato teria para me dar um livro de presente. Estava tão cansada, que não tive motivação para começar a lê-lo, sem citar o fato de que tantas palavras juntas e empilhadas em centenas de páginas me amedrontavam, de alguma maneira.

-

Após ver o site, Haruki apenas disse que ele era simples demais, e medíocre, mas que serviria bem. Depois, me pediu para fazer uma nova conta de e-mail, já que ele não queria que sua conta pessoal fosse inundada de mensagens. O que ele espera de um site com uma única página em branco? Tudo o que ele revelou foi que teria seus próprios métodos de conseguir público, e que era um “se-gre-do!” (vê-lo cantarolando as sílabas foi realmente traumatizante, acredite!).

Dias depois, porém, ele ficou irritado. A caixa postal do e-mail da Brigada SOS continuava vazia. Eu até esperava um ou dois e-mails de brincadeira, quem sabe alguns trotes, mas as pessoas estão sendo mais racionais do que eu imaginava que seriam.

— Ah! Não tem nenhuma mensagem! – ele resmungou, depois de atualizar a página pela enésima vez seguida.

— Talvez essa não seja a época certa para eventos paranormais. Vai ter que esperar a próxima temporada – disse indiferente, rabiscando o caderno com a cabeça apoiada no cotovelo.

— É, você tem razão – ele disse, levantando-se e olhando pela janela. Eu tenho razão?

Mitsuru-kun estava dormindo, calmamente na ponta da mesa. Eu me esforcei bastante para evitar que ele fosse acordado com um balde de água, então agora ele ressonava alheio a tudo. Que sorte ele tem! Nagato estava de pé, agora, procurando na estante um livro para ler. Nossa, ele é realmente muito alto!

— Olha só, Haruki, isso pelo que você procura tão arduamente, onde coloca todas as energias, simplesmente não existe no mundo real! A vida é rígida e não aceita bem essas situações. Aquilo que você vê na televisão, e nos livros, são impossíveis. Impossíveis! Você...

— Ah! Cala a boca! – ele disse, sem olhar na minha direção.

Nagato-kun voltou a sentar e se fundiu com o cenário. Mitsuru fez um som estranho com o nariz, e virou a cabeça para o outro lado. E o dia seguiu , da maneira que Haruki mais odiava. Normal.

Pelo menos até o início da próxima semana.

— Você não acha isso ótimo? Está realmente vindo! – Haruki disse, eufórico, após aparecer de repente durante o intervalo. Eu estava almoçando com Kunikida e Taniguchi, e ele de repente me puxou da cadeira pelo cabelo e berrou em meus ouvidos. O fitei com o máximo de indiferença que pude naquele momento, ignorando os olhares incômodos que todos ali me lançavam.

Engoli a pergunta óbvia que quase escapou, e soltei meu cabelo das suas mãos. Soltei os hashis na mesa e então sentei na minha mesa. Haruki não iria parar até terminar de dizer o que queria. Seu sorriso era de uma criança de jardim de infância que ganha um cachorrinho de aniversário.

— Continue – disse, cruzando as pernas. Ele se acomodou na cadeira, e me fitou com aquele brilho no olhar. Um arrepio incômodo subiu pelas minhas costas.

Haruki se inclinou na minha direção, falando com excitação. Não coloque seu rosto tão perto, droga! As pessoas estão olhando...

— É uma chance única na vida! Um misterioso estudante transferido está vindo para cá, Kyonko! Na sala 1-9, eu soube agora mesmo!

Tenho medo de saber sobre seus métodos de obter fontes de informação. E como sabe que é um misterioso estudante transferido? Você nem o conhece ainda!

— Eu já disse antes, uma alta porcentagem daqueles que se transferem no meio do ano são anormais.

Você entrou na escola no início do ano letivo, e não é nenhum modelo de normalidade. Tente olhar para si mesmo ás vezes.

Após o sinal, Haruki correu instantaneamente para fora da sala. Logo o professor voltou, e eu fiquei sem meu almoço.

Ele voltou minutos depois, com a expressão aborrecida. Entrou na sala sem pedir licença, e sentou na cadeira fazendo barulho.

— E então? – sussurrei discretamente, por cima do ombro.

— Hmm... Não se parece com um misterioso estudante...

É claro que não!

No próximo intervalo entre as aulas, ele me cutucou com a lapiseira.

— Talvez só esteja agido como uma pessoa normal, afinal, não é como se fossem revelar suas identidades logo no primeiro dia.

Por um momento, imaginei os estudantes da sala 1-9 sendo surpreendidos por ele subitamente, agarrando um deles pelo pescoço enquanto gritava “onde está o estudante transferido?”, ou se intrometer em uma conversa de repente, perguntando “Quem você é na verdade? Qual sua missão?”.

Pensei em algo mais.

— O estudante é uma garota ou um garoto.

— A não ser que haja um engano, ou ele esteja disfarçado, parece com uma garota.

Parecia ser a oportunidade de Haruki recrutar outra garota além de mim, e talvez me deixar ir pacificamente. É claro que se ela tiver opiniões fortes, ou o mínimo de senso comum, o ignoraria simplesmente. Eu poderia passar os próximos três anos sem ter que carregar a sina de “subordinado de Suzumiya Haruki”, me formar e ir para a faculdade. Encontrar um garoto comum e interessante, nem precisava ser muito bonito, e formar uma família mais tarde...

Eu fui ingênua ao pensar assim.

Eu deveria me esforçar em mostrar a realidade para Suzumiya, e força-lo a aceitar a vida escolar normal. Talvez ele pudesse arrumar uma namorada, focar sua energia excessiva em um clube e se contentar com seus anos de ensino médio.

Seria ótimo se eu tivesse feito isso.

Se eu fosse mais forte, não teria sido capturada indefesa pelo furacão que tinha origem em Suzumiya Haruki... e sinceramente, eu gostaria que tivesse sido assim.

A razão de estar falando isso, de maneira tão arrependida, é por causa dos eventos que ocorreram depois disso. Vocês de maneira alguma entenderiam. Nem se eu explicasse.

Se eu fosse realmente explicar, por onde deveria começar?

Quem sabe pelo dia em que a misteriosa estudante transferida entrou naquela sala...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Suzumiya Haruki no Monogatari" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.