Suzumiya Haruki no Monogatari escrita por Shiroyuki


Capítulo 4
Capítulo 4 - Gatilho




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— Hey, Kyonko – ouvi a voz animada de Taniguchi me chamando, logo depois da aula. Ela trazia um sorriso matreiro, e eu podia sentir o cheiro das suas milhares de dúvidas vindo pegajosas na minha direção – Me diga, que tipo de feitiço mágico você usou? Ou foi psicologia reversa?... Talvez algum tipo de lavagem cerebral... Kyaa!! Vamos, me conte tudo!

— Aaahn... como? – eu me esforcei para acompanhar o ritmo, mas me perdi na metade.

Taniguchi apontou, nada discreta, para o assento vazio de Haruki, como se isso explicasse tudo, e fosse óbvio desde o início.

— Essa é a primeira vez que vejo Haruki falar tanto, por tanto tempo. Qual é o segredo? Sobre o que falaram?

— Sobre questões normais, de certa forma... – Normais para ele, eu quero dizer.

— Isso foi verdadeiramente impressionante...! – Kunikida surgiu do nada atrás de Taniguchi, com sua cara sonhadora. Pelas bochechas coradas, aposto que ela estava fantasiando situações românticas, envolvendo a minha personagem – Sabe, Kyonko tem um histórico de se apaixonar por garotos estranhos.

Maldita Moe-Moe tarada! Não me envolva nos seus devaneios. E não diga coisas que possam ocasionar mal-entendidos!

— Não importa esse negócios de garotos estranhos. O que não entendo, é porque Suzumiya fala com você? – sinto o sentimento de frustração, e quem sabe ciúmes tomando conta do lugar, e vem da direção da Taniguchi.

— Acho que é porque Kyonko é tão estranha quanto ele!  - não diga um coisa dessas com essa cara fofinha.

— Sim, sim – Taniguchi pareceu refletir sobre isso – O que esperar de alguém com o apelido de Kyonko?

Seria mais agradável se me chamassem pelo meu nome de verdade, ao invém desse apelido ridículo.

— Eu gostaria de saber também – uma voz cordial e entusiasmada veio de lugar algum. Ao olhar para o lado, me deparei com o sorriso cálido de Asakura Ryoushi, o representante da turma – eu tentei falar com ele algumas vezes, mas ele sempre foi fechado – Não seja gentil... ele foi mal-educado, rude, um ogro, não foi? – posso contar com você para integrar Suzumiya-san à turma?

— Eu aceito – respondi sem pensar. Asakura-san era simplesmente o tipo de pessoa a quem não se pode negar nada. Sem falar que ele é realmente bonito... (isso definitivamente não vem ao caso, tenha compostura!)

— Você não sabe o quanto isso me deixa aliviado – Asakura passou a mão nos cabelos alinhados despreocupadamente – ele não podia continuar isolado daquela forma. É bom que alguém como você tenha se tornado amiga de Suzumiya-san.

—Amiga, não é...

Aquilo foi certamente um choque. Era realmente assim? Quer dizer... a única expressão que ele me mostrava quando conversávamos era uma carranca!

— Kyonko... – Taniguchi sussurrou, logo depois que Asakura se afastou com o sorriso do trabalho realizado na face – nós somos amigas, certo? – ela me encarava de maneira suspeita. Kunikida, com os braços cruzados na frente do peito, também tinha um olhar inquisidor.

Francamente, eu estou cercada por idiotas!

-

— Eu ouvi outro dia... bem, não é nada realmente importante... mas é verdade que você chutou todas as suas namoradas? – a minha seção “Conversas no intervalo entre as aulas” havia iniciado. Eu estava cada vez mais à vontade ao falar com o meu colega de trás, e já tinha a liberdade de apoiar meu cotovelo em sua classe. Os alunos da sala já haviam se acostumado com esse fato de certa forma, então não me olhavam mais com aquela cara espantada e admirada pelo meu feito como antes.

— Por que eu tenho que ouvir isso de você? – Haruki passou a mão nos cabelos, e me fitou com aqueles olhos negros e brilhantes (e eu me recusava terminantemente a ter qualquer reação diante desse evento). Mesmo sendo do tipo inexpressivo, essa feição irritada e raivosa aparecia constantemente em seu rosto – O que Taniguchi andou falando para você?  - ele bufou – não acredito que acabei na mesma sala que a aquela neurótica faladeira mesmo depois de me graduar no fundamental... ela não é uma daquelas perseguidoras psicóticas, é?

— Eu acho que não... – Refleti por alguns segundos antes de responder, eu admito.

— Aaah, tanto faz, eu não sei o que você ouviu, mas de fato, a maioria das coisas é verdade.

— Não existe ninguém com quem você queira ter um relacionamento sério? – não importa o que pareça, eu não estou interessada! Sei que essa conversa parece alguma maneira deprimente de tentar alguma coisa, mas eu não sou esse tipo estranho de garota, definitivamente!

— Absolutamente ninguém – ele respondeu sem pestanejar. Apoiou a cabeça no cotovelo, e sem olhar na minha direção, continuou – Cada uma daquelas garotas era idiota. Era sempre a mesma coisa. Nos encontrávamos na estação e seguíamos até o cinema, parque de diversões, ou um jogo. Comíamos alguma coisa, e no fim do dia, quando eu as levava para casa, elas esperavam que eu as beijasse, diziam algo como “não se esqueça de ligar” e “até amanhã” e iam embora.

Não vejo nada de errado com isso, mas vou manter esses pensamentos para mim. Se Haruki diz que é ruim, então é ruim, e não existem outras opiniões.

— Elas sempre se confessavam com cartas. Que inferno, isso é algo importante! Ao menos digam olhando nos meus olhos!

Eu sinto pena de cada uma dessas garotas. Se confessar para um cara como esse, que considera toda e qualquer pessoa tanto quanto uma mosca, ou a larva de uma mosca, deve ser extremamente desconfortável.

— Sim, você está certo – eu concordei antes mesmo de perceber – eu chamaria o garoto e me confessaria diretamente.

— E quem liga pra você?! – Haruki cuspiu as palavras, me fitando com seus orbes gélidos e desinteressados.

Gostaria de saber o que foi que eu fiz de errado para merecer esses olhares.

— Certo, e que tipo de garota você iria achar interessante? Uma alien? Uma viajante do tempo com cara de loli?

— Algo assim. Estou bem com aliens e coisas similares. Qualquer ser um não seja normal.

— E por que você insiste em coisas não-humanas?

— Porque eu já cansei das coisas humanas. Seres humanos não sabem ser divertidos no final das contas.

— É, você está certo...  – eu não podia revidar a idéia de Haruki. Aquilo que ele dizia era um eco dos meus pensamentos, e eu jamais poderia negar que no fundo, aquele era também um desejo meu. Se aparecesse um belo estudante transferido, metade alien metade humano, acho que isso seria legal. Se Kunikida, que agora lia seu mangá shoujo com lágrimas nos olhos, fosse uma detetive do futuro, seria ainda melhor. Se Asakura Ryoushi, que por alguma razão ainda sorria para mim, tivesse poderes sobrenaturais, minha vida escolar seria mais excitante que qualquer outra.

É claro que essa realidade é impossível. Não existem aliens, viajantes do futuro ou poderes sobrenaturais nesse mundo. E mesmo que existissem, não iriam aparecer na minha frente, sorridentes e prestativos e dizerem “Olá, eu sou um alien, prazer em conhecê-lo.”

— É ISSO!!! – Haruki levantou-se subitamente, derrubando a cadeira para trás e chamando a atenção da sala toda, e possivelmente de outras turmas também – É POR ISSO QUE TENHO TRABALHADO TANTO!!! – Sua voz grave ecoou pelas paredes, enquanto Haruki fitava o teto, de pé, e com os punhos cerrados.

— Desculpem o atraso - Okabe-sensei havia acabado de entrar, e encarava a cena da porta, parecendo levemente perturbado – Err.. a aula está para começar – ele finamente esboçou alguma reação, entrando na sala cauteloso.

Haruki apenas voltou a sentar-se e encarou sua mesa fixamente. Eu também me ajeitei, e a sala toda pareceu copiar essa ação. Okabe-sensei, ainda desorientado, pigarreou, dando início à aula. Aos poucos, a atmosfera escolar foi voltando ao normal – exatamente da forma que Haruki mais odeia.

-

— Porque nada de interessante aconteceu ainda? Como crianças do jardim de infância desaparecidas, ou professores morrendo de forma lenta e cruel? – Haruki iniciava outra conversa no intervalo, logo após a mudança mensal dos lugares. Eu fiquei na penúltima carteira da fila da janela, com visão privilegiada do pátio, e de uma parte da quadra de esportes. E quem pegou o lugar atrás de mim? Aaah! Sim! A pessoa não tão bem-humorada e ininterruptamente irritada, Suzumiya Haruki!

— Não diga essas coisas horríveis!

— Cara! Isso tão chato! Porque essa escola não tem nenhum clube decente?

— Não há nada que você possa fazer! O que você esperava?

— Eu pensei que depois de me formar no ginásio, ia encontrar alguma coisa interessante nessa escola – ele suspirou pesadamente, enfiando a cara na classe. Eu deveria ter pena?

Não tenho ideia de que tipo de clubes Haruki fala. O que seria ‘interessante’? Acredito que nem mesmo ele saiba. Decidi expressar minha humilde opinião.

— Humanos geralmente se contentam com seus estados atuais. Os que querem mudanças, tentam descobrir ou criar algo que cause revolução. Se você quer voar, crie o avião. Se quer ser mais rápido, crie carros e trens. Porém, isso é destinado apenas a uma parcela mínima da população, os chamados gênios, então nós, como comuns mortais, devemos apenas viver nossa vida da melhor maneira possível, e não...

— Cala a boca. – Haruki cortou meu excelente e emocionado discurso insensivelmente, e mirou janela ao seu lado. A temperatura ao seu redor parecia ter caído consideravelmente, e o mau-humor que ele exalava era quase palpável. Eu já estava acostumada com aquilo, Suzumiya Haruki não ligava para nada. Nada, exceto aquilo que envolva qualquer coisa que desafie as leis da física, e a realidade. O mundo não é assim afinal, e é por isso que nós humanos podemos viver de forma pacifica e normal. Eu sou normal, certo?


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Notas finais do capítulo

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