Suzumiya Haruki no Monogatari escrita por Shiroyuki


Capítulo 5
Capítulo 5 - Fundação


Notas iniciais do capítulo

Aí está mais um capítulo!~

O silencioso e quase imperceptivel alienigena se apresenta hoje! �/
Como prometido, tentei fazer um capítulo maior ;)

Boa Leitura!



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Esse clima quente me faz sentir sonolenta. Talvez seja minha pressão baixando, ou talvez apenas a voz monótona dessa professora, que está tentando, de modo quase desesperado, fazer a turma notá-la, e prestar atenção na matéria. Sinto pena dela.

Justo quando eu tinha decidido deixar de fazer caridade fingindo ouvir o que asensei falava, e baixei minha cabeça para voltar a dormir, uma força poderosa agiu na minha cabeça, puxando para trás meu rabo-de-cavalo, que havia sido cuidadosamente feito essa manhã, e fazendo com que eu batesse na classe detrás, com um sonoro e preocupante estrondo.

Tudo o que eu conseguia ver, através das lágrimas que surgiram instantaneamente nos meus olhos, era a face de Suzumiya Haruki, que segurava alegremente meus cabelos entre os dedos.

Espera aí!

Alegremente?

Levantei a cabeça, piscando algumas vezes incrédula para a figura às minhas costas. Aquilo era mesmo real? Haruki sorria brilhantemente, um sorriso quente como uma floresta tropical. Honestamente, essa era a primeira vez que eu o via sorrindo, e por alguns segundos, fiquei admirada. Ele estava realmente bonito, era quase como se reluzisse. Num instante percebi o porquê de tantas garotas terem se confessado a ele.

— Eu já sei! – seus olhos fulguravam como um farol no meio da noite – Porque não pensei nisso antes?

Venci a vontade de perguntar o que ele havia pensado. Não queria dar mais corda, então alimentei a expectativa de que ele esquecesse seja lá o que fosse que o afligia se eu mantesse silêncio. Nem preciso dizer que falhei, afinal, Haruki continuou a falar.

— Se não existe um, irei criar por mim mesmo!

— Um o quê? – perguntei, derrotada.

— Um clube!

Minha cabeça doía, em parte por ter batido há instantes atrás, mas também pelo fato de Haruki ainda estar segurando meu rabo-de-cavalo, e puxando com mais força, à medida que sua aparente empolgação aumentava.

— Ótimo, excelente ideia. Pode me soltar agora?

— Essa é a sua atitude? – ele parecia incrédulo – você deveria mostrar mais alegria!

— Falaremos sobre sua ideia depois. Por favor, considere a situação atual, e se acalme. Dividiremos sua alegria mais tarde.

— O que quer dizer? – ele arqueou as sombrancelhas, indignado com minha falta de entusiasmo.

— Estamos no meio da aula – eu acenei para o resto da sala, que nos observava atônitos em silêncio, inclusive a professora. A situação era extremamente vergonhosa, e eu esperava que Haruki tivesse tato suficiente para compreender. Me virei lentamente de volta para a classe, e encolhi o máximo que pude na cadeira, na esperança  de sumir completamente, ou no mínimo me camuflar na paisagem da sala. Ouvi Haruki resmungar alguns palavrões, e deitar a cabeça na mesa, novamente na habitual irritação, e a professora voltou a escrever no quadro-negro.

Um novo clube?

Não me diga que já sou automaticamente membro dele? Aaaah! Essa dor de cabeça só aumenta meu desconforto!

-

Realizando todas as minhas pequenas premonições, Suzumiya Haruki não saiu da sala como o esperado na hora do intervalo.

Ele segurou meu braço com uma agilidade assustadora, assim que ouviu o sinal, e me puxou porta afora. Ao notar a minha quase insignificante resistência, e a tentativa tola de tentar soltar o braço, ele segurou minha mão, sem apertar muito, e apenas continuou a andar. Não disse uma palavra, e também não olhou na minha direção.

Sua pele era inesperadamente quente. Era de uma temperatura normal, se for analisar bem, mas eu estava esperando por algo como uma pele absurdamente gelada, que revelasse sua natureza inumana, e a ausência de circulação sanguínea, explicando também a inexistência de um coração.

Ele me levava pelos corredores, descendo e subindo escadas, até que finalmente paramos, na escadaria mais ao sul, que dava acesso apenas aos depósitos do segundo andar. Nos degraus estavam empilhadas caixas de papelão, molduras e telas de pintura, algumas estátuas de gesso, e material utilizado em algum festival cultural provavelmente. Tudo  aquilo deixava as escadarias, que já eram apertadas, ainda mais sufocantes. A presença de Suzumiya Haruki, me encarando com os olhos flamejantes, só me deixava mais perturbada.

O que ele está tentando me trazendo aqui?

Será que ele vai se declarar para mim?!

NÃO! Aaah! Droga, eu não devia ter lido aquele mangás que a Kunikida me emprestou!!! E por que raios meu coração tem que acelerar justo agora??!

— Eu preciso da sua ajuda. – Haruki disse, alheio ao meu conflito interno. Seu olhar afiado me fazia pensar que aquilo parecia mais uma ameaça do que um pedido de ajuda. E certamente não chegava nem perto de uma confissão.

— Com o que? – fingi ignorância, fitando a parede atrás dele. Por algum motivo não conseguia olhá-lo nos olhos agora, como se ele pudesse me petrificar caso eu o fizesse.

— Me ajude a fazer um novo clube!

— E por que eu deveria...

— Eu preciso encontrar uma sala segura e membros para o clube, então você cuida da papelada.

Obviamente ele não estava me ouvindo.

— E que clube você pretende criar?

— Isso não é importante. O que importa é ter um clube.

Duvido muito que a escola concorde com um clube cujas atividades são desconhecidas.

— Agora me ouça! Amanhã chegue bem cedo na escola, e faça o que tem que ser feito, e eu vou procurar uma sala para o clube, OK?

Se eu disser ‘não’ o que aconteceria? Enquanto eu hesitava em responder, Suzumiya já ia longe descendo as escadas, deixando uma colegial desorientada sozinha em uma escada empoeirada.

—... eu não concordei em ajudar... – dizer isso para a garota disforme pintada na tela mais a frente era sem-sentido. Tudo o que tinha que fazer, era voltar para a sala, e pensar em como poderia explicar aquela saída dramática para as minhas colegas curiosas.

-

Não precisei procurar pelos requisitos de inscrição de clube, pois eles estavam todos listados atrás do guia estudantil. Só me restava saber como eu deveria preencher aquele formulário...

Quando o sinal que anunciava o final das aulas tocou, Haruki levantou-se de súbito, e saiu me puxando pela mão para fora da sala a uma velocidade de seqüestro.

— Onde estamos indo? – perguntei com a voz mais controlada que podia, tentando ao máximo ignorar o fato de estar sendo arrastada pelos corredores como uma criança levada que não quer ir embora do parquinho. Espero que essa cena não se torne habitual!

— A sala do clube – respondeu Haruki, tão enérgico que eu não me surpreenderia de vê-lo chutar as pessoas a sua volta para que não andassem tão lentamente. Depois disso voltou ao silêncio, com os olhos envoltos num estranho e desvairado brilho. 

Sua mão suava, enquanto ele ia pelos corredores, e eu já havia desistido de mostrar qualquer resistência, então apenas me deixava levar, seguindo com custo seu passo apressado.

— Olha só! Como ela aguenta um namorado tão bruto? – ouvi uma segundanista comentar, enquanto passávamos pelo corredor principal do primeiro andar. Meu rosto esquentou instantaneamente. Nós dois parecíamos um casal de namorados?

Depois de atravessar a entrada, passamos para o outro prédio, o mais antigo. Subimos as escadas, que tinham uma camada de poeira indicando o pouco uso, até um corredor escuro, onde Haruki parou.

A nossa frente, estava uma porta, com uma placa torta onde estava escrito Clube de Literatura. Sem nenhuma consideração, Haruki abriu a porta, e eu apenas o segui.

A sala parecia ser grande, com apenas uma mesa retangular, cadeiras de metal e uma estante. Inúmeras rachaduras ajudavam a ‘fazer o ambiente’, demonstrando o quão velho, e esquecido, o edifício era.

Como se fosse um adereço adicional da sala, estava um garoto, sentado numa das cadeiras de metal, lendo um livro muito grosso de capa dura, de título ininteligível. Ele era bastante alto, mesmo estando sentado. Vestia o uniforme escolar alinhadamente, ao contrário de Haruki, e tinha certo ar de indiferença em seus olhos, por trás das espessas lentes dos óculos que usava. Seu cabelo, curto e levemente desarrumado, de um tom lavanda acinzentado que combinava perfeitamente com toda a imagem, esvoaçava quase imperceptivelmente na leve brisa que entrava pela janela entreaberta.

— De agora em diante, essa será nossa sala – Haruki anunciou em voz alta, com os braços abertos. Sua face brilhava com um sorriso perfeito. “Se ele sorrisse sempre assim...” eu pensei, mas jamais ousaria expor esse pensamento em voz alta.

— E o Clube de Literatura? – apontei para a porta, para indicar a precária placa do lado de fora.

— Todos os antigos membros já se formaram – Haruki explicou, balançando a mão para mostrar que aquele assunto não interessava – Como não haviam novos membros, o clube foi cancelado. Alias, aquele cara ali é o único membro novo.

— Então o clube ainda não foi... –

— Um clube com só um membro é praticamente nada! – eu ia argumentar, mas Haruki me cortou completamente, sem nem mesmo notar que eu ia falar.

— O que você tem na cabeça? Ia roubar a sala de clube de outras pessoas! – eu dei uma rápida olhada no garoto. Mesmo com a presença escandalosa de Haruki, ele não levantou a cabeça nenhuma vez, nem demonstrou nenhum esboço de ter notado nossa entrada. O ocasional mexer das páginas era o único indicio de que ele estava de fato vivo. Ele parece bem estranho também...

— E o garoto? – eu abaixei a voz, falando na direção de Haruki. Ele sorriu confiante em resposta.

— Ele diz que não se importa.

— Mesmo? – desconfio que ele possa ter coagido ou ameaçado o garoto de alguma maneira... talvez tenha dito que iria usá-lo como sacrifício para algum deus nórdico!

— Eu falei com ele na hora do almoço, disse que precisava da sala, e ele disse ‘Tudo bem', enquanto puder ler seus livros em paz. Agora que você mencionou, ele é bem estranho... parece suspeito!

É isso que as pessoas dizem de você!

Observei o garoto mais cuidadosamente, querendo fazer uma análise. Ele tinha uma pele pálida e um rosto inexpressivo. Seus dedos se moviam como um robô, e mal dava para distinguir qualquer outro movimento, como o piscar dos olhos, ou a respiração. Tive uma vontade estúpida de tirar seus óculos e o cabelo da cara, apenas para ver melhor seu rosto, ter uma visão mais clara. Resumidamente, era um excêntrico, misterioso e inexpressivo garoto. Do tipo que na se vê mais por aí.

Percebendo minha nada discreta observação, ele subitamente levantou a cabeça e ajeitou os óculos com o indicador. Seus olhos tinham uma estranha profundidade, quase como se pudesse enxergar através de mim. Nem por um momento pude duvidar de que isso talvez fosse mesmo possível.

— Nagato Yuuki – ele respondeu a uma pergunta não feita. Sua voz era firme e meio rouca, provavelmente por falta de uso. O tom indiferente não me surpreendeu nem um pouco, e combinava perfeitamente com a falta de expressão do seu rosto. Alguns instantes depois, ele voltou a atenção para o livro.

— Hmm... Nagato-san – eu chamei, com a voz fraca – esse garoto quer usar essa sala para atividades ilícitas de um clube-não-nomeado. Está tudo bem para você.

— Sim – seu olhar não vacilou, sem desviar das palavras nem por um segundo.

—Talvez possa trazer problemas a você – eu quase anciei por uma resposta negativa, que fizesse Haruki desistir de tudo isso. Não que eu acreditasse que isso fosse possível, de qualquer forma.

— Não me importo.

— Você pode até mesmo ser expulso daqui – argumentei.

— Sintam-se à vontade.

Ele respondia à tudo automaticamente, o que me fazia pensar que ele não dava a mínima para qualquer coisa.

— OK, então está decidido! – Haruki interrompeu repentinamente, com a voz alegre.

Ele estava realmente empolgado, e isso me parece um mau presságio.

— De agora em diante, vamos nos encontrar todos os dias depois da aula aqui nessa sala. Tenham certeza de vir, ou estarão mortos – Haruki disse com um sorriso quente como sol de verão na praia. Era quase de uma maneira sedutora, acariciando cada palavra. O que só deixava a sentença mais ameaçadora. Relutantemente assenti com a cabeça.

Por favor, não quero morrer ainda, é cedo, não é mesmo?!


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Notas finais do capítulo

Espero ansiosa pelos reviews! Adoro saber a opinião de todos!!!Kisu :3