Quando a guerra levou a mãe de Lily Evans, Petúnia casou-se com Válter Dursley e desapareceu pelo mundo.

Mas a morte da Sra. Evans só fez a sua filha bruxa ficar mais forte. A partir do dia em que recebeu a triste notícia, resolveu viver a vida mais intensamente, sem arrependimentos.

Tudo começou quando ela fez a coisa mais improvável do mundo: aceitou sair com James Potter.

–x-

Era o dia seguinte da morte de sua mãe. Lily estava de luto. Não passou maquiagem ou penteou o cabelo. Ela só queria morrer também.

Não tomou café e faltou as primeiras aulas da manhã. Queria ficar sozinha, e bolar seu plano para MATAR Voldemort. Ela era uma das poucas que dizia aquele nome sem receio. Surgiu o tabu de se referir ao mago como Aquele-Que-Não-Devia-Ser-Nomeado, que ela achava mais do que ridícula. Parecia que estavam dando um título honorífico para aquele assassino, que não merecia respeito de ninguém.

Foi até a beira do lago. Se a Lula-Gigante a agarrasse, não iria fazer a mínima diferença. Um dia ela teria de morrer, e esse dia chegaria mais rápido. Ela era uma Nascida Trouxa e se tornaria âuror. Estava marcada para morrer.

–No quinto ano, você disse que preferia sair com a Lula-Gigante do que comigo.

Lily deu um salto, naqueles tempos nem Hogwarts era segura: os comensais eram seus próprios colegas! Virou-se para trás, já com a varinha em punho quando deu de cara com James Potter.

Ele usava um uniforme de quadribol, cheio de proteções. Seus cabelos caiam sobre os olhos escuros e seus óculos estavam limpos como sempre. Ostentava um sorriso triste.

–Eu fiquei sabendo ontem... Sinto muito ...

–Eu não não preciso dos seus sentimentos, Potter! Eles não trarão minha mãe de volta!- ela explodiu de raiva, virando-se de costas para ele.

–Sei que está triste. Meu pai pode não ter morrido por causa da guerra, mas fiquei inconsolável quando ele se foi, e a minha mãe está em pedaços. Esse deve ser o problema quando uma pessoa que se ama se vai primeiro.

–Eu quero matá-lo, destroçá-lo! Fazê-lo sofrer como estou sofrendo agora!- ela dizia batendo os pés.

–Não, você quer tomar um banho.

Lily Evans se virou, colocando as mãos na cintura:

–Não, eu não quero. Não seja idiota, James!- mas ele deu um sorriso bobo, a agarrou pela cintura e a jogou na parte rasa do lago. Completamente molhada, ela se levantou dando para o garoto um olhar fulminante.

–Não me olha assim, você disse que preferia a Lula-Gigante.

Mas Lily Evans não teve sua ira apaziguada. Ela precisava de bater em alguém, de liberara sua raiva.

E lá estava seu alvo, a um metro de distância.

Correu como um a louca, dando um salto felino em James Potter, jogando-o no chão. Ela o bateu, arranhou e mordeu, completamente furiosa. Seu rosto estava da cor dos seus cabelos.

Por fim, a cor de sua pele voltou a ser branca, e o surto passou. Voltou a ficar vermelha novamente, mas por outro motivo. Lá estava ela, sentada bem em cima de um James Potter todo vermelho e arranhado, com a camisa até mesmo rasgada. Se levantou depressa.

–Eu sinto muito, muito mesmo.

Ele não olhou para o rosto dela.

–James, por favor...

Ele se levantou bruscamente e foi andando, passos largos e firmes até o castelo. Era irônico, ele sempre fora atrás dela, e agora ela o perseguia, em meio a trancos e barrancos.

–James!

–O que foi? Quer um segundo round? Eu não vou te dar essa satisfação, Evans. Eu, que sempre achei que você fosse virtuosa...- ele se virou de novo. Mas ao contrário do que imaginava, o grifinório não parecia com raiva. Parecia incrivelmente triste. Os olhos negros estavam vermelhos.

"Devia ser triste", ela pensou, "se devotar a vida toda a uma pessoa e ela a repudiar... James era um idiota, mas já não é mais. Ele estava tentando me fazer sorrir, daquele jeito idiota e bobalhão que só James Potter tem. E eu só o machuquei."

–Você é mais virtuoso do que eu, James. Você é corajoso e defende os seus amigos, e sempre estará lá para eles. Sempre tive muitas colegas na vida, mas você, o Snape e os marotos foram o mais próximo que eu já tive de amizade na vida... Você tem mais virtudes do que eu, porque você cativa as pessoas, e eu só sei repudiá-las e machucá-las. Então, eu vou pedir só uma coisa James Potter. Durante todos esses anos, você sempre me fez uma pergunta, e eu sempre respondi não. Mas hoje, eu quero responder que sim. Basta apenas fazer a pergunta, e finalmente, você vai ter o que sempre quis. Se não quiser mais, apenas me dê um tapa e saia andando, e eu nunca mais me intrometerei na sua vida.

–Eu não preciso da sua pena, Evans. Ah, eu sou mesmo patético.- começou a andar novamente, mas uma mão feminina o puxou para trás.

–Mas não é pena!- ela arfou, desesperada.

–Me dê um só motivo.

Lily Evans engoliu em seco.Haviam duas respostas para essa pergunta: a resposta que ela queria dar de início mas não podia, e uma que relutaria em dizer. Uma resposta há algum tempo engasgada. A ruiva já tinha humilhado o outro por tantas e tantas vezes...Era a hora da vingança dele.

–Você se lembra daquele dia em que me salvou do Lestrange?

O garoto assentiu com a cabeça.

–E que eu te contei o meu maior segredo?

James apenas grunhiu um "uhum".

–E que você me beijou?

O Potter a encarou, incrédulo. Para ele, a outra já tinha esquecido o episódio.

–Eu não parei de pensar em você desde aquele beijo. Não consegui parar de pensar na maneira delicada com que você me tocou e como eu me senti feliz, e como você o estava também. E como você foi ao legal e corajoso por ter me salvado e guardado o meu segredo.

–E?- ele disse um pouco curioso, com um tom infantil e impaciente.

–Ah, quer saber? Eu gosto de você James. Eu gosto muito de você. Eu gosto de você de uma maneira diferente do que gosto das minhas colegas, do Severus, do Remus, do Sirius e do Peter.- ela sentia as lágrimas escorrerem e já conseguia ouvir a enorme gargalhada de "tarde demais"que Potter daria - Droga, James Potter, eu te odeio. Odeio! Sabe por quê? Eu te amo, satisfeito? - ela já começava a soluçar - Vai contar pra todo mundo agora, me jogue na desgraça, ria de mim! Eu mereço! Eu sou patética!

–Ótimo!-Ele gritou. Ela fechou os olhos, chorando pela sua desgraça. Era tarde demais. Ela logo se sentiu então, presa a alguma coisa quente e musculosa... Que cheirava a grama e a terra molhada.E mãos, a abraçando e acariciando seu cabelo. Ela olhou para cima, e lá estava ela, nos braços de um James Potter, cujos olhos escorriam pequenas gotas de lágrimas.

–Faremos um belo casal de patéticos- ele sorriu.

–Claro que faremos.- E ela o beijou.

–x-

A partir daquele dia, Lily Evans passou a ajudar os Nascidos Trouxas e Mestiços em necessidade, sendo doando alimentos e roupas aos fugidos ou confortando os que sofreram uma grande perda. James Potter a fez enxergar que querer ferir Voldemort apenas o fortaleceria, que a melhor maneira de combatê-lo era com carinho, alegria e prontidão para ajudar os demais.

Com Caridade, Humildade, Paciência, Temperança, Castidade, Generosidade, Diligência e James Potter, ela construiria um mundo melhor.

Já ele não precisa de tanto: só de Lily Evans. Afinal, na relação, ela sempre foi aquela que carregou todas as virtudes.