Hikaru despiu-se e vestiu as roupas que Lyra lhe trouxera: calças jeans escuras e uma camiseta preta de mangas curtas confortável. As roupas eram um pouco grandes, mas serviam bem o bastante se dobrasse a barra das calças alguns centímetros para cima e apertasse o cinto.

Após encará-la por algum tempo, Hikaru prendeu a armadura sobre o ombro esquerdo. No pescoço pendurou uma corrente de prata com um pingente estranho que descobriu estar usando debaixo da capa. Talvez alguém reconhecesse o símbolo e pudesse dizer o que significava.

Terminado, saiu do quarto. À sua frente, estava a escada que conduzia ao andar inferior. À direita e à esquerda, nas duas pontas do corredor, estavam duas portas. A da esquerda tinha uma plaqueta vermelha na qual se lia “Flamma” em letras douradas. Foi até lá e bateu na porta.

- Pode entrar! – respondeu a voz de Flamma vinda de dentro.

Hikaru abriu a porta, dando num quarto surpreendentemente simples: uma cama, um armário e uma escrivaninha, tudo em tons de branco, preto e vermelho, e uma porta que dava num banheiro simples no mesmo esquema de cores. Flamma estava sentada na cama lendo um livro, e levantara a cabeça para ver quem entrava.

- Ah... Oi, Hikaru. – disse ela, com uma expressão neutra.

- Oi... ainda está brava comigo? – perguntou.

- Hm? Não estou brava com você! – disse, sorrindo.

Hikaru respondeu com um daqueles sorrisos brilhantes que faziam as bochechas de Flamma esquentarem um pouco.

- E então? O que o traz a meus humildes aposentos? – perguntou ela, sorrindo.

- Ah... Vim pedir para você me mostrar a cidade. – respondeu ele, com outro daqueles sorrisos.

- Bem... não é como se eu tivesse algum compromisso inadiável hoje. – levantou uma sobrancelha – Acho que posso sair para passear com você. – sorriu.

Fechou o livro que estava lendo e saiu do quarto, trazendo Hikaru junto. Desceram as escadas e dirigiram-se à sala, onde Lyra assistia TV deitada no sofá. Ao ouvir os dois chegando, virou-se para eles.

- Olá, crianças. Vão sair? – perguntou ela.

- Sim... vou mostrar a cidade para ele. Vai fazer almoço hoje? – disse Flamma.

- Não... Pegue munny na gaveta da cozinha e compre algo para vocês dois comerem. Hoje tem um festival na cidade.

- Ah, é mesmo! Hoje é aniversário da construção de Disney Castle, não é? É um bom dia para conhecer a cidade. – sorriu – Então nós vamos passear! Até mais tarde, mãe!

- Até! Divirtam-se, crianças! – sorriu, acenando para os dois que, após pegar algum munny na cozinha, saíram porta afora.

A primeira coisa que atingiu Hikaru ao ver Disney Town foi a enorme quantidade de cores. O sol brilhava no céu como se naquela cidade o tempo fosse eternamente bom, iluminando as casas coloridas, as ruas coloridas, as calçadas coloridas, os jardins coloridos, as pessoas coloridas, os animais coloridos, e todas as outras coisas coloridas que formavam Disney Town.

A segunda coisa que o atingiu foi uma enorme nostalgia, uma forte sensação de que já havia estado ali antes. Uma enxurrada de memórias o envolveu, cegando-o por alguns instantes – memórias felizes, momentos que passara sorrindo.

“The Million Dreams Award goes to... Ventus, Aqua, and Terra. All three of you!”

Lágrimas desceram pela face de Hikaru sem que ele pudesse evitar. Sequer sabia por que estava chorando, mas não conseguia parar. Parecia haver algo triste naquelas memórias felizes.

Flamma olhou para trás, querendo ver que expressão ele teria ao ver a cidade pela primeira vez, e encontrou-o secando as lágrimas que continuavam a cair. Ergueu as sobrancelhas em surpresa.

- Hikaru? O que foi? – foi até ele, secando as lágrimas dele com a manga da blusa – Por que está chorando?

- Eu... não sei... – respondeu – Várias memórias vieram de uma vez, e quando eu vi estava chorando...

- Eram memórias tristes?

- Não... memórias felizes, eu acho. Algo sobre pilhas de bolas de sorvete... – riu – Algumas não deram muito certo, e os patinhos... – riu outra vez – E depois um troféu, algum prêmio... – franziu as sobrancelhas – Mas de repente eu senti um aperto estranho no peito, como se tivesse perdido algo importante... e quando vi estava chorando. – riu, sem graça – Estranho, não é? Não sei por quê...

Flamma sorriu.

- Acho que coisas boas aconteceram aqui, e você deve ter chorado porque essas coisas já aconteceram e não voltarão mais. Bem, com o tempo você vai saber por que chorou, então agora pare de chorar! Não sei por que, mas isso não combina com você! – disse, franzindo as sobrancelhas.

Hikaru riu.

- Realmente não sou de chorar. Não farei mais isso, promessa. – sorriu, secando as ultimas lágrimas – Então, vai me mostrar o resto da cidade?

- É claro! – sorriu, tomando Hikaru pela mão e levando-o pela cidade.

Disney Town era uma cidade composta por amontoados de casinhas coloridas de no máximo dois andares com jardins ainda mais coloridos e ruas largas de paralelepípedos. No lugar de praças públicas, a cidade tinha enormes brinquedos de parques de diversão, como montanhas-russas, carrosséis e rodas-gigantes. Quase não havia carros, e as pessoas se deslocavam a pé, de bicicleta, triciclo ou skate, ou mesmo de monociclo, pula-pula ou qualquer outra forma imaginável de locomoção. Era um quadro de deixar maluco qualquer um que não conseguisse aceitar coisas absurdas sem questionar, mas tantas coisas já haviam acontecido a Hikaru naquele dia que ele se sentia disposto a acreditar no que viesse, de modo que não teve problemas para aproveitar a cidade.

Hikaru e Flamma dirigiram-se ao centro da cidade, onde pretendiam encontrar um restaurante para almoçarem. Por todo o caminho, a cidade estava enfeitada com bandeirinhas, estrelas, sininhos e todo tipo de ornamento.

- Disney Town é sempre assim tão colorida e enfeitada? – perguntou Hikaru, franzindo as sobrancelhas.

Flamma riu.

- Disney Town é sempre colorida, mas nem sempre tão enfeitada. Nós temos um festival muito importante hoje, por isso tem tantos enfeites assim. – disse ela.

- Que festival é esse?

- É o aniversário da construção de Disney Castle. – sorriu – É quase como se fosse o aniversário da cidade. Então as pessoas enfeitam ruas e casas, e tem um festival com barraquinhas de comida, bebida e jogos na praça central, e o rei Mickey faz um discurso... Depois, à noite, tem o desfile de carros alegóricos e os fogos de artifício. – riu – É a festa mais importante do ano em Disney Town, mais animada até que o Natal!

Hikaru sorriu.

- Parece que escolhi uma boa época para chegar!

Os dois riram, e continuaram a caminhar pela cidade até a área comercial, onde pretendiam encontrar um restaurante no qual almoçar.