- Muito bem! Já que estamos decididos, melhor arranjar algumas roupas novas para o meu novo filhinho, para que você possa sair por aí mostrando a cidade para ele. – disse Lyra, dirigindo-se a Flamma.

- Roupas novas? Por quê? – perguntou Hikaru, confuso.

- Bem... acho que não ficaria bem você sair pela cidade com uma roupa tão parecida com o uniforme da Organization XIII, é capaz de alguém te atacar por acidente. – respondeu a mãe.

Organization XIII... por algum motivo, esse nome soou extremamente familiar a Hikaru. Mas, como o resto das suas memórias malucas, essa não era muito clara, e ele não fazia a menor idéia do que pudesse ser Organization XIII.

- O que é Organization XIII? – perguntou.

- Ahn? Ah, bem, acho que é normal que não saiba... A Organization XIII é um grupo de nobodies que procura conquistar Kingdom Hearts e conseguir corações para si. – respondeu Flamma.

- Organization XIII, Kingdom Hearts, nobodies... É como se eu conhecesse todas essas palavras, e soubesse o que são, mas não pudesse lembrar com clareza... como se a memória não fosse minha... – franziu as sobrancelhas – Isso é frustrante.

As duas olharam o garoto, que segurava a cabeça entre as mãos como se estivesse prestes a explodir. De quem seriam as memórias que ele possuía? Além disso, seu rosto parecia familiar – onde já haviam visto aqueles cabelos dourados espetados e aqueles olhos azuis?

Deixando esses pensamentos de lado, Lyra foi até Hikaru e o prendeu numa chave de braço, despenteando seus cabelos.

- Pare de se preocupar com essas coisas! – disse ela – Dê tempo ao tempo e suas memórias vão acabar voltando. Se não voltarem, esqueça elas de uma vez, deixe de se preocupar com o passado, viva o presente e espere pelo futuro!

Soltou-o, sorrindo. Hikaru se viu sorrindo também.

- Farei isso. Obrigado.

Lyra sorriu, assentindo com a cabeça.

- Muito bem! Agora que você parece curado de sua doença depressiva, vou ver se encontro algumas roupas do meu marido para você usar provisoriamente, até acharmos algo apropriado para você. – e saiu do quarto, deixando Flamma e Hikaru a sós.

Flamma, ainda um pouco envergonhada pelo incidente mais cedo, foi sentar-se timidamente ao lado de Hikaru.

- Hikaru... agora há pouco, eu... – corou – Desculpa.

- Desculpa? Por que? Pelo beijo? – perguntou ele.

- S-sim... – respondeu, corando e desviando o olhar.

- Não tem problema. Absolutamente nenhum problema. Sinta-se a vontade para fazer mais vezes. – disse ele, sorrindo.

Flamma virou-se para ele com uma expressão que misturava choque e surpresa, o rosto da mesma cor dos cabelos.

- Você... é tão... – parecia incapaz de formar uma frase completa – Como assim “faça mais vezes”?! – exclamou, com uma expressão indignada.

Hikaru riu da reação de Flamma, e ela virou o rosto para o outro lado, com uma expressão ofendida. Ele então parou de rir e virou-se para ela, sorrindo. Então inclinou-se um pouco e pressionou os lábios na bochecha de Flamma, que corou ao extremo, afastou-se com a mão na bochecha e olhou para ele, entre chocada, indignada, surpresa e deliciada.

- Hikaru! – exclamou – Você é tão...

Nesse momento escutaram uma pequena tosse daquelas propositais vinda da porta, e viraram-se para ver Lyra, com uma pequena pilha de roupas nos braços e um enorme sorriso no rosto.

- Que bom ver que os dois estão se dando tão bem! – disse, rindo.

- Mãe! Desde quando está espionando aí?

- Bem... Mais ou menos desde o beijo do Hikaru. – sorriu – Mas não se incomodem comigo, podem continuar...

- MÃE! – exclamou Flamma, corada. Então levantou-se e saiu do quarto, parecendo ofendida.

- Acho que fui rejeitado. – disse Hikaru, vendo Flamma sair.

Lyra riu.

- Que é isso... Daqui a pouco ela volta. – sorriu – Ela é mais tímida do que parece, mas acho que gosta de você. Nunca tinha visto ela se aproximar tanto de alguém antes.

Hikaru sorriu.

- Também gosto dela. Tenho a sensação de que meu lugar é ao lado dela, por algum motivo... – disse ele, o olhar mirando longe.

- Bem! Flamma a parte, trouxe algumas roupas para você vestir, ao menos até arranjarmos novas. Quando terminar de se vestir, peça para Flamma te mostrar a cidade. – sorriu, e virou-se para sair. Antes que o fizesse, contudo, lembrou-se de outra coisa – Aliás, esse pedaço de metal estranho estava em seu ombro esquerdo quando Flamma o encontrou ontem à noite. – pegou o pedaço de metal numa mesinha próxima, mostrando-o a ele – Sabe o que é?

Hikaru pegou o pedaço de metal nas mãos, e sua expressão mudou, como se estivesse perdido na memória.

- Sim... é minha armadura. Pensei que estivesse quebrada depois da batalha com Vanitas, mas parece que ela também se recuperou com o tempo. – sorriu, um sorriso diferente dos que Lyra havia visto até então.

- Armadura...? Quem é Vanitas...? – perguntou ela, franzindo as sobrancelhas.

Hikaru pareceu acordar de um sonho.

- Vanitas? – franziu as sobrancelhas – Não sei. Mas soa familiar, de alguma forma... E de que armadura você está falando? – perguntou, confuso.

Lyra ergueu as sobrancelhas, surpresa.

- Você acabou de dizer que esse pedaço de metal é sua armadura... E que ela havia quebrado depois de uma batalha com esse Vanitas, mas se recuperou com o tempo. – disse ela.

- Ah... Deve ter sido outra das minhas memórias confusas... Elas não ficam muito tempo na minha cabeça, só aparecem e então fogem outra vez. – então balançou a cabeça para clarear os pensamentos e olhou o estranho pedaço de metal em suas mãos – Isso aqui é uma armadura? Não faço a menor idéia de como usar.

- Bem, muito menos eu! – disse Lyra, com um sorriso – Se eu fosse você, ia até Disney Castle e perguntava ao Rei Mickey se ele sabe algo sobre isso. Você parece ser um garoto cheio de mistérios importantes, pode ser que o rei saiba algo sobre eles.

- Mas... eu posso simplesmente entrar lá e falar com o rei? – Mickey... outro nome que lhe soava familiar. Bastante familiar.

- Pode, sim. Rei Mickey é o tipo de rei que gosta de receber visitas, principalmente de novos moradores da cidade. – sorriu.

- Então acho que irei vê-lo.

- Isso. Troque de roupa, então peça a Flamma para te mostrar a cidade e te levar ao castelo. – sorriu, e deixou o quarto, fechando a porta atrás de si.

Aquele garoto era um mistério, pensou Lyra, um mistério potencialmente perigoso. Alguém que caíra do céu, sabia sobre a Organization XIII, nobodies e Kingdom Hearts (mesmo que não fosse uma memória clara) e andava por aí com uma armadura misteriosa não podia ser um qualquer.

O garoto não era um nobody, Lyra sentira que ele tinha um coração, um coração cheio de luz. Mas não conseguia determinar ao certo que tipo de poder estaria dentro daquele coração, e isso a preocupava. E aquela armadura... sentia que já vira algo parecido antes. O mesmo valia para aquele garoto – era como se ela conhecesse aquele rosto de algum lugar. Se conseguisse se lembrar de onde...