Flamma conduziu Hikaru pelas ruas coloridas de Disney Town até que alcançaram a ponte que, passando sobre os trilhos do trem circular (um pequeno trem que dava a volta no centro da cidade), levava ao centro da cidade, onde ficavam Disney Castle, a área comercial e a praça central (onde era realizado o festival).

Estavam no meio da ponte quando ouviram alguém gritar “Ah! Meu skate!” e viram um skate personalizado sair voando da ponte no exato momento em que o trem circular passava – não havia salvação para aquele skate, e ninguém seria louco o bastante para tentar resgatá-lo. Ou foi o que todos pensaram.

Numa fração de segundo, um garoto saltava por sobre a amurada da ponte, pegando o skate no ar, para então deslizar com ele sobre a cobertura do trem e saltar de volta para a ponte, aterrissando com perfeição, numa manobra de tirar o fôlego.

Flamma virou-se para o garoto que acabara de aterrissar (e agora pegava o skate do chão para devolver ao dono original, como se nada demais tivesse acontecido) com o queixo caído numa surpresa muda.

- Hikaru! – exclamou ela – Você anda de skate?

- Hm? É, parece que sim. – disse ele, olhando o objeto em suas mãos.

- Parece que sim? Aquilo foi... você podia ter morrido se não soubesse andar! Por que você...?

- Bem, eu não sei por que... simplesmente aconteceu, meu corpo se moveu sozinho!

Antes que Flamma pudesse responder, outro garoto veio correndo em direção a eles. Era vários centímetros mais alto que Hikaru e Flamma, com cabelos castanhos curtos e olhos de um cinza quase prateado, e vestia roupas parecidas com as de Flamma – uma blusa preta com zíper de coração estilizado, com uma pequena montanha bordada sobre o peito do lado esquerdo, calças brancas e botas pretas na altura dos joelhos.

- Uau! Cara, aquilo foi incrível! Você salvou meu skate da destruição... É a primeira vez que vejo alguém fazer algo como aquilo... – disse ele.

- Ah... Isso aqui é seu? – disse Hikaru, virando-se para o outro garoto. Ele parecia Leon, pensou, mas quem raios era Leon? Franziu as sobrancelhas.

- É, sim. Obrigado por salvar ele... não foi exatamente barato. – riu.

- Não foi nada... meu corpo meio que se moveu sozinho. – sorriu, deixando Leon (quem quer que fosse) de lado e devolvendo o skate ao dono.

- Você tem uns reflexos bem estranhos! – riu – Onde aprendeu a andar de skate assim?

- Não sei... Mas tenho a impressão que andei em algo assim por muito tempo.

- Tem a impressão...? – franziu as sobrancelhas.

- É... bem...

- As memórias dele são uma bagunça, então não tem como ele saber ao certo. – disse Flamma, saindo de trás de Hikaru.

- Flamma? Você conhece ele? – perguntou o garoto.

- Sim... ele caiu do céu ontem e agora está morando lá em casa. – sorriu – Minha mãe diz que vai montar um abrigo para adolescentes desmemoriados.

O garoto riu.

- Sua mãe é um caso à parte...

Hikaru olhava de um para o outro, sobrancelhas franzidas.

- Vocês se conhecem? – perguntou.

Os dois rostos viraram-se para ele.

- Ah, sim... Hikaru, este é Ivan. – respondeu Flamma.

- Nos conhecemos de Disney Academy. – complementou Ivan, apertando a mão de Hikaru.

- Disney Academy? O que é isso? – perguntou Hikaru.

- Hm... é um tipo de escola de Disney Town. Mas lá a gente aprende a usar nossas “armas pessoais”. – disse Ivan.

- “Armas pessoais”? – perguntou Hikaru, franzindo as sobrancelhas.

- São armas que conseguimos materializar do nada. É um tipo de magia, mas não é exatamente magia. Normalmente, as armas só conseguem usar um elemento, no máximo dois. Mestres em magia geralmente usam todos os elementos. – explicou Flamma.

- Hm... será que eu também tenho algo assim? – perguntou Hikaru, franzindo as sobrancelhas.

- Ah, deve ter sim. Quase todo o mundo tem. – disse Flamma.

- Bem, eu não sou desse mundo. – sorriu.

- O que ela quis dizer é que quase todas as pessoas têm. – disse Ivan, também sorrindo.

- O que você acha que seriam? Minhas armas?

- Hm... julgando pela sua cara e personalidade, eu diria adagas ou algo do tipo... elemento vento, ou luz, ou os dois. – disse Flamma, franzindo as sobrancelhas.

- Aliás, quais são as armas de vocês? – perguntou Hikaru, franzindo as sobrancelhas.

- Bem... eu uso lâminas circulares do elemento fogo. – disse Flamma.

Igual a Axel, pensou Hikaru. Mas quem era Axel? Franziu as sobrancelhas.

- E eu uso uma espada de folha larga, elemento terra. – completou Ivan.

- Ou seja, força bruta. – disse Flamma, séria.

- Hei! – retrucou Ivan, indignado.

Hikaru riu dos dois enquanto discutiam, até que ouviram um ronco vindo dos estômagos vazios dele e de Flamma. Foi a vez de Ivan rir.

- Ainda não almoçaram? – perguntou ele.

- Não... minha mãe estava com preguiça de cozinhar hoje... Estávamos indo comer alguma coisa no festival quando seu skate veio voando e Hikaru pulou para pegar. – respondeu Flamma.

Ivan riu.

- Muito bem, já que é tudo culpa minha, vou pagar um almoço para vocês dois. Com direito a sorvete da nossa loja. – disse ele.

- Yay! O sorvete azul da loja do Ivan é o melhor de todos! – exclamou Flamma, animada.

Hikaru franziu as sobrancelhas.

- Sua família tem uma sorveteria, Ivan? – perguntou.

- Tem sim, por quê?

- Como dizer... eu nunca teria adivinhado por essa sua cara de guarda-costas. – respondeu Hikaru, franzindo as sobrancelhas e encarando Ivan como se o analisasse.

- Há! Eu nunca teria adivinhado que você era tão bom no skate por essa sua cara de mauricinho. – respondeu Ivan, devolvendo o olhar de Hikaru.

Faíscas saltaram entre os olhos dos dois, e Flamma, rindo, entrou no meio dos garotos, separando-os.

- Vamos, chega! – cutucou Hikaru nas costelas com o cotovelo – Não sabia que atrás dessa carinha de anjo se escondia uma língua ferina dessas! – então cutucou Ivan – E você! Não tem vergonha de implicar com os mais jovens?

- Pare de falar como se eu fosse mais velho que você! Temos a mesma idade! – reclamou Ivan, indignado.

Os outros dois riram e assim, discutindo, atravessaram a ponte e entraram no centro de Disney Town.

Assim nasceu a amizade de Ivan, Flamma e Hikaru, uma amizade que passaria por inúmeras dificuldades e resistiria a elas, durando até o fim das vidas dos três.