Jacob estava diferente, mais alto, tinha cortado o cabelo curto e estava muito musculoso. Na verdade, só consegui reconhecê-lo pela voz e parte do seu rosto. Quanto tempo passei fora?

-Vamos Isabella- Disse irritada, começando a tremer levemente –Vai embora daqui, sua sanguessuga- Frisou bem a frase.

Não conseguia emitir um som até agora, era chocante, como doloroso. Jacob me maltratando, nunca consegui imaginar isso nem nos meus piores pesadelos. Ele sempre foi tão carinhoso comigo, que isso mais parecia não ser real, como se estivesse sonhando de novo. Mais ai eu me lembrava que isso não era possível  e a realidade caia sobre meus ombros.

Ele me odeia.

-Jake, eu não....

Ele me cortou rosnando furioso. Pude ver o quanto se controlava para não se... Transformar. Só de imaginar isso, meu rosto se contorceu em nojo. 

-Eu já disse. Não pode ficar aqui nem mais um segundo- Respirou fundo, com o peito descendo e subindo rápido –Aqui não é lugar de monstros como você- Apontou acusadoramente para mim.

Senti algo dentro de mim se inflamar. Minha visão era pintada de vermelho, e um ódio inexplicável cresceu em mim. Não queria brigar com ele, nem sentir raiva, mas era quase impossível. Minha espécie, pelo que pude perceber, repudiava lobisomens. Por era isso que ele era. Não adiantava mais negar.

-Se me lembro bem, não sou o único daqui- Rebati automaticamente, me arrependendo logo em seguida.

Ele trincou os dentes e travou a mandíbula. Seus punhos se fecharam e pude ver todos seus músculos ficarem contraídos. Eu literalmente cutucava onça com vara curta.

-Eu não tenho culpa nasci assim. Mas você Isabella...- Riu sarcasticamente –Saiu correndo atrás de alguém que nem te queria. Deixe-me adivinhar, ele ainda não quer não é?- Indagou, fazendo meu coração se apertar.

Eu reconhecia que Jacob estava magoado comigo, mas ele não tinha o direito de me julgar assim.

-Você não sabe de nada!- Gritei com ele, também começando perder o controle.

-Oh, é ai que você se engana- Se aproximou de mim a passo lentos –Fui eu quem assisti de camarote- Lembrou. Pude ver que um brilho de dor se passou pelos seus olhos, como assim também se passou pelos meus –Você se autodestruiu Bella- Disse meu apelido com a voz embargada - Eu poderia ter te amado. Poderíamos estar felizes hoje- Baixei meu olhar, sabendo que tudo era verdade.

-Jacob...- Murmurei quase sem forças para retrucar.

-Não- Me interrompeu –Não adianta mais falar. O estrago já está feito- Disse amargamente –Só... vá embora- Pediu dando as costas.

Estendi uma mão em sua direção, tocando em sua pele.

-Jacob, espere...- Peguei seu braço.

-Não!- Se afastou de mim como se tivesse recebido um choque.

Encolhi-me quando percebi sua respiração aumentar, junto ao seu coração. 

-Bella você não pode ficar aqui- Avisou com a voz instável – Somos inimigos naturais, eu estou me controlando para não te atacar agora- Se virou para mim com um olhar assassino –E pode ter certeza que gostaria muito. Vá embora, volte pros seus malditos sanguessugas!- Gritou.

Imediatamente passei a ter uma postura séria. Não éramos mais Bella e Jake como antigamente, me entristeceu perceber que nunca mais poderia ser assim.

Agora seria somente, o lobo e a vampira. Dois seres que querem a morte do outro mais que tudo. Por que eu também sentia vontade de machucá-lo. Apesar de ter consciência de tudo que passamos juntos, meu amor por Jake era eclipsado pelos meus extintos naturais.

Encarei meu ex-amigo. Seu rosto estava mais amadurecido, os traços masculinos mais fortes e seu bronzeado perfeito. Riste franzida, lábios comprimidos, que escondiam um sorriso que uma vez fora carinhoso para mim.

Jacob era um homem bonito e jovem, poderia ter tido uma namorada que o amasse muito, mas por alguma razão, ele se prende a garota defeituosa, sem graça, que foi sua amiga de infância.  Beleza alguma poderia mascarar as olheiras de preocupação que marcavam sua pele.

De alguma maneira, eu sempre soube dos sentimentos dele por mim. Se fosse por um olhar mais demorado, ou até quando ele segurava minha mão de forma possessiva. Eu percebia esses pequenos gestos. Nunca reclamei, mas nunca lhe dei esperanças. Se ele estivesse confortável com isso, eu não me importava.
Mas agora, olhando dentro daqueles olhos que eu aprendia a decifrar, via que não era bem assim.

Movida pela magoa(que eu começava a perceber que sempre iria carregar no peito) fiz minha melhor cara de indiferença, misturado com cinismo.

-Você sempre me repreendeu quando me lamentava por Edward...- Engoli seco ao dizer o nome dele. Era tão doloroso me lembrar de alguns dias atrás. Baixei a cabeça, encarando a grama   –Me dizia como isso me machucava e acabava comigo...- Murmurei, sentindo de novo a vontade de chorar –Mas...- Respirei fundo, tentando controlar os espasmos dos meu peito –Você não é muito diferente de mim Jacob- Olhei diretamente em seus olhos  e vi ali, mais uma vez, o reflexo dos meus.

Sua respiração acelerou, pouco a pouco, suas mãos paravam de tremer. Eu sabia o que ele estava sentindo. A verdade. Caindo esmagadora na sua frente.

Ele me julgou tantas vezes por me martirizar por um amor não correspondido, que nunca quis enxergar o que verdadeiramente estava acontecendo.

Senti o lado selvagem e frio de mim tomar espaço. Não havia mais dor, nem ressentimento, não tinha mais choro nem amor. Só existia uma vontade desesperadora de ferir meu inimigo. Por isso mesmo, tomei um passo à frente. Olho no olho, centímetros de distância. 

Jacob, por mais que sua fisionomia fosse dura e severa, seus olhos imploravam para mim, como se dissessem: Não faça isso.

Mas eu fiz.

-Eu nunca vou amar você- Disse cada palavra, carregada de uma realidade intimidadora –Eu sou louca pelo Edward- Sorri sádica, vendo seus olhos negros se marejaram   –Por isso virei uma sanguessuga que nem ele. Por que eu o a-mo!

Naquele exato momento, tive certeza de uma coisa. Eu tinha acabado de partir o coração do meu melhor amigo.

Jacob estava irreconhecível. Lágrimas grossas caiam pelas suas bochechas e ele logo tratou de enxugá-las brutalmente.

-É mentira- Murmurou inutilmente, numa vão tentativa de lhe arrancar a agonia.
Neguei com a cabeça com o sorriso sarcástico nos meus lábios.

-Não, não é. E você sabe bem- Ele ofegou e pude ver claramente que batalhava para continuar de pé.

-Bella...- Respirou fundo, tentando deter a avalanche de dor que com certeza estava o afligindo agora –Porque está fazendo isso? Eu... eu ainda amo você- Murmurou se dando por vencido.

Sorri, pegando seu rosto quente entre minhas mãos frias. 

-Porque?- Indaguei, lhe acariciando a bochecha  –Porque eu gosto de você Jake. Apesar de sentir ânsia só de ficar perto de você, você que esteve ao meu lado quando mais precisei, eu agradeço isso- Disse com sinceridade.

Ele fechou os olhos e negou com a cabeça.

-O que? Não acredita em mim? Pois eu gosto sim de você Jacob. Por isso mesmo estou lhe fazendo esse favor.

Ele riu ironicamente.

-Favor? Quando pisotear meus sentimentos pode ser um favor?- Grunhiu, segurando minhas mãos no seu rosto, num pequeno esforço para tira-las de lá.
Suspirei, tentando controlar-me também. Tudo por Jacob.

-Preste atenção que só vou falar uma vez-  Mordi o lábio e olhei para baixo –Depois eu prometo que nunca mais volto para Forks- Senti ele apertar minhas mãos –Amor, paixão, sentimentos... Não existem- Disse séria –Quando você ama alguém, não fica seguro. Ao contrário, você passa a ser um alvo fácil do outro. Não queira isso Jacob, até quem você juraria que conhece de verdade, vai te machucar se você der brecha- Disse olhando nos seus olhos  –Não confie em ninguém, não se abra para ninguém, porque sempre você vai sair ferido. Éramos melhores amigos, mas eu estou aqui, sem pena nenhuma te machucando.  

Jake me olhava sério, agora ele já não mais chorava e suas mãos não apertavam mais as minhas. 

Mordi o lábio, nervosa.

-Entendeu?- Indaguei-lhe.

Meu ex melhor amigo parecia ter entrado em choque. Alguns poderiam dizer que foi um pouco frio da minha parte, mas eu só aprendi levando pancada. Tentei poupá-lo do que eu passei, só esperava que seguisse meu conselho.

Jacob passou os dedos pelo meu antebraço, seguindo seu comprimento até chegar ao meu ombro. Fiquei parada, enquanto seus olhos seguiam sua mão que afastou meu cabelo, dando uma visão bem nítida da cicatriz em forma de meia lua no meu pescoço. Ele tocou de leve lá, como se a qualquer momento pudesse lhe dar um choque.

-O que fizeram com você Bella?- Murmurou ainda sem me olhar.
Não lhe respondi. Minhas mãos escorregaram do seu rosto moreno até caíram flácidas ao meu lado.

O que fizeram comigo? A pergunta certa deveria ser: O que eu mesmo fiz comigo?

-Adeus Jacob- Murmurei empurrando seu peito. Suas mãos seguraram mais firmes meus ombros. 

Olhei para seus dedos, que me apertavam com tanta força. Eu teria quebrado a clavícula em não fosse vampira. Depois, olhei em seus olhos. Mesmo depois do sofrimento que lhe tinha feito passa, ele ainda gritavam para eu ficar. Será que eu tinha sido tão patética assim também?

Não precisava de uma resposta, estava claro. Sim, eu tinha sido ainda pior.

Não agüentava ver mais nenhum segundo meu reflexo de dor na minha frente.

Cravei meus dedos no seu braço, deixando marcas feias das minhas unhas, dos ombros até o cotovelo.

Meus dedos ficaram úmidos, e logo minhas palmas brancas estavam tingidas de vermelho.

-Arg!- Gemeu Jacob, tirando as mãos de mim. Ele caiu na grama, se contorcendo de dor.

Ops, eu acho que não medi muito bem minha força.

Automaticamente que senti o cheiro repugnante do sangue de lobisomem no ar, ouvi um uivo rasgar o silêncio da madrugada.

Meus sentidos se apuraram e sem olhar para trás, parti.