The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 7
Capítulo Seis - Passado


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura (:



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Então deixe me ir ou me aceite. E me diga como nós podemos vencer. Porque eu quero muito saber antes que eu comece a te esquecer. Então deixe-me saber.

Ben's Brother's - Let me out

Bill’s P.O.V


Sabe aquelas feiras que meus pais costumavam nos levar, quando éramos jovens, um daqueles lugares com alimentos gordurosos, fritos, mostra de animais e baratas. Tom me arrastava para a montanha russa todas as vezes que nós fomos apesar de meus protestos enfáticos. Eu odiava ficar girando loucamente e me sentir desorientado, com náuseas, e esgotado.

Era exatamente como me sentia quando eu acordei do meu cochilo ao ar livre. Minha cabeça estava desnorteada, como se eu tivesse sido centrifugado em uma máquina de lavar roupas. Eu nunca tinha experimentado a vertigem antes, mas eu tinha certeza que era isso que parecia. Eu gemia, esfregando o rosto com as mãos.

A primeira coisa que ouvi foi uma risada. Alta, irritante e estridente gargalhada. E então as vozes. Que eram igualmente alta e irritante.

— Haha! Jessica! Oh meu Deus, anda logo! Eu estou desmaiando!

— Eu não consigo encontrar minhas chaves!

— Cara, eu to muuuito bêbada ...

Eu resmunguei enquanto me sentava. Onde eu estou? Eu me perguntava grogue. Eu refiz mentalmente meus passos ... ok, eu tinha ido dar uma volta fora de casa ... voltei ... a porta estava trancada, então eu me deitei na espreguiçadeira na nossa varanda ... e, então, eu provavelmente adormeci.

— Você viu aquele cara com quem eu estava falando? Ele era tããão gato...

Quem eram aquelas meninas, e o que elas estavam fazendo tão perto da casa? Será que algumas fãs conseguiram passar pelo portão? E, ou eu estou muito lesado ou elas estão falando num sotaque bem diferente?

Eu balancei minha cabeça pela primeira vez percebendo o que estava ao meu redor. Eu ainda estava deitado em uma espreguiçadeira... porém, eu estava cercado por um bloco de casas suburbanas. Eu olhei para baixo, descobrindo que não era minha poltrona e, obviamente, nem mesmo a minha casa. Olhei em volta, espantado com as casas estranhas.

Levantei-me e caminhei até a beira da varanda, inclinando-me sobre o muro. Eu tinha uma visão perfeita e desobstruída da porta da frente.


— Hey! - Eu chamei por elas. - Que lugar é esse? - Elas não se viraram. Eu tentei novamente, desta vez muito mais alto. - HEY! Vocês podem me ouvir? - Ainda nada. Merda.


— Ótimo - eu murmurei. - Ainda invisível...

— Eu consegui! Ela estava na minha bolsa o tempo todo! - Eu assistia, perplexo, como a menor menina gritou e ergueu a chave, pulando para cima e para baixo. Elas conseguiram abrir a porta de casa e entraram. Eu considerei a ideia de segui-las, simplesmente para tentar descobrir onde eu estava e o que estava acontecendo, mas acabei me decidindo pelo contrário... Onde diabos eu estava, exatamente?

Virei-me e lentamente desci os degraus da varanda, chegando até a calçada. Olhei novamente para a casa de onde eu tinha acabado de sair. Era uma casa bastante simpática, simples, de dois andares, de tijolo, com persianas de cor escura. Grandes arbustos ao lado da varanda estreita, uma garagem para dois carros, e uma antiga e desgastada cesta de basquete afixada por cima da porta. Um carro prateado estava estacionado em frente, uma letra `A´ em azul enorme colada na janela traseira. Enfiei as mãos nos bolsos, estudando a casa. Eu nunca tinha visto antes na minha vida. Não havia absolutamente nada familiar para mim nela.

Onde eu estou? Caminhei pela calçada por cerca dez minutos até que cheguei a um cruzamento com as placas de rua CP 40517 REYNOLDS RD - LEXINGTON KY. Ok ... eu não tinha nem sequer ouvido falar de uma estrada chamada Reynolds, tampouco esse código postal se assemelha com os de Summerville-NC! Abracei meus braços sobre o peito preocupado. O que vou fazer agora?

Suspirando, caminhei pela rua, estudando cada casa por onde eu passava, procurando sinais de vida. A rua estava escura, no entanto, o bairro iluminado apenas por postes de cintilação, e a julgar pelas janelas escuras em toda parte, já devia ter passado muito tempo da hora de dormir. Exceto, é claro, para as meninas do círculo estudantil feminino que deviam estar voltando de alguma festa...

Como eu cheguei aqui?

Essa era uma questão ainda mais preocupante. Não era como se alguém tivesse me pego e trago aqui ... eu era sonâmbulo? Possivelmente ... embora eu nunca tenha feito isso antes em toda minha vida. Sem mencionar que eu, aparentemente, consegui caminhar dormindo para o outro lado do país! Voltei para a casa onde eu havia despertado e olhei para ela.

Tem que haver uma razão para que eu esteja aqui, nesta casa. Eu pensei. Me aproximei da porta da frente, subindo de volta os degraus da varanda. Talvez seja alguém que eu conheça ... talvez eu tenha vindo aqui por uma razão. Talvez ... Eu parei. Bem, eu tinha rezado para Deus me ajudar, certo? Para ser salvo? Hmmm... Minha cabeça zumbia com esse pensamento. Engolindo o ar, decidi entrar.


Eu me senti realmente mal por estar entrando em uma casa estranha, mas eu estava com frio, desesperado, e curioso, e eu argumentei para mim mesmo que eu não estava ali para fazer qualquer dano. Especialmente quando eu peguei a maçaneta e ela abriu facilmente. Huh. Quem mora aqui não tinha sequer se preocupado em trancar – o que era praticamente um convite para os criminosos entrarem e invadir o lugar. Entrei na sala e tranquei a porta atrás de mim. Então, na verdade, estou fazendo um favor, tranqüilizei-me com esse pensamento


O chão de madeira no hall de entrada rangeu baixinho quando arrastei meu passo pelo corredor. Eu não queria ligar todas as luzes, então eu abri meus olhos para os ajustar à escuridão e tateei ao longo da parede com a mão para não cair. Minhas mãos se deparam com quadros após quadros ... hmmm. Aparentemente, quem morava aqui era um amante da arte. Cheguei ao fim do corredor, esforçando-me para ver no fraco luar que se derramava pelas janelas.

Eu tinha atingido uma almofada - não eram grandes e o sofá de couro, uma grande televisão em um canto, bem como estantes altas cobertas com porta-retratos e bugigangas. Eu andei, tentando observar as fotos, mas a luz estava fraca demais para ver todos os detalhes. Um grande aparelho de som estava em outro canto, com vários CDs espalhados na frente. Curioso,me aproximei e sentei. Peguei um de cada vez, mantendo-os sob o luar, estudando as etiquetas. Nirvana... Rolling Stones... AC/DC... Faith no More... Fleetwood... Ben Folds Five... Tracy Bonham. Uma coleção interessante. Balancei minha cabeça em aprovação. Pelo menos a pessoa tinha bom gosto.

Eu teria gostado de colocar algo no som e ouvir, mas eu sabia que era uma má idéia. Depois de ter olhado todos os CDs no chão, levantei-me vagueei por uma porta que dava em outro cômodo, que parecia ser uma cozinha. Dei alguns passos para dentro e, em seguida, quase tropecei em algo no chão. O que é isso?

Havia embalagens por todo o chão da cozinha, espalhadas por toda parte - caixas de comida, biscoitos, batatas fritas, doces, salgadinhos... Meu estômago roncou um pouco, olhando para uma caixa de batatas fritas. Eu não havia comido ... bem, quem sabe por quanto tempo? Minhas refeições em casa tinha se reduzido para assaltos na cozinha no meio da noite, quando eu estava certo de que ninguém estava por perto. Abaixei-me e peguei um pouco de batatas na caixa. Eu não estava roubando... Eu tinha a intenção de pagar por isso, de alguma forma, assim que pudesse.


Rasguei o pacote o mais silenciosamente que pude e enfiei várias batatas em minha boca. Estava delicioso. Eu tinha comido o pacote inteiro antes mesmo de perceber isso, então eu olhei para uma lata de lixo, sentindo-me um pouco culpado por devorar tudo. Depois que eu joguei fora a embalagem, eu virei para os armários, pensando. Todo o sal as batatas me deixaram com sede... Cuidadosamente abri outro armário, agradecendo por não fazer barulho. Encontrei um conjunto de copos de plástico e peguei um. Havia um jarro de água na geladeira, junto com uma jarra de chá, latas de Coca-Cola, e várias garrafas verdes estranhas. Eu enchi o copo com água e bebi.

Comer e beber alimentos de uma casa estranha, pensei. Eu me sentia como Cachinhos Dourados - o que viria depois? Ir pra cama e tirar uma soneca? Eu quase ri ao pensar nisso enquanto caminhava de volta para a sala, com o copo na mão. Bem, talvez não de uma cama ... mas com certeza um sofá parecia confortável. No entanto eu não me sentia cansado. Sem falar que eu estava muito confuso e intrigado com esta súbita mudança de localização.

Onde eu estou? Por que estou aqui? De quem é esta casa? Onde está minha família?

Minha cabeça martelava com esses pensamentos. Eu estava tão cansado de não saber o que estava acontecendo, de estar preso neste limbo horrível, sem ninguém para conversar. Era como um terrível castigo injusto algo que eu não desejo ao meu pior inimigo. Mas o que eu fiz para merecer isso?

Eu permaneci olhando para o teto por algumas horas, quando ouvi pela primeira vez sinais de vida. Uma porta se abriu no andar de cima, e ouvi o som da água correndo pelos canos. Cuidadosamente me sentei, escutando. De acordo com um relógio pendurado na parede, eram 05h00.

Tá doido? ... Quem no mundo se levanta tão cedo? Bem, eu acho que eu estava prestes a descobrir. Esperei nervosamente, sentado contra as almofadas.


Vinte minutos depois, ouvi as escadas rangerem. De repente, me senti ansioso, rapidamente me colocando de pé, esperando para ver quem estava chegando ao fundo do corredor. Não tive que esperar muito tempo. Vi a silhueta de alguém começar a se formar, e então uma luz se acendeu, cegando-me temporariamente. Joguei meus braços em frente dos meus olhos com um grito suave.

Uma mulher jovem, linda e cheia de curvas, entrou na sala, olhando ao redor. Ela estava vestida de com uma roupa casual - calça social agradável, camisa de botões, sandálias de tiras, com seu cabelo preto puxado para trás em um rabo de cavalo. Ela era muito atraente. Não do tipo modelo-manequim, mas o tipo de pessoa que quando você olha sente dificuldade de olhar para outra coisa. Um tipo de aparência exótica, especialmente com aqueles olhos rasgados tipo asiática. Vi quando ela pegou uma bolsa e foi até a cozinha, cantarolando. Eu lentamente a segui.

Debrucei-me contra a parede enquanto ela suspirou alto e começou a pegar a bagunça no chão.

— Ah Alley - Suspirou. Sua voz era profunda e suave. - Coitadinha.

Alley? Quem é Alley? Havia mais alguém na casa?

Um miado alto me assustou. Eu olhei para a bola de pêlo listrado na cozinha ... O que era aquilo? Um gato ou um cão? Certamente era grande demais para ser um gato ...

— Awww, gatinho ... Eu acho que você quer comer- Disse a mulher. O gato gritou em resposta. Eu olhava, espantado, quando ela pegou um saco do balcão e tirou comida de gato. Pensei que a coisa ia devorar seus dedos quando ela se inclinou para alimentá-lo.


— Caramba! - Murmurei em voz alta. – Isso é um gato ou um leão da montanha? - Continuei a observá-la arrumar a comida do chão, até que ela finalmente se levantou, pegou uma garrafa verde na geladeira e logo em seguida saiu, envolvendo-me na escuridão mais uma vez.

— Bem - Eu murmurei. - Isso foi interessante. - Hmmm ... Alley ... eu silenciosamente recuei no corredor, olhando para cima. A minha curiosidade foi aguçada, quem era essa “Alley” e o que havia de errado com ela para fazer a garota de cabelos negros ter pena? Eu mordi em meus lábios, debatendo-me: Subo as escadas e dou uma olhada? Ou espero até amanhecer para ela sair?

No final, a minha curiosidade mórbida ganhou. Lentamente rastejei para cima para investigar. Os degraus rangeram enquanto eu subia, xinguei baixinho, esperando que ela não tivesse escutado o barulho. Cheguei a um corredor cheio de portas. Havia uma estante grande contra a parede à direita, cheia de livros. Todas as portas estavam abertas, exceto a que estava próximo à escada. Caminhei pelo corredor, investigando cada uma das salas abertas - dois quartos, dois banheiros, e pela porta no final do corredor levava para uma sala enorme, que parecia ser um escritório. Eu me virei e voltei para trás, olhando para a porta fechada.



Ela deve estar lá ... Hesitei brevemente antes de agarrar a maçaneta. Calmamente a girei e abri a porta, entrando logo em seguida, delicadamente fechando a porta atrás de mim.


Eu esperei um momento para deixar meus olhos se ajustarem a escuridão antes de olhar ao redor. Eu podia ver o contorno dos móveis - mesa, mesa de cabeceira, armário, cama ... e uma figura ainda, dormindo.


Isso é tão errado... é como se eu estivesse espiando ... eu deveria ir embora ... Mas, eu não fiz. Dei um passo hesitante a frente - havia uma cadeira próxima à janela, então sentei-me nela... Bem, eu tinha a intenção de se sentar, antes de tropeçar em uma pilha de roupa invisível e cair no chão com um baque forte.


—Merda! - Xinguei. Fiquei perfeitamente imóvel, ouvindo. Nada. Porra, ela não acorda? Consegui me levantar e finalmente sentei na cadeira suspirando.


Mmmm ... - Prestei atenção a sua voz suave. - Qual caminho ... - O resto da frase era ininteligível. Ela está falando comigo?


Eu esperei ansiosamente, mas ela ficou em silêncio por vários minutos. Falava dormindo? Ouvi outra frase, então, que soou como “gato maldito”, mas eu não tinha certeza. Então ela gemeu e suspirou. Definitivamente ainda está dormindo ... Eu sorri pesarosamente. Tom costumava falar durante o sono ... me deixava louco em turnê quando nós estávamos tentando ter algum descanso no ônibus ...

— Tom - Murmurei em voz alta. Deus, eu perdi ele, mesmo que nós implicássemos um com o outro, às vezes, eu o amava, sentia sua falta. Perdi todos eles. Olhei para o chão. Vi por acaso um CD caído ao lado da cadeira, o peguei forçando a vista para conseguir ler: U2, Achtung Baby. Legal...

— ARRE!


Larguei a caixa de CD e quase caí da cadeira. A menina, "Alley", presumi, estava ereta na cama após um grito ensurdecedor. Eu mal podia ler sua expressão no escuro.


— Jesus!, ela ofegou. - Que sonho mais ferrado.

Bem, que palavreado lindo você tem logo que acorda. Eu pensava. Meu coração disparou, ela me assustou com aquele grito. Eu me inclinei para trás na cadeira, tentando me acalmar. Ela mexeu com algo em torno de no criado-mudo por um minuto, e de repente a sala se encheu de luz. Eu a olhei, tentando observar suas feições. No entanto, antes que eu pudesse focalizar corretamente, eu fui assustado por outro grito, desta vez muito mais alto.


— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH !

Eu me vi olhando diretamente em um par de olhos enormes e atordoados. Uma menina magra e pálida, que parecia beirar a minha idade, estava sentada na cama, segurando o cobertor perto do peito. Eu não conseguia desviar o olhar do seu rosto chocado. Ela tinha um olhar selvagem e aterrorizado - seus cabelos desgrenhados estavam despenteados por todos os lados, a boca aberta, olhos arregalados ... e olhando para mim. Olhando fixamente para mim. Eu olhei para trás, a garganta seca.

— Quem é você? - Ela disse, com voz trêmula. Por vários minutos, eu não conseguia falar. O quê? Impossível... Eu me virei, olhando para trás, para os lados, em todos os lugares, só para ter certeza que ela estava falando comigo. Quando olhei novamente, ela ainda estava olhando. Ainda assustada. Oh, Deus, isso está acontecendo? Isso está realmente acontecendo? Meus se arregalaram e meu queixo caiu.


— Você pode me ver! - Eu sussurrei. - Oh, meu Deus... você pode me ver ...

Ela disse alguma coisa, mas eu ainda estava atordoado demais para absorver o que estava acontecendo.

— Você - Eu gaguejei quando recuperei a voz. - Você pode me ver! - Eu resisti ao impulso de levantar minha mão e enxugar as lágrimas que ameaçavam cair. Isso não era um sonho não é mesmo? Isso realmente estava acontecendo... Enfim, finalmente, alguém percebeu a minha existência ... mesmo que esse alguém pareça ter fugido de um hospício ...

Levantei-me, sem pensar, e caminhei em sua direção. De repente eu queria tocá-la, para ter certeza de que ela estava realmente lá, para sentir a maciez da pele de alguém contra a minha. Parei imediatamente quando ela se encolheu e gritou comigo.

— Cai fora!

Ah, certo. Com minha surpresa, eu tinha quase esquecido que, para ela, eu devo ter aparecido como uma espécie de criminoso ou pervertido, invadindo sua casa e, em seguida, espionando-a enquanto ela dormia. Tentei desesperadamente pensar em alguma forma de me explicar. Eu não esperava que nada nem remotamente parecido com isso acontecesse, eu não tinha ideia do que dizer...

— Quem é você e o que você quer? É dinheiro? Pode levar. Tem mais na minha mesa, há uma jarra com mais de 500 dólares... – Ela me olhava com olhos suplicantes.

— Não, não ...- Eu disse. – Eu, eu sinto muito, eu não queria te assustar... - Ela não parecia convencida. - Mas... você pode me ver, certo? Você pode ver que eu estou aqui?


Ela estava olhando freneticamente ao redor do quarto enquanto eu falava, mais uma vez eu fiz essa pergunta para reafirmar as minhas suspeitas, ela olhou para mim como se eu fosse um idiota total. Que, eu acho, que passou a soar como uma pergunta estranha.

— Eu vou chamar a polícia - Disse ela.


Fiquei tentado a dizer "Vá em frente, eles não vão encontrar nada mesmo", mas pensei melhor. Melhor tentar ser simples e educado.


— Não, por favor, ouça... - Eu implorei. - Deixe-me explicar. Sei que isto soa... totalmente louco. Eu não estou aqui para te machucar, na verdade eu não sei por que estou aqui. Eu só -


De repente, ela me interrompeu.


— Ok, amigo, eu sei taekwondo, por isso, se você sabe o que é bom para você, você sai agora!


— O quê?


Taekwondo? Eu ouvi bem? Sim, isso mesmo... ela parecia que não poderia quebrar um galho seco.


— Eu não vou te machucar. Escute, eu preciso de sua ajuda... - Ela estava olhando em volta, novamente, não prestando atenção. Eu suspirei - Por favor, só me escuta...


— Ajuda? - Ela retrucou, olhando para mim. - Quem é você?

Hmmm ... então ela não me reconheceu.


— Bill - Eu disse.


Ela levantou uma sobrancelha.

— Bill...- ela disse lentamente. Eu percebi que ela estava procurando um sobrenome. Eu suspirei.

— Kaulitz. Bill Kaulitz.

Sua expressão, se alterou para um ar de graça. Ela apenas piscou uma vez.


— Kaulitz – Perguntou ela, o riso escondido em sua voz. – Do Tokio Hotel?

Tranquei minha mandíbula. Aqui vamos nós...

— Sim - eu disse simplesmente.


— Bem, eu devo atirar em você agora.

Bom Deus, o que ela queria com todas essas ameaças? Gritando, querendo me bater e atirar em mim? Eu sabia que eu era um intruso, mas eu não tinha feito nada para ela. Será que ela era incapaz de perceber que eu era totalmente inofensivo?


— Por favor, não. - Eu disse. – Agora, se você me deixar explicar...

Ela assentiu com a cabeça devagar e eu continuei.


— Bem, é assim. Tenha paciência comigo, porque isso soa totalmente louco, mas eu estou dizendo a verdade. Algo aconteceu comigo que eu não entendo ... Você vê, eu sou de Hamburgo, na Alemanha. Eu moro com minha famíla... Assim eu acordei um dia, na minha própria cama, mas tudo tinha mudado. Era como se eu nem sequer vivesse lá... Todas as minhas coisas tinham sido movidas, e meu quarto estava tão limpo como se ninguém vivesse nele por algum tempo. Então, quando eu fui falar com minha família... eles não podiam me ver. Era como se eu fosse invisível, ou algo assim... eu não podia tocá-los, ou ...


Ela ficava balançando a cabeça, e por um momento, eu perguntei se ela estava realmente ouvindo o que eu estava dizendo. No entanto, eu continuava a falar, dizendo-lhe todos os detalhes sórdidos dos últimos dias na minha casa. Eu estava falando tão rápido que eu mal conseguia manter minha respiração. Invisível? Ok. Intocável? Ok. Família discutindo sobre mim na terceira pessoa? Ok. Trancado fora da minha própria casa? Ok.


— Então eu fiquei tão cansado que adormeci na cadeira do lado de fora. - eu continuei, com minha história. - E eu não sei o que aconteceu, mas quando eu acordei, eu estava deitado lá fora, na sua poltrona, e eu não tenho ideia do porquê. Eu não sabia mais o que fazer, então eu...


— Eu ainda estou sonhando! - Ela me interrompeu, de repente, sua voz cheia de alívio. Imediatamente eu calei a boca e olhei para ela. O quê? Eu passei dez minutos detalhando a minha situação, e ela estava achando que essa porra toda era um sonho? - Eu nunca mais como aqueles biscoitos de novo... - Disse ela, o que ainda serviu para me confundir. Biscoitos? Quem falou em biscoitos aqui?

— O quê? - Olhei para ela. - Você não está sonhando, eu estou realmente..


— Claro, claro ... Mas eu estou cansada, e eu vou voltar para a cama. - Ela suspirou. - Eu gaguejava com irritação. – Só não se esqueça de me acordar quando as Spice Girls chegarem. Ah, e ouvi dizer que Justin Timberlake está vindo para o chá da tarde, assim que chegar pode deixá-lo entrar.


Filha da mãe.

— Isso não é engraçado! – Resmunguei indignado - Eu..


— Ok, me desculpe. O que você quiser, Bill. - Ela bocejou alto e caiu contra o travesseiro, apagando o abajur e virando de costas para mim.


— O-o que? ...- Gaguejei encarando a escuridão – Ouça-me!


Ela não respondeu por um minuto. Então, finalmente, ela falou uma última vez, sua voz grossa e cansada.



— Bill Kaulitz - ela disse, e riu. – Mas que ideia.


Eu me inclinei para trás e cruzei os braços sobre o peito, olhando para sua forma enrolada no endredom. Saco, eu finalmente encontrei alguém que pode se comunicar comigo, e ela é uma maluca total. Esqueça o fato de que de que eu invadir seu quarto estar totalmente errado, minha voz interior, declarou. Alguém nessa situação teria reagido da mesma maneira. Eu fiz uma carranca com essa declaração da minha voz interior. Alguém na minha situação? pft.

— Tudo bem - Eu murmurei. - Mas eu ainda estarei aqui de manhã. E eu acho que nós vamos conversar. - Levantei-me, refazendo meu caminho em direção à porta. Ela não respondeu, aparentemente inconsciente, mais uma vez. Bem, ela apenas tem que começar fazer sua ficha cair com o "Bill Invisível" amanhã de manhã, claro. Saí para o corredor e fechei a porta atrás de mim, meu coração ainda batendo forte em meu peito. Uma vez que eu tinha me acalmado, minha irritação foi embora, eu só tinha um pensamento: POR QUE ?






Permaneci sentado no sofá assistindo a alguns desenhos na televisão. Ei, o que importa? O segredo foi revelado. Ela sabia que eu estava aqui - ou melhor, saberia que eu ainda estava aqui, quando ela se levantasse e começasse a me ouvir. Eu só tive o cuidado de manter um olho para a menina de cabelos negros... Eu tinha um pressentimento de que toda essa situação iria ficar muito complicada quando ela voltasse pra casa.

A mesa estava coberta por revistas, eu observava com leve interesse. Cosmopolitan. Marie Claire. Rolling Stone. The New Yorker. Eu peguei a Rolling Stone e olhei algumas páginas. Caí na página de notícias de álbuns. Coldplay, e seu novo álbum...



Enruguei meu nariz, confuso. Coldplay lançou um novo álbum? Caramba, onde é que eu estive? Eu ainda não tinha ouvido nada sobre isso ... inquieto, lancei a revista para o chão e vasculhei o resto das revistas sobre a mesa. Nada realmente me interessava ... até que eu percebi um livro encadernado em couro preto que estava sob a pilha. Um anuário.


Dizia: Sayre, 2007.



Eu abri lentamente a capa da frente, olhando para as folhas cheias de rabiscos de colegas. Revirei os olhos. Embora eu nunca tenha tido a oportunidade de escrever em um desses.


Li coisas como: 'Você é uma menina doce, continue a mesma!' E "Adorei estudar matemática com você, te vejo ano que vem!— Mensagens bobas. Depois de discutir se era demasiado intrometido estar lendo suas anotações pessoais, eu decidi que não e passei mais algumas páginas.


"Alley, Você é a pessoa mais engraçada que eu já conheci! Eu nunca vou esquecer de todas as coisas malucas que fizemos juntas. Fique longe de pastores alemães! Ha ha! Com amor, Heather"

"Alley, obrigado por toda sua ajuda na classe da Sra. Johnson! Eu teria fracassado se não fosse por você! Te amo! Tiffany "

"Você é a garota mais estranha que eu já conheci, mas você é muito legal. Mantenha contato. Peter."

Bem, essa foi uma mistura interessante de mensagens.


Estranha? Sim, Peter, eu diria que concordo com você. - Havia uma tonelada de outras notas sobre seu desenvolvimento acadêmico, mas nada de interessante chamou a minha atenção. Virei a próxima página, onde um recado com letras garrafais me chamou a atenção.


"Allison, eu só queria que soubesse que você é uma inspiração para todas as outras meninas que queriam ir ao baile, mas não tem namorados. Você mostrou a elas, não é? Atenciosamente, Jessica"


Pisquei, relendo a última mensagem. Era impressão minha ou era bem sarcástica? Com certeza não soava muito amigável para mim... Então a menina não tem um namorado? ... Grande coisa. Muita gente vai a eventos sem namorados ... bem, não que eu saiba muito sobre ir a bailes de formaturas..

Desviei meus olhos para outra mensagem que me chamou ainda mais a atenção.


"Alley Kat, eu não estou nem na escola mais, mas eu queria assinar o seu livro para lhe dizer o quanto eu te amo. Você é a mais bonita e mais engraçada e mais inteligente menina que conheço, e um dia o mundo vai acordar e ver isso. Sei que isso soa extremamente brega, mas eu literalmente te amo como uma irmã. Você realizou muito no últimos anos, e eu não tenho nenhuma dúvida que você vai fazer muito, muito mais nos próximos anos. Seu pai ficaria muito orgulhoso de você. Eu sei disso, porque eu sou. Com amor, Louise"

"P.S. Jessica pode lamber minha bosta. Não dê ouvidos a essa cadela egoísta."



Apesar do postscript, hilariante e vingativo, eu não ri - Eu estava muito assustado com as duas primeiras palavras da mensagem. Alley Kat?

Lentamente fechei o livro, pensando. Eu sabia que tinha ouvido esse nome de algum lugar... Eu já ouvi antes? Por um momento cheguei até em pensar que ela me era familiar, embora em seu quarto a luz tenha sido muito fraca para realmente dizer ... Folheei o anuário até a última folha procurando as fotos dos alunos. Não havia muitas fotos. Encontrei o seu retrato. `Allison Rockencbach’ . Um par de olhos arregalados e brincalhões e um sorriso enorme e bobo olhou para mim.


Eu tinha já visto aquela expressão, aquele sorriso, antes ... há anos. Em um período de férias, em minha tia ... eu não pensava muito naquele dia ... O ataque foi algo que eu realmente não gostava de lembrar, como era inteiramente embaraçoso também lembrar que eu tinha sido resgatado por uma garota magrinha e pateta ... Mas eu me concentrei na memória, lembrando de detalhes. Ela espantou os meninos que me batiam ... seu pai tinha me levado para casa ... ele a chamou de "Alley Kat'' ...


Então é isso. Ou pelo menos eu acho, nós já nos conhecemos... Então, ela não me era uma completa estranha, apesar de tudo. Eu me perguntei se ela se lembrava de mim, também. Quando ela acordasse eu lhe contaria tudo. Pela primeira vez desde que acordei em meu estado "sobrenatural", senti uma agitação em meu peito - a esperança. Ela me ajudou uma vez antes ... talvez ela pudesse me ajudar novamente.

Agora, se eu pudesse descobrir como convencê-la que eu era real ..


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