The World Behind My Wall escrita por Ruuh


Capítulo 17
Capítulo Dezesseis - Desencontros


Notas iniciais do capítulo

Lindezas



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Mostre-me como é ser o último a ficar de pé
E ensine-me a diferença entre o certo e o errado
E eu te mostrarei o que posso ser
Diga isso para mim diga isso por mim
E eu deixarei essa vida para trás
Diga se vale a pena me salvar

Nickelback - Savin me

Bill’s P.O.V

Chegamos ao shopping por volta de uma da tarde. Alley estacionou o carro, desligou o motor e olhou para mim com o rosto grave.

– Ok. – Ela começou. – Vamos definir algumas regras aqui.
Regras? Nossa, ela parecia minha mãe.

– Ok... Você tem dezoito ou quarenta? – Eu resmunguei.

Ela me ignorou.

– Regra número um: Não fale comigo a não ser que seja totalmente necessário e apenas quando eu puder responder. Em outras palavras, quando não houver ninguém por perto.

Revirei os olhos.

– Jeeezzz...

–Bill você concorda ou não?

– Eu não vejo qual é o grande problema. Vamos entrar logo. – Cruzei os braços recostando-me no assento.

– O grande problema é que esse é o Shopping Center local. Conheço as pessoas daqui e não quero que elas pensem que sou esquizofrênica. Já é bastante ruim eu estar comprando roupa para homens, ainda mais quando todos sabem muito bem que eu não tenho nenhuma vida social, sem namorado, sem perspectivas, sem nada.

– Você é tão dramática.

– Droga, Bill! Sim ou não? Eu posso muito bem dar meia volta com esse carro...

– Sim! Cacete, O-KAY!

– Olha essa boca suja hein rapaz. – Ela disse apontando o dedo para mim. – Ok. Regra número dois: Não toque em nada. Entendeu?

– Entendi.

– Três: Fique fora do caminho. Sei que as pessoas não podem te tocar, mas, por favor, mostre algum respeito. Não faça nada estúpido. – Ela tomou uma respiração profunda. – Quatro: Por favor, pelo amor de Deus, se comporte.

– Estou começando a mudar de ideia.

– Vem, vamos embora. – Ela saltou do carro e acenou para que eu a seguisse, pela mesma porta que ela saiu. Provavelmente para que as outras pessoas não vissem a porta do passageiro se abrir e não sair ninguém de lá. Eita, ela pensa mesmo em tudo. Eu suspirei, desafivelando meu cinto de segurança. Eu me sentia como um agente disfarçado em algum trabalho do FBI ou coisa do tipo. Esforcei-me para fora de seu assento, mas meu pé enroscou no cinto e eu fiquei preso.

– Alley – sibilei baixinho – Me ajuda!

Seu rosto apareceu dentro do carro.

– O que foi?

– Eu estou preso.

– Ah fala sério. – Ela bufou e estendeu a mão me puxando para fora do carro.

– Vamos lá.

Consegui desvencilhar minha perna do cinto e depois de contorcer meu corpo de uma maneira que eu nunca sonhei ser possível, estava fora do carro. Ela bateu a porta e suspirou.

– Nem entramos no lugar ainda e você já está me dando problema. – Ela murmurou, embora em seus lábios se formassem um pequeno sorriso. – Como é que sua mãe lidava com isso?

– Minha mãe geralmente não exigia que eu jogasse uma porcaria de jogo Spy VS Spy.

Ela deu de ombros casualmente e continuou andando.

– Fique perto de mim. Nova regra. Número cinco: Não se afaste de mim e não se perca. Agora vamos, quanto mais rápido chegarmos mais rápido vamos embora.

– Tá, ta. – Resmunguei seguindo seus passos pelo estacionamento.

_

Entramos no shopping, uma estrutura enorme, espaçosa e iluminada com luz solar. Um zumbido não inteiramente desagradável cumprimentou-nos, apenas o som normal de vários tipos de conversas. Era música para os meus ouvidos. Era a música da vida. De repente me lembrei de um filme que havia assistido com Andreas e Tom... The Langoliers acho que era assim que se chamava, que foi baseado num livro de Stephen King, e quando os passageiros retornaram para o presente a primeira coisa que ouviram foram os sons da vida – era o som mais bonito que já haviam ouvido. Eu meio que entendia o que eles queriam dizer agora. Eu não tinha me dado conta do quanto eu perdi fora da realidade, fora do “mundo real” até agora.

As lojas estavam alinhadas infinitamente uma após a outra em ambos os lados do lugar.Claire's, Gap Lerner, Gadzooks .... Hmmm, por onde começar? Eu esfreguei as mãos ansiosamente.

– Então? Por onde vamos começar?
Alley foi até o mapa do lugar, fingindo procurar algo. Ela estava ficando boa nisso “fingindo estar ocupada com alguma coisa”. Ela parou a sua frente olhando para a longa lista de lojas que se estendia.

– Aqui, faça sua escolha. – Ela murmurou tão baixinho que eu tive que me inclinar para ouvi-la.

Fiz uma varredura na lista, em busca de locais que pudesse explodir meu dinheiro. Er... seu dinheiro na verdade. Ela não podia usar meu cartão de crédito e eu não tinha nenhum dinheiro comigo, não que me cartão estivesse comigo também afinal de contas... Mas eu tinha prometido lhe pagar tudo com juros assim que eu despertasse... do outro lado do país... mas esse era um assunto a ser discutido depois.

– Hum... acho que podemos começar pela Abercrombie... Sim, algumas camisas agradáveis e casuais, jeans... Perfeita para começar.

Ela bufou baixinho e correu os dedos pelos cabelos.

– Ninguém merece. – Sem dizer mais nada, ela ergueu a bolsa sobre os ombros e saiu em direção, ao que me pareceu ser, a Abercrombie. A segui sentindo-me um pouco como um cachorro perdido. Eram quase duas da tarde e o lugar não estava muito cheio, mas havia pessoas o suficiente para tirar minha concentração e fazer com que eu me perdesse dela. E , bem, se isso acontecesse eu não teria a quem pedir informações...

– Oi, Speedy Racer, você se importaria de andar um pouco mais devagar? - Eu gritei para ela. Enquanto isso os transeuntes continuaram alheios a toda a situação. Deus, era muito estranho estar preso a uma situação dessas, tendo só ela como companhia.

Ela consentiu, diminuindo a velocidade de seus passos. Corri e me pus a andar ao seu lado, olhei para ela tentando desvendar a expressão em seu rosto. Seus olhos estavam vagos e quase inexpressivos. Eu me perguntei se ela estava realmente prestando a atenção em onde estava indo.

– No que você está pensando? – Perguntei antes de lembrar que não receberia uma resposta. Seus olhos lentamente encontraram os meus, antes de voltarem ao seu estado inicial. Esse era o modo silencioso de dizer “Cala a boca Bill”.

Finalmente, um conjunto de letras douradas onde se lia Abercombrie & Fitch entrou em nosso campo de visão. Ela parou brevemente olhando para o cartaz onde duas pessoas em preto e branco compunham o slogan da loja. Soltou um gemido alto e entramos no lugar.

– Ok, eu entendo que você não gosta dessa loja, mas não precisa deixar tudo odioso. – Eu disse. Ela coçou o rosto e ao fazer isso levantou um dedo para mim. Qual era a dela fazendo esses gestos obscenos? –Você é tão rude.

Andei na direção da seção masculina da loja. Lembrei-me do que ela disse sobre não tocar em nada e eu realmente concordava com isso. Meu breve encontro com Tom tinha sido mais do que suficiente para me convencer que isso não era uma boa idéia. Passei a mão pelos meus cabelos, tentando afastar as lembranças melancólicas e a saudade de meu irmão gêmeo. Andei pelas fileiras de roupas escolhendo mentalmente as peças que havia gostado. Uma vês que terminei, voltei-me para trás para chamar por ela.

– Alley. – Chamei em voz alta. Onde diabos ela estava? E toda aquela baboseira para eu não me afastar dela? E o que ela faz? Some! Hipócrita.
Meu coração começou a martelar enquanto eu corria em volta da loja. Onde você está? Você não saiu da loja não é? Por que você está fazendo isso comigo? Eu sou muito jovem para esse tipo de estresse.

Após alguns minutos, finalmente a encontrei conversando com um funcionário da loja. Parei cruzando meus braços e pensando por um segundo. Ok, vamos igualar o placar, se ela quebrou as regras agora é a minha vez.

– Alllleeeeeyyyyyy – Cantarolei alto em uma voz de falsete. – Alley Kat! O que você está fazendo?

Vi seus ombros ficarem tensos com minhas palavras e eu ri malignamente, Andei até onde ela estava e me pus a sua frente, causando uma divisão entre ela e o homem com quem estava conversando. Eu era vários centímetros mais alto que os dois, então eu sabia que ela não seria capaz de vê-lo. Coloquei minhas mãos em meus quadris e falei num tom falso animador.

– Então? O que você está fazendo? Eu escolhi algumas roupas.
Ela me olhou em silêncio. Não acreditando muito no que estava vendo. Fiz uma encenação ao virar para trás e olhar para o garoto ainda parado e lançando um olhar estranho para ela, embora ela não fosse capaz de vê-lo.

– Oh! Estou atrapalhando alguma coisa? – Perguntei docemente. – Você estava flertando Alley Kat? Quer que eu saia?

Ela piscou rapidamente várias vezes. Tentando pensar no que fazer. Ficar quieta ou gritar comigo? Nah. Passar para o lado para ver em torno de mim? Seria um comportamento estranho... Sim, é isso o que você merece por ter me deixado sozinho.

– Senhorita, você está bem? – O rapaz perguntou. O rosto de Alley se contorceu numa careta estranha, não sabia se era de riso ou de raiva. E eu não tinha certeza se queria saber... Já havia visto Alley com raiva no meu primeiro dia aqui e não foi muito agradável...

– Oh, bem, não, não realmente. Acho que entrou algo em meu olho. – Ela disse de repente batendo a mão sobre o olho direito. – Vocês têm algum banheiro por aqui? – Fiquei realmente impressionado, foi uma bela saída.

Ele sorriu.

– Sim, logo ali à esquerda.

– Muito obrigada! – Ela disse e marchou para o banheiro e eu a segui.

Ela rompeu pela porta do banheiro feminino e eu hesitei antes de entrar. Eu não conseguia decidir se era errado ou não... Quero dizer, as mulheres precisavam de privacidade certo? Não é só porque estou invisível que significa que eu deveria entrar... Para minha sorte, eu acho, Alley tomou a iniciativa. Ela agarrou meu braço, praticamente o torcendo e me puxou para dentro. Antes que eu pudesse protestar ela fechou a porta.

– O que... – exclamei mortificado. Olhei para todo o lugar. – Eu não deveria estar aqui! To me sentindo um pervertido!

– Esse lugar está vazio. Mas isso não importa. Que diabos foi aquilo? O que você está fazendo seu imbecil? Que cena foi aquela? Nós não estabelecemos algumas regras por aqui?

Imbecil? Senti meu sangue ferver.

– Sim, nós estabelecemos e você foi a primeira a quebrar! – Eu rebati. – Você me deixou sozinho e eu não conseguia te encontrar! O que teria acontecido se eu tivesse me perdido de você? O que eu faria? Pra onde eu iria? Simplesmente não ia dar para eu perguntar para alguém se tinham te visto. – Minha voz tinha subido para um grito no final de meu discurso. Eu respirava com dificuldade.

Imediatamente me arrependi de deixar meu comportamento se extrapolar. Seu rosto caiu, liberando um vermelho profundo e a culpa se espalhando por seus olhos.

– Eu... eu sinto muito. – Disse ela mais calma encarando os sapatos. – Eu não sabia...

– Está tudo bem – Eu disse secamente, sentindo-me um pouco culpado. – Desculpe, eu não queria gritar, mas eu me senti um pouco desesperado. Eu não posso ter perder Alley. E-Eu preciso de você. Você é tudo o que eu tenho agora!
Ela continuou olhando para os sapatos e permaneceu em silêncio por alguns minutos.

– Sinto muito... Eu pensei que só ia levar um segundo, mas ele continuou falando e eu acabei me esquecendo o que eu estava fazendo ali realmente. – Disse ela me lançando um olhar triste. – Acho que sou um hipócrita né?

– É você é sim.

– Isso não vai acontecer de novo ok? Trégua? - Ela estendeu a mão.

Segurei e apertei firmemente, observando pela primeira vez como elas eram macias.

– Trégua.

Ela esboçou um sorriso e passou a mão em meu rosto.

– Então... você disse que tinha encontrado alguma coisa?

– Sim! – Eu sorri facilmente. Era impossível guardar rancor dessa tampinha. – Vem comigo!


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Notas finais do capítulo

N/A: Jeeeeeeez é uma gíria usada nos EUA, como se eles estivessem dizendo 'Jesus' de forma lenta e arrastada.