Moonlight escrita por Ukisame


Capítulo 4
Capítulo 4 - Arco-Íris




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Capítulo 4 - Arco-Íris

O conceito de "tempo" é realmente algo incrível. Vários autores escreveram e escrevem sobre situações em que o tempo é peça chave para resolver inúmeros conflitos. Alguns dizem que o tempo cura tudo, enquanto outros afirmam que nada como "um dia após o outro". Jane Austen escreveu em Persuasion sobre como o tempo foi capaz de mudar sua protagonista, a tímida e conformista Anne Elliot, transformando-a em uma mulher capaz de reformar seus próprios sentimentos. Como seria bom se por trás de toda Anne Elliot, houvesse uma Jane Austen!
Mas a vida não é tão conveniente, e como na maioria das vezes as coisas não saem como planejamos, as protagonistas covardes, tímidas e conformistas fazem como eu... elas fogem.

Edward não estava brincando quando anunciou naquela noite, no centro da grande casa de vidro que meus atos teriam conseqüências. O discurso que caiu como uma luva na minha antiga situação, tornou-se uma faca de dois gumes, e o resultado me pegou desprevenida na manhã seguinte, quando durante cerca de uma hora, eu ouvi sobre o quão irresponsável e infantil minhas ações haviam sido. Segredos eram coisas que não existiam para meu pai, e não foi preciso saber prever o futuro como Alice, para descobrir que Edward havia dito o que realmente tinha acontecido naquela tarde. O motivo de toda aquela confusão ter acontecido fora simplesmente por ciúmes e um pouco de birra. A reação de Bella foi mais amena do que eu poderia esperar. Ouso dizer que ela foi um tanto quanto compreensiva. O sermão mesmo partiu de Edward, e foi dele a idéia do castigo, que na teoria parecia ser a melhor coisa que poderia ter me acontecido após a não-relação com Jacob. Mas na prática, a uma-semana-de-não-ver-Jake foi a experiência mais solitária e dolorosa que eu já vivi em meus curtos anos de existência.

Os dois primeiros dias, reconheço, passaram rápido. Alice e Rosalie garantiram meu divertimento às custas de compras e cartões de crédito. Meu guarda-roupa possuía agora roupas para todo o ano, e acredito que se eu não tiver uma festa todos os dias, terei roupas para mais tempo. Mas compras nunca foram meu forte, então quando não havia mais o que comprar, provar e escolher, o que me restava era apenas pensar na única pessoa que eu não tinha coragem - e também era permitida - de ver.
Jacob assombrava meus sonhos e brotava em minha mente durante todo o tempo. No terceiro dia, sua visita à porta da casa-de-faz-de-conta fez com que meu rosto ganhasse novamente o tom rosado, surpresa por ele ter realmente se dado ao trabalho de vir me visitar após o ocorrido. Porém, Edward estava disposto a provar que seus castigos eram sérios, e com mais um discurso sobre responsabilidade, avisou que eu só teria permissão para vê-lo em alguns dias, e que até lá, não existia qualquer meio de comunicação entre nós. Sem pestanejar ou retrucar, a última coisa que eu havia visto de Jacob foram suas costas morenas, enquanto ele voltava para a floresta.

O restante do meu castigo havia sido arrastado e penoso. Em alguns momentos, a idéia de barganhar o restante dos dias me parecia tentadora, mas não seria justo. Eu estava sofrendo e era totalmente merecido, sem contar que eu ainda não fazia idéia do que dizer ao encarar Jacob novamente.
Na verdade, eu sabia exatamente o que precisava ser dito. Quais sentimentos deveriam ser finalmente expostos, mas da mesma forma como eu sabia, eu tinha medo. Assumir meus sentimentos, tirá-los do meu peito e deixar que Jacob soubesse seria o começo, mas também o fim. Tudo mudaria.

Quando os sete longos e dolorosos dias terminaram, uma ansiedade enorme parecia ter tomado o lugar do meu coração, imaginando se Jacob viria correndo de La Push para poder se encontrar comigo, e eu podia imaginar o enorme sorriso que ele colocaria no rosto ao me ver. Então quando Bella me disse de manhã que tínhamos visitas na casa de Esme, eu não pude esconder a animação ao imaginar meu reencontro com Jake, mesmo eu ainda não sabendo o que dizer.
Meu excesso de otimismo havia ficado do lado de fora da porta, quando entrei na enorme sala dos Cullen e encarei duas figuras sentadas em um dos sofás. Pela reação de Neil, meu rosto estava mostrando claramente meu desapontamento, mas era inevitável. Eu nem lembrava da existência dos dois ao acordar essa manhã, e após nosso último - e único - encontro, acreditava que nem eles gostariam de continuar sabendo que eu estava viva.

"Bom Dia, Edward, Isabella, Renesmee", Neil levantou-se quando entramos, e fez uma pequena reverência com a cabeça.

"Bella!", minha mãe respondeu apenas acenando de longe, passando o outro braço pelo meu pescoço, trazendo-me para perto.

"Bom Dia."

Meu cumprimento saiu junto com um meio sorriso, totalmente involuntário. Não era a primeira vez que meu rosto se distorcia ao encarar Neil. Havia algo naquele rapaz que fazia com que cada músculo do meu rosto quisesse continuar a sorrir. E pelas expressões de Rosalie, Alice e Esme, eu não era a única a ter essa impressão.

"É a habilidade dele", Edward revirou os olhos e ergueu uma sobrancelha na direção de Neil. "Ele é... simpático”.

"Cativante", a voz fina de Alice vinha de perto do piano, enquanto Jasper colocava as duas mãos no ouvido, se negando a ouvir.

"E agora ele rouba as mulheres da família... e não ouse!", Emmett virou-se para Rosalie com os olhos apertados ao ver a loura abrir a boca para provavelmente elogiar Neil.

"Por favor, não quero criar outro mal-entendido", Neil riu, e eu senti o sorriso no meu rosto se alargando ainda mais. "Mas o Sr. Edward está certo e errado ao mesmo tempo. Eu tenho esse dom, que Vincent costuma chamar de persuasão feminina, mas ao contrário da maioria, eu não consigo desligar, então me perdoem o inconveniente."

"É como o Jasper?", franzi a testa tentando entender o que de fato ele podia ser capaz de fazer.

"Eu trabalho o ambiente, os sentimentos, Neil tem lábia!", Jasper deu de ombros, olhando Alice de canto, que fez uma careta engraçada como resposta.

"Então você usa o charme? Isso deve ter sido muito útil", Bella estava séria e eu não acreditava que ela pudesse estar realmente interessada.

"Um pouco, reconheço, mas agora que decidimos ser vegetarianos, não vai ser tão útil."

Naquele momento meus olhos foram para a figura calada e pequena atrás de Neil. Eu não havia notado a presença de Vincent, até Neil lembrar um fato crucial: eles eram vampiros, assim como todos ali - com teórica exceção no meu caso - também eram. O rapaz louro estava sentado muito elegantemente, com as pernas perfeitamente cruzadas. Se eu já não o tivesse visto antes, poderia jurar que haviam esculpido uma figura de mármore e deixado ali no sofá, como um objeto de gosto duvidoso. Mas assim que o vislumbrei melhor, eu esqueci totalmente a idéia de estátua quando seus olhos profundos estavam em mim. Para minha surpresa, o vermelho sangue não estava mais ali. Seus olhos possuíam uma cor amarronzada e cremosa. Os olhos de Neil, ao contrário, continuavam com o mesmo tom de vermelho, o que fez com que novamente o mesmo arrepio da floresta corresse meu corpo.

"Não se preocupe, eles realmente decidiram ser vegetarianos", o sorriso compreensivo de Carlisle fez com que eu corasse ao perceber que talvez minhas reações fossem evidentes demais. "Mas para Neil deve ser mais demorado o processo. Centenas de anos de má alimentação não desaparecem do dia para noite."

"Centenas?", o comentário de Carlisle aguçou algo que estava escondido dentro de mim, desde o encontro inusitado que tivemos na floresta na semana passada.

"Acredite ou não, Neil é o mais velho dessa sala, ele é mais velho do que eu." Carlisle parecia estar totalmente interessado naquela conversa.

"Quantos anos você tem? Quero dizer, se não for falta de educação perguntar.", corei. Eu estava me sentindo uma criança ouvindo histórias de algum avô.

"Centenas como foi dito", Neil coçou de leve a cabeça. "Não sei exatamente. Passei muito tempo viajando, e cada lugar possuía uma maneira de marcar o tempo, mas posso dizer que visitei a América após seu descobrimento e quase lutei na Revolução Francesa!" 
"Uau! Você viveu."

O comentário de Bella havia tirado as palavras da minha boca. Era difícil tentar imaginar os lugares e as pessoas que alguém como Neil havia visto e conhecido. Alguém que tivesse vivido o suficiente para ver de perto todas as mudanças históricas e significativas que o Mundo tivera. Era em momentos como esse que eu compreendia totalmente a grandiosidade que significava ser um vampiro. Esse tipo de pensamento eu não podia compartilhar, pois para Edward, tornar-se o vampiro era o mesmo que perder a alma, trair sua própria existência. Mas para mim, ser capaz de passar um tempo imensurável com aqueles que você ama, era uma dádiva.

Em poucos minutos, Neil tornou-se o centro da conversa, atraindo Alice, Rosalie, Esme e até mesmo Bella para o seu lado. Era impossível não perceber a habilidade inconsciente de Neil funcionando, e a cena era até mesmo cômica, principalmente pela figura ranzinza de Vincent contrastando totalmente com o ambiente. Edward permanecia ao lado de minha mãe o tempo todo, mas ao contrário de Emmett e Jasper, ele não parecia estar demarcando território. Através das conversas, descobri que aquela não era a primeira vez que os novos vegetarianos visitavam a casa dos Cullen. Enquanto eu remoia meu castigo, os dois já haviam feito duas visitas, e eu podia sentir que logo teríamos novos vizinhos.

Ter a casa cheia, e as inúmeras conversas paralelas para encher o ambiente era reconfortante. Por algum tempo, minha atenção estava totalmente direcionada às conversas, mas não demorou para que eu começasse a sentir que estava faltando algo. Por várias vezes minha atenção corria para a porta. Qualquer barulho, por mais baixo que fosse, fazia com que meu coração acelerasse. Era extremamente patético.

Entretanto, foi em um desses alarmes falsos que meus ouvidos reconheceram os passos na pequena escada, seguidos por três batidas na porta. A cada batida eu podia sentir meu próprio coração batendo, descompassado e ansioso. O reconhecimento era claro e óbvio, então quando Esme simplesmente apareceu na porta e girou a maçaneta, meus olhos puderam finalmente confirmar o que eu já sabia.
Talvez tivessem sido esses sete dias. 
Talvez meus olhos tivessem se desacostumado, ou talvez aquela fosse a primeira vez que eu o via daquela forma.

Três largos e pesados passos.
Essa foi à distância que Jacob percorreu, parando ao lado de Jasper, e consequentemente à minha frente. O dia estava nublado, mas a luz que vinha do lado de fora era suficiente para deixar o ambiente bem iluminado. As conversas haviam parado muito antes de Jacob ter batido na porta, e eu só fora perceber isso quando me dei conta, por um breve momento, que havia um meio sorriso tolo em meus lábios. Mas eu não poderia me importar menos com isso, pois naquele instante, tudo o que eu conseguia ver e ouvir era Jake. A maneira como ele colocava uma das mãos dentro do bolso do jeans desbotado - combinando perfeitamente com a camiseta preta - enquanto levava a outra mão para arrumar a franja atrás da orelha. Seus cabelos negros quase na altura do ombro, simplesmente porque um dia comentei como seria interessante vê-lo de cabelos longos. A única coisa que faltava para completar meu quadro de adoração era um largo e ofuscante sorriso, mas eu sabia que isso seria pedir demais, e Jacob não parecia estar com uma expressão muito risonha, pelo contrário, havia uma linha entre suas sobrancelhas, muito parecida com a de Vincent.

"Você realmente veio", Bella quebrou o silêncio, ficando de pé e se aproximando de Jacob com os braços cruzados. Edward se pôs de pé no mesmo segundo, e eu podia ver Emmett movendo-se de perto da escada.

"Sete dias, como você disse", Jake tinha uma expressão séria, e sua resposta foi direta para Edward. "Olhe Bella, eu vim em paz, ok? Tudo o que eu quero é poder ver a Ness."

"Renesmee, Jacob, Renesmee, e ela está ali", com um aceno de cabeça eu senti os olhos de Jake em cima de mim, fazendo com que meus próprios olhos buscassem outra coisa para olhar. "Você já a viu, agora pode fazer seu caminho de volta para La Push."

"Por que ela não pode vir comigo?". O tom de voz de Jacob havia mudado, e sua pergunta fez com que Bella simulasse uma risada, deixando-o ainda mais irritado. "Eu não estou brincando, eu vim para convidá-la para passar à tarde em La Push, você precisa reconsiderar, Bella."

"Não, não e não! Sem chance, Jacob, isso não vai acontecer por um bom tempo. Acredito que todos nós lembramos muito bem o que aconteceu da última vez que ela foi "passar à tarde" com você em La Push. Minha filha fica e você vai embora.”.

Era realmente muito difícil manter os pensamentos limpos enquanto prestava atenção naquela discussão. Eu conseguia distinguir duas consciências naquele instante: uma parte minha concordava com a idéia de permanecer na casa, mas não por não confiar em Jake, mas sim porque eu não sabia como me comportar se estivéssemos sozinhos. A outra simplesmente queria pegá-lo pela mão e fugir pela sala, entrar em qualquer um dos caros carros da garagem e literalmente voar para La Push.
Eu sabia que não importava quais pensamentos eu tivesse, nenhum deles passaria despercebido por Edward, então se eu ainda quisesse ter um pouco de dignidade, seria melhor manter a cabeça o mais vazia possível, me focando apenas na essência da idéia. 
Jacob tentava rebater as acusações de Bella, mas foi uma questão de minutos para os dois estarem discutindo, como se fossem inimigos mortais. Eu começava a ter um déjà vu.

"Nós confiamos em você, Jacob", Edward abriu um meio sorriso e Bella murmurou um 'confiamos?' com descrença. "Mas você precisa entender que estamos em uma posição delicada, mas saiba que eu entendo o que você está sentindo."

Aquelas palavras pareceram ter sido meticulosamente escolhidas. Seu impacto foi imediato, e eu tinha certeza de que meu pai as havia escolhido propositalmente. 
Bella desfez a expressão zangada, e levou um dos dedos aos lábios, permanecendo pensativa por poucos segundos, antes de voltar a olhar para Edward. O que quer que estivesse passando por sua mente naquele momento, provavelmente contrastava com o que estava acontecendo.

"Você quer ir, Nessie?", Edward virou o rosto, me pegando de surpresa. "Seu castigo terminou, você decide o que quer fazer."

Eu poderia jurar que no final daquela frase havia um meio sorriso torto. Edward estava me dando a chance de escolher, quando eu ainda não estava pronta para nenhuma das duas opções. Eu queria muito passar o dia com Jake, mas ao mesmo tempo eu temia ficar perto dele e acabar magoando-o como da última vez. Provavelmente meu pai sabia disso, e esse era o motivo de me deixar escolher.

"Espera, espera, espera”. Neil levantou-se, olhando de mim para Jacob com uma mão no queixo, mantendo uma expressão de dúvida. "Um lobisomem e uma meio-vampira...". Tremi. Corei. Minha respiração parou. Ele não pretendia dizer o que eu estava pensando. "Vocês são um casal?"

Todo o sangue do meu corpo se concentrou do pescoço para cima. Cada músculo e cada nervo havia parado, e eu só aguardava o momento em que meus pés iriam se afundar em um buraco que certamente apareceria a qualquer segundo. Mas espere, esses segundos estavam demorando muito. Enquanto eu encarava, atônica, a figura sorridente de Neil, olhando ainda de mim para Jacob esperando uma resposta, o tempo parecia ter simplesmente parado. Eu estava presa em minha primeira vergonha adolescente.

"Somos amigos. Renesmee é minha melhor amiga."

Eu desejaria ter ficado presa por um pouco mais de tempo na minha própria vergonha, se eu soubesse que essa frase viria logo em seguida.
Assim que ela atingiu meus ouvidos, o sangue voltou a circular novamente pelas minhas veias, e eu sabia que estava viva, pois naquele momento, as palavras de Jake me fizeram perceber que eu era a única que estava preocupada com a idéia de sermos um casal. 
Não havia motivo para ficar envergonhada ou receosa. Jacob ainda não me via como eu o via, então tudo o que eu precisava fazer era passar o dia com meu melhor amigo, como costumávamos fazer até duas semanas atrás. O problema é que eu não era mais a mesma de duas semanas, e era essa diferença que poderia atrapalhar minha tentativa de passar à tarde com ele. Entretanto, qualquer que fosse o sentimento que eu nutria por ele, nada era mais doloroso do que não poder ficar perto dele após todos esses dias.
Parada ali, encarando meus próprios pés, eu finalmente pude perceber que eu estava apaixonada por Jacob, e que agora era a minha vez de esperar por ele. Esperar pelo dia em que ele também sentiria o que eu estava sentindo, mesmo que na minha mente, naquele momento, tudo o que havia era a visão do meu café da manhã. Eu estava amando, mas eu não era idiota de deixar Edward saber disso.

"Eu vou para La Push", abri um sorriso, me sentindo incrivelmente bem. "Se não tiver problema para vocês, claro."

"Bom...", Bella parecia travar uma batalha interna, e o meio sorriso de meu pai parecia tornar tudo mais difícil. "Mas você tem que estar de volta antes do jantar, e quando eu falo que você tem que estar, é porque você estará, Resnemee."

"Eu vou estar de volta, não se preocupe."

"E você", a atenção agora era na direção de Jacob, que me olhava ainda confuso, mas com um esboço de sorriso nos lábios. "Esqueça que você é a droga do Alpha, ok? Hoje você vai manter os dois olhos em cima dela, ouviu? Se eu souber que você a deixou sozinha de novo essa vai ser a última vez que você vai vê-la. Fui clara?"

"Quase transparente", o bom humor de Jake havia voltado, mas a preocupação de minha mãe ainda estava estampada em seu rosto. "Mas...", Jacob coçou a cabeça, fazendo sinal na direção da porta. "Quil e Embry vieram comigo, eu estou sem carro, será que eu poderia pegar o Volvo da Nes-Renesmee emprestado?"

"É o carro dela", Edward deu de ombros, e eu consenti com a cabeça, olhando envolta para lembrar onde estavam as chaves do carro.

"Tem certeza, Nessie?", Rosalie estava na minha frente de repente, com a cabeça apoiada no punho e eu sabia que ela tinha as chaves ali. "Nós podemos passear de carro, eu posso te ensinar a dirigir, vai ser divertido". Eu podia ver como era difícil para Rosalie aceitar minhas companhias. "Eu posso ir com você, só por via das dúvidas."

"Eu vou ficar bem, e podemos passear de carro outro dia", tentei não rir da última parte do que ela havia dito. Imaginar Rosalie em La Push, ao lado de Jacob, Quil e Embry era cômico para não dizer mortal. "E eu já tenho alguém me ensinando a dirigir", estiquei a mão esperando que ela depositasse as chaves, sorrindo ao segurá-las em minhas mãos. "Vamos?"

As recomendações de Bella duraram até eu sair para a varanda, esperando Jacob voltar da garagem com o Volvo prateado. Quil e Embry estavam encostados perto de uma grande árvore, e se aproximaram quando Jacob apareceu. De certa forma, vê-los me deixou ainda mais tranqüila, pois eu saberia me portar dignamente com os dois por perto, e ainda poderia passar o dia na companhia de Jake.

"Peça desculpas ao Neil por perder parte da história dele sobre sua quase-luta na Revolução Francesa", inclinei o rosto para dar um beijo no rosto de Bella, recebendo um abraço extremamente apertado em resposta.

Quil e Embry haviam sentado no banco traseiro, restando apenas o assento ao lado de Jacob. A porta entreaberta fez com que meu estômago rodasse, mas foi preciso apenas que eu tomasse um pouco mais de ar para que minhas pernas começassem a se mover, e em seguida eu estava sentada no confortável banco de couro.

"Desculpe sobre o carro", Jacob mantinha os olhos no caminho, o que era bem relaxante.

"Sem problemas, o Volvo não tem rodado muito por ai, ele precisa voltar a se acostumar aos passeios."

"Podemos voltar às aulas se quiser, você está quase lá, Nessie!"

Sorri, agradecendo e aceitando o convite.
Eu me sentia muito bem naquela situação. Não demorou para Quil e Embry entrarem na conversa, e logo nós quatro estávamos conversando sobre carros, onde eu apenas citava o que havia aprendido com Rosalie, sem saber ao certo do que estava falando, mas me divertindo quando Jake revirava os olhos, afirmando que eu era uma fraude.
Quando o Volvo prateado parou em frente à entrada da casa dos Black, eu me dei conta de que não havia mais volta. As janelas estavam fechadas, e o fato de Billy não ter aparecido na porta era sinal de que ele não estava em casa. Eu podia sentir o desconforto da situação começar a fazer com que meu estômago voltasse a girar, mas eu não podia desanimar. Ainda tinha Quil e Embry ao meu lado.

"Billy não está em casa?", sai do carro e enfiei as mãos no bolso da jaqueta.

"Ele está no Charlie", Jacob trancou o carro e me entregou as chaves, mas eu recusei com a cabeça, fazendo com que ele não tivesse outra saída a não ser guardar no bolso do próprio jeans. "O que quer fazer? Eu ainda tenho os dvds da Kim".

A menção aquela sessão de vídeo me deixou extremamente desconfortável, e eu temia que isso fosse visível. A última coisa que eu precisava era um filme meloso.

"Seu carro. Você disse que está com problemas, não é? Por que não vai trabalhar nele?"

"Se você chama aquele desmanche de carro...", Quil assoviou o comentário e Embry concordou com a cabeça.

"Eu posso fazer isso amanhã, e eu sei que você não é fã da minha garagem, Nessie."

"Hey, eu agüento, vamos ver o seu carro e depois decidimos o que faremos."

Eu sabia que se não tomasse uma atitude, acabaria realmente sentada no sofá dos Black com algum filme da Meg Ryan. Então era preciso que alguém desse o primeiro passo.
Jacob revirou os olhos e reclamou nos primeiros passos, mas logo estava ao meu lado, com os dois amigos atrás de nós.
Na realidade eu não era grande fã da garagem dos Black. Eu não entendia qual era a graça de estar no meio de peças velhas, graxa e ferramentas que eu nem sabia para que serviam. Nas vezes em que ficamos na garagem, passávamos o tempo todo sentados no capô conversando e bebendo refrigerante barato. E era exatamente isso que eu queria para aquele dia.
Quil estava certo quando disse que o carro de Jacob agora mais parecia um desmanche. De longe era fácil visualizar as peças espalhadas e algo que me lembrava seu antigo carro, hoje apenas o esqueleto e a lembrança.

"O que você fez...?", levei as duas mãos ao rosto, imaginando que aquilo levaria anos para ser remontado.

"Tédio", Embry colocou a mão em meu ombro como se fosse um velho sábio. "Isso foi o que Jacob fez já que não podia te vis-"

A mão de Jacob acertou em cheio a cabeça de Embry, em um tapa que provavelmente teria arrancado minha cabeça e pescoço. Mas ao contrário de mim, Embry apenas cambaleou para frente, soltando uma gargalhada alta.
Jake seguiu em frente, e eu apenas sorri ao ver o vermelho por cima da pele morena, me sentindo egoistamente bem por ele ter ficado tão entediado sem mim.
Na garagem havia tudo o que eu esperava: salgadinhos, refrigerantes, o capô - mesmo este não estando em cima do carro - e a companhia de Jacob.
Os três começaram a trabalhar em cima das peças, e aos poucos eu percebi que o estrago não era tão grave quanto eu pensava. Quando me dei conta, a manhã havia passado em um piscar de olhos, e o esqueleto agora lembrava vagamente um carro.

"Bom, já é tarde", Quil olhou o relógio e levantou-se quase num pulo. "Melhor eu ir para casa."

Engasguei com um gole de refrigerante, arregalando os olhos ao ver Embry também de pé. Onde eles achavam que estavam indo?

"Eu preciso almoçar em casa, minha mãe está enciumada que só tenho comido aqui ultimamente", o comentário de Embry estava polido demais, certo demais, combinado demais.

"Mas está cedo", sai de cima do capô indo até eles no mesmo instante. Eu precisava mantê-los ali de qualquer maneira.

"Nós realmente precisamos ir, Ness, passamos os últimos três dias por aqui, sabe como é, família", Quil colocou a mão na minha cabeça, e eu me senti uma criança que não entendia a explicação de um adulto.

"Talvez vocês devessem ficar, tem comida na geladeira", Jacob tinha o rosto no motor do carro enquanto falava.

"Valeu, Jake, e se cuida Ness!"

Embry puxou Quil pela camisa, e eu apenas os vi se afastarem sem conseguir me mexer.
O barulho das ferramentas no motor me fazia imaginar que Jake estava ocupado demais com o carro para perceber o quão preocupada eu estava com aquela situação. Eu tinha medo de me virar e encará-lo, imaginando o que iria dizer se de repente ele começasse alguma conversa estranha sobre aquele dia. Como eu estava de castigo, nós não tivemos a chance de termos uma conversa apropriada, então eu não fazia idéia do quanto ele sabia, ou melhor, do quanto Leah havia dito para ele.

"Já está com fome?", a voz de Jacob veio direta, e eu sabia que ele encarava minhas costas. "Eu posso fazer algo, se você não tiver se entupido de salgadinhos", ele riu no final, "E não conte a sua mãe sobre isso”.

"Não vou", virei meio corpo, olhando rapidamente para ele. "E eu não estou com fome, mas eu gostaria de um pouco d'..."

Um, dois, três pingos.
Eu não deveria ter me surpreendido quando a chuva começou. Estávamos em Forks. O que me deixou surpresa foi o tamanho das coincidências terríveis que aquele dia estava tendo. Quil e Embry indo embora não era uma coincidência, mas eu precisava acreditar que sim, ou começaria a ficar preocupada com o sumiço repentino dos dois. Mas a chuva eu não podia chamar de conspiração. O que eu podia fazer era segurar firme a mão de Jacob enquanto ele me levava pela pequena floresta até a casa dos Black, já que não havia como se proteger da chuva na garagem esburacada e cheia de peças.

"Você se molhou muito?", ele havia parado na entrada, passando a mão pesada pelo meu cabelo. "Eu vou pegar uma toalha."

"Eu estou bem, só molhei o cabelo", gritei da porta ao vê-lo entrar como se fosse um furacão.

A casa de Jake estava do mesmo jeito que eu lembrava.
Não que algo poderia mudar totalmente em uma semana, mas era extremante aconchegante poder entrar novamente naquela casa. Jacob apareceu segundos depois com a toalha nas mãos, e mesmo não precisando, enxuguei um pouco os cabelos somente para deixá-lo mais tranqüilo, eliminando a possibilidade eu estar ensopada e prestes a pegar uma pneumonia.

"Seu copo d'água", ele disse após pegar a toalha, e eu apenas o segui em direção a cozinha. "Não quer um pedaço de torta de maçã? Emily trouxe ontem, é o último pedaço, você deveria experimentar."

Não havia como recusar qualquer doce feito por Emily, ainda mais com o charme de ser o último pedaço. Aceitei sem pensar duas vezes, indo me sentar na pequena mesa dos Black.
Jacob sentou-se a minha frente, enchendo um copo maior com água.
Eu sabia o que viria em seguida, e era preciso lutar contra qualquer momento de silêncio que pudesse acontecer entre nós dois.

"Como o bando está? Conte-me tudo, estou há uma semana sem ouvir as novidades". Assuntos gerais. Nada mais melhor amigo do que esse tipo de assunto.

"Estão bem. Seth quase quebrou o acordo do seu castigo umas quatro vezes, mas Sam o deixou de castigo também e ele se acalmou", Jake encarava o copo d'água enquanto falava. "Ele estava preocupado com você, já que o castigo não foi totalmente merecido."

Para onde havia ido minha idéia perfeita de não nos manter em silêncio para evitar um clima estranho? Eu podia ver a situação embaraçosa que se formava e não havia nada que eu pudesse fazer para evitar. Seth e sua boca enorme de lobo!

"Eu conversei com Edward no dia seguinte, mas ele já tinha decidido seu castigo, mesmo assim voltei dias depois porque achei que ele fosse dar o braço a torcer", ele deu de ombros.

"Não foi totalmente desmerecido", murmurei após ter comido metade da torta, sem conseguir sentir gosto nenhum. "Não sei o que Seth te contou, mas eu merecia um castigo maior pelo que fiz."

"Não foi Seth quem me contou, foi Leah."

"Ah..."

Encarei o pedaço de torta e depois olhei envolta.
A mesma vontade de sair correndo de uma semana atrás começava a se apoderar do meu corpo. Eu sabia o rumo que aquela conversa estava tomando, mas eu não estava pronta para isso. Se eu contasse para Jacob o que havia acontecido - claro, a minha versão, pois Leah provavelmente contou a dela - eu teria de assumir que havia ficado com ciúmes, o que definitivamente não era um assunto que eu gostaria de tratar com ele.

"Quer assistir algo na tv?", disse a primeira coisa que se passava na minha mente, colocando um sorriso mecânico nos lábios.

Meus olhos estavam na ponta de um dos sofás, facilmente visto de onde eu estava sentada. Mas nem por isso eu pude não perceber o olhar pesado que ele tinha em cima de mim.
Levantei e engoli o último pedaço da torta, sorrindo agradecida e segui na frente em direção a sala, sabendo que ele viria atrás de mim. Eu estava extremamente nervosa, e sabia que ele tinha percebido. A maneira como eu colocava o cabelo atrás da orelha, mexia com as mãos e principalmente o fato de eu não conseguir manter contato visual com ele. Como eu poderia mentir para a pessoa que conseguia me entender perfeitamente? Por quanto tempo eu conseguiria manter a imagem de melhor amiga? Eu não podia fazer isso com Jacob.

"Leah e eu brigamos. Você melhor do que ninguém sabe que não nos damos bem. Ela me provocou e eu cai na provocação dela, foi infantil e estúpido como eu já disse, mas foi o que aconteceu".

Eu havia me sentado no sofá, e podia ver metade do corpo dele pelo reflexo da tv. Jacob parou atrás do sofá quando eu comecei a falar, mas a expressão em seu rosto eu não sabia dizer qual era.
O plano de me manter como melhor amiga era perfeito na teoria, mas eu não conseguiria executá-lo na prática. Algo dentro de mim precisava ser honesta, mesmo que isso significasse não ter meus sentimentos correspondidos. Um dia ele sentiria o mesmo por mim, eu esperaria, mas naquele momento ele precisava saber como eu me sentia.

"Eu estou apaixonada por você, Jacob". Eu podia ouvir meu coração bater alto, como se estivesse fora do meu peito. Minha voz havia saído baixa, mas eu sabia que ele tinha uma excelente audição e que tinha ouvido. "Já faz algum tempo, e eu acho que você deveria saber."

Estava feito.
Qualquer que fosse o desfecho da minha curta e patética vida amorosa, eu havia sobrevivido a minha primeira - e provavelmente última - confissão de amor. 
Como esperado, a sala ficou em silêncio por um longo tempo. Eu encarava minhas mãos, sentindo meus joelhos tremerem de ansiedade.

"Ness..."

"Você não tem que dizer nada, ok? Eu apenas falei para que você saiba como eu me... sinto."

Minha voz havia saído engasgada. Uma mistura de arrependimento e vergonha. 
Eu não pude esperar a resposta dele. Eu precisava ver com meus próprios olhos que tipo de expressão ele tinha. 
Jacob tinha o rosto em chamas. Seus olhos estavam arregalados e assim que eu me virei, eu pude ver que ele engolia seco. O que eu havia feito?!

"J-Jake?", tentei não me sentir ofendida pelo silêncio dele, ainda mais após ver o quão chocado ele parecia estar.

"Você falou sério?" Jacob havia ficado extremamente sério, e novamente aquela ruga entre suas sobrancelhas havia aparecido. "Você tem certeza do que disse?"

Que tipo de garota ele achava que eu era? Agora eu estava realmente ofendida.

"Ouça bem, Jacob Black, porque eu não vou repetir". Meu orgulho e ego estavam fortemente feridos naquele momento. Se ele achava que estava falando com alguma garotinha iludida, ele estava redondamente enganado. "Eu amo você. Eu estou apaixonada por você faz tempo. Eu cansei de ser a melhor amiga, ok? Eu achei que fosse enlouquecer nessa semana, mas ao mesmo tempo eu não sabia como iria me portar perto de você. Eu tive de manter meus pensamentos no lugar por causa de Edward, mas sim, eu falei sério, eu estou falando sério". Eu não conseguia controlar minha própria língua. "Eu sei que você não sente o mesmo, eu compreendo, eu vou esperar o tempo que fo-r".

Minha voz havia subido umas duas notas.
Meus pulmões pareciam que iam explodir, e meu coração havia se dividido em dois, cada parte indo para um lado de minhas bochechas. Em um segundo, Jacob estava sério e zangado há alguns passos de mim, para no segundo seguinte estar me prendendo em um firme e forte abraço. Meus braços estavam impossibilitados de se mexer, e eu estava ajoelhada com metade do corpo ainda no sofá.

"Nessie, Nessie, Nessie", a voz de Jacob era abafada, e eu apenas sentia o calor de sua respiração no meu pescoço. "Você não sabe o quanto eu esperei para finalmente ouvir isso. Eu achei que teria de esperar mais alguns anos. Óh, Nessie!"

Da mesma forma como ele me abraçou, ele me soltou, e eu finalmente pude ver seu rosto. Jacob tinha um sorriso enorme nos lábios, aquele tipo de sorriso que você sabe que a pessoa está gargalhando por dentro tamanha sua felicidade. Seus olhos estavam brilhando, e suas mãos seguravam meu ombro como se tivesse medo que eu fugisse.
Meu coração havia voltado ao seu lugar de origem, e batia tão rápido que eu tinha certeza de que ele podia ouvi-lo. O que havia acontecido? Eu havia sido... aceita?

"Eu te amo, Nessie". Jacob desfez o sorriso, e eu pude sentir meus olhos começarem a brilhar. Péssima hora para ficar emotiva. "E eu não disse antes porque estava esperando que você estivesse pronta, mas eu não imaginava que você já estava", a pausa me fez lembrar da semana passada. Então Jacob realmente pretendia fazer o que eu achava que ele estava fazendo.

"Desculpe por semana passada", sorri sincera pela primeira vez naquele dia. "Eu me assustei com a idéia de ser real o que eu apenas vivia na minha mente."

"Não tem que se desculpar", Jacob voltou a sorrir, e meu mundo parecia novamente estar girando.

Ficamos nos encarando e sorrindo até ambos perceberem que o que viria em seguida era inevitável. Eu havia imaginado aquele momento de diversas formas possíveis, mas em nenhuma das minhas fantasias eu estava tão calma quanto estava naquele momento.
Jacob diminuiu a distância, encostando-se nas costas do sofá, me fazendo ficar de pé, enquanto eu colocava as mãos em seus ombros. Nossa altura ainda era diferente, mas eu sabia que aquilo não seria problema. Uma de suas mãos estava em minha cintura, enquanto a outra segurou meu rosto com extremo cuidado. Senti meu rosto corar ao toque da mão dele, já que Jake parecia literalmente estar em chamas.
Eu não sabia o que fazer na prática. A teoria que eu tinha dos filmes não dizia como eu deveria me portar naquele momento sem parecer idiota.

"Feche os olhos."

A voz de Jacob era um sussurro, e eu sentia meu corpo vibrando apenas pela mínima distância que estávamos um do outro. Fechei os olhos como ele pediu, e minha respiração tornou-se mais rápida. Eu não sabia quais sensações esperar, como reagir e principalmente o que fazer se eu fosse ruim. A tranqüilidade de antes havia sumido, e eu teria ficado ainda mais nervosa, se no meio de toda a minha batalha interna, os lábios de Jacob não tocassem os meus.
Minhas mãos apertaram seus ombros no mesmo instante, e foi como levar um choque no corpo todo. Os lábios de Jacob eram quentes e incrivelmente macios, se encaixando perfeitamente nos meus trêmulos lábios. Meus olhos estavam mais fechados do que nunca, e eu esperava ansiosamente pelo momento seguinte.
Devagar, Jacob entreabriu os lábios e minha boca simplesmente se mexeu, como se soubesse o que fazer. A mão que estava em meu rosto foi para minha nuca, e automaticamente passei meus braços envolta do pescoço dele, o puxando para mais perto, se é que isso ainda era possível.

Era quente, sufocante, úmido, doce e incrivelmente bom.
Minha mente ficou completamente branca, e tudo o que eu conseguia fazer era beijá-lo com todas as minhas forças, como se minha vida dependesse disso.
Aquele foi o minuto mais bem aproveitado da minha vida.
Quando nossos lábios se afastaram, meus olhos ainda permaneceram fechados por alguns segundos, até que eu pudesse abri-los. Para minha surpresa, os olhos de Jacob ainda estavam fechados, e eu não pude controlar um sorriso seguido de uma risada baixinha. Minha reação fez com que ele abrisse os olhos e risse junto comigo, ambos com as bochechas vermelhas.
Eu o abracei o mais forte que conseguia, sabendo que minha força provavelmente não significava nada para ele. Mas eu não me importava. Tudo o que eu queria era que ele soubesse o quão feliz eu estava naquele momento.

"Você... bem, vo-você...", a voz de Jacob tremia, e eu não consegui conter um largo sorriso.

"Eu adorei", escondi o rosto no ombro dele. "Não tenho como comparar."

"Eu não preciso de comparação", ele tinha novamente meu rosto em suas mãos, enquanto tentava manter uma expressão séria, fácil de ser identificada como falsa. Os cantos de seus lábios o denunciavam, e logo seus belos dentes surgiram em um cativante sorriso.

Naquela tarde eu percebi que estava errada em dois pontos: primeiro, eu não precisava deixar de ser a melhor amiga. O restante do dia, passamos enfiados na garagem dos Black assim que a chuva cessou, conversando enquanto Jacob tentava juntar o quebra-cabeça que eram aquelas peças. Nós continuávamos os mesmos amigos, a mesma intimidade e cumplicidade de antes, com a única diferença de que ao invés do afago no cabelo, agora eu recebia beijos e abraços - o que tenho de admitir que ele não perdia tempo. E segundo, o carro não estava tão péssimo como eu pensava, mas levaria mais alguns dias até que Jacob fosse me buscar com ele, o que serviu perfeitamente para nossos planos, que envolvia minhas aulas particulares de direção.

"Nós poderíamos ter ficado mais tempo, sabia? Ainda é cedo", me recostei melhor no banco do Volvo, suspirando.

"Não é cedo, Nessie, e eu fiz um acordo com seus pais e pretendo cumpri-lo", a risada de Jacob parecia soar como música. "Já é noite praticamente", e apontou com uma das mãos para a lua em cima de nossas cabeças.

"Linda!", inclinei o corpo para frente o máximo que o cinto de segurança permitia, para encarar a enorme Lua cheia.

"Ela me lembra você."

"Eu?", desviei os olhos da Lua, surpresa por tal comparação. Não conseguia pensar em nenhuma qualidade que eu pudesse ter em comum com o satélite natural da Terra.

"Não necessariamente a Lua, mas pra mim, desde a primeira vez que te vi você sempre... brilhou", a expressão de Jake havia se tornado séria, e eu me sentei melhor para ouvir. "Pra mim você é como a luz da Lua, sempre brilhando, sempre ali quando eu olho ou preciso, enfim... essas coisas que soam idiotas". 

Jacob riu no final, passando a mão no cabelo sem graça.
Eu não sabia como agradecer aquelas palavras, mas não por não ter o que dizer, mas sim porque achava que eu era a única a ter esse tipo de pensamento.

"Eu penso o mesmo", voltei a encarar a Lua, dessa vez observando-a de outra maneira. "Mas você não é como a Lua. Você é meu arco-íris pessoal."

"Arco... íris?", havia descrença e gozação na voz dele. "Arco-Íris, Nessie? Isso deve ser coisa daqueles seus amigos novos."

"Eu estou séria aqui, Jacob Black", tentei manter minha voz séria, mas era impossível. "É verdade, você traz cor para minha vida, faz tudo deixar de ser preto e branco, eu não sei explicar... mas quando você não está perto é como se nada tivesse muita vida, como um filme antigo daqueles preto e branco e sem som."

"Eu entendi, Nessie...", a mão que estava livre logo encontrou a minha, e mesmo não sendo a primeira vez que nossas mãos se encontravam, eu ainda me envergonhava como se fosse a primeira vez.

A distância entre La Push e a casa dos Cullen nunca pareceu tão pequena. Conversamos o caminho todo, fazendo planos para os próximos dias, até chegarmos em território vampiro - como Jake costumava chamar - onde ele começou uma verdadeira limpeza cerebral. 
"Eu realmente não me importo, na verdade eu adoraria ver a cara do seu pai ao ler minha mente, mas eu tenho que te ver amanhã, então eu preciso guardar esse gostinho para outro dia", Jacob diminuiu o máximo possível a velocidade, e eu tenho certeza de que se saísse do carro, chegaria mais rápido. 

A casa de vidro parecia mais próxima, mas havia algo a mais ali.
Jacob também havia percebido, e assim que o Volvo prateado parou, ainda longe da entrada, a figura de Alice simplesmente brotou do meu lado da janela, fazendo com que eu saltasse pro lado de Jacob com um grito.

"Alice, o que houve?", eu soltava o cinto, enquanto tentava me focar na figura pequena na janela e em algo que parecia um grito vindo da casa.

"Você", ela apontava Jacob já fora do carro. "Melhor você ir embora correndo, ou melhor, você voa? Porque se sim, é melhor você ir agora para bem longe.

"O que houve?", a tensão na voz de Jacob começou a me deixar preocupada, o suficiente para poder prestar atenção no barulho que parecia vir da casa dos Cullen.

"RENESMEE! EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AI!"

"Bella?", os olhos de Jacob estavam arregalados, e Alice parecia impaciente. "Que diabos aconteceu aqui?"

"Você deveria saber melhor do que ninguém, Romeu", Alice tinha um sorriso sonso nos lábios. 

"Minha mente está limpa, eu..."

Houve uma pausa.
A voz de Bella havia se tornado mais alta, e quando Rosalie apareceu do lado de Alice eu tive certeza de que a coisa era mais séria do que eu pensava.

"Se eu fosse você eu correria daqui com o rabo entre as pernas, cachorro, porque se a mãe dela não te pegar pelo caminho, o pai fará isso. Edward está uma pilha de nervos, Emmett teve de trancá-lo no porão”.

"Vincent está com Bella, então vocês devem ficar agradecidos, ela estaria aqui se não fosse por ele", Alice sorriu, afagando meu cabelo.

"Espera ai, o que aconteceu? Do que vocês estão falando?", Jake parecia o único a não ter entendido bem a situação.

"Desculpa Jake, foi culpa minha", tentei não sorrir enquanto falava, batendo o dedo na testa "Eu esqueci de limpar a mente.”.

"Limpar? Edward disse que você estava berrando", Rosalie disse com nojo.

"Nessie...", Jacob riu alto e em seguida alguma coisa dentro da casa parecia ter sido quebrada.

Minha despedida de Jacob consistiu em um aceno, enquanto eu o via desaparecer no meio da floresta.
A voz de Bella havia se tornado uma mistura de 'Renesmees' com gemidos e gruídos, e eu nem queria imaginar como Edward estava naquele porão.
Tudo o que eu conseguia pensar era na tarde incrível que eu havia tido, mesmo que isso significasse bons longos meses de castigo.
Como Alice e Rosalie haviam dito, eu não conseguia esconder. Por dentro, minha mente e meu coração estavam vibrando de felicidade.
E foi com esse sorriso enorme que eu segui as duas vampiras em direção a entrada, respirando bem fundo antes de abrir a porta e encarar minha realidade em preto e branco, mas com uma excelente sonoplastia devido aos gritos de Bella.

--------------------------------------------------------------------------------------------------FIM

Notas da autora:
Yay! Terminei! xD
A idéia pra essa fanfic surgiu no minuto seguinte ao término de Breaking Dawn. Eu ainda estava com o Word aberto quando as idéias foram brotando. 
Mas como sou preguiçosa para começar a escrever, levei algumas semanas até juntar material e força de vontade suficiente. O resultado me deixou extremamente contente, porque para ser bem honesta, eu jamais pensei que conseguiria ter tantos leitores, ainda mais porque não é o tipo de história que eu geralmente escrevo.
Tentei ser o mais fiel possível aos personagens, acrescentando um pouco de senso paternal ao Edward. A Nessie foi um desafio. Pouco poderia ser aproveitado da Nessie-criança para a Nessie-adolescente, pois as crianças mudam, o que me deixou livre para poder criar em cima da personagem (o que eu particularmente adorei).
Neil e Vicent entraram na história para não cair na mesmice de Cullen x Volturi. Foram personagens que eu criei ao acaso mesmo, mas que acabaram ganhando uma história própria.

Por isso, a parte Jacob x Nessie termina nesse quarto capítulo, mas eu pretendo adicionar mais alguns epílogos para a história, como um capítulo especial contando a visão da Bella, e o passado dos dois novos vampiros.
Desde já agradeço aos que leram a fanfic e espero que tenham gostado.
Obrigada pelos reviews e as palavras de apoio, foram realmente de grande ajuda e inspiração! xD

Vejo vocês em breve~


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