Longos Passos até a Felicidade escrita por Yasmim Carvalho


Capítulo 23
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Eu tinha desistido da fic, mas como tenho recebido algumas mensagens de pessoas que ainda querem terminar de ler, eu decidi voltar. Beijos no core de vocês e apesar de ser curto o capítulo, espero que gostem!!



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Capítulo 22

“O ambiente está em silêncio

E agora é o nosso momento

Entre no clima, sinta e fique firme

Olhos em você, olhos em mim

Estamos indo bem”

(He Is We – All About Us)

Narrador: Isabella

À noite não dormida me rendeu um rosto inchado, pálpebras avermelhadas e muitos pensamentos confusos. Chorar com toda certeza foi algo inevitável. Edward, diferente de mim, dormia sem parar, como se finalmente tivesse tirado todo o peso dos seus ombros e os jogado em cima dos seus demônios, matando-os.

Não me retirei do seu lado, mesmo que meu corpo já estivesse doendo e reclamando por estar tão ligado e parado há horas. Seus braços me eram prisões aquecidas e toda vez que eu me mexia era como se eu estivesse me esgueirando mais e mais para dentro de seu abraço protetor.

Não pude deixar de pensar na maior parte da noite em todas as atrocidades que aquele corpo que me aquecia tinha passado. Era tudo tão revoltante, que tinha hora que eu podia jurar que se fosse capaz de voltar ao passado, teria torturado e matado o homem que um dia ele chamou de pai. Pai, mas que piada! Esse homem era um monstro, porco nojento, filho da puta.

Edward se mexeu um pouco mais ao meu lado e de repente meu corpo estava rolando na cama e ele se prostrava em cima de mim. Seus olhos ainda estavam meio fechados, mas sua boca tinha o rascunho de um sorriso.

– Você ainda está aqui. – Sua voz saiu rouca por causa do sono, mas dava pra sentir o tremor de alegria. – Eu podia jurar que você tinha me deixado abraçando o travesseiro. – E riu.

– Bem, você me aprisionou nos seus braços. – Sorri acanhada. – Não que eu esteja reclamando, nem nada.

Faço um carinho em seu braço e finalmente seus belos olhos verdes estão me encarando. Há tanta luz ali, mesmo no quarto escurecido. E tanta ternura que eu sinto vontade de abraça-lo tão forte quanto ele me abraçou a noite toda.

– Que estranho. – Ele fala, parecendo pensar alto. – Pensei que poderia te achar mais normal quando você tivesse acabado de acordar, mas você continua linda.

A sua declaração me pega totalmente de surpresa. Eu? Linda? Seus olhos só podiam estar turvos de sono ainda. Mesmo assim, reprimo o sorriso que cisma em querer aflorar em meus lábios.

– Você também acorda lindo.

Ele se joga ao meu lado rindo como se aquilo fosse à piada do ano. Sento, sabendo que estou descabelada e puxo a minha blusa, ajeitando-a.

– Pare de querer ficar se ajeitando, está muito bem assim. – Ele reclama quando tento arrumar meu cabelo.

– Você ta meio cego. – Abaixo minhas mãos e volto a me deitar. – Dormiu bem? – Tento puxar assunto, olhando meio de lado para ele.

– Maravilhosamente bem, de um jeito que eu nunca tinha dormido antes. – Ele coça a testa e comprime os lábios. – Acho que esse é o dia mais feliz da minha vida.

Dou uma risada mal contida e me viro de bruços olhando para ele. Naquele momento em que seus olhos carinhosos pareciam me exaltar, me ver como um presente divino, sento vontade de beijar seus lábios. Mas me contenho, mesmo sabendo que ele receberia meus beijos bem.

Quero conversar, mas temo que se eu começar a falar venha me alterar e ficar tão revoltada quanto estive a madrugada toda. Tenho que me lembrar que aqueles eventos estão cravados no passado e eu nunca poderia muda-los.

– O que você está pensando? – Ele murmura parecendo sentir que por um momento estive longe.

Dou de ombros e me arrasto um pouco, ficando enfim com uma parte do corpo apoiada em cima dele. Tento dar um sorriso brincalhão, mas sinto como se meu rosto estivesse se rasgando, mesmo assim não recuo. Sei que ele me encara, pois ainda estou lhe encarando, e assim por fim cedo aos meus caprichos. Recosto meus lábios devagar sob os dele, e pressiono de leve enquanto ele suspira. Seus suspiros diziam o quanto ele queria mais, mas naquele momento eu não poderia lhe dar. Recuo ainda de olhos fechados e volto a deitar de costas na cama.

– Estou pensando na fome imensa que eu estou sentindo. – Solto uma risada de leve e abro meus olhos. – Fiquei um bom tempo esperando você acordar pra poder ir comer. – Balançando a cabeça, viro meu rosto e encaro seus olhos. – Me matando lentamente de fome, que coisa feia. – Brinco.

Ele ri baixinho e num pulo já está de pé me chamando pra fazer o mesmo. Solto um gemido preguiçoso e saímos do quarto, descendo correndo até a cozinha.

Agora, fora daquele casulo aonde talvez tenha sido o espião de toda aquela tortura do homem sorridente ao meu lado, consigo me sentir mais leve. Porém obstinada. Precisamos cortar os laços com a mansão, aqui tem dor demais para que o real caminho para a felicidade de Edward possa se abrir.

Como já diziam “recordar é viver”, e eu creio que ele já viveu e reviveu essa dor por tempo demais. Se depender de mim, farei com que ele criei memorias tão boas que ele nunca mais precisará recordar isso. Nunca mais precisará relembrar como ele chegou até aqui.

Narrador: Edward

Sei que ela sente a minha dor pelo jeito sem jeito que ela tem agido, como se de repente eu pudesse me partir no meio e virar mil pedaços de um eu do passado que nunca, nunca mais irá retornar.

Ela prepara nosso café da manhã mexendo levemente os quadris enquanto no radio toca a nova musica pop do momento. Eu só observo, querendo ter manhãs assim até o resto da minha vida.

Sei que eu nunca tinha pensado essas coisas antes. Sei que a felicidade sempre me pareceu um premio impossível de se ter enquanto vivo. Mas agora tendo Isabella aqui, sinto que posso, sinto que tenho todo o direito de tê-la, e que ela foi feita pra mim. A felicidade e Isabella.

Eu posso até me imaginar agora, longe desses portões, dessa prisão que me foi a casa, sendo feliz. Eu poderia seguir qualquer caminho se eu soubesse que essa mulher que eu tanto admiro estará comigo e que vai me amar, mesmo quando eu cair, mesmo quando eu ficar totalmente assombrado.

Isabella coloca o suco na minha frente e um prato abastecido com ovos e bacon. Sorri daquele seu jeito único, corada, acanhada e linda.

– Anda, come, vai esfriar. – Ela empurra o prato mais um pouco na minha direção, trazendo as torradas e deixando entre nós.

Comemos em silencio, e nos sentimos bem assim. A fala nunca foi a nossa necessidade mais importante, apesar d eu amar o tom de sua voz. O silêncio nos ajuda a manter a mente funcionando o tempo todo, e me ajuda absorver melhor as coisas.

Olho de lado pra ela e percebo que está muito, muito mais longe do que eu. Isabella lida bem com tudo o que eu despejei em cima dela, mas eu sinto que ela ficou muito ferida com as minhas palavras. É como se a minha dor agora também fosse dela, e ela estivesse com uma parte do corpo, alma e coração dilacerados.

Por um momento, me arrependo de ter sido tão sincero e de ter contado tudo, sei que a dor é grande, que é um fardo, que mesmo mais leve agora, será levada para o resto da minha vida. Agora, para o resto de nossas vidas.

Passo a mão suja na bermuda e estico para tocar a dela. Quero que ela saiba que não precisa sofrer por mim, porque graças a ela eu estou bem, eu me sinto um homem, um homem feliz.

– Não pense nisso. – Olho para ela enquanto falo.

Isabella parece se assustar um pouco, mas logo se recompõe e sorri de lado.

– Não pensar no que? – Ela pergunta se fazendo de desentendida. Balança a minha cabeça e ela solta um suspiro resignado. – Sinto muito, mas não consigo parar de pensar. – Uma lagrima escorre de seus olhos. – É que você é essa pessoa linda, especial e maravilhoso.. – Parecendo engolir o choro ela continua. – E imaginar você sofrendo, sofrendo do jeito que sofreu, mesmo antes que eu pudesse sonhar que iria te conhecer, me da uma raiva, uma revolta. – Ela cobre o rosto com as mãos. – Eu só queria poder te salvar.

Solto uma risada baixa, feliz e incomodado ao mesmo tempo com as suas palavras. Me salvar? Mais do que já tinha salvo? Acho impossível. Se eu não fosse esse homem que um dia sofreu, que sentiu a amargura que pode ser viver, talvez eu nunca tivesse encontrado ela, talvez a minha infância pudesse ter sido melhor, mas a minha vida de adulto fosse um completo vazio sem amor, sem saber que alguém me quer tão bem, que deseja mais que tudo cuidar de mim.

Desço do banco e abraço Isabella, recostando sua cabeça no meu pescoço. Não consigo deixar de pensar que isso é amor. Que essa proteção, esse desejo que vai além da vontade de toca-la o tempo todo, só pode ser amor.

– Você me salva todos os dias desde que chegou aqui. – Puxo seu rosto delicadamente para trás, para que ela me olhe. – Entendeu? – Ela morde os lábios insegura. – Olhe para mim, sou outra pessoa agora, não sou? Quando chegou aqui eu não parecia com nem um terço do que você pode ver agora, não é?

– Mais ou menos. – Diz relutante.

Solto uma risada alta, impossível de ser contida, e Isabella me acompanha.

– Gostei desse seu otimismo. – Aperto o nariz dela enquanto seus olhos sorriem, ela da de ombro.

– Faz parte do meu charme. – Graceja.

– Com toda certeza. – Me abaixo um pouco ficando com os lábios perto do dela. Não pergunto nada, mas ela faz que sim com a cabeça.

Beijo seus lábios de leve, e ela suspira. Eu quero dizer que a amo, quero abraça-la e sussurra mil vezes o quanto quero tê-la pra sempre comigo. Mas não sei como ela vai reagir. Largo meu medo e receio no canto mais fundo que tem dentro de mim e tomo coragem. Já me calei demais por causa do medo.

– Bella? – Me afasto um pouco de olhos fechados.

– Oi? – Ela diz baixinho.

– O que você diria, se um cara esquisito, sem jeito, falasse que te ama?

– Se esse cara tivesse os cabelos loiro escuro, olhos verdes e estivesse bem na minha frente, eu diria que o amo também.

Abro meus olhos sentindo como se meu coração fosse rasgar meu peito, meu estomago revira e minhas mãos começam a transpirar. Isabella está me olhando, sorrindo, feliz, como se tivesse acabado de constatar que realmente me ama, e que isso é bom.

– Então é isso. – Digo.

– É isso. – Ela responde risonha.

– É amor. – Afirmo, mesmo que inseguro.

– Só pode ser. – Ela faz que sim com a cabeça, ri e me abraça, dando um beijo de leve no meu pescoço.

Nos beijamos mais um vez, mas eu não paro em nenhum segundo, o beijo de gosto de torrada, com suco, e é o beijo mais gostoso que já demos. O melhor de todos, melhor até que o primeiro.

– Desde quando você..? – Ela pergunta depois de um tempo.

– Não sei bem, eu olho pra você e não consigo imaginar minha vida sem você, o futuro tem que ter você. Seu jeito, seu olhar, seu sorriso, seu carinho, você toda me deixa feliz. Quando a gente se separa pra cada um ir pro seu quarto eu só penso que poderia ficar acordado o dia todo se eu pudesse ter você ao meu lado. – Respiro fundo. – Você sabe, eu nunca tive a chance de saber como é sentir isso, como é amar, você é o meu primeiro amor e eu quero que seja o único. Tudo o que você desperta em mim só pode ser amor, você entende? – Ela faz que sim com a cabeça. – Eu me sinto transbordar felicidade quando você está comigo.

– Você.. – Ela balança a cabeça. – Seria um perigo se estivesse lá fora.

– Eu? Como assim? – Pergunto sem entender.

– Olhe só para você Ed. Tão lindo, tão sincero, tem as palavras mais lindas que eu já vi.

– Essas palavras só existem porque são pra você. – Dou um sorriso de lado e olho bem pra ela. – Eu falo, mas é você quem fez elas nascerem.

– Edward, você acordou com tudo hoje, não é? – Faço que sim com a cabeça e ela sorri.

– Posso acordar desse jeito todos os dias, mas pra isso acontecer tem só uma condição.

– Qual?

– Dormir abraçado com você. – ela solta uma gargalhada e se joga em meus braços.

– Meu Deus! O que fizeram com você? – Pergunta brincalhona.

– Colocaram você na minha vida. – Aperto ela mais ainda dentro dos meus braços. – Ainda bem.

– Ainda bem. – Ela concorda e ri mais um pouco.

Passamos o dia rindo, brincando, nos beijando e fazendo graça, porque sabemos finalmente que isso tudo é amor. E se por descuido estivermos errados, e ainda amor não for, não tenho duvida que estamos a um pequeno passo para que seja.

A minha vida mudou, eu sou um homem bem mais feliz e melhor, e sei que esse é só o começo. Tudo vai melhorar, tudo só pode melhorar. Já vivemos desgraças demais para que pudesse ser diferente.


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Notas finais do capítulo

Breve (provavelmente daqui uns 10/15 dias) tem mais. Beijão, e se você leu, comente!!!!