Longos Passos até a Felicidade escrita por Yasmim Carvalho


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!! Esse saiu mais rápido né? rs
Vamos começar o ano bem!!!!
Bom,a gente se fala lá me baixo, beijos e até logo.
Boa leitura.



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Capítulo 14

"Entre idas e vindas me resumo feliz. Entre altos e baixos me resumo equilibrada. Sendo assim, tá na cara e não tem pane: ando meio mal, mas vou sair dessa."

(Tati Bernardi)

Narrador: Edward.

Ela chegou irritada em casa. Como sei disso? Quando ela desceu do táxi e bateu a grade da mansão, seu rosto estava todo distorcido e de longe – da minha janela – eu podia vê que seu rosto estava vermelho. Tudo bem, talvez a visão não fosse tão perfeita, mas parecia que estava vermelho.


Isabella também não tinha nem ao menos tido duvidas de onde ela deveria ir após chegar da rua. Ela nem pensou em vir me vê, mesmo que não tivesse necessidade... Acho que eu estava ficando mal acostumado com toda a preocupação dela comigo a ponto de me sentir chateado quando isso era diferente.


Eu não precisava de baba, isso era certo, mas ter Isabella me mimando – ela nunca vai saber que eu pensei isso – era bom, tranquilizador, e até aconchegante.


Continuo na minha janela e bato minhas mãos nas pernas. A sensação de paz e liberdade tinha se esvaido, e agora – na realidade, desde a hora que eu soube que estaria sozinho – eu sentia aquela angustia já tão conhecida.


Não era como se eu precisasse dessa sensação mais uma vez, mesmo que ela nunca tivesse de fato ido embora. Aquela angustia já vinha me acompanhando, desde a muito, muito tempo.


Respirei fundo e encostei minha cabeça no vidro, tentando esvaziar minha mente, e acabei caindo aos poucos no sono.

***

Estou em um lugar bonito, mesmo que o tempo esteja fechado.

Atrás do meu corpo sei que há uma casa, e a minha frente, tem uma vasta floresta. Nenhum dos dois lugares me parecem ameaçadores, e isso, me deixa confuso.

Os monstros do meu passado, começam a surgi não sei da onde. Mas mais cedo do que posso acompanhar, eles estão a minha volta. Meu pai. Minha mãe. Sra.Taylor. Mesmo que uns não sejam monstros, ainda sim parecem querer me cerca. Todos estão mortos.

Dou um passo para trás, e então, esbarro em mãos estendidas que me empurrar para frente. Virando minha cabeça rapidamente, Isabella, Alice e tia Sara, estão serias me colocando cara a cara com o que eu quero fugir.

A Sra.Taylor sai do lado do meu pai, e passa para o lado onde me empurram para onde eu não quero ir, sendo assim, mais uma mão para impedir minha fuga. Meus pais estão me encarando, esperando que eu tenha alguma reação.

- O que vocês querem de mim? – Sussurro.

Ninguém responde.

É como se eu tivesse que travar uma luta eu mesmo, sem ajuda de ninguém. Uma luta com quem me magoou para poder seguir em frente, para a floresta, que agora, me parece o único lugar seguro a estar.

Não sei como travar a luta. Não quero brigar, não tenho forças para essa briga. Quero me abaixar, e me encolher todo, até que o meu corpo vire uma pequena bola e suma. E eu começo realmente a fazer isso. Me abaixo lentamente, nunca perdendo os olhos dos meus pais, e sento no chão, escondendo meu rosto em minhas pernas.

“Por que Isabella não está me ajudando? Por que ela não está me salvando?” Minha mente grita para mim. Todas as vezes que isso aconteceu desde que ela chegou, ela estava ali para me guiar para minha salvação. “Cadê você?”

- Estou aqui. – Ela diz do mesmo lugar que eu tinha visto antes.

- Todas nós estamos aqui por você. – Alice diz.

- Só que essa guerra é sua querido. – A voz da minha tia ressoa pelo ambiente.

- E precisamos que você vença para podermos dar um passo a frente. – Isabella diz de novo.

Paro de me encolher, e respiro fundo. Como elas podem querer que eu vença algo que eu nunca fui capaz antes? É algum tipo de brincadeira ruim?

Com os olhos marejantes, viro meu corpo na direção das quatro mulheres, e me ajoelho.

- Eu não posso fazer isso! – Minha voz sai engasgada.

- Por quê? – Isabella da um passo a frente e pergunta.

- Porque...Porque... – Balanço a cabeça. – Sozinho eu não consigo nada.

- E mais o quê?

- Preciso da sua ajuda.

A Sra.Taylor finalmente da um passo a frente se agacha, segurando meu rosto com suas mãos enrugadas.

- Você sabe que isso é um sonho, não é meu menino? – Sussurra com o rosto quase colado no meu.

Olho para todos os lados, vejo cada pessoa ao meu redor, e então faço que sim com a cabeça. É apenas um sonho. Não há motivos para ter medo.

Com as pernas meio bambas, fico de pé. Sei que é um sonho, o problema é que eu odeio sonhar e saber que estou sonhando. Isso torna tudo mais assustador, ainda mais quando você não consegue sair dele.

- É só um sonho. – Digo.

- Mas isso não significa que você não tenha que ganhar a guerra. – Isabella volta a dizer, e então, com a Sra.Taylor, ela pega minha mão e gira meu corpo, fazendo-me encarar meus pais. – Vamos, grite com eles. Brigue com eles. Exploda com eles. – Dando dois tapas em minhas costas, ela retorna para seu lugar de origem. – E então, me peça ajuda. – Sua risada melodiosa preenche o ambiente. – Que eu estaria aqui quando você ganhar essa guerra.

Não olho para trás, mas sei que elas não estão mais ali por mim. Estou sozinho com o meu passado. Com os meus medos. Meus ódios e rancores.

Dou um passo à frente ficando a centímetros deles, e então, meu pai finalmente esboça alguma reação. Seu sorriso sarcástico e vitorioso está em seus lábios, e ele balança a cabeça. Minha mãe, da um passo para  atrás, ficando mais distante de mim, como se para eu poder ganhar a outra parte da guerra – onde eu finalmente mato toda a minha raiva dela – eu tenha que ganhar com ele primeiro.

- Você não vai ganhar isso garoto. – Ele diz ficando mais próximo de mim. – Sabe por que? – Pergunta retoricamente. – Porque você é fraco.

Estou realmente fraco, e sei que já perdi. Ele avança um pouco mais em minha direção, me fazendo relembrar de todas as atrocidades que vive até elas serem realmente  revividas e não precisarem mais serem relembradas.

- NÃO! – Grito quando sinto meu corpo cair no chão.


Meu rosto está molhando, misturando suor com as lagrimas. Porque depois de tanto tempo aquilo tinha de voltar? Respiro ofegante e repito um mantra que a muito tempo não era mais usado.


- É só um sonho Edward. – Sussurro enquanto me levanto. – Apenas um sonho.


Olhando rapidamente pela janela, vejo que já amanheceu, deve ser umas 6 horas ainda.


Caminho para o banheiro e vou tirando minhas roupas. Preciso tomar um banho para tirar todos os vestígios dele de mim, mesmo que tenha sido apenas em sonho.


- É só um sonho, apenas um sonho. – Sussurro de novo enquanto entro no chuveiro gelado.


É mais fácil dizer do que realmente acreditar. Meu corpo e minha mente tem marcas demais para que essas simples palavras possam dissolver todos os anos de trauma. Mesmo assim, de alguma forma milagrosa elas ajudam. Parecem que aos poucos elas realmente penetram em minha cabeça – bem no lugar onde todo o circo dos horrores estão gravados – e vai dissolvendo os sonhos ruins, mesmo que parcialmente.


Prendo a respiração enquanto enfio minha cabeça toda em baixo da água, e passo a mão pelo meu rosto. Minha barba já está relativamente grande de novo, e aquela necessidade estranha de me cuidar um pouco me volta. “Isabella me beijou da última vez que tirei a barba.” Não consigo deixar esse pensamento me escapar, e assim solto a respiração com uma leve risada. Será que ela faria isso de novo? Balanço a cabeça querendo que a ideia vá embora.


Ela não vai. A mera mansão de ter os lábios de Isabella junto aos meus novamente me deixa nervoso e causa ao meu corpo reações estranhas. Meu coração da umas batidas um pouco mais rápidas, saindo daquelas batidas fracas costumeiras e meu membro parece ganhar vida.


De olhos fechados, coloco a mão em meu membro, incerto. Isso não parece algo muito limpo a se fazer, ainda mais pensando em Isabella.

Abro os olhos e fecho o chuveiro, parando com qualquer que seja a coisa que eu iria começar ali. Não é algo certo a se fazer, nem algo que eu costume fazer! Já tenho problemas demais em minha vida para precisar arrumar mais, criando duvidas e curiosidades que eu não posso resolver.


Seco o meu corpo e penduro a toalha, saindo nu do banheiro. No armário, pego uma cueca limpa e apenas uma calça.


Pela janela, vejo que todo o breve vislumbre de sol foi embora, e em seu lugar, apenas nuvens carregadas existem. Hoje será mais um dia daquela onde a única coisa que vou conseguir vê da minha janela será chuva. Pensando bem, não tem tanta importância assim, já que aquele lugar não me parece mais tão amistoso.


Saio do quarto sentindo que ele começa a me sufocar, e pegando um livro em cima do criado mudo. Atravesso algumas portas do corredor e entro em um quarto vazio. Ele está limpo – como eu já imaginava – e não guarda memórias.


Assim, me acomodo na cama, decido que esse será meu novo quarto. Onde, de alguma forma, eu vou aprender a vencer a luta cujo ninguém pode lutar e vencer por mim.


(...)

Narrador: Bella.

A noite de sono foi tão boa quanto uma noite de tempestade. O que significa, que ela não foi nada boa.


O primeiro motivo foi o de eu não ter ido vê como Edward estava. Ele tinha dormido na grama, e o que eu tinha feito? Ido para a rua, fazer coisas totalmente fúteis. O segundo motivo, era que rever aquelas pessoas da minha adolescência e infância, tinha me causado um reboliço doido no estomago. Toda aquela ansiedade, histeria e nervosismo se mexendo dentro de mim, me fazendo parecer só mais uma menina boba.


- Você precisa de um tempo. – Sussurro para mim mesma enquanto atravesso a distancia do meu quarto para os fundos da mansão.


Paro na lavanderia rapidamente, colocando as roupas que estão ali logo na maquina, e depois sigo meu caminho para a cozinha, me sentindo bem idiota.


Lembrando que no dia anterior tinha sido o dia do correio, dou meia volta e vou até a caixa, onde um jornal também me espera. Enquanto vou caminhando de volta para dentro da mansão, olhando as contas, descubro dois convites de casamento, um endereçado para mim e o outro para o Edward.


Dando uma risada meio lunática, só consigo imaginar que isso é algum tipo de piada de James e Leah até que constato que quem vai casar e a Alice. E por algum motivo não explicado, ela está me convidando.


Toda a tensão que o meu rosto carregava se desfaz se transformando em um sorriso. Ela vai casar! Minha nossa, que coisa legal. Quer dizer, para uma mulher que já tem toda uma vida financeira e profissional estruturada, é bem legal.


Entro na cozina e deixo as contas na bancada, enquanto vou olhando cada detalhe do convite. Nunca fui convidada de um casamento – a não ser quando morava em Forks, e o convite na realidade era para meus pais. De alguma forma, isso faz eu me sentir mais velha, responsável, e não aquela menina boboca.


O casamento é para daqui dois meses, e fugindo de toda aquele padrão que a maioria das noivas fazem, se casando de dia, vai ser a noite. Acho muito mais bonito assim na realidade, mesmo que só tenha visto pela TV. Mais luzes, mais brilhos, os convidados mais bonitos e elegantes... E é ai que está o meu problema.


Não sou uma convidada elegante. Não tenho roupas elegantes! É claro que eu poderia comprar um vestido bonito com o dinheiro que eu venho guardando, mas só de pensar em gastar todo o meu trabalho duro com um misero vestido, sinto até uma dor na alma. E novamente, minha alma pão dura volta a tona.


Olhando no final do convite, vem um pequeno papel além do convite individual, dizendo as lojas que os noivos deixaram a lista de presentes. Ainda tinha isso. Não poderia ir mesmo, o que era uma pena.


Pegando o convite, coloco o meu dentro do bolso do casaco e deixo o de Edward em um lugar visível. Guardo as contas na caixa junto com as outras e vou preparar o meu café da manhã.


Faço uma porção de panquecas doces e pega algumas para mim, tapando as outras e as colocando no micro-ondas para o caso de Edward querer.


To muito bem comendo minhas panquecas com mel, quando o telefone toca. Não quero levantar – já que enquanto eu comia uma imensa preguiça tinha me pego – mas é o meu trabalho, e me arrasto da cadeira até o telefone.


- Mansão dos...


- Bella sou eu! – Alice diz animada, me interrompendo.


- Ata. – Respondo meio sem jeito. – Olá, como vai?


-Bem, bem. – Diz meio apressada. – E então, chegou meu convite de casamento? Você vai ir não é? E o Edward, como ele está? – Ela faz um monte de perguntas me deixando confusa.


- O Edward está bem. – Respondo primeiro, levando apenas em consideração a ultima vez que o vi. Ao menos ele não tinha nenhum machucado. – E recebi sim seu convite. Mas infelizmente não poderei ir.


- Por quê? – Pergunta quase em um grito.


- Fico muito contente que tenha me convidado, mas é que, não posso ir. – Respiro fundo sabendo que ela não desligaria o telefone até que eu desse uma desculpa convincente. – Não tenho roupa, e eu também ficaria sem graça em um ambiente cheio de pessoas chiques. – Alice da uma risada graciosa parecendo aliviada.


- Bom, se o problema é a roupa, eu te empresto uma, envio amanhã mesmo pelo correio. – Ela faz uma breve pausa. – E na verdade, foi por isso que eu liguei.


- Por que? – Perguntei ainda sem entender.


- Eu sei, e não adianta negar, que você e o meu primo estão muito próximos. – Sinto minhas bochechas corarem instantaneamente, pensando se ela sabe sobre o beijo. – Sei que vocês acabaram se tornando amigos, e eu te agradeço muito por isso Bella. – Ela da uma risadinha agora parecendo nervosa e meio chateada. – E eu queria te pedir um grande favor.


- Que seria? – Digo tentando incentivar ela acabar logo com o suspense.


- Você convencer o Edward a ir ao meu casamento. – Já to logo com a resposta negativa na ponta da língua. Edward nunca sai da mansão. – Por favor, não me diga não! Considere esse o meu presente. – Implora. – A presença dele é muito importante, ele é como se fosse meu irmão, mais do que isso. Não sei nem como posso lhe descrever como o Edward é importante em minha vida, mesmo que eu esteja sendo uma prima um tanto quanto distante ultimamente.


- Olha, ele não sai de casa... Você sabe disso. Você me falou isso! – Digo na defensiva.


- Eu sei! Mas você pode tentar?


- Posso. – Falo meio relutante.


- Bom! Obrigada! – Ela diz contente. Nunca tinha visto ela desse jeito, e sem querer solto uma risadinha. – Mas me mantenha informada, certo?


- Pode deixar.


- Muito obrigada Bella. – Ela diz com um suspiro. – Isso é muito importante para mim... Se você conseguir, vou ficar te devendo para o resto da minha vida.


- Não diga isso.


- Digo sim! Bom, tenho que desligar, até breve.


- Até. – Desligamos juntas e eu coloco o aparelho no gancho.


Puta merda, onde eu fui me meter? Tirar Edward de dentro da mansão? Acho que isso é impossível até mesmo para mim, que sou persistente.


(...)

Hoje é dia de dar um jeito nas coisas lá em cima. Ando pelo corredor querendo chega no primeiro quarto, para depois vir limpando os outros. O de Edward é o ultimo a ser limpo – mesmo que ele fique bem ao lado do primeiro quarto que eu limpo – isso se ele sair do quarto.


Passo de porta em porta meio distraída, até que vejo a porta do quarto dele aberta. Levanto uma sobrancelha, achando obviamente aquilo muito estranho. Dando um passo a frente, coloco minha cabeça para dentro do quarto e vejo que ele não está ali. Será que ele está de novo deitado lá fora? Caminho até a janela e vejo que não há ninguém na grama. Respiro fundo para não ficar nervosa.


Deixo meus utensílios de limpeza no corredor e começo a procurar nos outros quartos, o que é uma possibilidade grande. Os três primeiro quartos estão vazios, o que me deixa nervosa. Eu sabia que deveria ter vindo verificar se estava tudo bem, mesmo tarde! Agora se acontecer alguma coisa com ele a culpa vai ser... E finalmente encontro-o deitado em uma cama, com o quarto todo arejado e iluminado lendo um livro.


Solto um suspiro e dou uma risada aliviada, trazendo a atenção dele para mim. Edward não diz nada, apenas levanta uma sobrancelha querendo saber o que eu quero.


- Desculpe. – Digo ficando levemente vermelha. – Não queria interromper nada, eu só...


- Estava me procurado?


- Hm, na verdade sim.


- Eu estou bem. – Dou um passo a frente e verifico eu mesma. – Já parou de me tratar como criança? – Resmunga ficando levemente com as bochechas rosadas.


- Desculpe. – Digo novamente e me afasto. – Bom, que bom que você está bem. – Coço a cabeça lembrando do pedido de Alice. – E então, como foi seu dia ontem?


- Normal.


- E o que seria normal, exatamente? – Dou um sorrisinho sapeca para ele, querendo que ele fale um pouco mais que o necessário. Gosto de escutar sua voz.


- Significa que eu fiz as mesmas coisas de todos os dias. – Revira os olhos. – Acho que você quer chegar a algum ponto com essa enrolação toda.


- Eu quero mesmo.


- Você sempre quer. – Murmura baixinho. – O que é?


- Nada de mais na verdade. – Dou uma risadinha e vou andando até a porta. – Quer dizer, o que você acha de sair desse estado “normal”, e fazer algo diferente?


- Não sei.


- Bom, chegou o convite de casamento da sua prima Alice, e acho que se você fosse...


- Não! Definitivamente não. – Me interrompeu.


- Ta certo, mas você tem dois meses ainda para pensar no assunto! – Olho dentro de seus olhos. – E seria legal, sairmos um pouco da mansão.


- Você vai? – Pergunta relativamente curioso.


- Só se você for. – Respondo mexendo as sobrancelhas.


- Então você não vai...


- Edward, eu já disse, ainda faltam dois meses.


- Eu não vou, e a Alice já sabe disso Isabella.


- Certo. – Pego a maçaneta da porta já saindo do quarto.


- Você não vai desistir, certo? – Sua voz sai um pouco derrotada.


- Certo. – Respondo de novo soltando uma risada e bato a porta do quarto.


Hoje foi só o primeiro dia. Eu sei que não vai ser fácil convencê-lo a sair da mansão, mas de repente, eu senti aquela necessidade de vê-lo em outro ambiente, interagindo com outras pessoas. Acho que ele ainda não está pronto, ainda faltam coisas a serem colocadas nos lugares, mas nós temos dois meses! E talvez... É talvez, eu consiga.


(...)


A casa está toda em ordem. Porém, lá fora há uma chuva torrencial com um incrível potencial para tempestades. Esse tempo, junto com o frio que vem com ele, só me da uma vontade louca de me jogar na cama, embaixo das cobertas e assistir a um filme.


Mas infelizmente não posso. Meu quarto não tem um DVD, e o único modo de eu conseguir fazer isso, seria pegar o da mansão emprestado. O que na realidade, não é uma má ideia já Edward não o usa mesmo.


Coço a cabeça, decidindo se peço ou não o DVD emprestado. E meio constrangedor chegar ao quarto dele só para pedir isso. Olho para a vasilha de lasanha quase inteira que eu preparei no almoço, e decido que essa é a desculpa perfeita.


Subo as escadas de dois em dois, e chego rapidamente em seu quarto. A porta está fechada, mas não trancada, e por isso, eu enfio minha cabeça em um pequeno trecho para vê o que ele faz. Edward está sentado, com as mãos na cabeça e olha para um ponto fixo. Entro no quarto fazendo barulho, para que ele me note, mas isso não acontece.


Frustrada e um pouco envergonhada por interrompê-lo em um momento obviamente reflexivo, solto um pigarro. Nada. Solto outro pigarro. E novamente sou ignorada. Finalmente decido por chamar seu nome.


- Edward. – Ele vira a cabeça para mim, com um leve sorriso no canto dos lábios.


- Sim? – O sorriso continua ali.


- Você não me ouviu te chamando?

- Na realidade, eu só escutei você me chamar uma vez, o resto foi só um pigarro. – Abro a boca para dizer algo, mas Edward balança a cabeça. – E eu não respondo a pigarros. – Solto uma risadinha meio sem graça, e balanço a cabeça.


- Claro, claro, que cabeça a minha. – Bato a mão na testa, enquanto a balanço.


Edward solta uma leve risada, acanhada e bem baixa, mas que faz meu coração palpitar. Ele gira seu corpo sentado para que fique de frente para em pé.


- Então, o que você veio me falar? – Pergunta finalmente.


- Hm.. Nada demais na realidade. – Dou uma risada meio sem graça de pedir o que realmente quero. – Só vim dizer que tem lasanha lá em baixo, se você sentir fome. – Edward assenti e fica me olhando por um tempo.


- Tem mais. – Diz por fim.


- Tinha, mas sabe o que é, deixa pra lá.


- O que você vai pedir? Outro dia de folga? – Pergunta, com seu rosto já endurecendo.


- Não! – Dou uma risada e balanço a cabeça. – Bom, na realidade, eu ia pedir que você me emprestasse o DVD lá de baixo, porque... A, esquece, pode ser? – Balanço a cabeça. – E bobagem minha.


- Você quer o DVD emprestado? – Eu faço um leve movimento positivo com a cabeça. – Pra assistir filme? – Pergunta bobamente. – É claro que você pode pegar, eu nunca uso.


- Serio? – Encaro seus olhos, e abro um sorriso.


Edward continua a me encarar. Levanta as duas sobrancelhas como se me sugerisse algo. E então eu percebo. Eu usei toda a minha cara de pau para pedir o DVD de sua casa, e nem ao menos o convidei.


- Era só isso Isabella? – Ele pergunta por fim, e evita meu olhar.


- Não. – Respondo. – Se você quiser pode assistir comigo? É filme de mulher, vou logo dizendo, e é antigo também, mas é maravilhoso.


- E qual filme seria? – Pergunta ainda sem me olhar.


- Uma linda mulher. – Dou uma risada ao lembrar do filme. – É o meu filme favorito. A Julie Roberts está tão perfeita no papel de Vivian, e o jeito dela é tão empolgado e contagiante que..


- Então eu aceito. – Ele me interrompe.


- Jura? – Pergunto bobamente. – A, que bom então. – Começo a ir em direção a porta. – Vou fazer pipoca para nós, e te espero lá me baixo. Certo?


Edward olha para mim e passa a mão nos cabelos, seu rosto voltou a ter aquela expressão divertida, e seus olhos brilham.


- Certo.

Narrador: Edward.

Ela enlouqueceu, cheguei a essa conclusão. Isabella não pode estar raciocinando direito se acha que vai conseguir me tirar daqui. E tudo bem, eu sei que ela exerce uma influência muito grande sobre mim, mas até isso tem certo limite.


Sei muito bem que com esses meses que ela está na mansão, eu mudei – para melhor. Que comecei a tomar banhos diários, tentei dar um jeito na minha aparência e principalmente, parei de me machucar. Ela fez isso comigo. Ela também mexeu com os meus sentimentos e fez minha cabeça da um giro de 360 graus, me deixando muitas vezes confuso, contente e perdido. E de certa forma eu já aceitei tudo isso, mas me tirar de casa? Acho que ela está começando a achar que tem influência demais sobre mim.


Eu não vou sair de casa. Eu não quero sair de dentro de casa. E eu tenho medo de sair de dentro de casa. Essa situação faz aquele sentimento de medo tão conhecido retornar. Eu não quero encontrar nada de novo ou inesperado lá fora. Eu estava bem – no meu melhor estilo – bem aqui, sem mais mudanças do que Isabella em minha vida.


Respiro fundo e enfio meu rosto em um travesseiro. As coisas estavam melhores, porque ela tinha que vim com esse papo de sair da mansão?


- Isabella Swan, acho que você tem o prazer de me enlouquecer. – Resmungo para o travesseiro e sorriu.


Assim que acabo de falar, fico meio pensativo, mas mesmo assim, reparo quando ela enfia a cabeça na porta. Não digo nada, espero para vê o que ela vai falar, para saber se mais uma vez veio tentar me convencer a ir ao casamento de Alice.


Mas a nossa conversa que se segui, é muito diferente. Ela não está aqui por Alice, parece que nem se lembra mais que me pediu para sair da mansão, e em poucos minutos, nós combinamos em assistir um filme na sala de estar. Assistir um filme! Como se fossemos duas pessoas normais, sem maiores problemas. Como se eu não pudesse muitas fezes parecer um louco.


Fico nervoso. Passo as mãos desesperado pelos meus cabelos, e dou um leve puxão neles, para vê se estou mesmo acordado. Se isso tudo é real.


- Como pode, uma pessoa me confundir tanto e ao mesmo tempo me deixar com uma sensação tão boa? – Pergunto para mim mesmo quando pulo da cama e caminho para a porta.


Saiu do quarto e vou a passos lentos para a sala de estar. Tenho que me acalmar, tira esse sorriso idiota dos meus lábios, e voltar ao meu normal. Respiro fundo, e diminuo mais ainda meus passos, descendo as escadas.


Chego a sala de estar e ela não está, mas de longe, posso escutar o som das pipocas estourando. Isabella deixou o DVD em cima da mesa de centro, com uma ordem muda de que eu coloque o filme para nós. Faço isso, e quando me sento, ela chega com a nossa pipoca e refrigerantes.


Ela coloca a pipoca delicadamente em meu colo, e me entrega uma garrafa de 600 ml de coca-cola, sentando-se comportadamente ao meu lado. Suas costas estão eretas, e seu corpo não demonstra de modo algum conforto. Acomodo-me no sofá o máximo que dá com sua proximidade, fazendo meu corpo bater no seu.


- Você pode ficar confortável Isabella. – Digo, e não consigo evitar, novamente sinto aquele sorriso em meus lábios.


- Claro. – Ela se ajeita um pouco mais no sofá, e finalmente sorri. – Assim está bem melhor. – Ela me olha, e seu rosto levemente corado me da um sorriso. – Vamos, de play nisso.


Faço o que ela manda, e assistimos o filme em silêncio. A pipoca acaba logo no começo, e com isso, fico meio sem o que fazer com as mãos. Estar tão próximo assim dela tem um efeito extraordinário sob mim.


Uma hora de filme passa, e quando me viro para olhar Isabella, ela caiu no sono. Não posso deixar de pensar, que se o filme era seu preferido e ela pegou no sono assim tão rápido, imagina se fosse outro qualquer. Solto uma leve risada baixa, e cubro a boca, não querendo acorda-la.


Continuo a assisti o filme, e quando começa a passar o nome dos atores e tudo mais, os braços de Isabella circulam meu corpo, e sua cabeça está em cima do meu peito. Fico parado feito uma estatua, não sabendo o que fazer.

“O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço?” Minha mente grita.


Estico o braço e pego o controle da TV e desligo. Está tudo em silêncio, e a não ser pelo breve barulho da respiração de Isabella, nada mais pode atrapalhar meus pensamentos.


Tenho que arrumar um jeito de tira-la de cima de mim. Mas acorda-la me parece muito embaraçoso e maldoso. Ela dorme tão tranquilamente.


Encaro sua feições delicadas, seus lábios carnudos, seus olhos fechados. E então decido que não vou afasta-la, vou deixar que ela durma sobre meu corpo, e me abrace. Só por essa noite, não vou fugir dela, vou deixar tudo como está.


Pego seu corpo delicadamente e o conduzo para meu colo, tentando deixa-la mais confortável. Seu corpo sem defesas, aceita o ato de bom agrado. Esticando meu corpo bem pouco para que ela não possa acordar, pega uma manta que tem por perto e cubro seu corpo pequeno.


Seus lábios dão um pequeno sorriso quando sentem a manta cobri-lhe o corpo. Dou um sorriso para o nada, satisfeito pela minha atitude. Encaro novamente seu rosto, e em um impulso toco seus lábios rosados com o dedo, traçando seu desenho. Ela franze o nariz e eu retiro meus dedos rapidamente dali. Fico olhando para vê se ela dorme ainda, e quando vejo que está em um sono profundo, vou abaixando minha cabeça lentamente, até que meu corpo esteja curvado e meu rosto próximo ao seu. Aquela proximidade só me faz lembrar do nosso beijo. Do quanto eu o quero outra vez.


Fecho os olhos, e pressione de leve meus lábios em seus lábios adormecidos. Isabella não acorda, o que ao mesmo tempo é bom e ruim. Queria poder olhar dentro de seus olhos, enquanto beijava sua boca. Mas isso seria bem embaraçoso.


Afasto minha cabeça e corpo, a tempo de vê-la cumprimento os lábios e os lambendo. Dou um sorriso realmente contente, e fecho os olhos, certo de que teria a melhor noite de sono da minha vida, e que se eu sonhar com algo, só poderá ser com os lábios dela, a noite fria, e o meu segredo, o de que nos beijamos mais uma vez, mas só eu sei.




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Notas finais do capítulo

Bom, primeiramente, quero desejar feliz ano novo de novo, espero que todos tenham curtido bastante.
O capítulo saiu bem mais rápido né? Eu sei. Mas é porque eu vou viajar, e então corri para vocês não ficarem sem. Então assim, se eu demorar um pouco a postar, não fiquem chateados, e porque eu viajei. Também vou curti um pouco minhas férias né!!!
Bom, o que acharam do capítulo? Vi que teve gente que não gostou do anterior (é, eu leio todos os reviews, mesmo que não responda a vocês) e eu fiquei meio chateada, mas entendo, porque cada um tem o direito de opinar e criticar. Então deixa eu esclarecer uma coisa, desde o começo da fic, eu sempre falo da Alice e do seu relacionamento, porque, ela é importante, e assim, a fic não fica massante. Não estou fugindo do foco principal, que é a recuperação do Edward, mas eu também não vou correr com isso, porque esse tipo de situação não é assim. Sinto muito se a fic realmente não é algo que se esperava, mas eu tenho toda uma estória, acontecimentos prontos na minha cabeça, e é isso que eu vou colocar. Eu não coloco personagens na estória atoa, todos eles tem um proposito, bom ou ruim.
Agora, falando desse capítulo, eu até que gostei dele, rs. Ficou meio fofinho. O que vocês acharam??
Até o próximo e recomendem a fic gente, e deixem seus review!!!
Beijão.