Fênix Parte I: Exílio escrita por Imogen


Capítulo 3
Capítulo III • Intenções Ocultas




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Cap. III • Intenções Ocultas

Um rapaz de cabelos negros e bagunçados permanecia perdido em pensamentos, enquanto seus amigos tentavam reconstituir a antiga sala da residência dos Wesley. Para Harry, aquele ataque foi mais do que um aviso, era a prova definitiva de que a guerra havia começado, e que Voldemort não mediria esforços para vê-lo morto. Não temia por sua vida, mas temia por seus amigos. Sentia-se culpado por envolver as pessoas que gostava naquela situação. Fechou os olhos e respirou profundo como se sentisse o peso do mundo em suas costas.

- Ele não quer matar apenas a você. Ele pretende matar qualquer um que se oponha aos planos dele e todos nós já fizemos isso de alguma maneira. Você não deve pensar que nos colocou em perigo – disse Luna como se acabasse de ler os pensamentos do garoto.

- Você está lendo minha mente, Luna? – perguntou Harry intrigado.

- Não. Apenas imaginei que este tipo de idéia boba passasse pela sua cabeça – falou a menina, sorrindo para o amigo.

Luna era uma presença confortante naquele momento. Era uma criatura especial; Sua voz mansa e seu jeito sonhador faziam com que o ambiente se tornasse mais leve. Além disso, a aparência de menina distraída, escondia na verdade, uma amiga fiel e companheira, qualidades que Harry já tinha percebido a algum tempo e que agora começavam a ser admiradas por um certo rapaz ruivo.

Harry tinha surpreendido diversas trocas de olhares entre Rony e Luna nos últimos tempos, sabia que era uma questão de tempo para que se acertassem e começassem a namorar. Rony não tinha muito jeito com garotas, tinha tido um namorinho com Hermione durante o sexto ano, mas não foi nada sério, ambos perceberam que entre eles só existia uma grande amizade.

Mas com Luna, era diferente. Era clara a atração que ele sentia pela garota. Mal conseguiu disfarçar sua alegria quando o senhor Lovegood, temendo ser perseguido por comensais, deixou a filha aos cuidados da família Wesley e dos demais membros da Ordem de Fênix.

Era prioridade para os membros da Ordem de Fênix proteger aqueles jovens que estavam destinados a decidir a maior guerra que o mundo mágico já tinha visto e por isso optaram por um plano ousado e trabalhoso. Nenhum dos garotos sabia detalhes da operação, tudo o que sabiam é que precisavam se manter fora do alcance dos comensais que agora, pareciam estar em toda parte. E o único alívio residia na certeza de que permaneceriam todos juntos durante este exílio.

Longe dali, Draco Malfoy despertava na enfermaria do hospital St. Mungus. Ainda estava meio tonto, mas sentiu-se melhor após tomar uma poção de gosto amargo. A voz de Bellatrix ainda ecoava na sua cabeça, e ele só conseguia pensar que precisava descobrir se o que ela tinha dito sobre o seu pai era verdade. Sabia que Voldemort se vingaria de Lúcio, mas será que chegaria a matá-lo? È claro que seria capaz, mas ele ainda não queria acreditar. Por outro lado, Bellatrix não falaria aquelas palavras em vão. Sim, seu pai estava morto.

Como tinha sido ferido apenas de raspão, após ser examinado pelos medi-bruxos, Draco foi liberado apenas com um curativo no ombro e recomendações de repouso. - Tive sorte… Sorte não, tive a doida da Granger que se arriscou pra me salvar. Por que será que ela fez isso? – perguntava-se confuso. Ela, novamente ela.

Já a situação do Senhor Wesley não era tão boa; Arthur ainda não havia acordado e para a tristeza de Molly, ele deveria permanecer internado até segunda ordem. Então, ficou decidido que a senhora Wesley permaneceria no hospital, enquanto Lupin acompanharia Draco até a Toca e ajudaria Tonks a levá-los até o tal esconderijo. Depois dos últimos acontecimentos, deveriam partir o mais rápido possível.

Na Toca, todos já estavam prontos para partir e aguardavam ansiosos por notícias de Draco e do Senhor Wesley. Harry tentava consolar Gina, que chorava pensando no pai ferido daquela maneira. Rony também estava preocupado com o senhor Wesley e decidido a não deixar a Toca enquanto não tivesse certeza que seus pais ficariam bem, com ausência dos irmãos mais velhos, ele era o responsável e não podia permitir que Molly e Arthur ficassem desprotegidos.

Ninguém conseguiu dormir ou descansar, qualquer barulho era motivo para que se alarmassem. O tempo parecia não passar, cada minuto parecia uma hora. A sala já não tinha nem um sinal do ataque, mas as cenas da noite anterior permaneciam vivas na cabeça de todos, mas principalmente na de Harry, que estava visivelmente abatido.

Após algumas horas de espera, Lupin e Draco retornavam a Toca, trazendo notícias sobre o senhor Wesley. Lupin, que foi imediatamente cercado pelos garotos, e no meio de uma verdadeira sabatina, tentou explicar que Arthur deveria permanecer internado por alguns dias para que pudesse se recuperar totalmente e que a senhora Wesley permaneceria com ele.


Rony e Gina estavam realmente preocupados e não paravam de fazer perguntas a Lupin, não queriam deixar o pai naquele estado. Gina estava muito abalada com toda a situação e nem por um segundo soltava a mão de Harry, como se ele pudesse lhe transmitir forças.

Ainda não podiam acreditar que a Toca havia sido invadida por comensais. Eles conseguiram driblar todos os feitiços de proteção sem despertar a atenção de ninguém da casa, se não fosse por um visitante improvável, teria acontecido um massacre. A guerra realmente havia começado e as forças de Voldemort começavam a se mover e mais do que nunca, precisavam ser detidas de alguma forma.

Percebendo que Draco ainda estava meio tonto e que aquela confusão em torno dele e de Lupin não lhe faria bem, Hermione resolveu tirá-lo dali. Com um simples gesto, segurou o rapaz pela mão e o guiou até o quarto. Ele mais uma vez foi surpreendido pela atitude da garota. Não acreditava que a mesma Hermione Granger que ele maltratou durante anos estava ali se preocupando com ele. Tudo era tão estranho para ele, que decidiu não questionar e apenas se deixou levar.

- Pronto! Aqui você poderá descansar – falou a menina enquanto pegava um cobertor.

- Por que você está fazendo isso? – ele quis saber.

- Isso… Ajudar você? Aqui nós ajudamos uns aos outros e somos amigos – respondeu tranquilamente. – Além disso, você nos ajudou com os comensais e salvou minha vida… Só estou devolvendo o favor.

- Devo considerar uma troca, então? – questionou.

- Podemos dizer que sim. Agora tente descansar – disse a menina já se retirando.

Mas Draco não queria descansar, tinha que descobrir o que tinha acontecido com sua família… Mas no momento não tinha forças e nem uma fonte segura a quem recorrer. Deitou-se na cama se sentindo completamente derrotado, não havia saída, era preciso esperar.

Não conseguiu dormir, sua mente agora se voltava completamente para Narcisa Malfoy. Ela certamente seria perseguida pelos comensais; Precisava saber onde a mãe estava e protegê-la. Há momentos em que as preocupações se estabelecem como conflitos internos, inspirando rebeldia e agressividade. Noutras ocasiões, se apresentam como desconforto e uma inexplicável necessidade de abandonar tudo – Draco Malfoy oscilava entre as duas hipóteses.

Hermione se sentia bem em ajudar os outros; Certa vez tinham lhe dito que o bem não tem preço, pois que, à semelhança do amor, igualmente não tem limite e isso fazia sentido para alguém como ela; Procurava ajudar a todos com naturalidade, como se fizesse um favor a si mesma. E se sentia especialmente feliz em poder ajudar Draco naquele momento. – Não quero ficar devendo nada aquele garoto metido – justificava em pensamento para si mesma. Descia as escadas quando ouviu a voz de Tonks.

- Devemos partir dentro de uma hora. Já está tudo planejado. Vocês não precisam se preocupar com nada, o Ministério já enviou aurores para cuidar da segurança de Arthur e Molly, eles ficarão a salvo – falava tranqüilizando Rony e Gina.

- Agora, onde está o senhor Malfoy? Temo trazer más notícias para ele. – disse com uma expressão séria

- Ele está lá em cima. O que houve? - perguntou Hermione aflita.

- Recebi informações no Mistério que o corpo de Lúcio Malfoy foi encontrado em um lago, na noite passada. Tudo indica que ele foi torturado e morto por comensais, talvez pelo próprio Voldemort.

O silêncio tomou conta da sala por alguns segundos, Lúcio era um homem cruel, comensal declarado que tinha cometido vários crimes, embora não existissem provas suficientes para incriminá-lo, mas ninguém ousava falar nada, até que Hermione quebrou o silêncio:

- Venha Tonks, eu te levo até ele.

Tonks assentiu com a cabeça e seguiu a garota.

Ao chegar ao quarto, Hermione cedeu passagem para Tonks e já estava se retirando, quando ouviu a voz de Malfoy:

- Pode ficar Granger, estou certo de que você já foi informada sobre a morte do meu pai. – falou secamente.

Hermione parou atônita com o que ouviu. Ele não poderia saber, não tinha como saber, mas certamente já esperava que acontecesse; A crueldade era a principal característica dos comensais da morte, e ele devia imaginar que Bellatrix Lestrange não mentiu quando falou da morte de Lúcio. Podia sentir a tristeza e a dor na voz do sonserino e de alguma forma sentia-se mal por ele.

- O corpo do seu pai foi encontrado por um grupo de aurores do Ministério da Magia as margens de um lago próximo a Londres e ao que tudo indica, ele foi torturado e morto pelos próprios comensais. – falou Tonks evitando entrar em mais detalhes.

- Eles se vingaram. – falou o rapaz amargurado. Ele já sabia que isso aconteceria; Voldemort jamais permitiria que Lúcio continuasse vivo após o fracasso do plano, mas a confirmação sempre era um momento difícil. Lúcio estava morto e agora Narcisa era tudo o que lhe restava.

-Nós sentimos muito – falou Hermione sem encará-lo e não pode ver um sorriso irônico se formar nos lábios do garoto.

- Estou certo de que você lamenta profundamente a morte de um comensal, Granger. Não quero piedade de ninguém, muito menos de uma sangue-ruim! – disse com um tom de desprezo, deixando Hermione profundamente decepcionada.

- Ela só está tentando te dar algum apoio – repreendeu Tonks – Nós compreendemos que esteja sofrendo, mas isso não lhe dá o direito de insultar os outros. Vou deixá-lo por alguns minutos, partiremos dentro de meia hora…Venha Hermione.

Mas a garota não se moveu. Draco estava sentado com a cabeça baixa tentando digerir tudo o que tinha acontecido, quando sentiu o toque suave de Hermione em seu ombro; Ele a repeliu rispidamente, mas ela não se intimidou.

De alguma forma ela sabia que Draco não devia ficar sozinho naquele momento e sem saber por que sentiu que precisava fazer alguma coisa e avançou em direção ao garoto, sentando-se na cama ao lado dele. Permaneceram em silêncio durante algum tempo. Até que Draco levantou a cabeça para olhar nos da garota, ele não estava acreditando que mesmo depois de tê-la insultado ela continuava ali. Sentiu-se mal, baixou a cabeça novamente e neste momento, para total surpresa da menina, ele começou a desabafar:

- Eu nunca tive chance de conversar com ele, de falar o que eu pensava, de saber o que ele realmente pensava… Ele só se preocupava com poder, com status, sempre queria mais, sempre exigia que eu fosse mais; Conseguir cada vez mais poder era tudo o que lhe importava. Nem sei se algum dia ele chegou a me amar…

Draco não sabia por que estava falando aquelas coisas e muito menos porque estava falando para ela.

- O poder não é algo bom e nem mal; Pode se tornar um instrumento de vida ou uma arma de morte. Seu pai não conseguiu entender isso. Ele fez muitas coisas erradas, mas você era filho dele e é claro que ele te amava. – tentou consolar.

- Não estou tão certo disso… Eu quis que ele sentisse orgulho de mim e agora, olha só pra mim, estou sozinho, marcado como um comensal, como um criminoso!

- Você não está mais sozinho, agora você faz parte da Ordem de Fênix e pode recomeçar.

- Isso é impossível. Eu estou marcado pra sempre. Eles não vão descansar até acabar com todos de minha família, eu sei disso.

-Você não pode perder a fé. Todos nós vamos lutar restaurar a paz no mundo mágico e quando não houver mais a ameaça de Voldemort e dos comensais, você poderá reconstruir sua vida.

- Queria poder acreditar nisso, mas as coisas não são tão simples!

Era uma situação realmente nova para os dois; Quando alguém poderia imaginar que o arrogante e preconceituoso Draco Malfoy seria consolado por Hermione Granger, a sangue-ruim sabe-tudo a quem ele sempre perseguiu em Hogwarts?

A verdade é que ele não conseguia se lembrar da última vez em que alguém ficou ao seu lado e o apoiou verdadeiramente, sem querer nada em troca. E vê-la ali, falando com tanta doçura, fez com que ele se sentisse diferente. Sentia-se comovido e ao mesmo tempo incomodado com a atitude da garota. Por que ela estaria fazendo isso? Embora não conseguisse afastar a pergunta de sua mente, a resposta já não era tão relevante. A presença dela trazia alívio de alguma maneira e naquele instante, ele apenas desejava silenciosamente que ela continuasse ali, com ele.

Para Hermione, perder o pai de forma tão trágica era um castigo severo demais mesmo para alguém como Draco Malfoy, além disso, não podia esquecer que ele salvou a ela e a seus amigos na noite passada. Embora ninguém tivesse admitido, se não fosse pela idéia dele de atrair a atenção dos comensais, enquanto os outros atacavam em conjunto, nenhum deles estaria vivo.

De alguma maneira ela compreendia o que ele estava sentindo e por isso permaneceu ali ao lado dele em silêncio. Ficaram assim por algum tempo até que Gina os chamou; Era hora de partir.

Viajariam através do pó-de-flu e Tonks seria a responsável durante a primeira fase da viagem, durante duas semanas somente ela saberia o verdadeiro destino do grupo e somente ela teria acesso aos outros membros da Ordem. Seria o único elo entre o grupo com e o mundo mágico.


Harry ainda estava apreensivo com a idéia, mas tinha prometido acatar a decisão da Ordem, e não podia voltar atrás em sua palavra. Luna parecia alheia a toda a situação, perdida em pensamentos, cantarolava baixinho e foi a única que não demonstrou surpresa ao ver Hermione descendo as escadas calmamente ao lado de Draco Malfoy.

Rony fez menção de falar alguma coisa ao ver a cena, mas foi impedido pela irmã. Gina não gostava de Malfoy, mas naquele momento o via somente como um garoto que tinha acabado de perder seu pai, e talvez por estar fragilizada pelo ataque e pelo que aconteceu com seu próprio pai, sentia pena e apoiava a atitude de Hermione de ficar ao lado dele naquele momento e impediu que Rony fizesse qualquer crítica.

Agora todos se encontravam reunidos na sala. Já não havia tempo, deviam partir imediatamente. Tonks lançou um último olhar cúmplice para Lupin e iniciou o embarque dos garotos. Não poderia haver falhas; um a um, todos embarcaram em direção ao misterioso esconderijo.

Era uma casa grande de madeira pintada de branco, emoldurada por uma imensa varanda e embora não fosse uma construção recente, tinha muita personalidade. A sala era bastante aconchegante, tinha uma decoração simples, mas alegre, com grandes almofadas coloridas espalhadas pelo chão. Nas paredes, alguns quadros que reproduziam temas marítimos, e no centro, via-se uma escada que levava ao segundo piso de onde se tinha uma visão privilegiada de uma belíssima praia.

Eram pelo menos oito dormitórios, suficiente para que cada um fosse acomodado em seu próprio quarto, falto que Draco agradeceu mentalmente. Não chegava a ser uma mansão, mas tinha conforto. As meninas ficaram com os quartos maiores, que tinham vista pro mar – cortesia de Harry e Rony, que obviamente não tinham consultado Malfoy.

Rony estava encantado, parecia uma criança que ganhou um enorme presente de natal. Ele adorava o mar e poucas vezes tinha tido oportunidade de passar uns dias na praia, por um momento se esqueceu do verdadeiro motivo de estarem ali e se sentiu como se estivesse simplesmente em férias com seus amigos.

- Tudo bem, pessoal! Essa será nossa nova casa, – anunciou Tonks alegremente.

- È maravilhosa! – animou-se Gina.

- Que bom que gostaram! Os quartos de vocês ficam no andar de cima, cada um pode escolher o seu! – explicou.

- Mas e você? – perguntou Hermione curiosa.

- Meu quarto fica no andar de baixo, no final daquele corredor. – explicou Tonks indicando um corredor a direita da escada.

A empolgação tomava conta das garotas que observavam cada detalhe. Draco era o único que permanecia indiferente a beleza do lugar. Na verdade ele queria ir pra longe de toda aquela excitação e descansar, desejava dormir e parar de pensar em seus problemas por algum tempo. Subiu as escadas e se acomodou no quarto indicado por Tonks.

Luna e Rony não resistiram, mal guardaram suas bagagens e já foram direto para a beira do mar; Brincavam como crianças, correndo na areia molhada e jogando água um no outro, observados de longe por Harry e Gina, que conversavam empolgados.

- Não consigo acreditar que vamos passar duas semanas na praia. É perfeito – dizia Gina.

- Eu sempre quis fazer isso, mas nunca tive oportunidade… – comentava Harry, lembrando com um certo ressentimento que seus tios jamais permitiram que ele os acompanhasse nas viagens de férias.

O local parecia estratégico, próximo o suficiente da cidade para que não faltasse nada e distante o suficiente para que a presença do grupo passasse despercebida pelos moradores da região. Não havia vizinhos próximos, era uma cidade de veraneio e eles haviam chegado no final da temporada, quando já não haviam visitantes.

Na casa, Tonks fazia questão de verificar todas as proteções do lugar, sob o atento olhar de Hermione, que como sempre, ansiava por respostas:

- Que lugar é este?– quis saber a garota.

- Você não gostou? – tentou desconversar.

- Gostei… É lindo. Mas onde estamos exatamente?

- Não vou conseguir escapar de você, não é? Ok. Estamos na praia de La Madeleine, em Noirmoutier-En-i´lle, na França, e ficaremos nesta linda casa por duas semanas.

- Como encontrou este lugar?

- Eu costumava passar parte do verão aqui quando era adolescente, esse é realmente um lugar maravilhoso, e eu espero que vocês sejam tão feliz quanto eu fui aqui, então profitez chers! – falou sorrindo para a amiga.

- Aproveitar? Mas existe uma guerra lá fora e temos muito trabalho, precisamos localizar as hocruxes… – começou Hermione com um tom nervoso, mas antes que pudesse concluir seu pensamento foi interrompida por Tonks, que agora tinha uma expressão séria.

- Mione, este é um momento muito delicado para todos nós; Harry está carregando um fardo muito pesado e creio que manter este clima de tensão não seja a melhor escolha. Todos aqui correm perigo e precisam ficar escondidos, mas não quero que se sintam prisioneiros em cativeiro, por isso escolhi este lugar, além disso, se quer continuar trabalhando pela Ordem, você pode continuar com suas pesquisas, ou…

- Ou?

- Bom, você pode conseguir novas informações com um certo alguém…

- Isso é impossível… Ele me odeia! – respondeu de imediato.

- Mas hoje cedo ele falou com você, não foi? – instigou Tonks, deixando a menina desconcertada.

- Olha, Mi, seria ótimo se Draco se abrisse com um de nós e você me parece a pessoa mais indicada para conseguir essa façanha. Pense nisso!- e saiu em direção à cozinha.

Hermione ficou algum tempo pensando nas palavras de Tonks. No fundo, ela tinha razão, se tinham que ficar ali por tanto tempo era justo que se distraíssem um pouco. Desta vez não bancaria a chata e controladora, deixaria que todos aproveitassem como quisessem aqueles dias, mas ela não relaxaria em suas pesquisas.

Quanto a Malfoy, sabia que as coisas não seriam tão simples, sempre foram inimigos e ela certamente seria a última pessoa da face da terra a quem ele confiaria um segredo, mas pelo bem de todos, estava decidida a tentar.

Subiu as escadas e se deparou com um corredor meio estranho. A direita da escada havia quatro portas de madeira de cor escura, posicionadas uma de frente para a outra; Na frente da escada um pequeno terraço que se integrava com a varanda e do lado esquerdo três portas de madeira escura.

Como foi a última a subir, Hermione perdeu o direito de escolha e agora iria ficar com o dormitório que estivesse vago, mas não se importava. Caminhou pelo corredor, olhando para o interior de cada um dos quartos e não era nada difícil identificar seus donos. O quarto de Harry tinha um malão simples e a gaiola de Edwiges; O de Rony tinha revistas de quadribol espalhadas sobre a cama; O de Gina tinha tantas malas que mal se via a cama; o de Luna tinha apenas uma sacola de cores berrantes e um par de tênis pendurados na maçaneta da porta…Sobraram apenas os quartos do lado esquerdo e um deles tinha a porta fechada, sinal que estava ocupado.

Antes de entrar em seu quarto, Hermione percebeu que a última porta do corredor, nada mais era do que o único banheiro da casa. “Será que isso vai ser um problema?” – pensou divertida, enquanto colocava sua bagagem em seu novo quarto.

Organizou metodicamente todas as suas coisas no armário, manteve somente sua preciosa biblioteca na mesinha de cabeceira. Era um quarto amplo, com uma enorme cama de casal, um guarda-roupa e uma mesinha; Tinhas as paredes forradas por um papel floral em tons de amarelo e uma porta de correr, oculta por cortinas, que levava a varanda, revelando uma visão completa da praia.

Quando terminou de organizar tudo, decidiu aproveitar um pouco da vista e foi até a varanda, onde ficou algum observando os amigos brincando na praia, enquanto pensava no que faria durante todo este tempo longe de casa.

Estava tão distraída que nem percebeu o tempo passar… Decidiu entrar quando o sol ficou mais forte, e começou a queimar sua pele. Já passava de uma hora da tarde, então pensou que logo os amigos retornariam famintos e decidiu ajudar Tonks com o almoço.

Tonks era uma excelente auror, tinha talentos extraordinários, porém dotes domésticos certamente estavam fora deste pacote. Ela tentava seguir uma receita do caderno de sua mãe Andrômeda, mas parecia não estar tendo sucesso. A cozinha estava de ponta cabeça, panelas fervendo, farinha e ovos pelo chão… Se Hermione não chega a tempo, o local teria sido teria sido incendiado.

- O que você está fazendo? - perguntou Hermione aflita enquanto jogava uma jarra de água sobre um pano de prato em chamas.
- Oh! Eu…eu estava tentando fazer uma receita típica desta região, um ensopado a base de frutos do mar, nada demais… – respondeu Tonks.

- Nada demais, sei! E você alguma vez já tentou cozinhar sem usar magia?- quis saber a castanha.

- Bem…não! Mas você não precisa se preocupar! Tenho tudo sob controle! – assegurou.

- Ok. Mas só por precaução vou te ajudar hoje – disse a castanha sorrindo.

Após limparem a bagunça feita, conseguiram fazer a tal receita, Hermione não era uma eximia cozinheira, mas sabia fazer o básico. Aos poucos as duas foram se entendendo com a receita e resultado foi satisfatório. Era um prato simples, porém saboroso, claro que não se comparava com as delicias preparadas pela Senhora Wesley, mas não houve reclamações.

Draco não desceu para o almoço, nem para o lanche da tarde e nem para o jantar. Embora todos percebessem a ausência, ninguém falou nada, permaneceram concentrados nas idéias de Tonks para um piquenique no lado leste praia na manhã seguinte, onde ela prometia que eles teriam uma grande surpresa, mas Hermione estava distante.

Na verdade a auror, planejava afastar os garotos da casa durante o dia para que pudesse executar com tranqüilidade um complicado feitiço de proteção que ocultaria a casa em definitivo da visão de qualquer pessoa não autorizada, exatamente como acontecia no Largo Grimaud.
Depois do jantar, todos conversavam alegremente, sentados sobre as almofadas coloridas da sala. Com tantos sorrisos, ninguém diria que aquele era um grupo de refugiados. “Parece que o plano de Tonks está saindo melhor do que a encomenda” – pensava Hermione, observando os amigos rirem de uma piada contada por Rony. Ficaram ali por algumas horas, até que a excitação cedeu lugar ao cansaço.

Quando Tonks decidiu se recolher, ela também se levantou, mas não seguiu para o quarto e sim para cozinha. Preparou uma bandeja simples com um copo de leite, algumas torradas e um pedaço de torta e subiu em direção ao quarto de Draco. Entrou sem fazer barulho, não sabia se o garoto estaria dormindo.

Draco estava sentado na janela, mirando o céu estrelado e se surpreendeu ao ver Hermione parada em seu quarto segurando uma bandeja nas mãos, ele a encarou por alguns segundos até que a menina quebrou o silêncio:

- Trouxe um lanche pra você. Vi que não comeu nada o dia inteiro – falou com voz suave.

Não houve resposta. Então ela continuou:

- Vou deixar aqui, caso você queira. – falou enquanto colocava cuidadosamente a bandeja em cima de uma mesinha. Percebeu que o quarto permanecia organizado, fato que lhe surpreendeu, visto que, embora estivessem ali há menos de um dia, os quartos que pertenciam a Harry e Rony já pareciam uma zona de guerra, tamanha a bagunça. Decepcionada com a falta de reação do garoto, apos alguns segundos, saiu em silêncio.

Draco havia passado o dia inteiro trancado no quarto, ainda não tinha vontade de ver ninguém e por isso não desceu para nenhuma refeição. Ficou a maior parte do tempo pensando em sua vida, lembrava de sua mãe, pensava em como ela estaria e se já estaria sabendo o que havia acontecido com Lúcio.

Sabia, o mundo que os Malfoys tanto prezavam, não existia mais. Já não eram poderosos ou influentes – sempre caçadores, agora eram caça. Poderiam até conservar seus bens materiais, já que Voldemort não se interessava por dinheiro, mas seu nome e sua dignidade estavam na lama e nada poderia feri-los mais do que isso.

Sentou-se na janela para observar o sol se pôr e permaneceu ali observando pouco a pouco as estrelas surgirem no céu, até que não conseguiu mais contá-las. Vez ou outra ouvia risadas vindas do andar de baixo, mas não sentia vontade de descer. Como eles podem continuar sendo tão felizes? – perguntava a si mesmo sem obter resposta.

E enquanto remoia pensamentos sombrios, vez por outra se flagrava pensando nas palavras de Hermione Granger – Seria realmente possível que aqueles bobalhões da Ordem de Fênix derrotassem o Lord das Trevas? Será que ele poderia recomeçar, como ela havia dito? Quem sabe o poder de Lúcio pudesse agora se tornar um instrumento de vida para ele e sua mãe…

Já não tinha noção das horas, sabia que já devia ser tarde, mas não tinha sono, agora imaginava o que aconteceria se a Ordem fracassasse… Por quanto tempo ele conseguiria se esconder dos comensais? Como seria se tivesse que viver escondido para sempre? A vida não estava sendo justa com ele, mas de algum modo sentia nem tudo estava perdido. Enquanto tivesse vida lutaria para recuperar tudo o que havia perdido por causa do Lord das Trevas, teria sua vingança, nem que para isso fosse preciso se unir ao Potter e seus amigos – prometia a si mesmo. Porém, neste momento, sentiu a presença de alguém o observando.

Virou o rosto devagar sem sair da janela e deu de cara com Hermione Granger parada dentro de seu quarto, segurando uma bandeja nas mãos. Piscou os olhos rapidamente imaginando se aquilo era real.

“O que ela ta fazendo aqui? Trouxe uma bandeja com leite e torradas? – nem minha mãe faz mais isso pra mim! Ela realmente notou que eu não jantei?”. Pensamentos voavam na mente do rapaz em tamanha velocidade, que ele não pode dizer nada.

Permaneceu encarando a garota por algum tempo, até que esta, dando-se por vencida, falou: – “Trouxe um lanche pra você. Vi que não comeu nada o dia inteiro”. “Então ela realmente notou”, pensou deixando escapar um leve sorriso, que a castanha não pode ver porque neste momento, encontrava-se de costas para o rapaz e colocava delicadamente a bandeja sobre uma mesa, dizendo: “Vou deixar aqui, caso você queira” e se retirando em seguida.

Ao ouvir o som da porta fechando, Draco finalmente entendeu que aquilo era real. Desceu da janela e caminhou até a mesinha que ficava próxima a sua cama, e pode sentir o cheiro da fatia de bolo, só então percebeu o quanto estava com fome. Devorou tudo em segundos e se sentiu infinitamente melhor. “Tenho que me lembrar de agradecer à Granger, eu realmente estava precisando comer alguma coisa” – pensou e repreendeu-se imediatamente: “ Mas que porcaria é essa? Eu to pensando em agradecer a uma sangue-ruim nojenta e metida a sabe-tudo?”. O mundo realmente parecia fora de seu eixo.

Por que ela tá agindo assim? Num dia a garota me odeia, no outro ela se preocupa comigo e me trás um lanche? O que ela está tentando fazer? – questionava. Qualquer garota se sentiria feliz e até honrada em servir Draco Malfoy, mas ela não. Draco tinha consciência de que Hermione não se parecia em nada com as outras garotas que o idolatravam, e que para ele eram normais. Hermione Granger não se preocupava com sua imagem, nem com o que pensavam dela; Era uma aberração, ele mesmo havia repetido isso durante anos, e não se daria ao trabalho de tentar agradá-lo sem querer nada em troca.

“Aquela garota está tramando alguma coisa” – pensava. “Ela é inteligente, e se está tão preocupada comigo, ela deve pensar que eu tenho algo que ela quer, mas o quê?”… Ele estava certo de que poderia seduzi-la em cinco minutos se quisesse e fazê-la contar tudo o que sabia sobre a Ordem ou sobre o Harry Potter, mas o que ele faria com estas informações? Agora sua vida dependia do sucesso dos bobalhões… E naquela altura dos acontecimentos, talvez fosse interessante deixar Hermione continuar com seu plano, afinal, seja qual fosse, Draco Malfoy sempre gostou de receber atenção.

—————Notas da Autora——————–
Este foi o terceiro capítulo, onde o exílio finalmente teve início; Espero que tenham gostado e continuem acompanhando as aventuras dessa turma. O capítulo IV – Areias de La Madeleine já está pronto e será postado em breve.


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Notas finais do capítulo

—————Notas da Autora——————–
Este foi o terceiro capítulo, onde o exílio finalmente teve início; Espero que tenham gostado e continuem acompanhando as aventuras dessa turma. O capítulo IV – Areias de La Madeleine já está pronto e será postado em breve.