Salto Alto, Batom Vermelho e Cigarros escrita por thaisadam


Capítulo 2
Capítulo 2




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Capítulo 2 - Cigarros.

Eu não sentia. Ou apenas supunha que eu não sentia. Eu via, ouvia e dormia. Eu pensava. Eu pensava em como aquele lugar era agradável. Eu apenas pensava assim. Pensar. Não sentir...
Milhares de muros de conforto, adormecendo a alma, abundância de sentimentos, nenhum específico, pois eu apenas pensava.
Mas eu não sentia, eu via. Nada, só pensava.
Eu era feliz, porque eu não sentia dor. E eu soube que era um sonho... Porque simplesmente isso não existe. Não existe felicidade por não sentir. Simplesmente porque é sentindo que se sabe o que é isso tudo. Por que o que mais queremos é sentir, independentemente do quê. E é sentindo essa droga que eu sei que minha vida é uma merda. Mas... Pode ser bem divertida às vezes...


  Eu senti minhas pestanas se moverem ao encontro das pálpebras, fazendo-as formigar. Os meus cílios compridos e espessos se tornaram visíveis conforme abri os olhos. Percebi a minha própria respiração, notando-a em uma forma de contagem, o espaço de tempo entre o espirar e o inspirar, em um tedioso passatempo de segundos. Meus olhos giraram tentando encontrar um foco, localizar algo que fizesse algum sentido, mas eu ainda não via com bastante nitidez sentindo ainda o reflexo que o sono causava na consciência.

  Envolvi minhas mãos na cabeça tentando afugentar o sono. Meus cabelos loiros escuros e desfiados incomodavam o início de minhas costas desnudas. O lençol barato e espesso de cor alva caiu ao chão assim que pus os meus pés para fora da cama de casal. Apesar do sono, eu me sentia bem como não me sentia a meses. Mas, claro... Isso não tinha nada a ver com sexo. - eu pensei e em seguida sorri abertamente. Aquele sorriso que eu só sabia como mostrar, os dentes certos e em conjunto com o ar de deboche que exalava de mim. Aquele sorrisinho irônico que irritava qualquer um que eu conheço.

  A minha nudez escancarada às vezes parecia ofender muitas pessoas que residiam ao meu redor. Não as culpava. Não inteiramente por não saberem ou não quererem entender a minha forma de me vestir. Soltei um suspiro de desgosto quando vi a multidão de papéis em cima, abaixo e dos lados da escrivaninha que estava á minha frente. Atolada de papéis, repletas de "eus" a fio, absolutamente absortos de arte estúpida. Palavras mentirosas. E a mentira estava dormindo e respirando na minha cama. E era uma delícia. - sorri escandalosamente depositando minhas unhas pintadas de vermelho sobre os lábios.
  Avistei sobre o criado mudo, próxima a cama, os cigarros. Acendi o cigarro com o isqueiro patético cor de rosa em forma de laço. Me aproximei da janela e assoprei a fumaça na brecha e sorri abertamente ao olhar para trás. Minha mentira havia acordado. E o que eu deveria lhe dizer esta manhã? Outra filosofia barata até que eu procurasse e encontrasse outra pessoa que me servisse de inspiração até que tudo tivesse se ido e não restasse nada a me oferecer? Eu deveria dizer-lhe que eu simplesmente ignorava qualquer sinal ou menção de quando o meu traidor fosse me deixar fraquejar? Dizer que eu simplesmente não era capaz de nada, nada? Que era só uma mentira "honesta"?

 Os seus olhos castanhos me encaravam com um olhar de desaprovação. Eu sorri irônica. O encarei ainda com o sorriso aberto e depois voltei a janela para fitar as centenas de casas que tinham por lá. Traguei o cigarro mais uma vez e soltando a fumaça para cima, fechando os olhos e esperando a sensação de satisfação que o cigarro me proporcionava. Impulsionei minha cabeça para trás. Eu nem ao menos me esquivei, ou me assustei ao sentir suas mãos em meus ombros. As suas mãos ásperas e habilidosas. E foram essas mãos que se fincaram em meus cabelos, me fazendo perder o foco que meu olhar se dirigia um pouco abaixo, para ver a sua nudez. Arremessou sua boca na minha, me beijando, demarcando e impondo que apenas ele poderia me beijar daquele jeito, com sua língua na minha eu quase esqueci da parte de tudo que ele estava incluído. Eu só o queria, de novo e de novo. Ele me fazia esquecer, era por isso que ele tinha que ir embora.

- Você precisa virar a esquina para alcançar a outra rua. Um dia de cada vez, baby. - sorri e lhe acariciei do jeito que ele gostava, fazendo-o suspirar.

- Você é uma garota má. - ele disse sobre os meus lábios que ele havia aproximado mais uma vez.

- Eu sou má, você sabe... Eu posso ser muito má às vezes. Eu preciso vestir meus saltos altos e preciso por meu batom vermelho, baby. Meu fodido cigarro e minha banheira me preparam para outra sessão de hipocrisia. Mas... Só á noite.

- Às vezes eu não faço a mínima idéia do que você fala. - ele sorriu.

- Eu sou louca, com alma de artista e sem nenhum tostão, não o culpo por não entender. - eu disse me soltando dele indo em direção ao banheiro. Antes de seguir meu destino me virei novamente assim me dando uma visão privilegiada do seu corpo másculo. Mas não era isso que eu observava. Era o seu sorriso, e os seus belos olhos. Tão inocentes. Eu não gostava de pensar no fim, mas as lágrimas faziam parte do que eu me tornei. E, ele fazia parte das lágrimas, porque a minha vida era isso. Choro, sorrisos irônicos e sexo. E amores não permitidos de sentir. - Mas, é claro que se você quiser me acompanhar no banho... Eu gostaria. Ele sorriu, pousou as mãos sobre os cabelos e em seguida veio em minha direção.


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