Procura-se Uma Babá escrita por Kel Costa


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura.



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O tal jantar teria tudo para correr a mil maravilhas, se eu não tivesse dado ouvidos a uma criança problemática. Não que eu faça tudo que Sofia peça, não é isso, mas a pequena garotinha parece estar sempre um passo a frente, incrível!

— Sofia? Posso entrar?

Dei duas batidas na porta dela e entrei sem esperar que me autorizasse, afinal, não era ela quem mandava ali e uma hora eu teria que mostrar isso com seriedade. A menina já estava pronta para a ocasião, se vestindo sozinha pelo visto, mas se eu deixasse que ela aparecesse daquela maneira lá embaixo, provavelmente perderia meu emprego.

— O que é isso?

— Minha roupa!

Ela estava usando um vestidinho preto super fofo que não combinava muito com a coleira em seu pescoço, muito menos com o batom preto e o cabelo arrepiado. Era como olhar para a Noiva de Chuck, sabe?

— Sofia, onde você arranjou essa coleira? E o que é isso na sua boca? Desde quando você tem... batom?

Ao me aproximar, notei que não tinha textura de batom e estava muito mal pintado. Ela abriu um sorriso diabólico e tirou as mãos de trás das costas, me mostrando uma canetinha de hidrocor preta. Eu estava muito ferrada.

— Você ficou doida, Sofia? Não posso deixar você descer com hidrocor preto na boca!

— Está na moda.

— Moda? De quem?

— Das emas!

— Dos emos, você quer dizer...

— Aham!

Pobre criança, nem sabe o que diz. Depois de gastar quase meio vidro do meu demaquilante para limpar os lábios – e alguns dentes – da menina, foi a vez de mudar os acessórios daquela composição bizarra. Soltei a coleira de seu pescoço e olhei assustada para ela. Eu esperava que Sofia não crescesse sendo essas adolescentes revoltadas que só andam de preto por aí e gostam de vampiros...

— Era do Ralph...

— Quem é Ralph?

— Nosso cachorro que morreu.

OMG. Era realmente uma coleira. Pelo visto ela necessitava de atenção do pai mais do que eu imaginava. Tratei de abrir a gavetinha onde ela guardava suas bijouterias e escolhi uma gargantilha delicada, combinando com brincos pequeninos de pérolas.

— Viu como você fica muito mais bonita assim?

— Pareço boba.

— Não parece não. Parece uma princesinha! E sabe quem vai adorar vê-la assim? Seu pai.

Ela fingiu que não ouviu e saiu me puxando pela mão para fora do quarto. Nós descemos as escadas – eu tendo que tomar cuidado para não torcer o pé, já que Sofia ainda segurava minha mão e corria pelos degraus – e encontramos com o casal de pombinhos lá na sala de estar.

— Olá, querida! Como você está linda!

Ela sorriu com o elogio do pai e soltou minha mão para ir na direção dele, mas no momento em que colocou os olhos em cima da mulher, fechou a cara imediatamente e voltou para meu lado, agarrando minha calça.

— Sofia, essa é Rosalie. Uma amiga minha.

— Olá, Sofia. Seu pai me falou que você era linda e eu agora vejo que ele tinha razão. Posso te dar um beijo?

Ah vai. Já está dentro da casa e vai jantar com o gato do patrão. Não acha que está querendo muito conseguir ganhar a simpatia da filha? Isso sem contar que aquele sorriso parecia extremamente forçado.

— Não ligue, Rose. Ela é assim mesmo, você precisa ganhar sua confiança.

— Eu entendo completamente, Ed.

Ed? Eu vomitaria facilmente sobre o tapete, mas me controlei. A loira pediu para usar o banheiro e Edward me levou para a varanda, sem Sofia, para me questionar.

— Você conversou com ela, Isabella?

— Sim.

— Ela odiou Rosalie.

— Odiou? Como sabe? Para ser sincera, ela nem ligou muito em saber que viria gente aqui. Sofia até estava animada quando saímos do quarto.

Tudo bem, não era exatamente verdade, mas eu achei que não ajudaria muito contar como ela estava vestida apropriadamente para a ocasião quando cheguei em seu quarto. Ele me olhou desconfiado, com uma sobrancelha arqueada de fazer até lésbica ficar excitada.

— Conheço minha filha... Rosalie não terá a menor chance com Sofia.

Ok. Eu quem não iria reclamar. Rosalie também não terá a menor chance comigo. Certo. Sonha, Bella...  Antes que eu pudesse cometer alguma loucura e dizer que concordava com Sofia, fui salva pelo gongo. Meu patrão foi atrás da loirinha dele e eu fui procurar por Sofia.

Encontrei-a já sentada em seu lugar à mesa, brincando com os talheres dela e enchendo os outros de digitais.

— O que está fazendo aqui? O jantar nem está servido ainda, Sofia.

— Eu sei.

Ela me olhou e sorriu com aquela mesma expressão diabólica de antes e agora eu já me sentia sortuda por ter feito amizade com ela. Sofia, para meu completo espanto e nojo, meteu o dedo no nariz e depois o levou até o garfo arrumado para o prato da cadeira em frente a ela. Foi quando entendi que ali provavelmente sentaria Rosalie, já que Edward tinha seu lugar na cabeceira da mesa.

Não surta, Bella. Não surta! Olhei para os lados, com medo de sermos pegas no flagra – sim, porque eu levaria a culpa por não controlar a garota – e me aproximei na tentativa de fazê-la parar.

— Pare com isso, Sofia! Não sabe como é feio o que está fazendo?

— A babá não vai jantar conosco, vai?

Eu estava segurando a mão de Sofia quando ouvi essa simpática pergunta vinda da sala ao lado. Oh, Rosalie não tinha idéia do quanto poderia ganhar minha inimizade... Soltei a mão da menina e afaguei seus cabelos.

— Se for cuspir, certifique-se de espalhar com o dedo para secar mais rápido, ok?

Dei as ordens e me abaixei para amarra o cadarço solto de seu tênis. Precisei literalmente entrar debaixo da mesa, já que Sofia não contribuiu para minha mobilidade. Tinha terminado de dar o laço e já ia levantar a toalha para sair de lá, quando escutei as vozes.

— Que lindinha ela, Edward! Já está aqui esperando por nós!

— Onde está Bella, Sofia?

Pronto. Eu ia ser encontrada embaixo da mesa e ainda ia passar uma imagem de fofoqueira. Já estava me preparando para sair quando fui surpreendida e prendi até a respiração.

— Por que Bella foi para o quarto? — Uma pena. Achei que ela fosse ficar...

No quarto? Sério, Sofia? Eu congelei quando vi as pernas de Rosalie e Edward entrando debaixo da mesa. Isso não estava acontecendo.

— Ora, Edward. Nós mulheres sabemos perfeitamente qual o nosso lugar na sociedade. Ela sabe que o lugar dela não é aqui.

Pelo visto, depois dessa, eu ficaria debaixo da mesa até que terminasse aquele jantar.

Se eu não estivesse com tanta fome, ficar ali debaixo escondida não seria tão torturante assim. O problema era que o cheiro do filé mignon estava me matando lentamente. Meu estômago pedia por um pedacinho daquela carne e acho que a situação estava em um nível tão crítico que eu seria até mesmo capaz me passar por um cachorro e esperar que Sofia jogasse pedacinhos no chão para mim.

— Ela é uma graça, Edward!

— Sim, ela é. Meu anjo. A comida está boa, querida?

Revirei meus olhos ao ouvir aquela bajulação. Tinha certeza que Rosalie pouco se importava com Sofia. Podia até imaginar Sofia encarando-a com a expressão emburrada e rindo internamente por Rosalie estar saboreando a carne nos talheres cuspidos.

— Sofia, seu pai me contou do seu problema e eu espero que você supere logo essa mudez para podermos conversar como boas amigas!

“Supere logo essa mudez?” Parecia uma daquelas frases de pára-choques de caminhões isso sim. Precisei chegar o corpo rapidamente mais para trás quando as pernas da loira sequelada mexeram-se bruscamente. Para minha total surpresa – ou não – um de seus pés traçou uma rota especial: as coxas de Edward.

— Seria ótimo que fizesse amizade com Rosalie, Sofia... Ela é uma boa amiga do papai.

Como “boa amiga” leia-se: “comida”. Fechei os olhos num impulso de não ver aquela cena pornográfica para que a mesma não ficasse eternamente gravada em minhas memórias, mas logo em seguida acabei abrindo-os novamente.

— Seu pai e eu estamos nos tornando grandes amigos.

Meu queixo caiu quando o pé torto, ossudo e branquelo de Rosalie foi direto para cima do membro de ouro. Não somente eu fiquei chocada, como Edward também, dando um pulo na cadeira e se ajeitando rapidamente ao perceber o que estava acontecendo.

Cadela! Eu juro que foi preciso me controlar muito e utilizar de todas as técnicas praticadas pelos hindus para que não pulasse sobre aquele pé e o arrancasse a força dali. A intragável continuou com as carícias naquela região e o pobre coitado molestado começava a apresentar certo volume, bem de frente para meus olhos.

— Ainda não... entendo... o mo... — meu patrão com certeza estava afetado pelo pé de Rosalie. — o motivo que fez... Bella ter ido para o... QUARTO!

Até eu me assustei com o grito que ele deu. O pé de Rosalie intensificou ainda mais os movimentos e Edward se contorcia na cadeira. Eu daria tudo para ver como estava a expressão dele. Foi quando eu resolvi dar um basta naquilo. Aproveitei meu posicionamento estratégico, entortei meu corpo de modo que ficasse no ângulo apropriado e bati com força no tornozelo — o que estava parado — da loira, de modo que ela pudesse achar que Edward tinha lhe chutado como repreensão.

Não deu outra. Na hora ela retirou o pé do interior de suas coxas e ficou quietinha. O silêncio imperou na sala e eu imaginava que os dois deveriam estar pensando agora em que diabos tinha acontecido. Ele provavelmente achava que ela tinha desistido das carícias e ela, que ele não queria aquilo ali.

— Er... Você me disse que Bella era brasileira?

— Sim.

— Hum. Interessante.

O que é interessante? Senti um tom irônico no ar e meu patrão ajudou a satisfazer minha curiosidade.

— O que é interessante?

— Nada. É só que a gente sempre escuta aquelas lendas de que brasileiras são lindas, boazudas e tudo mais...

— E...?

Sim. E...? Aonde a sirigaita estava querendo chegar?

— E que ela é bem o oposto disso, né? — rosnei internamente. — Não é o tipo comum de brasileira, eu quero dizer.

Bem, ela não era o tipo comum de piranha tampouco. Ela era daquelas que não cobravam! Cravei as unhas em minhas palmas das mãos, para evitar fazer isso nas pernas da loira e ouvi um barulho estranho acima de minha cabeça.

— Sofia! Peça desculpas, agora!

— Está tudo... bem, Edward. Eu tenho certeza que molho inglês sai com facilidade...

Droga, como eu queria estar ciente dos fatos. Sofia provavelmente não tinha gostado de ver a biscate falando mal de mim e resolveu me defender. Talvez tivesse tacado a carne cheia de molho na blusa dela, ou jogado uma colher na cara da loira.

— Não é esse o caso, Rose. Ela tem que aprender a se comportar e tratar as pessoas com educação.

Blá blá blá. Mesmo conhecendo muito pouco a garota, eu sabia que aquele sermão não estava surtindo efeito algum. Para meu desespero, o guardanapo de Rosalie caiu no chão e a loira abaixou-se para pegar, tendo que entrar um pouco debaixo da toalha para alcançar o pano.

— Mas...?

Ela parou de falar, mas continuou com os olhos arregalados me olhando. Um breve momento passou por nós duas, onde perguntas ficaram no ar e ameaças foram trocadas. Nem eu sei dizer direito o que aconteceu exatamente, mas no final, Rosalie apenas pegou o guardanapo e sorriu diabolicamente, voltando à sua posição inicial na cadeira.

— O que disse?

— Absolutamente nada. — ela manteria segredo e eu me pergunto com qual intenção. — Edward, querido, com que freqüência você dedetiza sua casa?

E pelo visto, ela estava dando início à guerra.

[...]

Finalmente pude sair de debaixo da mesa, quase 1 hora depois, quando o casal de “amigos” se retirou e foi para a varanda – provavelmente se agarrar fora do alcance dos olhares de Sofia.

— Anda, Bella, sai daí! — o rosto da pequena apareceu debaixo da mesa, me olhando como se eu fosse lerda o suficiente para ainda continuar por lá.

— Estou saindo... Só não tenho mais a sua idade, sabe? Ficar numa mesma posição todo esse tempo, faz meus ossos reclamarem!

Quando fiquei de pé, senti minhas juntas estalarem um pouco e Sofia me olhou horrorizada. É apenas o peso da idade. Observando agora com mais atenção, notei que ela tinha na mão uma garrafa de álcool e estava colocando-a sobre a mesa.

— Para que é isso?

— Vai ver!

Talvez tenha sido a forma demoníaca com a qual ela tinha respondido, ou talvez fosse pura maluquice minha, mas meus pelinhos dos braços arrepiaram com aquilo. A pequena separou duas taças e encheu uma de água. A outra, ela encheu de álcool. Não era bebida alcoólica, era puro e 100% álcool.

— Sofia...? Você não está pensando em fazer o que eu acho que você vai fazer, está?

— Não me confunde, Bella!

— Não me confunda. É com “a” no final e não com “e”.

Ela nem me deu atenção e eu logo parei o caminho que estava fazendo. Eu é que não iria atrás dela para ser culpada por aquilo. Subi em silêncio os degraus da escada e parei só lá no 2º andar apenas para escutar o grito de Edward e ver uma Sofia correndo para dentro de casa.

— Volte já aqui, Sofia!

Valeu toda a espera e sofrimento debaixo da mesa, quando vi Rosalie adentrar a casa, com o rosto vermelho fogo, os olhos lacrimejantes e a boca aberta em forma de “O”.


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Notas finais do capítulo

Comentem...

Bjs Danimarjorie.