Procura-se Uma Babá escrita por Kel Costa


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura...

Bjs Dani.



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[...]

Passei a semana toda tentando fazer com que Sofia falasse novamente, pelo menos comigo. Tinha prometido para mim mesma que se ela resolvesse abrir a boca, eu ficaria bem quieta ao invés de sair correndo para contar ao pai da menina. Não que eu fosse esconder essa informação bombástica dele, mas meu plano era fazer com que Sofia confiasse um pouco mais em mim.

O final de semana tinha chegado e estava um sábado ensolarado lá fora. Acordei super bem disposta e como meu patrão tirava os finais de semana para aproveitar a filha, eu sabia que tinha um tempinho apenas para cuidar de mim. Fui para o banho e liguei o som, como costumava fazer em casa.

Akon e Negra Li – Beautiful

http://www.youtube.com/watch?v=me-SaJWTqS0

Ao sair do banho, com uma toalha enrolada no corpo e outra na cabeça, me empolguei além do normal, já que eu simplesmente era apaixonada por Akon. Juntava com Negra Li, lá da minha terrinha então, aí que ficava melhor ainda!

— Isabella?

Parei de dançar – eu estava de costas para a porta – e virei devagar na direção daquela voz masculina. Meu patrão estava ali parado na minha porta, meio sem graça por ter atrapalhado meu momento American Idol.

— Eu!?

— Me perdoe por entrar assim, mas eu bati duas vezes e você não respondeu. — ele deu de ombros. — Quando... terminar... me procure, por favor.

Ele ficou vermelho? Eu tinha quase certeza de que aquele rosto branco como um papel ganhou um pouco de cor. Confirmei com um sorriso e esperei que ele saísse para bater na testa. Quando nós vamos parar de pagar mico, Bella?

Deixei a cantoria de lado e me apressei em me arrumar para poder descobrir o que de tão importante Edward Cullen queria comigo, para invadir meu quarto daquele jeito. Não que eu estivesse reclamando, claro. Vesti um jeans velho e uma camiseta antes de ir bater na porta do quarto dele.

— Com licença...

Ele escancarou a porta e passou por mim, como se estivesse de saída. A considerar pela roupa dele, era bem capaz mesmo dele estar indo a algum lugar.

— Eu estou levando Sofia ao cinema e pensei em convidá-la para vir conosco. O que acha?

— Eu?

Minhas pernas ficaram até bambas. Ele lembrou de me convidar? Tudo bem que não era um programa de casal, tinha Sofia no meio, mas mesmo assim, eu estava feliz apenas em ter sido convidada.

— Tem certeza que não vou atrapalhar?

— Na verdade, foi Sofia quem pediu. Ela estava de birra e escreveu num papel seu nome.

— Oh.

— Portanto, nós adoraríamos ter sua companhia hoje.

Meu mundo desabou e eu sentia como se puxassem o tapete debaixo de mim. Pelo visto então a idéia de me ter por perto não tinha partido dele. Que vida mais triste a minha.

— Tudo bem, irei trocar de roupa num instante e encontro com vocês lá embaixo.

No momento que terminei de falar, uma criança passou correndo entre nós dois e puxou minha mão. Sofia me levou para meu quarto e fechou a porta quando entramos. Acho que deixamos Edward Cullen no vácuo.

— Que linda sua roupa, Sofia! E você está usando maria-chiquinha! Sabia que quando eu era criança usava muito isso também?

Ela abriu um sorriso, balançou a cabeça e enfiou a mão numa bolsinha minúscula que carregava a tiracolo. Para minha surpresa, Sofia tirou a mão da bolsa e me mostrou dois elásticos coloridos.

—Quer que eu prenda melhor?

Ela negou e empurrou meus ombros para me fazer sentar na cama. Não gostei daquilo e não ia gostar do que estava para vir em seguida.

— Hum, Sof... Acho que já entendi. Mas veja só, eu prefiro meus cabelos soltos mesmo, viu?

— Por favor...

A criança falou! Eu quase gritei de emoção, mas ia chamar a atenção de Edward e levar meu plano de confiança para o ralo. Engoli o orgulho e deixei que ela fizesse as malditas marias-chiquinhas.  Quando saí pronta do quarto e desci as escadas, visualizei a cara de espanto do meu patrão.

— Você está linda, querida! E você... também... Isabella.

Deus, como ele mentia mal!

Durante todo o percurso casa-cinema, meu patrão evitou ao máximo olhar para mim, que estava ao seu lado no banco do carona. Eu entendi aquilo como uma forma de evitar me olhar e cair na gargalhada ou algo do tipo. Me sentia ridícula com o cabelo repartido ao meio e aqueles prendedores verdes no alto da minha cabeça.

— Qual filme nós vamos assistir?

Tive a péssima idéia de perguntar assim que chegamos ao cinema. Sofia desceu rapidamente do carro, toda espevitada e correu para tomar lugar na fila, enquanto eu lia o letreiro luminoso com o nome do desenho.

“Shrek 5 – A Invasão das Marias-Chiquinhas”

Não. Não podia ser verdade. Meu coração parou de bater quando percebi que eu era na verdade uma homenagem à protagonista daquela animação. Logo notei que outras crianças também estavam usando o mesmo penteado, mas claro, elas eram crianças.

— É... Acho que Sofia queria que eu passasse um pouquinho de vergonha.

— Por que diz isso?

Edward Cullen era ingênuo ou cínico? Eu não sabia dizer a certo. Paramos na fila para poder comprar os ingressos e ao chegarmos na bilheteria, a simpática moça fez o favor de piorar ainda mais minha situação.

— Boa tarde! Serão quantos ingressos?

— Três, por favor.

— Sua filha menor paga meia-entrada, mas a mais velha paga inteira, ok?

— Oh não, eu não sou... — percebi que ele estava rindo. — Deixa para lá...

Eu já estava no fundo do poço mesmo, não ia me esforçar tanto para consertar aquilo. Passei o tempo todo em que esperamos o cinema abrir, tentando ignorar os olhares curiosos para cima de mim. O povo parece que nunca viu gente maluca na vida, né? Se eu quero usar um penteado bizarro em público, me deixem quieta!

— Por que você está de maria-chiquinha?

Quase cuspi o refrigerante longe quando Sr. Cullen me fez a singela pergunta. Eu achava que ele fosse ter a decência de não tocar no assunto para não me deixar ainda pior.

— Isso foi idéia da Sofia.

— Ela te pediu?

De repente a ficha caiu e eu vi que quase entreguei o fato de que Sofia falou comigo. Ela estava me olhando com aquela cara de quem não sabia de nada e eu tive que pensar rápido, sorrindo para meu patrão.

— Na verdade, ela escreveu num papel e fez algumas mímicas. Depois acabou me pegando de jeito, aí nem tive como escapar.

— Imagino. Sofia quando decidi uma coisa, não tem quem a faça mudar de idéia.

Oh, eu sabia muito bem disso. A menina era muito boa em convencer as pessoas.

Já no cinema, nós sentamos numa das últimas fileiras e Sofia ficou no meio, impossibilitando, para minha total tristeza, que eu tivesse contato com seu pai. Esse, porém não foi o problema. Eu precisei controlar minhas risadas diversas vezes, já que acontecia de rir tanto ou ainda mais do que algumas crianças da sala. Não tenho culpa por gostar de desenho, mas não podia passar uma imagem ainda mais infantil para meu patrão. Não queria que ele cogitasse a hipótese de contratar uma babá. Para mim.

Quando saímos do cinema, fiquei extremamente satisfeita em ver pai e filha de mãos dadas sorrindo.

— Gostaram do desenho? Bem, só podem ter gostado, porque toda vez que eu as olhava, estavam em gargalhadas.

Ele me olhava? O coração palpitou, o rosto corou e meu corpo foi de encontro ao chão. Só não dei de cara no asfalto porque Edward me segurou antes que a tragédia acontecesse. Quando o susto passou e eu recuperei a lucidez, ele apontou para meus pés.

— Não deve ficar andando com o cadarço desamarrado.

Tive medo que ele pedisse para Sofia me ensinar a amarrar o tênis, juro. Não seria de se surpreender se ela fosse mais ágil do que eu nesse assunto. Coordenação motora é um talento que sempre me faltou.

— Eu não vi que estava desamarrado. Obrigada, Sr. Cullen.

— Meu Deus, Isabella! Esqueça a palavra senhor de uma vez por todas. Já basta ser confundido com seu pai.

— Ok. Desculpe. Edward.

Falei tão devagar que só faltou soletrar e depois percebi que foi um exagero da minha parte, que o fez levantar a sobrancelha e sorrir.

— O que as duas acham de pararmos para fazer um lanche?

Eu nem precisei concordar com nada, já que a própria Sofia se animou com a pergunta. Ao pararmos num Mcdonalds da vida, ela me puxou até o banheiro e quando ficamos sozinhas lá dentro, a pequena me abraçou.

— Você é a melhor babá do mundo!

Coitada, imagino eu que ela não deve ter tido muita experiência nisso. Considerar a mim como a melhor? A menina deve ter sofrido muito mesmo no passado.

Sair do banheiro e encontrar Edward Cullen te esperando na mesa para comer era algo fora do normal. Tudo bem que eu era considerada apenas a babá da filha dele, mas sonhar é possível, certo?

—O que vai querer, Bella?

Ele ao molho agridoce, serve? Tudo bem, não serve. Fiquei feliz por não ter dito aquilo em voz alta. Foi instantâneo. Peguei o menu que estava em cima da mesa e entreguei um para Sofia. Mas me parece que Edward já sabia de cor o que a menina iria comer.

— Sofia vai de hambúrguer. E você?

— Vou querer um Cheddar.

Me contive, pois queria também um sundae, mas Edward iria me achar uma faminta, né? Principalmente porque eu adorava pedir para encherem de calda de chocolate e muita castanha. Gula é um problema sério.

— Já volto, senhoritas. Por favor, não seduzam nenhum cidadão do local, ok?

Meu patrão estava fazendo brincadeirinhas ou era impressão minha? Sofia riu então achei melhor fingir que tinha sido engraçado também. Talvez tenha exagerado um pouquinho só no volume da risada.

— Você ri engraçado!

Sofia falou quando o pai já estava no caixa da lanchonete. Ela me colocava numa tremenda saia justa, pois se Edward visse que a garota estava falando comigo normalmente, ele descobriria que eu escondi o jogo.

— Ok, Sofia. Nós conversamos sobre isso quando estivermos em casa e a sós, querida.

— Você é engraçada!

Certo. Ela devia me enxergar como a palhaça particular, né? O que de tão engraçado eu tinha? Nada. Só a minha risada, que nem era assim tão engraçada. Só de vez em quando que eu me empolgava e parecia imitar um porco.

— Eu sou uma pessoa muito séria, Sofia. Não tenho nada de engraçado, acho que você tem uma imagem equivocada da minha pessoa.

Tentei manter minha postura de gente adulta e séria, mas eu estava era enciumada com Edward lá no caixa, cercado por algumas mulheres que não tiravam o olho da bunda – deliciosa – dele.  Suspirei, sabendo que aquele patrimônio nunca seria meu enquanto ele voltava com a bandeja nas mãos.

— Até que foi rápido.

Foi o que falei, aquela típica conversa de quem na verdade não faz a menor idéia de qual assunto puxar. Ele sorriu para mim e começou a distribuir os respectivos sanduíches.

— Comprei o Mc Lanche Feliz, querida. Veio com alguns lápis de cor, o que acha de desenhar um pouco?

Eu não lembro de desenhar muito na idade dela, mas a menina recebeu os lápis feliz da vida e ficou rabiscando enquanto comíamos em silêncio. Edward na maior parte do tempo só tinha olhos para ela.

— O que está desenhando? Papai pode ver?

Ele perguntou e ela balançou a cabeça, empurrando o papel na direção dele. Edward franziu a testa e ficou alguns segundos encarando o desenho, como quem tentava entender a obra de arte.

Ele sorriu e devolveu o papel para ela, tomando um gole do refrigerante e olhando para a Sofia.

— Querida, Bella e eu não somos namorados. Mas o desenho está muito bonito.

Só eu que engasgou com o refrigerante quando ele pronunciou aquela frase? Como assim? Puxei rapidamente o papel que ele deslizou de volta pra Sofia e visualizei o desenho. Dois adultos – sendo que um deles tinha cabelos compridos e um “Bella” escrito na testa – e uma criança no meio deles. Ah sim, esqueci de falar sobre o enorme coração vermelho pintado entre os dois adultos.

— É... o desenho ficou bem legal, Sofia...

Calei minha boca e evitei  olhar para ele durante praticamente todo o tempo em que ficamos ali. Quando chegamos em casa, assim que a menina desceu do carro, Edward passou por trás de mim e me parou. Ele colocou uma mão em minha cintura, me fazendo gelar dos pés à cabeça e beijou-me no rosto.

— Você está sendo ótima com Sofia. Obrigado, Bella.

E saiu, me deixando vendo estrelinhas coloridas depois de receber seus lábios diretamente sobre minha bochecha. O homem era gostoso mesmo não fazendo nada para ser.

— De... nada.

Entrei em casa tropeçando ainda em transe com o beijo e a pegada na cintura. Não era possível que ele não tivesse tido a intenção de me tirar do sério...

[...]

Os dias seguintes correram normalmente e eu consegui não matar Sofia nem fazê-la ter nenhuma crise alérgica. Quase não conversava com Edward, já que ele estava chegando todos os dias extremamente tarde a ponto de mal conseguir pegar Sofia acordada. Era minha função dar a janta dela e deixá-la esperar por ele até 22hs, mas não mais do que isso. No final de semana, porém, algo diferente daquela rotina aconteceu. Era tarde de sábado quando ele bateu na porta do meu quarto.

— Oi.

Atendi com meu melhor sorriso, imaginando como seria legal se ele tivesse ido até lá apenas para me convidar para sair. Sonha mesmo, Isabella.

— Bella, hoje virá uma amiga minha jantar aqui e eu gostaria que você preparasse Sofia, ok? Lá pelas 20hs se possível.

— Sim, tudo bem.

Tive vontade de perguntar se a tal era amiga mesmo ou algo mais do que disso, mas no mínimo ele me mandaria calar a boca e me colocar de volta em meu lugar. Como eu não ia sossegar enquanto não descobrisse, joguei um verde para ele.

— Tenho certeza que Sofia vai adorar rever uma amiga da família.

— Hum, eu não tenho tanta certeza assim. Sofia não a conhece ainda e ela não costuma ser muito sociável nessas situações.

— Que pena.

Consegui saber o que queria. Se Sofia não conhecia a mulher, era sinal de que não era exatamente uma amiga, certo? Sim, eu estava com ciúmes. Entendia perfeitamente o fato de Sofia não ser muito sociável.


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Notas finais do capítulo

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