Procura-se Uma Babá escrita por Kel Costa


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Lembrando que eu somente reviso e posto os capitulos, quem escreve é a K...

Boa leitura.



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Eu queria ser daquelas pessoas que pensam rápido, mas não era. Meu patrão ainda ficou me olhando por alguns segundos, esperando provavelmente que eu dissesse alguma coisa e nada aconteceu. Quando ele arqueou uma sobrancelha, foi que a luz na minha cabeça piscou.

— Sim, tudo bem.

Consenti e balancei a cabeça positivamente, concordando com as palavras dele. Sério, depois de ficar meia hora pensando no que dizer, isso foi tudo que saiu? Eu era absurdamente patética!

— Fico feliz que tenha compreendido. Você deve realmente se sentir confortável enquanto estiver morando aqui.

— Eu ficarei confortável.

Eu já estava, na verdade. Talvez, mais do que isso, só ficando mesmo pelada. O que não seria uma boa idéia, claro. Eu já estava me afastando da piscina para sumir logo da frente de Edward, quando ele me chamou novamente.

— Sofia cooperou para ir ao colégio hoje?

— Ah sim! Ela é uma ótima menina!

— Ela tomou café da manhã? Porque Sofia é péssima para se alimentar quando acorda...

— Estou dizendo, ela é ótima! Tomou o leite todinho que dei.

Parei por aí, pois não tinha certeza se apenas o leite era o suficiente. Achei melhor deixá-lo imaginar o que quisesse.

— Leite? Você deu a ela o leite de soja, né?

Tinham dois tipos de leite na geladeira? Eu estava com sono, droga!

— Claro!

— Que alívio! Por um momento fiquei preocupado...

Quem estava preocupada agora era eu. Qual o problema com o leite? Qual? Eu estava suando? Acho que senti gotas de suor escorrerem pela minha bunda. Dei meu sorriso mais amarelo para meu patrão e interroguei-o como que só por curiosidade.

— Se não se importa, poderia dizer qual o problema de Sofia com o leite?

— Ela tem alergia ao leite de vaca... Só se dá bem com o de soja.

— Alergia?

Como eu faria para sair correndo antes que ele me matasse? Eu precisava conferir se tinha dado o leite certo para a garota. Fui andando de costas até sentir que estava passando pela porta. Meu patrão me seguia, caminhando na minha direção como se quisesse muito me contar detalhadamente o caso alérgico. Ele não tinha mais nada para fazer, não?

— Desde que ela nasceu tem alergia ao leite. A pele dela começa a coçar, ficar vermelha e fica toda cheia de bolotas, como se fossem mordidas de mosquito.

— Sério?

— Sim. Custamos a descobrir a alergia... Ela sofreu bastante até descobrirmos.

Acho que quem sofreria dessa vez seria eu, quando percebessem o que tinha feito e me expulsassem daquela casa. Para minha sorte, o celular dele tocou e com isso eu aproveitei para sumir mais rápido do que uma bala de canhão. Sei que entrei correndo na cozinha e ignorei os olhares da mal amada.

— Está molhando o piso.

— Ok. Cadê o leite?

Meu desespero era grande e parecia que o leite estava se escondendo. Eu já podia ouvir a voz de Edward por perto, falando no celular e nada de achar a caixa do leite. Quando finalmente alcancei-a, as letras ali escritas quase me fizeram desmaiar. Era de vaca!

— Isabella?

Fui pega no flagra, com a caixa do leite assassino na mão e a porta da geladeira aberta. Isso sem contar a poça d’água que meus cabelos ensopados formaram no chão.

— A conversa toda me deu vontade de tomar leite.

Minha única saída foi beber do leite direto na caixa como se a vontade precisasse ser saciada naquele instante.

Dei longos goles enquanto via meu patrão e a empregada me olharem como se eu fosse uma esfomeada sem-teto ou coisa pior. Eu até poderia não ser demitida, mas minha dignidade sem dúvida alguma estava indo pelo ralo.

— Bem, se gosta tanto de leite, mandarei que comprem mais do de vaca.

— Obrigada.

Respondi quando soltei a caixa vazia e controlei uma vontade enorme de arrotar. Desconversei, dizendo que iria tomar um banho e subi para o quarto, na esperança de que Edward saísse logo de casa e não voltasse tão cedo. Eu precisava averiguar se Sofia ainda estava viva.

Calcei um tênis – para poder correr mais rápido – e assim que ouvi o som de motor de carro, saí de casa. Quando cheguei no colégio, fui procurar pela sala de aula da menina e ao chegar lá descobri que ela estava na enfermaria.

— Sofia!

Encontrei a criança deitada num dos leitos do local, com o rosto vermelho e todo embolotado. A enfermeira da escola veio falar comigo, talvez sem imaginar que a culpada daquele estado tenebroso era eu.

— Ela está melhorando, senhora. Sofia pediu que não avisássemos em casa, pois não era nada urgente. Certo, Sofia?

— Uhum.

Ela sorriu e eu notei que teria que gastar minha maquiagem para poder entrar com ela em casa.

Depois que a enfermeira nos deixou a sós, eu cheguei perto dela e analisei seu rosto. Era devastador, minha nossa!

— Sofia, nós vamos ter que esconder isso do seu pai. Que tal um segredinho nosso, hein?

— Tudo bem, eu não vou contar sobre o leite...

— Leite? Que leite?

Talvez se eu negasse até a morte, ela se convencesse de que a culpa não tinha sido minha, né? Poderia dar certo.

— O leite que você me deu. Eu só posso tomar o de soja.

— Querida, mas eu te dei o de soja. Você deve ter trocado sem querer...

— Hum... Não. Você me deu o comum mesmo. O gosto é diferente.

Tive vontade de sacudir seus ombros e perguntar por que então ela tomou o diabo do leite, se sabe diferenciar os gostos, mas como ela já não estava com uma aparência muito boa, achei melhor deixá-la quieta.

— Não importa de quem foi a culpa, você está bem, não está?

— Aham.

Ela respondeu balançando a cabeça várias vezes e depois começou a coçar os locais onde haviam manchas avermelhadas na pele.

— Nós vamos para casa agora?

— Claro! Que tal se tomarmos um sorvete pelo caminho?

— Só se for sorvete feito com leite de soja.

— Ah.

Complicado demais para minha cabeça. Eu mal sabia onde tinha uma sorveteria por ali, quanto mais uma sorveteria que vendesse sorvetes a base de leite de soja. Está brincando com a minha cara, né?

— Te pago um refrigerante então. Vamos?

Depois de assinar um papel que a enfermeira me deu, confirmando que a criança tinha sido devidamente amparada no colégio, nós fomos embora. Não precisamos correr desta vez, então eu finalmente pude tentar trocar algumas palavras legais com Sofia.

— Então, é melhor você me deixar a par de todas as suas alergias. Eu não sei se sobrevivo a mais um susto desses...

— Leite e camarão!

Camarão também? Eu ia começar a ficar com pena da menina... Não poder saber como é bom comer camarão...

— Ok, é melhor você descer daí!

Puxei-a pela mão, enquanto ela andava pelo meio-fio, se equilibrando e parecendo que iria cair diversas vezes. Tudo que eu não precisava também era a garota torcer o pé, cair, rolar pelo asfalto e ser atropelada. Nós paramos assim que entramos na rua de casa e eu abri a bolsa para pegar minha maquiagem.

— Vamos usar um pouco disso para você ficar bem bonita. E não se esqueça de ir direto para o quarto quando entrarmos em casa, combinado?

— Aham!

Espalhei um pouco de corretivo pelos pontos mais críticos de seu rosto e passei também uma base. Pelo que Sofia tinha dito, aquelas manchas não demorariam muito para sumirem, então eu estava realmente confiando nela e torcendo para Edward não estar em casa.

Quando já estava quase na hora da janta, eu já estava mais aliviada por Sofia ter melhorado totalmente. Parecia até mágica, mas as manchas tinham sumido por completo como se nunca tivessem aparecido.

— Sofia? Vamos descer?

Terminei de arrumá-la conforme ela pediu — um vestido que mais parecia de boneca — para esperar pelo pai, mas quando saímos do quarto, o telefone tocou.

— Isabella?

— Sim, eu.

— É Edward quem está falando. Só para avisar que não estarei em casa a tempo de jantar, então certifique-se que Sofia coma direito e preciso também quem coloque-a para dormir.

Ela com certeza não iria gostar daquela notícia. Estava claro nos olhinhos brilhantes da criança, que a espera pelo pai era quase como uma espera pelo Papai Noel.

— Ah... Sim, claro. Cuidarei de tudo.

— Eu não sei que horas vou chegar, mas pode me ligar se for preciso, ok?

— Certo.

Ele desligou sem nem ao menos dizer tchau e tive que encarar Sofia, que estava sentada no degrau da escada, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos segurando o queixo. Ela sorriu quando me aproximei e eu torci a cara.

— Acho que somos só nós duas hoje.

— E meu pai!

— Não, querida. Seu pai não vai poder jantar hoje...

Ela franziu a testa e o sorriso se desfez quando correu os olhos pela roupa que tinha escolhido. Antes que eu pegasse em sua mão para descer com ela, Sofia levantou e correu para o quarto, batendo a porta e trancando-a por dentro.

— Sofia! Abra a porta!

— Não quero comer.

Oh droga! Mas eu quero... Meu patrão não tinha acumulado muitos pontos comigo depois do bolo que deu em nós para jantar. Ok, não em nós exatamente, foi mais na filha dele. Eu não acho que ele se preocupe com o que eu penso ou deixo de pensar.

Sentei na porta do quarto de Sofia e fiquei cantando – eu cantava muito mal – até que ela cansasse da minha voz e viesse implorar para que eu parasse. Eu comecei a ficar tensa quando o tempo foi passando e nada da menina dar sinal de vida. Eu quero dizer, o Sr. Cullen era culpado por deixá-la daquela maneira, mas eu seria culpada se ela morresse trancada no quarto, não?

— Sofia... Socorro... Não estou... me sentindo bem...

Fiz a voz mais dolorosa que existia e comecei a respirar bem ofegante. Eu estava tão entregue àquele papel que realmente me sentia mal. Não deu mais do que 30 segundos e a porta do quarto abriu devagar.

— Te peguei!

Joguei meu corpo com toda força para dentro do quarto dela e agarrei aquelas perninhas finas. Sofia caiu junto comigo e não estava me olhando com uma cara muito satisfeita.

— Desculpe, precisei fazer isso já que você estava me ignorando.

Ela levantou com tamanha desenvoltura e pulou por cima do meu corpo caído no chão, passando pela porta e correndo pelo corredor do segundo andar. Lógico que o tempo que gastei para me levantar, foi justamente o tempo que ela teve para ir até o quarto do pai... e se trancar lá dentro. Sério, para que existia chaves nessa casa?

Depois de escrever um bilhete de rendição e passá-lo por debaixo da porta, minha única opção era ficar ali até que ela finalmente saísse. O problema todo foi eu ter dormido e não ter visto o patrão chegar.

Abri os olhos, ainda tonta de sono, quando um dedo me cutucou e depois uma mão balançou meu ombro. A imagem que ia se formando na minha frente era nada mais nada menos do que do homem mais perfeito que eu conhecia e que, coincidentemente, era meu patrão.

— O que aconteceu para estar dormindo na porta do meu quarto?

Oh Deus. Quem via aquilo sem saber da história poderia achar que eu estava esperando para dormir abraçadinha com ele na cama. O que não era verdade. Apenas nos meus sonhos. Ele me estendeu a mão e eu aceitei, levantando e recuperando o que ainda havia de orgulho.

— Eu peguei no sono. Me desculpe, isso não acontecerá de novo.

Sim, eu sabia que não devia prometer uma coisa que eu tinha certeza de que não cumpriria. Eu dormia por qualquer motivo e em qualquer lugar.

— Está tudo bem?

— Mais ou menos. Sofia se trancou no seu quarto quando soube que o senhor não viria jantar. Ela estava bem animada com isso, sabe?

— Eu lamento...

Ele fez uma cara de quem realmente lamentava e eu me culpei por ter pensado tão mal daquele lindo homem. Afastei-me da porta para que o dono do quarto pudesse entrar e ele a abriu lentamente.

— Eu cuido dela agora, obrigado.

— Acho que deve ficar ciente de que ela não quis comer. Uma pena, pois estava super animada hoje, nós conversamos tanto... Ela até me contou sobre suas alergias e...

— O que foi que você disse?

Oh-ow. Eu toquei no assunto alergia mesmo? Droga! Ele ia perceber que tinha alguma coisa errada... Sorri para tentar disfarçar e mexi nos cabelos. Talvez eu conseguisse tirar sua concentração.

— Eu falei? O que?

— Bella, o que quis dizer com “ter conversado” com Sofia?

— Ah, nós conversamos. Coisas simples, mas pelo menos ela pareceu estar me aceitando.

— Você sabe que ela não falava, não é?

Talvez, só talvez, eu tenha me esquecido completamente disso. Acho que minha neurose com a alergia dela e com a possibilidade dela morrer foi tão grande que nem me dei conta de que a menina tinha voltado a falar. O rosto do pai estava tão branco quanto a parede.

— Pois é... ela... falou.

Ops, devia ter contado antes, né? Os olhos dele arregalaram.

— E você esqueceu de me contar isso?

— Eu queria que fosse surpresa.

O quarto estava escuro e Sofia dormia tranquilamente na cama quando ele entrou correndo no local e acendeu a luz na cara da garota. Um bom pai.

— Sofia! Acorde!

Ela olhou para nós – claro que eu tinha entrado também – e fez beiço assim que percebeu que ele estava de volta. Meu patrão acariciou os cabelos da menina e a beijou na testa.

— Querida, fale comigo. Bella disse que você estava falando, é verdade?

Como assim? Ele duvidava da minha palavra? Não que eu fosse muito sincera, mas ele não sabia disso. Não tinha motivo para duvidar.

Sofia olhou para ele e depois para mim. Custava ela dizer logo um “oi, pai”? Nós ficamos esperando e ela continuou calada, até que levantou da cama e saiu andando pelo quarto.

— Não parece que ela voltou a falar.

— Ela voltou, eu garanto. Tenho certeza que isso é por estar chateada com o senhor.

Ele me olhou com cara de cachorro abandonado – que eu subitamente tive vontade de adotar – e suspirou. Sofia saiu do quarto e eu não soube como reagir diante daquilo. Me sentia uma mentirosa de marca maior.

— Eu estou falando a verdade. Ela estava falando normalmente comigo.

—Tudo bem. Tentaremos novamente amanhã. Pode ir dormir, Isabella.

Saí do quarto sem ter o que discutir, mas ao invés de ir para o meu, fui até o de Sofia e encontrei-a sentada na cama, balançando as pernas no ar. Um sorriso triste apareceu em seu rosto quando cheguei.

— Por que não falou, Sofia? Seu pai agora pensa que eu sou mentirosa.

Ela deu de ombros e deitou-se, puxando o edredom para se cobrir. Eu não sabia se ficava com raiva ou com pena de Edward Cullen. Acho que a raiva sobressaía mais, já que era culpa dele a garota agora ter recuperado a mudez. 


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Notas finais do capítulo

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