Procura-se Uma Babá escrita por Kel Costa


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Quem aí ficou com vontade de fazer picadinho de caranguejo? rsrs
Bora ler, galera!



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Talvez Edward estivesse acostumado com mulheres frescas como Rosalie, que provavelmente daria um escândalo se visse um bicho como esse a menos de 3 metros de distância. Mas eu não era assim. Meus avós maternos moravam num sítio no interior do Rio de Janeiro e tive uma infância bem próxima a bichos estranhos. Claro que eu estava longe de ser uma amante da natureza, tipo essas pessoas que gostam de pegar insetos e colocá-los na palma da mão, tirar foto para postar no facebook e receber um monte de curtidas. Mas sabia conviver com a ameaça de proximidade de um simples de um infeliz caranguejo.

Respirei fundo, tentando conter minha frustração e olhei para o lado, encarando o bicho detestável. Ele com certeza não tinha culpa. Era um simples maria-farinha, uma espécie de caranguejo muito comum nas praias do Brasil. Eles possuem a cor quase da areia e vivem nos buracos que fazem nela e são até um pouco bonitinhos, quando não estão interrompendo o beijo das pessoas. Peguei minha sandália e dei um cutucão no bicho, que correu daquele jeito estranho de lado e foi na direção do mar.

— É apenas uma maria-farinha. — limpei a areia que ficou na minha mão e me virei para olhar Edward. Ele tinha as duas sobrancelhas em forma de arco e parecia surpreso. — O que foi? Já vi desses onde moro.

— Jura? — sorriu. — Bem, confesso que achei que você fosse sair correndo. Por isso evitei fazer movimentos bruscos.

Agora eu estava curiosa. Toda aquela aproximação sorrateira teria sido só para me avisar sobre o bicho? Ou Edward tinha mesmo tentado alguma coisa comigo? Mordi o lábio inferior, querendo muito ter coragem de fazer essas perguntas a ele. Não fiz, é claro. Fiquei observando as ondas do mar agitado, estourando com força um pouco mais abaixo de onde estávamos. A espuma branca encantadora e o som do oceano quase me deixavam com vontade de entrar naquela água.

— Você é cheia de surpresas, Isabella. — ele voltou a me olhar de forma intrigante no momento em que soprou uma brisa vinda do mar e me fez estremecer. — Acho que é melhor entrarmos.

Ah não! Não era para acabar tão rápido. Queria degustar um pouco mais do seu perfil banhado pela luz da luz e da proximidade dele sentado ali ao meu lado. Ele já tinha levantado e me estendia a mão.

— Acho que vou ficar mais um pouquinho, mas você pode ir. — dei meu sorriso mais inocente, pois pelo pouco que eu o conhecia, achava difícil que fosse me deixar ali sozinha.

— E deixá-la aqui, nessa escuridão? — Edward franziu a testa e sentou novamente. Fiz a dança da macarena mentalmente. — Não senhora. Se quiser ficar, farei companhia. Só fico preocupado que esteja com frio.

— Não estou, pode ficar tranquilo. — deitei-me de costas na areia e fiquei olhando para o céu estrelado, pensando em como minha vida tinha mudado tanto desde que decidi fazer essa viagem.

Estava absorta em meus pensamentos e só me dei conta de que estava sendo observada alguns minutos depois, quando procurei por Edward que até então estava muito calado. Ele me olhava como se estivesse de frente para um objeto não identificado. Agradeci por estar muito escuro e ele não poder ver minhas bochechas coradas.

— Você é uma pessoa muito... peculiar, Isabella.

— Eu sou? — isso seria algo bom?

Ele me deixou sem respostas e deitou-se ao meu lado, os olhos voltados para o céu negro acima de nós. Sentia o seu braço tão perto do meu, que provavelmente se eu me arrepiasse, nossos pelos se tocariam.

— O que sabe sobre constelações? — ele me perguntou, virando o rosto para me olhar. Por um momento, peguei-me praguejando por nunca ter me interessado muito por astronomia. Adoraria parecer uma pessoa culta numa hora dessas.

— Muito pouco.

— Bem, está vendo aquelas estrelas ali, brilhando mais que as outras? — Edward esticou o braço, um dedo apontado para um ponto quase acima de nossas cabeças.

— Hum... para mim todas brilham igual. — me esforçava para decifrar a quais estrelas ele se referia.

Edward me olhou como se eu só pudesse estar cega tamanha a minha falta de sensibilidade. E então eu fiquei feliz por ter sido sincera, pois ele pegou em minha mão, aproximou o rosto do meu e apontou comigo.

— Ali, percebe? — o cheiro dele era incrivelmente bom, principalmente agora misturado àquele característico de praia.

— Hum.

— Aquela é a Ursa Maior. Dá para contar suas principais estrelas. — ele foi mexendo nossas mãos como se estivéssemos tocando cada uma das estrelas com a ponta do dedo. — Está vendo? Aquela ali é a mais famosa delas. Chama-se Mizar.

Eu realmente estava vendo. Nossos dedos estavam sobre uma grande estrela, quase que grudada em outra menor. E por incrível que pareça, mesmo com a sua boca tão perto de mim e sua mão quente envolvendo a minha, eu achei aquilo tudo muito interessante. Não é todo dia que deitamos na praia com um cara lindo do nosso lado, ensinando-nos a decifrar constelações.

— E aquela, como se chama? — mexi nossas mãos um pouco para o lado, apontando a estrela menor ao lado de Mizar.

— Aquela é Alcor. — mas ele não estava olhando para o céu e sim para mim. Eu esperava que ele não estivesse ouvindo o som que meu coração fazia ao bater acelerado no peito. Seria tão rápido e tão fácil, bastava eu chegar alguns centímetros para perto dele e nossas bocas grudariam. Eu estava cogitando fazer isso quando ele voltou a olhar para o céu e soltou minha mão.

Mas que inferno! Parecia até que ele tinha ouvido meus pensamentos e sentido o perigo se aproximando. Será que eu era tão previsível assim? Ou estaria escrito em minha testa algo como “vou te atacar”? Ele então estava tão quieto e eu odiava esses silêncios constrangedores.

— Mostre-me mais.

— Ah. — ele sentou-se de frente para mim e encolheu os ombros, um sorriso travesso tentava aparecer. — Só conheço a Ursa Maior. — quando viu minha expressão, deixou a risada fluir. — Não entendo droga nenhuma de estrelas, Bella.

— Você estava inventando tudo? — alguma coisa na minha expressão parecia diverti-lo.

— Não, claro que não. Eu realmente te mostrei a Ursa Maior. Mas é a única que conheço. Eu era garoto quando meu pai me falou sobre ela, mas ele também não entendia muito. Deve ser coisa de família.

Acabei me sentando também, ainda chocada com a diversão que ele estava tendo, com aquele sorriso bobo estampado no rosto. Ele era tão lindo que minha ideia de castigá-lo era pular sobre ele, derrubá-lo na areia e beijar todo aquele rosto.

— Entendo, Sr. Cullen. O senhor estava se divertindo com a minha cara, dando uma de conhecedor do assunto. — fingi que estava chateada com toda a situação e revirei os olhos o mais dramaticamente possível. — Creio que isso seja algum tipo de tática para fazer as mulheres suspirarem pelo senhor, o homem que conhece as estrelas.

Ele continuou se divertindo com aquele sorriso que já estava me irritando. Levantou-se e estendeu a mão para mim, que aceitei na mesma hora. Edward passou a mão pelos cabelos, balançando os fios para tirar a areia e eu recolhi minhas sandálias.

— Bem, nunca usei isso como tática, mas até que a ideia é interessante. Pensarei nisso da próxima vez que vier aqui.

O que? Não. Ele traria a idiota da Rosalie e ficaria todo derretido para cima dela, falando sobre estrelas. E ela, narcisista como era, acharia que ele estava fazendo tudo aquilo como forma de dizer que ela era uma grande estrela linda e brilhante para ele. Esse pensamento conseguiu me irritar um pouco e saí marchando em direção a casa sem me preocupar em esperá-lo.

— Ei, Bella! Espere! — Edward me alcançou rapidamente, claro. Eu nunca fui uma pessoa muito veloz e na areia a coisa ficava ainda pior. Ele segurou meu braço, forçando-me a virar para olhá-lo. — O que houve?

Eu teria várias respostas para dar, mas achei melhor não piorar a minha situação. O que eu realmente poderia dizer? Que achava que ele estava sendo romântico comigo esse tempo todo? Ou que estava com ciúmes por pensar nele com outra mulher olhando as estrelas? Bem, não eram respostas muito adequadas para dar ao cara para quem eu trabalhava.

— Não é nada. — desviei o olhar do dele, pois era bem difícil resistir àqueles lábios pressionados que formavam uma linha reta e aos olhos percorrendo meu rosto à procura de alguma resposta. — Só acho melhor ir para casa, estou começando a sentir frio.

— Está com frio? Venha cá.

No instante em que ele soltou meu braço para passar o dele sobre meus ombros, eu nem cheguei a cogitar nada demais, pois esse é um tipo de reflexo típico nos homens, algo em relação a um macho não poder ser considerado verdadeiramente um macho, caso ele não consiga proteger uma mulher do frio. Mas então logo em seguida tudo aconteceu rápido demais. Sei que dei um sorrisinho tímido para ele em agradecimento – e devo admitir que não estava sentindo frio algum – e Edward tocou meu rosto com as costas da mão. É claro que antes que eu pudesse pensar naquele gesto, sua boca já estava sobre a minha.

Primeiro foi um selinho, o suficiente para fazer com que eu acordasse para o que estava acontecendo. E enquanto eu estava ali parada, sentindo meus pés afundarem na areia junto com minha consciência, eu já estava enrolando meus braços ao redor do pescoço dele e correspondendo ao beijo. Suas duas mãos estavam paradas em minha cintura, não se moviam um centímetro sequer, mas ele as apertava com força em minha carne. Sua língua era macia, quente e urgente. Tinha feito com que minha mente entrasse em pane e eu não conseguisse pensar em absolutamente nada. Mas tudo que vem rápido, também vai.

— Bella... — Edward parecia tão sem fôlego quanto eu, mas pelo menos ele conseguia usar a boca para emitir algum som coerente. — Desculpe.

Minha cabeça estava tão confusa. O vazio em minha mente segundos atrás dera lugar a um turbilhão de emoções que me impediam de pensar direito.

— Hum. Ah... Você não precisa... se desculpar. — minhas mãos formigavam, a vontade de colocá-las de novo em volta daquele pescoço era grande demais, precisei cruzar os braços. — Sei que nós dois estamos arrependidos por essa... maluquice.

— Eu não estou arrependido. — talvez eu tenha arregalado os olhos rápido demais, porque ele deu um sorriso daqueles tortos que costumava colocar no rosto e passou a mão pelos cabelos. — Bem, não posso dizer que me orgulho de ter agarrado a babá da minha filha, mas arrependimento é uma palavra forte demais. A não ser que você me processe por assédio sexual, aí com certeza irei me arrepender.

— Eu... — era difícil demais pensar no que dizer, com ele me olhando daquele jeito.

— Eu sei que isso é errado e prometo que não acontecerá de novo. — ele balançou a cabeça, como se não conseguisse entender o motivo de ter me beijado. — Deus, não sei nem o que está acontecendo comigo.

Ora, que ótimo! Se ele não sabe, então também não tenho nenhuma obrigação de saber, certo? Achei que fosse precisar me explicar ou me desculpar por alguma coisa, mas pelo visto Edward estava tão confuso quanto eu. O momento passou, ele pareceu ter recuperado a sanidade e me soltou.

— De qualquer forma, está mesmo esfriando, é melhor entrarmos.

Concordei, pois o que mais queria naquele momento era me trancar no quarto e pensar no que aconteceu naquelas últimas horas. O jantar, a conversa na praia, o beijo. O beijo... Ok, não serei hipócrita. O que eu mais queria mesmo era outro beijo. Só que eu não teria isso.

Entramos em casa calados, primeiro porque já estava tarde e Sofia provavelmente estaria dormindo e segundo por nenhum dos dois ter muito o que dizer. Fizemos o mesmo caminho, subindo as escadas e como meu quarto era o primeiro do corredor, eu logo parei em minha porta, com ele atrás de mim.

— Bella... — oh não, mais conversa constrangedora. Era muita coisa para um único dia. Edward sorria, mas parecia mais com um pedido de desculpas. Outro. — Não quero as coisas estranhas entre nós. Te acho muito bonita, inteligente, mas além dos fatores óbvios, também estou com Rosalie.

Quais eram os malditos fatores óbvios? Só conseguia pensar no meu trabalho. Mas era somente um único fator. Ele sempre teria a opção de me demitir, não é? Foco, Bella.

— Ok. — sei que minha voz quase não saiu, mas deu para ser ouvida. Ele encerrou aquela conversa tosca com um beijo em minha mão. A porra. De um beijo. Na minha mão. Quem ele achava que era? Mr. Darcy do Paraguai?

Para não ser muito mal educada com o patrão, esperei ele se afastar para bater minha porta com força. Eu estava tonta, mas era de raiva. Se eu algum dia tive dentro de mim uma parcela de alguma mocinha ingênua, boba e tímida que suspiraria pelos cantos por algum homem, então eu iria aniquilar totalmente essa moça. Que se dane! Edward Cullen estava brincando com meu coração e me enlouquecendo. Por que ele tinha que aproveitar todas as ocasiões para me lembrar que estava com Rosalie?

É claro que não dormi direito aquela noite. Ficava voltando toda hora na parte do beijo, puxando a lembrança e a sensação da sua língua em minha boca e suas mãos em volta do meu corpo. Droga! Quando o dia finalmente chegou e o quarto começou a ficar mais claro com os raios de sol entrando pelas frestas da cortina, decidi que era hora de levantar. Não ia mesmo conseguir dormir mais do que aquilo e pelo menos poderia ocupar a mente com a Sofia.

Passei grande parte do dia ocupada, brincando de bonecas assassinas que corriam atrás de uma pobre coitada de uma bonequinha loira capenga que já estava com algumas partes de cabelo faltando. Sofia tinha um talento genuíno para a coisa. Felizmente, não precisei me preocupar muito com Edward, já que depois que entrei em meu quarto e fui dormir, não o vi mais. Parece que Rosalie ocupa muito tempo da vida dele.

Na segunda-feira fiz questão de acordar bem antes de o despertador tocar, pois estava começando a ficar chato a garota chegar frequentemente em cima da hora no colégio. Deixei-a acordada e desci para preparar algo para comer. Edward estava sentado na mesa da cozinha lendo seu jornal habitual. Pensei se deveria voltar ao quarto ou encarar a situação de uma vez por todas.

— Bom dia. Edward. Hum. Abigail. — não que ela fosse me dar bom dia, é claro. Só queria confirmar que não estava sozinha com ele.

— Bom dia, Bella. — ele baixou o jornal e fixou os olhos em mim. — Dormiu bem?

Se eu disser que não, vai soar muito ruim? Peguei um pão e comecei a passar manteiga, quando a empregada colocou a droga do leite na minha frente. Empurrei educadamente a caixa para longe de mim e ele me olhou.

— Não vai tomar?

— Não, obrigada. Estou pensando em fazer uma dieta e o leite é a primeira coisa a ser riscada da lista de alimentos. E sim, dormi muito bem.

— Ah. Que bom. — franziu a testa e voltou a pegar o jornal. — Mas não acho que você precise fazer dieta. Você está ótima assim.

Esse era meu maldito patrão. Uma hora ele elogia e te deixa totalmente boba, depois te beija inesperadamente e por fim, sai distribuindo um milhão de desculpas.

[...]

Sim, chegamos no colégio de Sofia e o sinal estava bem longe de bater, finalmente! Consegui me despedir dela tranquilamente e fiquei esperando que sumisse dentro do prédio. Vi quando Jacob saiu do estacionamento e pensei em ir embora antes que ele me visse ali, mas já estava na hora de mudar minha tática. Pelo menos alguém parecia se interessar por mim. Esperei que ele se aproximasse e coloquei um sorriso encantador no rosto.

— Isabella, bom dia.

— Oi.

— Tudo bem? — oh, não esperava pelo beijo no rosto. — Como estão as coisas em casa?

— Tudo indo. Meu patrão resolveu acreditar em mim. Sobre aquele problema...

— Sim, eu lembro. — ele sorriu. — Não costumo esquecer episódios sobre beijos e maconha assim tão rápido.

— Shhh! Ficou doido? Falar assim em voz alta? — algumas pessoas estavam olhando na nossa direção e eu não sabia dizer se era por causa do beijo ou da maconha.

— Ninguém ouviu. — mas mesmo assim ele abaixou a voz e enfiou as mãos nos bolsos. — Então, quando terei o prazer de te levar para sair novamente? Dessa vez, sem a companhia do seu patrão.

Ok, ok, era uma ideia completamente estúpida. Mas por Deus, eu precisava mudar a minha situação patética. Estava na cara que somente meus olhos brilhantes não estavam fazendo o trabalho completo. Edward podia até ter uns colapsos de vez em quando, mas a verdade é que seja lá o que se passe naquela cabeça, não era suficiente para eu ter uma chance real com ele. E eu sei, isso que eu vou fazer é vergonhoso, mas sempre funcionou em todos os livros que eu li. Eu tinha que esfregar Jacob na cara dele. E vamos combinar. Olhando atentamente para o moreno – não muito alto, confesso – na minha frente, tenho que dizer que não seria lá um grande sacrifício. Ele era legal comigo.

— Que tal na sexta? — soltei e torci para que não me arrependesse disso depois.

— Sério? — por que diabos ele estava tão surpreso? — Uau, ótimo! Sinceramente, achei que você fosse dizer não.

— Pois eu disse sim. — será que eu não era levada a sério por ninguém?

— O que gostaria de fazer?

— Surpreenda-me.

Não me despedi, apenas dei um sorrisinho e vim embora sem olhar para trás, chocada pela minha resposta atrevida. Fiquei tão feliz com minha decisão que resolvi ir ao shopping depois do almoço, procurar roupas interessantes que coubessem em meu orçamento de babá. Consegui garimpar coisas realmente boas, de qualidade, em uma lojinha simpática que provavelmente iria me receber outras vezes.

Estava satisfeita com meu dia apesar de todos os problemas do coração. Sofia era uma completa distração e quando chegou da escola me contou que participaria de uma peça no final do ano.

— Mas Sof, você esqueceu que não fala? — ou será que ela pretendia contar para o pai? Nós precisaríamos conversar antes sobre isso, pois não podia correr o risco dele descobrir que tudo era fachada.

— Não vou falar.

— Não vai? — oh não. Isso já aconteceu comigo. — Ah Sofia, não me diga que você será a árvore? Pobrezinha!

— Não, vou fazer papel de muda.

— Muda? Ah Sofia, seu pai ia ficar tão feliz se te visse falando durante a peça...

— Eu sou o fantasma, não posso falar! — ela fez aquela carinha fofa com um beicinho, que não se adequava muito ao seu perfil de criança malvada quando jogava com Rosalie. — E você vai fazer minha roupa!

Eu vou o que?

— Querida, eu não sei costurar.

E isso era verdade absoluta. Deus sabe que já tentei. Uma vez estava no shopping usando uma calça de tecido fino e era a primeira vez que eu usava aquela roupa. Então, num passe de mágica, quando estava me olhando no espelho após ter ido no banheiro, achei um furo na bunda. Sim, bem no meio da bunda! Fui até aquelas moças que ficam tomando conta dos banheiros de shopping, elas costumam ter acessórios de costura e uma delas me emprestou uma agulha e linha. E aí entra a propaganda enganosa, pois nos adesivos fixados nas paredes tem escrito que elas estão ali para nos ajudar, mas não foi o caso. Eu precisava que costurassem para mim! E é claro que eu tentei de todas as formas fazer um trabalho limpo, mas no fim das contas acabei indo direto para casa, pois tinha ficado com uma verruga preta no meio da bunda. Era com isso que a linha preta embolada ficou parecendo.

— Mas você tem que fazer. — beicinho novamente. — As mães das minhas amigas vão fazer as delas.

— Ah.

Porra de jogo baixo! Como eu poderia dizer para uma órfã que ela não iria participar da peça por não ter uma mãe? Não me mostraram nenhum manual de como agir nessas horas. E o pior é que eu não sabia dizer o que seria pior: Sofia subir no palco com algo costurado por mim ou Sofia não subir no palco.

— Eu vou fazer, Sof. Uma fantasia bem bonita! — congelo o sorriso. — Você vai ficar adorável!

— Oba! — ela pulou em cima de mim e me beijou.

— Como você tem que se vestir?

— Como fantasma.

— É claro, me ajudou bastante.

Um lençol branco, com dois buracos para os olhos, um para o nariz e outro para a boca, serviria, certo? Será que Abigail sabia costurar?

— Atrapalho? — meu coração vivia quase em função daquela voz e agitou-se no meu peito quando a ouviu.

— Não.

Tive que me recuperar rápido do susto, pois não sabia se Edward tinha ouvido Sofia falando. Mas a julgar pela sua expressão tranquila, imaginei que não. Ele entrou no quarto e minha vontade de sair correndo foi grande. Por que ele tinha que ser tão gostoso? Estava de terno com a droga da gravata frouxa e começava a tirar o paletó. Como alguém conseguia trabalhar no mesmo local que ele e não tocá-lo? Ou será que tocavam? Hum, será que Edward era um chefe tarado, daqueles que pedia para a funcionária ir ao seu escritório e fazer hora extra? Chega, Bella!

´— A Sofia vai participar de um teatrinho no colégio, Edward.

— É mesmo? — era tão fofo vê-lo envolvido com a filha, que não pude deixar de sorrir ao ver o brilho em seus olhos quando soube da notícia. Edward ajoelhou-se ao meu lado e apoiou a mão nos joelhos. — Minha princesa está virando atriz? Não sei como se vou aceitar a senhorita sendo assediada por fãs malucos.

Tudo bem, talvez ele estivesse orgulhoso até demais. Será que lembrava a idade da filha e que bem, ela provavelmente se tornaria uma péssima atriz se continuasse com aquele joguinho de mudez? Ah, Edward...

— Do que ela precisa, Bella?

— De uma fantasia.

— Certo. — a cara de quem não podia me ajudar. — Hum, você cuida disso?

— É claro. — abri um sorriso gigantesco, queria vê-lo orgulhoso de mim também. — Sofia ficará lindíssima, um fantasma de fazer o queixo cair.

— Que bom! — ele puxou o rosto da filha e a beijou na testa para em seguida fazer o mesmo gesto na minha direção. Mas acho que se tocou que eu não era bem uma criança para ficar recebendo beijos na testa e o máximo de contato que teve comigo foi um carinho atrás da cabeça. — Posso falar com você? Lá fora?

Deixamos a menina com seus brinquedos e saímos do quarto. Edward foi andando na frente, na direção do seu quarto e cheguei a cogitar a hipótese improvável dele estar me levando para a cama. Sério, quando eu ia aprender?

— Então. — parou e virou-se e eu estava tão distraída que quase bati de frente com ele. — Sobre Sofia, você acha que isso pode dar certo? Ela numa peça? Qual é o papel dela?

— Fantasma. Sem falas. Provavelmente só vai ficar agitando os braços e arrastando correntes.

— Nós temos uma festa para ir.

E a pessoa muda de assunto completamente. “Nós”? Quem concedeu a esse homem o direito de confundir nossa cabeça dia sim dia não? Eu estava quase declarando suspensa a minha missão com Jacob, crente que Edward finalmente tinha se dado conta de que eu era uma companhia muito melhor que Rosalie.

— Uma festa? Que legal, quando? — feliz como criança em parque de diversões vendo a roda gigante girar.

— Sábado, na casa da Rose.

— Rose?

—Rosalie. — encolheu os ombros e parecia até estar esperando que eu tacasse algum objeto nele. Bem, isso passou mesmo pela minha cabeça. — Ela vai dar uma festa em casa e faz questão que eu leve a Sofia. Acho que Rose está tentando de verdade se entender com ela.

— Ah sim. Você e Sofia. — respirando devagar para acalmar os nervos. — Por que está me contando então? Deveria falar com a Sofia.

— Ué, se ela vai, então você também vai.

O que? Não! Não! Mil vezes não! Era humilhação demais ter que entrar em território inimigo, não como acompanhante, mas como babá. Por que ele não podia aproveitar um momento a sós com a filha? Será que tinha planos de levar a festa para outro nível, num que ficasse no andar de cima, no quarto da loira? Sim, aí ele precisaria de alguém para tomar conta da criança. Ah, maldição!

— Você tem certeza que eu preciso ir?

— Eu sei, me perdoe por ocupá-la com isso, mas é que Rosalie não abre mão da presença da Sofia.

— Eu tinha planos para sábado, então posso levar alguém? — eu tinha planos de ficar vendo filme até de madrugada, mas isso ele não precisava saber.

— Bem... — parecia estar pensando no assunto, de cabeça baixa encarando os sapatos caros. — Pode, claro. É o professor?

— Lógico, quem mais seria? Ele não é adorável? — toquei de leve em seu ombro. — Obrigada!

E meu plano estava entrando em ação antes do que eu imaginava. Só precisaria agora fazer uma aula de “como ser sexy de vestido curto e sapatos altos enquanto corre atrás de uma criança – aprenda em 5 aulas”.


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Notas finais do capítulo

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