Procura-se Uma Babá escrita por Kel Costa


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Bora ler um pouquinho pra alegrar o final de semana?
;)



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Quando saí da piscina, já com o sol desaparecendo no horizonte, tinha vontade de subir as escadas saltitando. Tinha sido um dia ótimo, na piscina com Edward e Sofia. Meu patrão estava definitivamente muito estranho cheio de conversa para cima de mim e todo carinhoso. Não parecia nem de longe o Edward que tinha me pedido para esquecer o tal beijo. Fiquei frenética dentro do quarto, experimentando todo o meu guarda-roupa para decidir o que usar. Não podia ser nada muito desleixado, mas também não queria passar a impressão de que tinha passado horas escolhendo o que vestir.

A campainha tocou lá embaixo e um frio percorreu minha espinha quando pensei que poderia ser a megera loira para acabar com minha felicidade. Respirei fundo e tratei de me concentrar na roupa que usaria. Independente de Edward mudar ou não de ideia sobre me levar ao cinema, eu estaria bem arrumada quando recebesse a terrível notícia. Isso faria com que ele sentisse um enorme peso na consciência por me dar um bolo.

— Bella?

Tropecei na calça jeans que estava vestindo quando ouvi a batida na porta e a voz do meu patrão atrás dela. Ele não poderia saber que eu estava me arrumando com algumas horas de antecedência.

— Já vou! — joguei o jeans para trás da cama e corri para a porta. Estava prestes a abrir, quando lembrei que tinha trocado o biquíni por uma calcinha. Droga.

— Está tudo bem?

— Sim, estou me vestindo. Só um minuto. — catei uma toalha que estava pendurada na maçaneta da porta do banheiro e me enrolei rapidamente nela. Abri a porta esbaforida. — Sim?

Não pude deixar de notar seus olhos descerem pelo meu corpo e retornarem ao meu rosto, com uma pequena e rápida mordida nos lábios que me deixaram arrepiada, mas firme ali na frente dele.

— Hm... Você tem visita.

— Tenho? — não queria dizer que era impossível, já que eu não tinha feito amizades ainda, mas não seria bom passar essa imagem triste a ele. — Quem será?

— Seu amigo Jacob. — algo na sua voz dava a impressão de que ele não tinha ficado feliz com aquela visita. — Ele está lá fora, não quis entrar.

Eu não estava com muita vontade de falar com Jacob naquele exato momento, até porque eu tinha outras coisas ocupando minha mente, mas resolvi descer só para deixar claro para Edward que tinha mais gente interessada em mim.

— Já vou descer, só preciso me vestir...

Ele não respondeu nada, apenas deu um sorriso meio falso e voltou pelo corredor, descendo as escadas de forma robótica.

Coloquei um vestido soltinho no corpo, bem estilo “saída de praia” e desci as escadas, encontrando com Edward sentado no sofá, lendo jornal e Sofia sentada no tapete cercada de seus brinquedos.

— Oi. — fechei a porta quando saí, Jacob estava de costas. — Tudo bem?

— Tudo ótimo. — ele sorriu mostrando seus dentes perfeitos e super brancos. Se aproximou e me beijou no rosto, embora pareça ter tentado atingir outro alvo. — Melhor agora.

Ficamos os dois calados, olhando um para o outro, até que Jacob pigarreou e enfiou as mãos nos bolsos da calça cargo. Deu de ombros e apontou com o queixo para a casa.

— Como ficaram as coisas com seu patrão?

— Nós conversamos, ele demorou a acreditar, mas agora está tudo bem.

— Fácil assim? — Jacob arqueou uma sobrancelha.

— Sim.

Dei meu melhor sorriso. Não ia contar a parte em que nos beijamos. Talvez ele não conseguisse entender.

— Bem, enfim, passei aqui para saber se você quer fazer alguma coisa hoje. Um cinema, talvez...

— Não dá, mas obrigada.

— Ah vamos, não se faça de difícil. — se aproximou mais de mim. — Já vencemos o primeiro encontro, que é sempre mais estranho.

— Eu não posso sair hoje, Jacob.

— Jake, por favor. — ele abriu um sorriso que o fazia parecer uma criança feliz e meu coração balançou um pouco. Mas não. Eu tinha outro programa e não era hora de pensar em homens. Bem, em outros homens.

— Jake. Não posso sair hoje, ok? Tenho que tomar conta de Sofia.

Sei que não era verdade, mas não podia dizer que estava dando um fora nele para sair com meu patrão, por quem eu sou apaixonada. Ficava muito mais bonito dizer que precisava trabalhar.

— Seu patrão vai sair?

— Sim.

— Você tem mesmo que ficar com a menina?

— É para isso que sou paga. Tenho que tomar conta dela. — fiz minha melhor cara de pobre coitada, dando de ombros e fazendo beiço. — Infelizmente. Mas ei, nós podemos marcar para outro dia.

Jacob não parecia muito satisfeito com a minha resposta ao seu convite, mas ele sabia que não podia fazer nada para reverter a situação. Bem, porque até então apenas o que ele sabia é que eu iria trabalhar. Só que como as coisas nem sempre funcionam da forma que a gente quer, Edward abriu a porta e interrompeu nossa conversa.

— Espero não estar atrapalhando... — ele começou. — É só que não quero sair de casa atrasado.

— Já vou entrar, Edward. — meu coração acelerou, com medo de ser desmentida. — Pode ficar tranqüilo que tomarei conta de Sofia para você sair.

Notei seus olhos se estreitarem muito discretamente, com dúvida pairando neles, mas parece que ele entendeu minha deixa e apenas sorriu secamente. Estendeu a mão para Jacob, que a apertou.

— Até mais. — o patrão falou.

— Claro.

Que tipo de cumprimento era aquele eu não fazia a menor ideia, pois senti certa hostilidade no ar. Os dois pigarrearam e então Edward entrou novamente, não sem antes olhar novamente em meus olhos.

— Então acho melhor te deixar livre para trabalhar, não é?

— Sim, sinto muito, Jacob. — sorri carinhosamente, dando a impressão de que estava tão arrasada quanto ele, quando na verdade eu queria mais é entrar correndo e voltar ao meu experimento com as roupas. — Nos vemos depois?

— Sim, acho que sim.

Ele se aproximou e beijou meu rosto, pressionando com força minha bochecha como se quisesse marcar território, ou então somente minha pele mesmo. Senti sua mão apertar minha cintura e então me largou. Esperei que ele entrasse no carro e fosse embora para voltar para dentro. Edward estava no mesmo lugar em que o encontrei quando desci as escadas.

— Ele estava te chamando para sair? — perguntou casualmente.

— Hum. Sim.

Largou o jornal sobre a mesinha de centro e levantou os olhos para me olhar. Eu não sabia dizer se ele só estava mesmo curioso ou havia mais alguma coisa acontecendo. Seu olhar não me dizia muita coisa.

— Não queria atrapalhar nenhum plano seu, Bella. — pela forma como ele falava, parecia mesmo arrependido de ter me chamado para sair.

— Oh não, eu não tinha nenhum plano. Isso foi ideia do Jacob. Tipo, agora. — notei que estava demonstrando mais preocupação em explicar-me do que outra coisa. Parei e respirei. — Eu não sabia de nada, ele só resolveu vir e me convidar.

— Entendo. — Edward deu um de seus sorrisos tortos que deixavam minhas pernas bambas. — Mas foi impressão minha ou você inventou uma mentira cabeluda para ele?

— Inventei. Não queria que ele pensasse besteira.

Saiu sem querer, mas quando Edward arqueou as sobrancelhas e alargou mais ainda o sorriso, eu percebi que tinha me expressado mal. Ou não, né? A verdade é que eu realmente não queria que Jacob ficasse pensando que eu estava tendo um caso com meu patrão. Não que eu não quisesse ter um caso com ele.

— Quero dizer, ele podia pensar besteira no sentido de achar que meu trabalho é moleza. — não sabia o que fazer com minhas mãos, pois sempre ficava super desconfortável quando conversava com alguém enquanto a pessoa estava sentada e eu em pé. Me sentia pelada no meio de uma avenida movimentada. Por fim, cruzei as mãos atrás das costas. — Não quis falar no sentido, você sabe... besteira.

— Entendo que existem vários níveis de besteira para serem interpretados. — como ele parecia estar se divertindo com aquilo, resolvi encerrar de vez a conversa e subi as escadas de volta para meu quarto sem falar mais nada.

Demorei mais uns quarenta minutos para finalmente escolher a roupa certa. Estava até bem adiantada, considerando que eu precisei revirar o armário todo para encontrar algo que servisse para a ocasião. Por fim, quando cheguei na sala, com Edward e Sofia me esperando enquanto brincavam no sofá, percebi que fiz a escolha certa. A menina abriu um sorrisão e o pai percorreu os olhos rapidamente pelo meu corpo. Tinha escolhido um jeans escuro e bem justo, uma bata branca que acabava exatamente onde começava a calça e arrematei o look com um cinto fininho marcando a cintura. Calcei sandália preta de saltos finos e prendi um lado dos cabelos com um grampo com cristais swarovski que minha melhor amiga tinha me dado no meu último aniversário. Como eu era um pouco friorenta quando se tratava de cinemas, peguei um casaquinho preto bem fino para levar por segurança.

— Você está ótima. — Edward falou depois que alcancei o último degrau e parei na frente deles.

— Obrigada.

— Vamos então? — ele fez um gesto que indicava que iria colocar a mão em minhas costas, mas arrependeu-se no meio do caminho e disfarçou muito bem.

Precisei manter um grande controle de meus nervos para não começar a chorar pelo que tinha acabado de acontecer. Ele deveria ter certeza que eu nem sequer tinha notado o que ele pretendia fazer, mas a verdade é que eu notei. Fiquei me perguntando o que o levou a mudar de ideia e o que passava na cabeça dele para não ter feito o que queria. Era tão perigoso assim manter contato físico comigo?

O carro parecia um cemitério de tão silencioso durante o trajeto. Sofia não ajudava nessas horas, já que mantinha a aparência de muda. Eu não estava também muito disposta a falar e Edward parecia concentrado dividindo a atenção entre o volante e o celular. Ele estava recebendo mensagens de texto a cada 3 minutos e elas provavelmente vinham de um lado muito negro do universo: Rosalie.

— Então, o que nós vamos assistir? — resolvi quebrar o silêncio que já estava me incomodando e também queria desviar a atenção dele do celular.

— Vocês duas podem escolher. — pela primeira vez desde que saímos de casa ele virou-se para me olhar. — Aceito qualquer sugestão.

— Bem, como Sofia não fala, acho que ela não vai se incomodar em não escolher o filme, não é mesmo? — provoquei e recebi um tapa no topo da cabeça, seguido de uma gargalhada. Edward também riu e eu, por conseqüência, acabei rindo também. — Certo, eu deixo Sofia escolher.

O cinema estava lotado e nem precisamos entrar para descobrir isso, pois ficamos quase vinte minutos procurando por uma vaga para estacionar o carro. Depois de muita espera, conseguimos um local bem afastado da entrada e fomos andando devagar. Quando nos aproximamos, pude ver filas quilométricas na bilheteria e nas portas de algumas salas.

— O que está acontecendo aqui? — parei assustada encarando a bilheteria e cogitando a hipótese de voltar para casa. Eu era preguiçosa e fila era uma das coisas que eu mais odiava no mundo.

— Acho que é estréia de algum filme famoso... — ele tentava descobrir, olhando os televisores nas paredes que mostravam o que estava sendo exibido em cada sala. — Ah, é aquele tal de Crepúsculo. Ou melhor, alguma de suas continuações. — deu de ombros. — Estou por fora.

Fiquei quieta e não contei a ele que eu também até que gostaria de entrar numa dessas filas para ver o filme, afinal, ele acharia bem estranho considerando a idade da maioria das garotas das filas. E a histeria delas. Eu tinha que passar uma imagem de pessoa madura, que estava plenamente qualificada para tomar conta de uma criança. Portanto, fiz uma careta hollywoodiana e revirei os olhos.

— Não entendo o que essas garotas vêem nesses vampiros que brilham no sol. Fala sério, será que não percebem que não há nada de sensual em seres que bebem sangue?

Ok, talvez eu tenha me empolgado e falado um pouco alto demais para o lugar em que me encontrava. Antes que Edward pudesse me puxar pela mão e me tirar de perto da maior fila de todas, eu fui agraciada com alguns palavrões e um “loser” gritado em minha direção.

— Compreendo sua revolta, mas não acho que seja o melhor momento para falar mal de um filme. — ele riu.

— Certo. Anotado.

Paramos de frente para uma série de cartazes pendurados na parede ao lado da bilheteria para podermos escolher o filme. Sofia logo apontou para um deles e eu até fiquei feliz pela escolha. Era o Toy Story 3, que eu ainda não tinha visto e queria muito ver.

— Tem certeza, querida? — ele afagou os cabelos dela e depois me olhou. — Tudo bem para você?

— Claro, eu adoro Toy Story!

— Jura? — seu sorriso torto arrebatando meu coração mais uma vez.

— Bem, é claro que eu sei que é um desenho e tal, mas eu tinha uma vizinha que tinha uma filhinha que adorava e ela não tinha nunca companhia para ir ao cinema assistir aos desenhos. — peguei fôlego, precisava me explicar antes que ele me achasse infantil demais. — Então você sabe, eu assistia muitos desenhos. Entre eles, Toy Story. O um e o dois.

— Bella...

— Mas não que eu ache assim uma coisa ótima de se assistir. Sabe, claro que prefiro muito mais um bom filme de ação, com pancadaria, perseguição de carro... — ele gostava disso, né? Bem, eu esperava que sim, já que todo homem adora esse tipo detestável de filme. — Mortes, bastante sangue...

— Bella. — ele segurou-me os dois ombros e aproximou o rosto, como se estivesse diante de uma pessoa surda e quisesse que ela lesse seus lábios. — Por que você está dando toda essa explicação? Eu adoro desenhos!

Ah fala sério. Ele podia ter dito isso alguns litros de saliva antes, né? Eu tinha me esforçado por nada. Sofia me encarava de braços cruzados e cara fechada, como se não tivesse gostado nem um pouco do meu discurso.

— Você gosta de desenho? — perguntei só para confirmar.

— Quem não gosta? — ele levantou os braços no ar e sorriu. — Desenhos sempre resgatam um pedaço da nossa infância, da época em que tudo era perfeito e podíamos sonhar. — ele deu a mão à Sofia e dessa vez, para meu total encanto, tocou minhas costas, me levando junto com ele até a fila da bilheteria. — Na verdade eu até acho que uma pessoa que não gosta de desenhos deva ter algum tipo de problema.

Queria poder voltar no tempo e apagar toda a baboseira que falei, mas já era tarde. Enquanto eu percebia alguns olhares femininos em nossa direção — na direção de Edward para ser mais exata — meu patrão tirava a carteira do bolso para pegar o dinheiro. Todos os gestos que ele fazia, até mesmo o simples ato de abrir uma carteira de couro, eram incrivelmente sensuais. E não era só eu que estava achando isso.

— Tudo bem, eu confesso que adoro desenhos. — dei de ombros. — Só não queria que você fizesse uma imagem errada de mim.

— Não faria. — ele que estava até então com os olhos baixos concentrado na carteira, levantou-os para me olhar. E logo depois os direcionou para algo atrás de mim. — Além do mais, você tem cara de ser daquelas que choram por qualquer expressão triste de personagens de desenho animado.

Eu já nem estava mais prestando atenção no que ele dizia, pois tinha sentido que o olhar dele para algo ou alguém atrás de mim era o tipo do olhar com o qual um homem demonstrava interesse pelo que estava vendo. Discretamente, fingi estar incomodada com alguma coisa no salto da sandália e olhei para trás, para baixo e depois para cima. O que estava atrás de mim eram duas loiras estonteantes de quase 1,80 com coxas bronzeadas e bem torneadas e decotes super generosos. Olhando mais atentamente, vi que elas eram gêmeas. Claro, porque além de serem perfeitas, tinham também que ser o objeto de fantasia de 99,99% dos homens do planeta. Que maravilha!

— Você está enganado. — soltei um alto e sonoro pigarro, pois Edward ainda estava olhando para as gêmeas. — Eu não sou de chorar assim como pensa.

— O que? — o filho da mãe nem estava prestando atenção em mim. Ótimo. — Desculpe, o que você disse?

— Eu não choro.

Edward sorriu para mim e apertou a bochecha de Sofia, como se quisesse demonstrar que era todo nosso. A fila foi andando e de vez em quando ele olhava para as beldades, tentando disfarçar muito mal e porcamente. Eu já estava com o sangue fervendo por causa das risadas eróticas que as loiras soltavam esporadicamente, chamando a atenção de todos os homens do recinto.

— Com licença. — tremi quando a voz rouca e sexy se aproximou do meu ouvido. — Você pode nos dizer a hora, por favor? — era uma das gêmeas, que agora estava tocando no pulso de Edward.

— São 18:30. — ele exibia um sorriso reluzente para ela.

— Obrigada!

Não pensem que eu não notei que aquilo foi apenas uma desculpa para puxar assunto com Edward, pois alguns minutos antes, da última vez que olhei para elas, ambas estavam com os celulares nas mãos. Finalmente chegou nossa vez na bilheteria e respirei aliviada. Edward comprou os três ingressos — eu me ofereci para pagar o meu, mas ele não deixou — e saímos de lá.

Nossa sala não tinha fila, então pudemos fazer tudo com calma, já que ainda faltavam alguns minutos para a sala abrir. Compramos pipoca e refrigerante e quando notamos movimento para a nossa sessão, fomos para a sala.

— Olhe quem está aqui. — ele me cutucou e eu olhei.

Para minha infelicidade, as duas gêmeas estavam sentadas bem no meio do cinema, tagarelando e gesticulando bastante. Uma delas tinha colocado um pé sobre a poltrona da frente, exibindo sua linda perna para quem quisesse babar. Como Edward, por exemplo.

— Não vamos nos sentar? — eu estava impaciente com aquilo. Se os lugares não fossem previamente escolhidos, na hora da compra na bilheteria, eu não duvidava de que Edward fosse querer sentar perto delas.

— Sim, vamos.

Subimos a escadaria que levava à última fileira de poltronas, bem lá no alto e quando entramos por ela, eu fui na frente. Edward deixou que Sofia entrasse atrás de mim, de forma que ao nos sentarmos, a menina acabou ficando entre nós dois. Por mais que eu gostasse de Sofia, fiquei bem decepcionada com aquilo. Como se adivinhasse o que se passasse na minha cabeça, Sofia levantou e puxou minha mão para me fazer levantar.

— O que foi? — eu sabia exatamente o que ela queria, mas não podia mostrar tanta certeza assim. Precisava me fazer de inocente.

— Acho que ela quer que você levante. — Edward franziu as sobrancelhas e tocou o braço da filha. — O que foi, querida?

Para poder dar continuidade ao teatro de Sofia, eu me levantei e encolhi os ombros enquanto ela se sentava em meu lugar. Olhei para Edward, que sorriu e levantou as mãos.

— Acho que ela não quer sentar ao meu lado.

— Também acho... — e me sentei na poltrona ao lado dele, esticando uma mão discretamente para apertar a de Sofia. Boa garota.

Estávamos sentados no cinema, esperando o filme começar. Aquele momento em que não se tem muito o que fazer, onde ficamos ouvindo músicas do tempo da minha vó, com as luzes acesas inibidoras e prestando atenção em todo mundo que chega. Bem, eu prestava atenção em qualquer um, já Edward parecia estar mais interessado nas malditas loiras lá da frente. Porque claro, como se não bastasse a presença delas, a interrupção que elas fizeram em nossa conversa mais cedo, elas também tinham que falar alto e dar gargalhadas que o cinema todo escutava.

— Tem gente que não sabe se comportar em locais públicos como cinema, teatro... — falei como quem não quer nada, olhando para minhas unhas.

— Hein? — Ora mas que hein? Edward estava tão fora de órbita que nem sabia do que eu estava falando? Suspirei e sorri.

— Aquelas meninas. O cinema todo está ouvindo a conversa delas.

— Ah! O que tem? Estão só se divertindo. — piscou para mim com aquele sorriso ridículo de homem babão. — Não estão incomodando ninguém.

A mim elas incomodavam e muito a partir do momento que arruinavam meu encontro. Tudo bem que talvez não fosse exatamente um encontro, daqueles como manda o figurino, já que a filha dele estava presente. Mas poxa, era uma das poucas oportunidades que eu tinha para ficar assim com meu patrão e aquelas garotas estavam chamando toda atenção. Do que adiantava eu estar jogando meus cabelos para um lado e para o outro a cada 2 minutos, se Edward não tirava os olhos daquela direção?

Mas então, como se tivesse nascido para ser meu cupido, Sofia me olhou e abriu um enorme sorriso. Eu sabia que ela estava pensando em alguma coisa. A garota era um gênio. Na mesma hora, Sofia levou as duas mãos aos ouvidos e fez uma cara tão feia, que se eu não soubesse do que se tratava, acharia que estava tendo uma dor de barriga.

— O que foi, querida? — perguntei, alisando seus cabelos. — Está achando muito barulhento?

Ela fechou ainda mais a cara e sacudiu a cabeça concordando. Olhei rapidamente para Edward e dei de ombros. Virei-me novamente para Sofia.

— São aquelas meninas ali?

Fiz a dancinha da vitória quando ela concordou de novo. Então, olhei triunfante para Edward, mas com uma expressão de choque no rosto. Ele agora ia ficar super chateado por aquelas duas estarem nos incomodando.

— Poxa, até Sofia...

— Vocês duas estão com ciúmes. — meu sangue ferveu quando sua mão agitou-se no topo da minha cabeça, bagunçando meus cabelos. Depois ele esticou-se sobre mim e cutucou a ponta do nariz da filha. — Sofia já está tão crescida que sente ciúmes como se fosse gente grande.

— Ciúmes? De quem? — juro que tentei ao máximo controlar a voz esganiçada.

— Vocês duas pensam que me enganam? Estão com ciúmes, já que as garotas estão chamando a atenção dos homens do local. Mas Sofia é nova demais para querer atenção de qualquer homem que não seja eu, ouviu, senhorita?

Eu quis dar um tapa nele, só para que aprendesse a ler os sinais. Não era qualquer homem daquela droga de cinema. Era ele. Acho que até Sofia teve que se controlar para não soltar um palavrão. Bem, não que ela conheça palavrões, juro que não é culpa minha!

Perdi a vontade de dialogar sobre o assunto quando as luzes da sala diminuíram até apagarem por completo. A tela acendeu e os trailers começaram a passar. Eu estava aliviada pela escolha do filme, pois não achava que iria conseguir prestar muita atenção em filmes que fossem preciso colocar o cérebro para funcionar. Afinal, Edward estava ali do meu lado. Olhar para a tela, entender as falas, sentir o cheiro do perfume dele e observar todos os seus movimentos são tarefas demais para uma pessoa só.

Lá pela metade do filme, senti um leve choque quando nossos braços se tocaram. Eu estava usando o apoio de braço durante todo o tempo, claro, na esperança que ele quisesse dividi-lo comigo. Porém, Edward permaneceu um pouco duro e tenso, com os olhos na tela e os braços grudados nas laterais do corpo. Acho que ele finalmente cansou daquela posição robótica e quando apoiou o braço onde o meu já estava, a sensação foi maravilhosa. Eu sei que era somente um braço, mas qualquer forma de intimidade já estava bom demais para mim.

Com o canto do olho, percebi que ele me olhou rapidamente quando nos tocamos, mas foi realmente um movimento muito rápido, pois logo voltou a olhar para a tela como se nossos braços grudados um no outro não fossem nada demais.

— ... que o outro. — só peguei uma parte do que ele falou, pois minha mente estava concentrada na sensação que seu braço exercia no meu.

— Como é?

— Esse Toy Story... — falou aproximando a boca do meu ouvido — É melhor que o outro.

Eu tive que pensar rápido para não perder aquela oportunidade. Edward estava com os lábios roçando meu ouvido e eu não queria que aquilo acabasse. Precisava puxar assunto para que ele continuasse falando, falando e falando... Quem se importa com Toy Story? Eu podia alugar quando saísse na locadora.

— De qual personagem você está gostando mais? — perguntei, inclinando minha cabeça para mais perto dele, dando a entender que realmente precisávamos nos aproximar para conversar.

— O Sr. Cabeça de Batata sempre foi meu preferido. — ele deu uma risadinha rápida e baixinha, me fazendo rir junto. Eu também adorava o Sr. Cabeça de Batata, ele era sempre o que mais me fazia rir.

— Eu o adoro também!

Uma cena na tela chamou nossa atenção e com isso o papo morreu. Mas Edward não recuou, não se afastou de mim. Ele permaneceu naquela mesma posição, com o braço tocando o meu e a cabeça meio inclinada, quase tocando a minha.

Por mais que a situação não estivesse como eu imaginei, comigo e Edward dando beijos de língua e amassos geniais, também não estava ruim. Aquela proximidade era melhor do que nada e o filme estava bom. Mas aí tudo foi por água abaixo quando nos aproximamos do final. Aquela história era tão triste, mas tão triste! Quem foi o maluco que escreveu esse roteiro? Eu não conseguia parar de chorar!

— Bella? — Edward tocou minha mão. — Está tudo bem?

—Sim. — uma resposta que não emitia nenhuma veracidade. — Eles vão todos morrer!

— Não vão não! — meu choro deu uma parada quando Edward começou a alisar minha mão e foi subindo pelo meu braço, esfregando-o como se eu estivesse com frio.

Eu queria parar de chorar, era ridícula aquela situação. Nem Sofia estava tão abalada, eu acho que ela nem sequer tinha ficado com os olhos úmidos. Garota de ferro. E então finalmente as coisas mudaram na tela e minha vontade de chorar foi passando. Quando me refiz, com a plena consciência da mão de Edward me alisando, funguei ainda um pouco e depois olhei para ele.

— Bem, acho que passou.

Ele sorriu e aos poucos foi parando com o alisamento. Se eu soubesse que isso faria com que ele parasse o que estava fazendo, teria prolongado minhas lágrimas um pouco mais. Virei o rosto para Sofia e ela me olhou, sorrindo plenamente, nem um pouco afetada pelas cenas cruéis que se desenrolaram naquela tela branca.

— Não sabia que você era tão sensível, Bella. — Edward sussurou, parecendo estar super arrependido. — Se soubesse teria optado por algum filme mais de ação, que não te fizesse chorar.

— Está tudo bem. — sussurrei de volta, tentando colocar um tom sexy na voz. Acho que saiu parecendo com um som que um zumbi faria.

Ele não falou mais nada e voltamos a assistir ao filme. Já estava no final e alguns minutos depois as luzes acenderam novamente. Odeio essa parte de quando vamos ao cinema. Nos sentimos tão confortáveis e relaxados ali, protegidos por aquela escuridão, que quando as luzes acendem, é como se estivéssemos sendo jogados diante de uma enorme platéia, com um holofote na cara.

Fiquei feliz por Edward não ter feito questão de sair correndo atrás das loiras quando essas levantaram. Ele quis esperar o pessoal sair para então podermos ir tranquilamente. Quando já estávamos do lado de fora da sala, me espreguicei e tentei procurar por algum assunto para espantar o silêncio constrangedor. Tinha reparado que ainda estavam fazendo filas gigantescas para Amanhecer e sentia uma vontade imensa de entrar numa delas, só para ver meu vampiro favorito brilhando.

— O que acham de irmos comer alguma coisa? — meu patrão perguntou e pegou Sofia no colo, para beijar-lhe o rosto. Ela estava sorridente, como qualquer mulher ficaria se estivesse no colo daquele deus lórdico. Sortuda.

— Por mim... Não irá te atrapalhar?

— Claro que não. Vamos jantar, além de que preciso colocar comida nessa barriga aqui. — cutucou Sofia, que caiu na gargalhada com as cócegas que o pai fazia.

Fomos a um restaurante que Edward disse ser um dos melhores da cidade, apesar de estar vestida para ir somente a, no máximo, uma pizzaria. Se ele tivesse comentado sua idéia de irmos a lugares chiques, eu teria me produzido um pouco mais. Durante o trajeto, o clima finalmente foi ficando mais leve e descontraído. No som tocava um pouco de Bruno Mars e eu até me aventurei em alguns versos, desafinando um pouco e arrancando caretas de Sofia e Edward.

— Acho que teremos que passar em casa.

— Hein? — perguntei e ele apontou para o banco traseiro, onde Sofia tinha deitado e dormia serenamente. De repente comecei a ficar nervosa, pois se Sofia fosse para casa então seria só eu e ele o resto da noite. — Hum... Se você acha...

— Não vou acordá-la. — e me lançou um olhar ligeiro, dos pés à cabeça, que me deixou arrepiada. — Nem vou te deixar faminta.

Minha fome era de outra coisa bem diferente, pensei. Algo relacionado a Edward pelado, nossos corpos nus suando um sobre o outro, pés entrelaçados... Realmente não fazia idéia de onde tantas imagens assim estavam surgindo. Como se eu tivesse muita experiência no assunto.

— Você... Não precisa sair com Rosalie? — queria me estapear por ter tocado no nome da vagabunda.

— Não.

— Se você faz questão então... — limpei a garganta. — Vamos jantar.

Com o trânsito tranqüilo fizemos o caminho para casa rapidamente. Edward levou Sofia no colo até o quarto enquanto fiquei no carro esperando por ele. Aproveite para dar uma conferida no espelho e ver se minha cara estava aprovada para entrar no restaurante. Nem cheguei a notar que ele tinha voltado, até que a porta se abriu.

— Podemos ir.

O restaurante era mais longe do que o cinema e o silêncio novamente estava incômodo. Não sabia exatamente qual assunto puxar e temia que qualquer coisa que eu viesse a falar saísse com as palavras emboladas. Cacete, eu estava saindo sozinha com meu patrão. Iríamos jantar num restaurante caro como se fôssemos um casal. Minhas mãos suavam.

— Então, qual é o lance atual entre você e Jacob?

De tantas coisas para ele perguntar, tinha mesmo que trazer o nome de Jacob à tona? Apoiei minhas mãos sobre as coxas e suspirei, pensando na minha relação com o carinha.

— Não sei se há algum lance real entre nós dois. Quero dizer, nós saímos e tal, mas não é como se eu tivesse alguma coisa com ele.

— Mas ele quer. — me olhou de relance, voltando logo a atenção para a estrada. — Alguma coisa com você. Ele te olha como se fosse um cachorrinho sem dono.

— Você acha?

Me arrependi imediatamente daquela pergunta. Eu não estava nada interessada em saber o que Jacob sentia por mim. É que a simples menção à palavra cachorrinho mexeu com meu coração. Eu tinha muita dó dos animais abandonados. Edward riu, mas não me parecia estar rindo de verdade, era algo mais irônico.

— Tenho certeza.

— Bem, não é nada que possa ser comparado com o que há entre você e Rosalie. — mordi o lábio. Até porque ele e Rosalie deviam estar há décadas na nossa frente, já que nem amassos eu ainda tinha dado com Jake.

Edward ficou calado, apenas consentiu. Foi a deixa para eu parar de ficar tocando no nome da loira também, já era a segunda vez. Parecia algum tipo de vodu que ela fazia comigo.

Quando chegamos ao restaurante e Edward entregou a chave ao manobrista, eu ia abrindo a porta quando fui surpreendida por ele fazendo isso. Não esperava por esse gesto de cavalheirismo e achei encantador da parte dele. Como se não fosse bastante, ele ainda me guiou à entrada com a mão em meu cotovelo. Era impossível não sorrir de orelha a orelha.

— Boa noite, fizeram reserva? — a recepcionista que arregalou os olhos e a boca ao ver Edward nos atendeu.

— Não fizemos, me desculpe. — todo galanteador para cima dela. Eu sabia que estava bom demais esse papo de abrir porta e tal.

— Senhor, infelizmente não temos mesas sobrando. Normalmente nesse horário só é possível receber reservas. — ela o olhava como se estivesse dizendo ao homem mais lindo do mundo que ele teria que ser capado. A parte do homem mais lindo eu tinha que concordar com ela.

Edward, que era esperto até demais – e sedutor, irresistível, sexy, gostoso – debruçou-se sobre o minúsculo púlpito que ficava na frente dela, pegou uma mecha de cabelo ruivo da recepcionista e deu seu melhor sorriso. A mulher piscou trinta mil vezes, ficou vermelha como camarão e abriu e fechou a boca umas dez vezes. Eu a entendia completamente.

— Meu amor, eu sei que deveria ter feito reserva, mas não estava me sentindo bem mais cedo, então achei melhor esperar para ver se iria melhorar. — ele a encarou por alguns segundos e, mesmo não precisando, pois ela já estava no papo, continuou. — Nunca conheci nenhuma mulher que ficasse tão bem de cabelos vermelhos como você.

— Mesa para dois, senhor?

A pobre coitada da recepcionista ficou lá abrindo os dois primeiros botões da blusa, para deixar o ar entrar, enquanto um garçom nos acompanhava até uma mesa perto da parede de vidro do restaurante. Edward não só tinha descolado uma mesa impossível de se arranjar, como ainda por cima nos proporcionou um dos melhores locais do ambiente.

— Você vem sempre aqui? — sussurrei para não ser ouvida pelo garçom. Ele puxou minha cadeira e esperou que me sentasse, para então pegar um dos cardápios e me entregar. Edward já estava com o dele em mãos.

— Raramente, devo ter vindo no máximo umas três vezes. Mas a comida é excelente e o atendimento também.

Sorri pensando que para ele, quase todos os atendimentos deveriam ser ótimos, pelo menos aqueles que fossem feitos por pessoas do sexo feminino. Afinal, não tenho certeza se exista no mundo uma mulher capaz de negar algo a um sorriso desses.

— É muito bonito. — enquanto tentava parecer desinibida, estava era olhando para as dezenas de talheres postos à mesa. Odiava quando ia a lugares assim, cheios de requinte. Nunca tive uma situação financeira que me deixasse freqüentar esse tipo de restaurante, então sempre ficava na dúvida sobre qual talher usar. Tinha raiva da pessoa que inventou isso.

— O que deseja, Bella?

— Eu... hm. Não tenho certeza ainda. — podia conseguir enganar Edward, mas sabia que o garçom não acreditaria em nada que eu inventasse. Pelo olhar que ele me dava, sabia que eu nem tinha onde cair morta e que a única vez que vi tantos talheres assim juntos, foi em loja de utensílios domésticos. Ele era cruel, seu olhar me arrepiava, parecia estar esperando que eu escorregasse.

Meu patrão era cavalheiro demais, pois não me deixou na saia justa. Tirou rapidamente os olhos do cardápio apenas para me olhar e mostrar que concordava com minha incerteza.

— Posso pedir por nós dois, então?

— Claro que pode! — e cruzei os dedos, rezando para que ele não pedisse nada que viesse boiando no leite, considerando meu histórico desastroso. Edward pediu uns pratos de nomes que eu não conhecia e depois finalizou solicitando o melhor vinho da casa.

Finalmente respirei aliviada quando o garçom nazista nos deixou a sós. Porém, sem os cardápios entre nós, me senti um pouquinho tensa, sem saber o que conversar com aquele homem perfeito. Eu era apenas a babá pirralha da filha madura dele.

— Posso te fazer uma pergunta, Bella? — droga, vinha alguma coisa complicada de responder, eu sentia isso. Mas sem ter muito o que fazer, balancei a cabeça e esperei. — O que você acha da Sofia?

— A Sofia? Ela é ótima! — essa foi fácil, eu realmente adorava a menina. — Temos muitas coisas em comum. — como, por exemplo, odiar Rosalie.

— Você tem passado muito tempo com ela... Acha que um dia Sofia voltará a falar?

Ele fez uma cara de sofrimento que me deu vontade de colocá-lo no colo. A menina era muito má em fazer isso com o próprio pai. Mas eu sabia que ela não mudaria isso tão cedo, seja lá quais fossem as regras. Também não adiantaria dizer a Edward que ela, para ser sincera, falava e falava muito bem. Ele não acreditaria em mim.

— Eu não sei. Acho que é um grande trauma que ela precisa superar. — dobrei meu guardanapo e desdobrei, para depois dobrar de novo. O tecido estava todo amarrotado, mas qualquer coisa era melhor do que encarar o patrão enquanto eu mentia. — Talvez ela só precise de mais atenção sua. Ela sente muito a sua falta, sabe?

— Sei, mas às vezes o trabalho me impede de estar presente. Não é uma opção minha. E tem a Rosalie também.

Pronto, ele tinha que tocar no nome da vagabunda. Dei um sorriso falso e fingi olhar em volta sem prestar atenção nas suas últimas palavras. Estava num restaurante luxuoso, com um homem lindo. Tudo que eu não queria era falar sobre a mulher que dormia com ele. Mas não deu certo, porque ele só ficou calado, me encarando. Parecia estar esperando minha resposta.

— Hm... O que tem Rosalie?

— Bem, ela já deixou bem claro que quer algo mais sério, sabe? — torceu os lábios, mas continuou lindo. — Só que não estou muito seguro disso, por causa da Sofia. Ela já não aceita Rosalie agora, imagina se eu anunciá-la como namorada?

— Totalmente concordo, Sofia não vai mesmo aceitar e ainda digo mais, acho que ela vai piorar se isso acontecer!

— E o que eu faço?

Queria poder dizer: arranja outra pessoa, mas não era bom ser assim tão direta. Nada de cair matando. O jeito certo é ir com calma e comer pela beirada, não é? Bem, minha mãe sempre dizia isso. Ela se referia ao nosso vizinho, claro.

— Acho que você deveria ir com calma. Conversar com a Rosalie e explicar a situação. Ela é uma garota tão legal, duvido que não vá entender. Qualquer pessoa entenderia. — e finalizei com um sorriso singelo. Era claro que, conhecendo Rosalie, ela não iria entender. Tentaria pressionar Edward e esse, perceberia que a loira aguada não o merecia.

Nosso vinho chegou e com ele, duas lindas taças de cristal. Fomos servidos e logo quis experimentar aquele líquido clarinho, quase transparente. Até então, só tinha provado vinhos tintos – dos mais baratos e com o copo cheio de gelo – então não fazia idéia de como era o gosto de um vinho branco. Agora podia dizer que é horrível!

— Gostou? — ele me olhou, balançando a taça com sutileza e elegância, fazendo o vinho deslizar de um lado ao outro. Era uma cena bonita, uma pena a bebida ser péssima.

— Uhum.

Queria poder beber de um gole só um copão d’água com gelo só para tirar aquele gosto amargo da boca. Ou então pedir algumas pedrinhas de gelo para mergulhar na taça. Como as pessoas podiam degustar refeições suculentas enquanto bebiam aquilo? Eu queria mesmo era uma Coca! Geladinha! Nasci para ser pobre...

— Ok, vamos deixar esse papo triste de lado. Falemos de você. — ele sorriu e apoiou o queixo com as mãos. Edward colocou os cotovelos sobre a mesa. Isso não era falta de etiqueta? Ou eu estava ultrapassada? Ou será que homens bonitos podiam fazer isso?

— Não há muita coisa interessante a meu respeito.

— Impossível! — se ele desse mais um sorriso daquele para mim, eu poderia dizer futuramente que já tive um orgasmo culinário. — Como tem se adaptado aqui? Percebi que já está bem melhor no inglês.

— Verdade, melhorei bastante. Sempre ouvi dizer que a convivência é a melhor forma de aprender e tal, mas nunca acreditei realmente. Agora sei que é bem assim mesmo.

— E quanto a estudar, você não pensou em nada ainda? Porque o combinado era que você aproveitasse para fazer algum curso, certo?

Ele estava querendo dar uma de pai para cima de mim? Eu tinha mesmo pensado na hipótese de estudar alguma coisa enquanto estivesse por lá, já que desde o princípio Edward tinha se oferecido a pagar pelos estudos. Só que agora que eu já estava lá, as coisas eram diferentes. Eu gostava muito de passar meu tempo com Sofia. Se me matriculasse em algum curso, ela ficaria ainda mais sozinha. Edward parecia ter lido meus pensamentos, pois me surpreendeu ao colocar a mão sobre a minha e me encarar.

— Não quero que fique pensando em não fazer por causa de Sofia. Você pode arranjar algum curso no horário das aulas dela.

Era só eu que sentia aquele calor que emanava de nossas mãos? Minha pele formigava onde a dele me tocava e eu queria muito entrelaçar meus dedos com os dele. Não demorou muito, infelizmente, para que ele retirasse a mão.

— Eu vou pensar e pesquisar algumas coisas. Aí te aviso quando decidir, ok?

— Vou esperar.

Como todo restaurante caro e antiquado, nossos pedidos chegaram e foram servidos em porções ridiculamente pequenas em pratos com detalhes riquíssimos na porcelana. Se um anão estivesse sentado em meu lugar, ele provavelmente também comeria e passaria o restante da noite com fome. E bem, de anão eu não tinha nada. Meu estômago era grande e possuía um buraco negro.

— Apetitoso. — arregalei os olhos para... seja lá o que era aquilo, tinha medo de perguntar.

— Sabe que comigo não tem frescuras, né? — ele piscou de um jeito que minha calcinha ensopou. — Coma só o que agüentar.

Aguentar? Eu iria lamber o prato, isso sim. Ou Edward achava mesmo que aquela refeição alimentava um ser humano saudável? Sério, qual era o problema dos ricos? Sorri me fazendo de tímida.

— Farei um esforço para não deixar sobras...

A verdade é que apesar de não saber o que tinha naquele prato – tinha gosto de frango, mas não sei de qual família era: ganso, avestruz, codorna, tudo igual –, mas a comida estava deliciosa. Se eu estivesse sozinha e fosse rica, pediria outro igual e mandaria embalar para viagem. Porém, tinha que manter a classe. Quando terminei de comer, Edward estava me olhando como se estivesse encantado com alguma coisa. Ou apenas estivesse observando algum pedaço de comida preso em meus dentes. Passei a língua para conferir. Tudo certo.

— Estava ótimo.

— Eu percebi. — ele riu e chamou o garçom. — Acho que nunca estive com uma mulher que tivesse tanto prazer em comer. Quer pedir uma sobremesa?

— Não, obrigada, estou super satisfeita. — fui educada, tentando lembrar das coisas que haviam na geladeira. Teria que fazer um lanchinho antes de dormir.

Na volta para casa, conversamos sobre coisas das mais variadas dentro do carro. Edward quis saber sobre minha família – e eu passei um tempão narrando a aventura de minha mãe com o vizinho e meu pai com a vizinha. Ele achou o máximo esse casamento nada tradicional e duvidou quando eu disse que ambos sabiam sobre as traições, mas eram tão acomodados que tinham preguiça de se separar.

Apoiei a cabeça no encosto do banco e fiquei observando a paisagem que era deslumbrante. Para chegarmos à casa dele, tínhamos que pegar a estrada que beirava a praia e aquela visão era irresistível. O mar brilhava com a luz da lua e parecia tão calmo que dava vontade de boiar, boiar e boiar a noite inteira.

— Sabe o que é estranho? Esse tempo todo aqui e eu ainda não estive nessa praia. — suspirei. A mansão de Edward ficava numa rua totalmente residencial e aquelas que ficavam do lado esquerdo eram privilegiadas com uma praia quase particular nos fundos. Desde que cheguei lá tinha vontade de pisar naquela areia, mas a piscina da mansão também era tão convidativa, que fazia qualquer um esquecer da vida lá fora.

— Você ainda não esteve na praia? — ele me olhou horrorizado.

— Bem, não é como se eu nunca tivesse ido à praia, né? O Rio tem praias lindas e eu ia quase todos os finais de semana. — abaixei o meu vidro para poder sentir aquele cheiro maravilhoso de maresia. — Mas dessa semana não passa.

— Que tal não passar de hoje? — ele fez uma curva brusca e, em vez de pegar a entrada para o condomínio, virou na direção da praia.

E desde quando eu estava preparada para ficar numa praia escura, com as estrelas brilhando no céu e Edward Cullen ao meu lado? Meu lanchinho teria que ficar para depois mesmo. Ou talvez eu virasse o lanche. Quem sabe?

— Não está muito tarde para isso? — meu coração já tinha acelerado e não achava que ia parar.

— Claro que não. Você está comigo, não corre nenhum perigo. — ele abriu um sorrisão de safado que me deu calafrios. Ele era exatamente o maior perigo que eu poderia correr.

Edward estacionou no primeiro lugar que encontrou e saiu do carro. Apressei-me para acompanhá-lo e fui recebida com um vento relaxante, que parecia vir com algumas gotas de mar. Eu já estive várias vezes numa praia no meio da noite, mas nunca numa praia tão deserta. Geralmente estava em festas e cercada de amigos e acabava nem percebendo como o mar ficava perfeito na escuridão.

— Vamos? — Edward estendeu a mão para mim e me ajudou a pular a muretinha de pedra. Imediatamente retirei as sandálias e fiquei descalça, sentindo a areia fofa massagear meus pés. Eu era rata de praia, adorava aquela sensação. Nunca fui dessas garotas que ficavam incomodadas com areia no biquíni, eu gostava mesmo de me sentir parte daquilo.

— É tão vazio aqui... Se fosse no Rio, isso estaria lotado de gente em quiosques e casais sentados pela areia. — na hora me arrependi do que disse. — Casais conversando, sabe? Não fazendo besteira.

A quem eu queria enganar, né? Praia era o reduto das besteiras praticadas por casais aventureiros e Edward tinha plena consciência disso devido a sua expressão de incredulidade. Nós paramos num ponto onde o mar não poderia nos molhar, mas que era perfeitamente possível esticar um pouquinho as pernas para sentir a areia úmida. Sentei-me ao lado dele, que arregaçou a bainha da calça e tirou os sapatos.

— Venho aqui de vez em quando, depois que Sofia já está dormindo. — me olhou com os olhos refletindo o brilho da lua. — Ou melhor, eu vinha. Agora percebo que não estive nessa praia desde que você chegou.

— Que droga.

— Não, não. É uma coisa boa. — prendi a respiração com a mão dele dando tapinhas em meu joelho. — Eu vinha aqui para pensar, geralmente na minha esposa. Era um lugar que tinha para ficar tranqüilo e pensar nela. Chorar sem que Sofia visse.

Ele chorava? Fiquei até sem palavras, pensando em que poderia dizer para confortá-lo, mas a questão é que não fazia idéia. Não podia sequer imaginar o que aquele homem sentia, pelo que ele tinha passado. Levei minha mão às costas dele e a deixei lá, sem saber se devia mexê-la ou não.

— Sinto muito mesmo por tudo o que você e Sofia passaram.

— Obrigado.

Ele apoiou os braços sobre os joelhos e virou o rosto para me olhar, apoiando o queixo no ombro. Ficou assim durante vários segundos, criando um silêncio constrangedor. Meus hormônios afloraram à medida que Edward se aproximava de mim, de meu rosto, com os olhos vidrados em algum ponto meu que eu não sabia dizer qual era. Ele ia me beijar. E eu ansiava demais por isso. Quando finalmente aproximou o rosto o suficiente da minha boca, suspirou e mudou a direção para minha orelha e tremi quando senti sua respiração.

— Não se assuste, mas tem um caranguejo do seu lado.

A merda do caranguejo estava prestes a conhecer minha ira.


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