09 de dezembro de 1502

Querida Anna,

Alec me pediu em casamento, foi tão bonito! Foi na mesma clareira onde nos encontramos pela primeira vez, a noite, com a luz da lua refletindo no lago... Não poderia estar mais feliz! Não. Estou mentindo. Poderia estar muito mais feliz e essas minhas inúteis tentativas de enganar não só a você e Alec, mas a mim mesma também estão ficando cada vez mais ridículas e patéticas.

Estaria muito mais feliz se não soubesse que fui o motivo por trás da morte precoce de minha mãe, do ódio de meu pai e da indiferença de Stefan. E principalmente, da raiva de meu querido irmão, Damon.

Sei que ele me culpa, Dam é o único de nós três que mais passou tempo com mamãe, o que mais se lembra dela. E o que a viu morrer bem diante de seus olhos, quando ainda era somente uma criança de apenas cinco anos de idade.

E também estaria feliz se não tivesse de esconder o maior e mais acontecimento de minha vida dos meus irmãos, que mais foram meus pais durantes esses 14 anos.

Dói muito Anna, dói não poder contar para eles que estou extasiada de felicidade, que finalmente encontrei o amor da minha vida. Os dois que sempre cuidaram de mim, me educaram, brincaram comigo no pomar que fica atrás de casa, me ensinaram a andar a cavalo... Eles foram mais meus pais do que o próprio Giuseppe, Anna! Como, depois de tudo que passamos, não consigo nem ao menos contar para eles que estou noiva?!

Damon anda muito estranho esses tempos, acabei descobrindo que a tal namorada dele era só um disfarce para que ele pudesse sair de casa sem ser questionado. Ele está sempre pálido, com olheiras e seus olhos negros como os meus estão opacos e sem cor. Stefan nem nota, está mais preocupado em ser o filho perfeito e ser o mais inteligente de sua escola. Acredite, já tentei falar com ele umas mil vezes, mas ele não me ouve.

Hoje tentei perguntar a Damon o que estava acontecendo, por um momento achei que fosse gritar comigo, mas como sempre, um sorriso caloroso e gentil se formou em seu rosto, enquanto ele dizia que não havia nenhum problema com ele e que eu devia parar de me preocupar.

Acho que nunca te contei isso amiga, mas sempre amei ler e escrever poesias. Meu maior sonho é ser uma escritora, mas sei que se um dia conseguir escrever um livro terei de deixar um homem qualquer publicar e colocar seu nome, uma mulher nunca poderia escrever, seu dever é ficar em casa e cuidar dos filhos. Mas, apesar das circunstancias, não consigo deixar de sonhar.

Todos os movimentos, todas as defesas

Nossas muralhas não irão cair

Nós temos os exércitos, temos todos os protetores

Mas isso será o suficiente para nos salvar?

Salvar-nos do mau que se aproxima

Da escuridão que vem cobrindo o sol sorrateiramente

É nós talvez iremos cair.

                                                     *-_-*-_-*-_-*

Como será que é perder a alma?

Muitos dizem que você nem sente

Outros dizem que a dor é insuportável

Mas ninguém sabe ao certo

Como é perder um amor?

Cada um sente uma coisa, mas uma coisa é certa

Ninguém consegue suportar a morte de sua alma gêmea

O homem se torna um bêbado falido

Porem sobrevive

Já a mulher é mais frágil, mais sensível

Nunca irá suportar essa dor

Ela irá enfiar um punhal no coração

Irá querer rever seu amado

Ela só quer parar a dor

Lizzy fechou seu diário e o guardou de baixo de seu colchão, deixando que uma lágrima escorresse lentamente por seu rosto. Eram tantos pequenos problemas que foram se acumulando durante esses anos e agora se tornara uma enorme bola de neve que vinha rapidamente esmagá-la.

Vou andar a cavalo pensou ela, isso sempre me acalma.

Já ia sair de seu quarto, quando Damon aparece em sua porta com um sorriso.

- Onde a senhorita pensa que vai? – perguntou ele.

- Andar a cavalo. Quer me acompanhar irmão?

- Lizzy, olhe pela janela, está chovendo – o moreno apontou para o enorme janelão que havia no quarto da menina. Lizzy estava tão distraída que nem havia percebido que uma tempestade caia lá fora.

- Que... Pena – exclamou ela, mas com uma enorme vontade de xingar até a quinta geração dos deuses gregos, já que nunca foi muito de acreditar em um deus só.

- Elizabeth Clarisse Salvatore, você ia falar um palavrão? – falou Damon sério, mais depois soltando uma pequena risada. A pequena já ia retrucar quando ouviram alguém bater fortemente em sua porta da frente, como se estivesse desesperado. Lizzy empurrou Damon e saiu correndo em direção a porta, com medo de que fossem Alec e Jane.

Seu amado já havia falado antes que os aldeões estavam atrás dos dois há algumas semanas e que teriam de fugir logo dali se não quisessem ser pegos, a data já estava até marcada. Porem, se alguém viesse atrás deles antes, eles deveriam vir para a propriedade dos Salvatore se esconder.

No caminho, a menina esbarrou com Stefan, que a olhava assustado, nunca havia visto sua irmã daquele jeito. Lizzy não se importou, abriu a porta, já prestes a puxar os gêmeos para dentro, quando se deparou com Henrico, o fiel empregado dos Scodelario.

- Está tudo bem Henrico? – perguntou ela tentando normalizar sua respiração.

- Quem me dera senhorinha Salvatore, quem me dera.

- O que aconteceu? Quer entrar e tomar uma xícara de chá enquanto me conta? – o homem negou com a cabeça, parecia muito abatido e agora que Lizzy observava melhor, estava todo machucado e um filete de sangue escorria de seu lábio – Dio Mio, o senhor está todo machucado! Entre, irei cuidar desses ferimentos.

- Não se importe comigo senhorita, não é minha morte que está marcada.

- Como assim, meu homem? – perguntou ela já com lágrimas nos olhos. Sua mente já formulava as piores teorias, seu coração estava disparado – quem vai morrer?

- Os gêmeos de meu senhor Aaron, senhorita, Alec e Jane – disse o homem desabando em lágrimas. Lizzy já estava prestes a imitá-lo, quando tudo de repente ficou preto.

Uma dor insuportável é a da perda

Não importa se é homem ou mulher

Ele irá sofrer

Pois seu amor já não está mais entre nós

Ele pertence a outro mundo agora