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  Alice se encontrava com as costas encostadas na cama, sentada no chão. Tapava os ouvidos e fechava os olhos, na tentativa de convencer-se de que aquilo não acontecia. Brados estridentes soavam vindos do lado de fora. Aquilo a assustava.

  De repente, sente uma mão tocar sua face, gentilmente. Surpresa, encara o anjo a sua frente. Os corpos de Bella e Gordon haviam se transformado em cinzas: a simples presença de Miguel dizimara-os completamente. Pareciam vítimas de um incêndio. A menina, no entanto, estava ilesa.

  - Miguel? - Balbuciou espantada.

  - Alice, preciso de você. - Suas palavras a confundiram. Afinal, por que Miguel não estava lutando ao lado de Dean e impedindo aquela guerra? Que fazia ali, ajoelhado ao seu lado, mirando-a com ternura?

  - E-eu... não entendo.

  - Preciso que você fale com Lucífer.

  - O que? - Exclamou, perplexa, colocando-se de pé - Ele não...

  - Não! - Pôs-se em sua altura - Você é a única a quem ele ouve. Tenho certeza de que, se pedisse, meu irmão ouviria a razão. - Pousou ambas as mãos em seus ombros. A jovem fitava os próprios pés. Temia que o marido não a escutasse e que Dean, Miguel e todos os outros morressem por sua culpa - Não tenha medo... - O anjo leu seus pensamentos. Uma de suas mãos ergueu levemente seu queixo, o que a obrigou a encará-lo - Alice, confie em mim: Lucífer te ama. Seria capaz de deixar isso tudo de lado apenas por você. - Seu olhar era suplicante.

  - Miguel...

 - Alice, por favor!

  Ela se afastou do anjo e encarou a vista da janela: o jardim estava repleto de sangue, corpos espalhados... Era terrível. Suspirou, antes de voltar-se para Miguel mais uma vez e murmurar um "Está bem."

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  Dean e Lucífer continuavam travando um combate fantástico: o caído não podia usar seus poderes de anjo, pois essa era uma das regras do combate - lutar de igual para igual. Nem mesmo ele podia ir contra as leis dos anjos. Sua espada não era tão poderosa quanto a que o Winchester empunhava, mas ainda sim, era uma arma mística: a lendária espada do Rei Salomão, a mesma a qual lhe atribuíra o título de o mais sábio dentre os reis. 

  - Sem os seus poderes você não é tão bom assim, não é mesmo? - O rapaz falava num tom ousado.

  - Não deveria ser tão orgulhoso assim...  - Disse lhe desferindo um golpe violento, que feriu-lhe um dos braços.  

  - Desgraçado! - Afastou-se ligeiro. Ambos já se encontravam extremamente machucados, porém insistiam em continuar lutando. Um filete de sangue escorria por entre os lábios de Satanás, curvados num sorriso triunfante.

  As espadas se chocavam no ar, soltando faíscas. A fúria presente nos dois olhares. O imenso salão vazio não impedia com que ambos ouvissem os ruídos vindos do jardim do castelo: os gritos ecoavam por toda a parte, os clamares por piedade... Escutavam a tudo. No entanto, nada rompia o silêncio que se instalara entre os dois adversários. Cada qual com seus pensamentos distintos. Frustração, ódio, vingança, sofrimento. Emoções que tanto um como o outro sentiam naquele instante. 

 - Por que? - A pergunta dele soara tão igual a de sua amada naquela manhã - Por que fazer tudo isso? E não vem com essa de filhinho magoado não, por que pra mim essa desculpa esfarrapada não cola!

  - Não entendo o que quer dizer, Dean. - No momento, os dois generais se miravam, ofegantes, cada um em uma extremidade da sala.

  - Gabriel me contou tudo. - As palavras do mais novo amigo ainda estavam vivas em sua cabeça:

- Você me lembra o meu irmão. – Gabriel lhe disse. Haviam passado a tarde inteira treinando e, subitamente, o anjo lhe falava aquilo. Dean o fitou, pasmo - Assim como Miguel, você está lutando para salvar seu irmão. Pena que o meu não tenha salvação...

  - Por que Lucífer está fazendo isso? - O jovem o fitava sério.

  - Um dia, meu irmão já foi o mais querido do nosso Pai. - Suspirou.

  - Então... por que?

  - Você. - Diante da careta espantada de Dean, explicou - Não só você, mas todos os humanos: "Deus criou o Homem a sua imagem e semelhança. Foi assim que tudo isso começou. Lucífer sentia que estava sendo substituído. Foi a presença do Pai e disse: "Pai, sou o teu melhor filho. Sou o mais belo, poderoso e sábio dentre os meus irmãos. Por que, então, fizeste esta criatura inferior a tua imagem e semelhança, enquanto eu, que sou um ser perfeito, não sou igual a ti? Fazei com que eu também seja como tu és, Pai!" - O arcanjo tinha um olhar que transbordava tristeza - A verdade é que, mais do que possuir a aparência de Deus, Lucífer desejava ser o próprio! Revoltado com a atitude do Pai, reuniu seus anjos, travou uma batalha no Céu contra Miguel e corrompeu o ser humano. "*

  - Quer dizer que essa guerra está acontecendo porque o filhinho mimado queria uma coisa que não pode ter? - Dean estava estatelado - QUE ABSURDO! Milhares de pessoas irão morrer e tudo porque aquele desgraçado invejoso ficou com ciúmes de Adão e Eva...

  - Eu sei: isso é ridículo. - Bufou - Agora entende o porque de eu não querer fazer parte dessa briga de família estúpida! - Os dois riram.

  - Você não entende... - O Diabo rangia os dentes.

  - Não, não: eu entendo sim. Você é completamente MALUCO! 

  - CALE A BOCA! - Vociferou avançando sobre o Winchester, iniciando novamente o combate.

 - Lucífer! - A voz doce e melodiosa de sua esposa o fez parar e fitar a porta: Alice o olhava assustada, enquanto Miguel tinha uma de suas mãos sobre seus ombros, o mirando frio e inexpressível.

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