A loja era tão grande que até havia alguns pilares – como aqueles que vemos nos estacionamentos de shoppings – e logo fiquei perdida.

Foi quando entrei numa porta branca que estava aberta.

A porta fechou-se imediatamente após minha entrada.

Senti um arrepio, como se eu estivesse num daqueles filmes de terror, com casas mal-assombradas e coisas assim.

Que besteira, essas coisas não existem.

Mas mesmo assim...

Estava tudo escuro. Esperei alguns momentos, até que meus olhos se acostumassem à escuridão, e com um pouco de esforço, consegui perceber que era um corredor curto, com apenas uma porta à frente. Assim, a única coisa que eu podia fazer era atravessar o corredor e tentar abrir a porta que restava.

Foi o que fiz. Por sorte a porta estava aberta.

Assim que a abri, porém, me encontrei numa sala totalmente branca e tão clara que a luz machucou meus olhos por alguns momentos, mesmo depois de ter ficado só alguns minutos na escuridão.

Era uma sala quadrada. Havia um pilar branco na minha frente. E bem longe de mim, sentado numa poltrona também branca, havia o garoto. Ele estava sentado com as pernas cruzadas e as duas mãos sobre o colo, como se esperasse por alguma coisa.

Ele parecia não ter me visto. Aproveitei e me escondi atrás do pilar, ficando muito quieta, prendendo a respiração, até. Eu queria descobrir mais sobre ele.

Foi quando vi uma garota mais nova do que eu, devia ter uns catorze anos, indo até ele. O garoto misterioso abriu um sorriso quando ela chegou.

– William Hunt, é você mesmo? – ela perguntou, com a voz tremendo, num tom de alegria, como se o admirasse.

– Sim – ele sorriu. – E você, quem é?

– Sou uma grande fã sua... sou Melody Stevens. Você poderia me dar um autógrafo? – ela pediu, mostrando uma caderneta.

– Muito prazer. Mas é claro – ele disse amavelmente, e assinou o papel.

– Muito obrigada! Você atua tão bem! – ela disse extasiada, como diria qualquer garota que era fã de um cara romântico – como eu mesma faria naquela situação. – Sabe, também estou começando na minha carreira de atriz. Você poderia sair comigo hoje à noite?

Outro sorriso doce.

– Eu adoraria, mas infelizmente tenho de trabalhar. Bem, eu desejo boa sorte na sua carreira.

Deus, ele era cativante. E lindo...

– Está bem! – ela não pareceu desapontada. – Obrigada Will, a gente se vê!

– Até mais, Melody.

Ouvi uma outra porta se bater. O lugar tinha saída, então. Que bom. Eu já me preparava para sair (sem ele me ver) quando vi William amassar uma pequena caixa de chocolates que a garota havia lhe dado.

Ele jogou a caixa do outro lado da sala. Que falta de sensibilidade e romantismo, pensei. Mas eu estava errada. Era muito mais do que isso. Ele se ajeitou na poltrona, com uma aura totalmente diferente da de antes.

– Francamente... garota idiota... – era sarcástico.

Sua expressão era totalmente diferente agora.  Ah, Meu Deus. Eu precisava sair dali. Analisei minhas opções – a porta ainda estava meio longe, talvez se eu saísse correndo...

Mas no momento seguinte, seu olhar me atraiu. Ele não sabia que eu estava lá, mas seu olhar me atingiu mesmo assim; de repente senti minhas pernas ficarem moles como se fossem feitas de gelatina. Eu não conseguiria correr.

Fiquei assim por uns segundos, que me pareceram horas. Quando finalmente voltei a sentir minhas pernas, senti algo estranho no meu nariz; tentei resistir, mas era impossível; acabei espirrando.

Eu acabara de denunciar minha presença.

Fiquei com vontade de falar um palavrão.

Ele se levantou rapidamente, e andava até mim.

– Lyric Angel... – o garoto falou meu nome composto, saboreando as palavras - ... então você veio para mim?