Agora que eu estava de volta, tudo estava mais calmo – ou parecia mais calmo, porque depois daquela primeira noite, eu passei a ter pesadelos.

William estava em todos eles.

Eram sonhos confusos, alguns sem muito sentido, outros que revelavam o futuro – pequenas coisas, como uma prova surpresa de alguma matéria no dia seguinte, ou uma folha caindo de uma árvore.

Mas eram sempre pesadelos – o lado bom era que William não aparecia nos dias seguintes a eles; mas eu sentia que ele estava por perto.

Algumas semanas depois, Drake teve a ideia de fugirmos. Ele me disse sua ideia por SMS – era um fim de semana, então não havíamos nos encontrado na escola.

Ele me mandou a mensagem por volta das seis da tarde. Naquela noite eu estava planejando sair para comer, mesmo sozinha, pois nenhum dos meus amigos estava disponível – nem mesmo Drake.

E eu não contara a ele sobre o que estava acontecendo – pois William dissera, no meu último sonho, que eu nunca mais veria Drake se contasse a ele. Então, achei melhor não arriscar. Eu só falava para Lunick – mesmo sabendo que ele não responderia, já era um tipo de consolo.

Bem, saí de casa às sete horas, e fui de carro até o Florida Mall, onde jantei num restaurante chamado Ruby Tuesday. A comida de lá era boa – e como eu estava tranquila (apesar dos pesadelos) comecei a reparar nas famílias sentadas nas mesas à minha volta – eu não entendia a língua que falavam, todos ali deviam ser turistas.

Sorri para mim mesma – assim era a minha cidade. Aquilo me distraiu por um momento – só depois de pagar a conta e me dirigir ao estacionamento, foi que eu percebi que algo não ia bem.

Uma estranha névoa branca tomava conta de tudo, numa noite de lua cheia. Estava meio difícil de enxergar, mas consegui achar o meu carro, e enquanto dirigia – o shopping era bem longe da minha casa – comecei a ficar com sono.

De modo que não percebi quando peguei a Turnpike*.

Continuei na estrada, enquanto ia me afastando de Orlando – e o meu sono ia aumentando. Foi quando vi um cara deitado na estrada. Tive que frear para não atropelá-lo – mas eu me aproximava rapidamente, não ia dar tempo.

Quando percebi, seu corpo bateu no vidro, na minha frente – gritei e fiquei tão assustada que perdi o controle do carro.

Quando abri os olhos eu estava de cabeça pra baixo. Presa pelo cinto, não conseguia sair. Além disso, só percebi que o vidro estava quebrado quando algo quente começou a escorrer pelo meu rosto. Não precisei olhar no espelho para saber que era sangue. Havia um caco na minha testa, logo acima da têmpora esquerda.

Por pouco meu olho não fora acertado.

Comecei a ofegar e a sentir medo – o sono se fora completamente. Ouvi passos do lado de fora. Uma cabeça apareceu no vidro lateral, na janela do motorista. Era o cara que eu atropelara.

William. E sua expressão não era nada feliz.

Ele viera me buscar.

*Turnpike é uma rodovia que atravessa a Flórida.