Corri para o meu quarto no navio. Eu não queria estar ali.

 Nessas horas eu sabia que meu lugar era na Grifinória. Como se isso importasse.

  Eu me sentei na cadeira da escrivaninha e vi o que havia em cima dela.

  Algumas figuras.

 Uns livros.

 Um dicionário.

Eu o li na página que eu marcara tantas vezes que já estava amassada de todas as vezes que eu dobrei e desdobrei a orelha.

“ Mago-1. Herdeiro da linhagem do Magix. Se for escolhido, ele poderá ser o Magix, mas também pode viver a vida inteira sem ser escolhido. 2. Componente da Casa da Vida.

Magix – Também conhecido como Magic Dominus. Mago escolhido. É na mais absoluta conclusão, uma espécie de rei para os bruxos. Ele tem poder absoluto sobre as leis do mundo da magia. Ele tem uma tatuagem em tribal na cor roxo-metálico e é assim que se distingue dos magos.[fem. Magix ou Magic Magistra]”

 Olhei em outro livro.

“ O Magix é conhecido por ser um soberano cruel para o mundo bruxo. Mas com seu poder, equivalente ao de mil bruxos, ás vezes mais, dependendo de seu sangue, e seu próprio poder. Os maiores bruxos quase sempre são magos, mas um verdadeiro magix não é escolhido em quase quatrocentos anos.”

 Olhei para uma foto, minha e de minha mãe  na cozinha de nossa antiga casa.

 Ela estava sorridente para a câmera com uma blusa até o cotovelo rosa-nude, calças jeans e o cabelo caindo em cachos com o mesmo formato que os meus, mas castanhos escurissímos ao invés do puro preto.

Ela estava do lado da pia, com uma bacia com massa de bolo em uma das mãos.

 Com a outra ela segurava minha mão, na época com uns três anos, toda suja de massa de chocolate farinha, principalmente no rosto, mais sorrindo como se tivesse ganhado um prêmio.

 No braço de minha mãe, eu podia ver a mesma tatuagem que estava no meu braço.

 Eu me virei para outro livro.

“ Só pode-se haver um magix de cada vez no mundo, e se já existe um outro, a morte do anterior é inevitável. É incomum como isso acontece. Ás vezes ele adoece, ás vezes é morto por um inimigo, ás vezes até ele próprio se mata. Mas nunca,nunca, existem ao mesmo tempo.”

– Era pra ter sido eu, não você.– Murmurei.

 Eu deixei que minha cabeça caísse em cima da mesa e chorei.

 Eu ouvi batidas na porta.

– Vão embora!– Eu mandei.

– Selena, abra. – Ouvi a voz da professora Minerva. Eu abri a porta e me enrolei em uma bola na cama enquanto três figuras entraram.

– Por que você não contou. – A professora Minerva caiu numa cadeira em estado de choque.

 Eu me levantei e fui tentar ajudá-la.

– Professora Minerva, a senhora está bem? Quer água? Alguma coisa?

– Não, não... Eu só nunca imaginei... Em todos esses anos... Que eu fosse testemunhar... Um Magix em Hogwarts... Oh, Meu Deus.

Nico tinha as sobrancelhas unidas.

– Eu ainda não entendendo.

– É simples, se você pensar bem. É como uma hierarquia. Os magos são os príncipes e os magix,os reis. Um mago pode ser mago pra vida toda e nunca virar magix, que nem os príncipes podem viver sem se tornar reis. Só pode existir um magix, e se outro escolhido nasce.... Ele perde seus poderes e morre. Das mais variadas causas. Minha mãe não queria isso. – Eu disse, num fiapo de voz.– Era eu ou ela e ela sempre soube disso. Era pra ter sido eu... – Eu estava caindo. Cai de joelhos com as mãos na cabeça. – Era pra ter sido eu... Ela tinha que deixado ser eu...

– Selena!– Percy veio me ajudar, com Nico.

– Calma, mana, vai ficar tudo bem, prometo.

Virei-me pra ele com os olhos ardentes.

– Vai ficar tudo bem? Você não entende, Percy? Não vai ficar tudo bem!

Eu me levantei e de repente eu estava gritando.

– Você me consegue ver desse jeito, Percy. Consegue ver sua irmã mais nova sendo mais importante que o ministro, mas famosa que qualquer outra pessoa do mundo da magia em todo planeta terra? Em tudo que acontecer eu ter que dar minha opinião,  eu ser a governante e todos serem obrigados a me obedecer? A mim?

Percy pareceu assustado e perplexo.

– Pois é isso que vai acontecer, Percy. Por que você acha que eu escondi isso por tanto tempo? Por que minha mãe morreu com esse segredo?

A professora McGonagall se levantou de supetão.

– Tenho que mandar uma coruja ao ministério. Antes que um dos alunos faça isso e essa história acabe nas páginas do profeta diário. O ministro... O ministro vai falar com você.

 Ela me deu um olhar que eu nunca pensei sei que viria de professora Minerva. Uma mistura de preocupação, orgulho e temor. Ela temia por mim, eu sabia. Mas não só tinha medo por mim. Ela também sentia medo de mim.

 Isso me assustou. Me assustou mais do que a ela. Olhei para mim mesma, tentando ver o ser poderoso, implacável e imponente, ao mesmo tempo perigoso, incerto e imprevisível, que eu deveria ser. Nada. Só via a Selena, uma menina magricela e frágil de sempre.

  Ela saiu da sala.

Lágrimas ainda caiam dos meus olhos, mas eu fiquei paralisada.

– Ela... Ela estava com medo. Minerva McGonagall diretora da Grifinória e logo depois direto de toda Hogwarts estava com medo de mim. O que eu virei?– Eu afundei a cabeça no travesseiro enquanto chorava mais.

– Calma, Selena. – Percy estava me abraçando.

Ele me obrigou a olhar para ele.

– Você não se transformou em nada, Selena. Você sempre foi. A única coisa que mudou é que agora eles sabem disso. Eu sei que você é forte o suficiente para agüentar isso.

Eu consegui parar de chorar.

 Abracei Percy.

– Obrigada, mano.

 Ele sorriu, com aqueles dentes perfeitamente brancos, brilhantes, no rosto com seu prefeito bronzeado, mesmo estando no meio do inverno.

 Meu irmão era o máximo.

  – De nada. – Ele respondeu de forma carinhosa,então levantou.– Vamos. Eu vou treinar um pouco.

 Ele ia se afastando mas Nico o impediu. Ele disse algo no ouvido de Percy e Percy respondeu do mesmo jeito. Nico deu um sorriso irônico que eu amava e odiava ao mesmo tempo e falou algo em voz baixa. Percy continuou sério e falou algo que soava como um aviso. Nico, agora sério, levantou as mãos e respondeu ainda em voz baixa.

 Isto já estava começando a me irritar.

  Então Percy saiu, mas parou na porta e olhou pra mim.

– Agüente firme, ok? Sei que você é forte o suficiente para isso.

 Eu não respondi, e ele foi embora.

 Nico se virou pra mim e deu aquele enorme sorriso simples, mostrando todos os dentes branquíssimos.

 – Vamos, temos que ir.

 Juntei as sobrancelhas.

– Ir? Ir aonde?

 – Vai saber. – Ele disse e estendeu a mão. – Só pegue a minha mão e confie em mim.

 Confiar nele. Este era um argumento que eu nunca poderia dizer não.

 Peguei sua mão e me levantei.

Ele me puxou num abraço e em breve estávamos viajando pelas sombras.

 Para quem não sabe, viajar pelas sombras só é recomendado para quem gosta de montanhas russas, por que é mais ou menos a mesma sensação, o vento, a fisgada no fundo do estômago, a sensação de velocidade, os gritos. O bônus é que você está no negror absoluto.

 Mas isso não importava.  Eu estava nos braços de Nico então estava tudo bem. Senti seu doce aroma gélido e afundei a cabeça em seu peito,tentando ignorar os gritos, que diferente dos da montanhas russas, era do mais puro desespero e agonia.

  Uma vez eu perguntara por que ele era tão frio, e ele me responde que era um dos aspectos de ser filho do deus da morte. Isso resultara no apelido que eu só usava quando queria o irritar: Garoto-Zumbi.

  Você deve estar imaginando como é minha relação com Nico uma vez que somos os dois filhos dos Três Grandes.

   Resumindo, nós tentávamos nos esganar de tempo em tempos, mais nos amávamos.

 Na maioria do tempo, éramos o porto seguro um do outro.

 Nós sabíamos que, se tudo desmoronasse, ainda teríamos o outro para nos ajudar a levantar.

 Como agora.

 Eu podia estar nas trevas, no escuro, na tortura. Mas eu estava com Nico, então estava tudo bem.

 De repente, estávamos na noite escura.

 O céu estava estrelado, a lua parecia mais brilhante que nunca, e eu não tinha mínima idéia de onde estávamos.

 Era uma campina. Lembrava um círculo, mas não era um circulo perfeito.

 A grama batia um pouco acima de meu calcanhar e havia alguns dentes-de-leão aqui e ali.

 Eu o soltei e dei alguns passos, girando para poder ver tudo.

– Onde estamos?

– Numa floresta em algum canto de Nova Orleans.

 Disse ele, sentando no chão. Ele fechou os olhos enquanto uma brisa vinha em sua direção.

  Admirei novamente sua beleza. Seus lábios finos e ainda assim carnudos, a pele pálida, o cabelo preto e macio, sempre bagunçado. E ele era meu. Apreciei esse fato. Só meu.

 Ele abriu os olhos, negros como breu e brilhantes como ônix, e me olhou.

 Ele tinha sua jaqueta de couro preferida, um blusão negro em forma de V,calças jeans e  coturnos. Sempre acompanhado de suas correntes de prata e seu anel do mesmo material em formato de caveira.

 Mas no momento eu olhava seus olhos, e sem tirar os meus deles, me sentei ao seu lado. Também fechei os olhos quando o vento bateu novamente.

– Obrigada. Obrigada por estar aqui, obrigada por se preocupar comigo, obrigada por ser ficar ao meu lado para o que der e vier. Obrigada por ser a pessoa que eu mais amo no mundo. Eu não mereço tudo isso.

 Abri os olhos para ver seu sorriso, os dentes perfeitamente brancos.

– Á disponha. – Ele disse e depois ficou sério. Seu olhar era intenso e quando pousou a mão em meu rosto, ela era delicada e suave. – Só não consigo entender quanto tempo vai levar pra você entender que é quem eu mais amo no mundo também.

Eu tinha minha mão em seu pescoço, agora e ele me beijou. Doce, leve, suave.

 Tinha o mesmo gosto do aroma em sua pele, mais só que mais doce e concentrado.

 Me deixava tonta e ainda assim relaxada. Sabia que podia ser expulsa de qualquer lugar, ser abandonada,rejeitada, que não importaria. Por que só era eu e ele, Nico e Selena. Simples e bom, um mundo que fazia bem mais sentido.