Ainda no hospital, a dra. Swan, que se chama Isabella - e insisitiu muito para que eu a chamasse apenas de Bella -, conseguiu arrumar umas roupas para mim. Bom, eram as roupas dela, mas ela disse que poderia ir embora com a roupa de trabalho. Era uma blusa sem manga branca, um casaco de lã azul-esverdeado, uma calça jeans escuro e um tênis preto.

  Então, pela primeira vez, me olhei no espelho. Não pude evitar um sorriso ao tocar meu rosto. A pele era branca, macia como as asas de um arcanjo. Os olhos eram azuis e apertados. O cabelo era loiro e cacheado, e ia até a metade das costas. Na minha testa havia uma gaze com uma mancha de sangue, mas eu não sentia mais dor. Puxei o curativo e me surpreendi. Não havia ferimento nenhum alí. Pelo menos não agora. A pele continuava perfeita, sem cicatrizes.

  Para não ter que responder milhões de perguntas, que Bella provavelmente faria, coloquei o curativo no mesmo lugar.

  Já era noite quando Bella me chamou para irmos embora.

  _O quarto de hóspedes está um horror - disse ela, destrancando a porta do carro. Eu já estava no lado do carona esperando a porta ser aberta. - Mas eu o arrumo ra... pidinho.

  Ela terminou a frase num suspiro, olhando para alguma coisa atrás de mim. Me virei para ver também. Um homem de cabelos cor de bronze e bagunçados estava abrindo seu carro, ao meu lado.

  _Olá, dr. Cullen - cumprimentou Bella. Havia um certo brilho em seus olhos.

  Ele se virou e sorriu para ela. Um sorriso de dentes perfeitos. Seus olhos eram verdes.

  _Olá, Isabella - disse ele. - Quantas vezes tenho que lhe dizer que aqui fora sou apenas Edward? Então, esqueça essa coisa de doutor.

  Bella sorriu, timidamente. Já entendi tudo!

  _Tudo bem - disse ela. - Me desculpe, Edward.

  _Bem melhor.

  Eles se olharam por um tempo.

  _Bom, agora tenho que ir - disse Edward, abrindo a porta de seu carro, que era prata. Não tenho a mínima ideia de que marca seja. Não tenho culpa, sou nova neste planeta.

  _Eu também tenho - disse Bella, abrindo a porta de seu carro rapidamente. - Até mais, Edward.

  Ele apenas fez um gesto com a cabeça e saiu com seu carro. Bella, já dentro do carro, sorria feito uma boba. Tive que bater na janela para ela se lembrar de abrir a porta para mim. O carro de Bella era preto, quatro portas, e um modelo, digamos, grande. Entrei, e como previsto, ela me encheu de perguntas no caminho.

  _Se não tem pais e não tem onde ficar, de onde você veio? - Perguntou ela. - Não pode ter caído do céu.

  Arqueei a sobrancelha, pensando que essa hipótese não poderia ser descartada.

  _Tem razão - eu disse. - Eu lhe devo satisfações. - Hesitei, procurando a coisa certa a dizer. - Eu... fugi... de um orfanato em... - onde estávamos mesmo? Ah, sim! Atlanta. - Em Columbus.

  _E por que veio para Atlanta?

  _Não sei. Apenas corri e corri, por dias. Até que fui... Você sabe o que aconteceu.

  Ela dirigiu em silêncio por uns minutos.

  _Se estava em um orfanato - diss ela -, é porque é menor de idade. Quantos anos você tem?

  Pensei. Eu precisava ficar perto de Jacob, isso inclui estudar na mesma escola e ser da mesma classe. Como ele tem 17 anos , então essa deveria ser minha idade aqui na Terra.

  _17 anos - respondi, depois de raciocinar bem rápido.

  _Isso quer dizer que terei de colocá-la na escola - disse Bella. - Mas, não tenho nenhum documento seu.

  Isso me fez lembrar uma coisa.

  _Ei, Bella. Por que precisei das suas roupas? Onde estão as minhas?

  Ela fingiu uma tosse, então tentou disfarçar uma risada.

  _Bem, Renesmee - disse ela, ainda rindo. - Quando você foi encontrada, você estava sem nada. Quero dizer, nada, nada mesmo.

  Pude sentir meu rosto esquentar, então o tampei com as mãos. Ah, Miguel! Você me paga!

  _Agora - ela voltou a falar -, quanto aos documentos, posso dar um jeito nisso. Tenho um amigos que pode nos ajudar.

  Assenti, não gostando muito da ideia de falsificação, mas era necessário.

  Bella mora em um apartamento grande, e imaginei que ela deve mesmo ficar muito sozinha alí. Na sala havia dois sofá de couro preto, uma Tv de tela plana e uma estante com vários livros e DVDs. Havia dois quartos. Ela me levou até o que ficava no final do corredor.

  _Bom - disse ela quando entramos-, como eu disse, o quarto está tenebroso. Você pode ficar na sala enquanto eu o arrumo.

  _Não quer ajuda? - Perguntei.

  _Não - respondeu ela. - Cortesia da casa.

  Ela riu, e eu fiz o mesmo.

  Era divertido assistir TV. Já sabia de alguns programas - somente porque fui obrigada a ver enquanto tomava conta de Jacob. Depois de 1 hora, Bella veio me chamar, dizendo que o quarto já estava pronto.

  _Espero que goste - disse ela, entrando no quarto comigo.

  _Está perfeito - eu disse, me admirando com o quarto.

  _Vou fazer o jantar - disse ela. - Fique a vontade.

  Ela fechou a porta ao sair. Eu apaguei a luz. O quarto iluminado apenas pela luz da lua ficou mais bonito. A cama de solteiro era branca, com uma colcha azul com listras brancas e pretas enfeitando. O guarda-roupa de cinco portas também era branco, e havia um espelho enorme na porta do meio. As paredes também eram pintadas de azul.

  Olhei o quarto todo com um sorriso nos lábios e girando nos calcanhares. Então percebi uma luz brilhante ao meu redor, e quando me virei para o espelho, minhas asas estavam lá. Grandes e brancas, macias e brilhantes. Elas ficavam tão bem em mim nesse corpo.

  _Renesmee, o jantar está pronto - Bella disse, dando batidinhas na porta do quarto.

  _Já estou indo - eu disse.

  Fechei os olhos e me concentrei. Mesmo eu não querendo, tinha que me despedir das minhas asas. Senti uma leveza nas costas, e quando abri os olhos, elas já tinham desaparecido.

  A comida de Bella era boa, embora eu não tenha comido nenhuma outra.

  _Não é grande coisa - disse ela. - Mas minha despensa é um antro. Estou acostumada a ficar sozinha, então fico com um pouco de preguiça em cozinhar somente para mim. Mas prometo que as opções vão aumentar.

  Eu ri.

  _Para mim, está ótimo - eu disse, bebendo um pouco de suco. - É a melhor comida que já comi. - E não era mentira, tecnicamente.

  _Não exagere - disse ela.

  Depois do jantar, fomos assistir TV.

  _E aquele seu amigo médico? - Perguntei.

  _O que tem o Edward? - Disse ela.

  _Você gosta dele?

  _Tenho muita admiração - disse ela, escolhendo bem as palavras.

  _Só admiração? - Eu disse.

  Ela riu, abaixando o rosto.

  _Claro.

  _Tudo bem, então - eu disse, voltando meus olhos para a TV.

  Só admiração. Sei.

  Antes de dormir, Bella me emprestou uma camisola rosa-bebê, de seda e meio curta.

  _Tome aqui - disse ela, me estendendo um cartão dourado.

  _O que é isso? - Perguntei, pegando o cartão.

  _Um cartão de crédito - disse ela, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo. - É ilimitado. Quero que amanhã você saia e compre roupas e sapatos para você.

  _Não possoa aceitar isso - eu disse, lhe estendendo o cartão.

  _Pode sim - disse ela, empurrando minha mão. - Não pode ficar com minhas roupas para sempre. - Ela riu. - Compre roupas básicas, mas não se esqueça das mais, digamos, chiques. E das lingeries. Você é tão bonita, daqui a pouco terá vários  garotos querendo sair com você.

  _Creio que não - eu disse, não querendo pensar nessa parte da vida humana.

  _Eu creio que sim - disse ela. - Agora vamos dormir, porque amanhã o dia é longo, mesmo sendo sábado.

  Ela saiu e eu me sentei na cama, abraçando os joelhos e olhando as estrelas pela janela. Eu nunca dormi em 150 anos. Não acreditava que agora, memo sendo humana, eu seria capaz.

  Mas eu estava enganada. Logo meus olhos começaram a pesar e eu me senti cansada. Me deitei debaixo do cobertor, e a noite saiu da minha cabeça. Na verdade, eu não pensava em nada, pois estava dormindo.

  De manhã, Bella já não estava mais em casa, mas deixei a mesa do café posta para mim. Embaixo de uma chave, encontrava-se um bilhete.

  A chave do apartamento.

  Quando sair, tranque a porta e

guarde-a bem no bolso. Pide escolher

qualquer roupa minha para sair hoje.

  Até mais tarde,

Bella.

  Dobrei o papel e coloquei no vaso de flores que tinha sobre a mesa.

  O café-da-manhã também estava delicioso. Torradas, gelatina, suco. Acho que Bella é viciada em guloseimas. De suas roupas, vesti apenas um calça jeans, blusa branca com um gatinho preto estampado e tênis. Coloquei o cartão no bolso, peguei a chave, tranquei a porta do apartamento e saí. Ela havia deixado também dinheiro para o eu pegar um táxi.

  O pior é que eu não sabia onde ir, o que exatamente comprar. Eu ia ficar louca. Felizmente encontrei uma loja de roupas que parecia ser boa. Mas eu não tinha o menor senso para escolher roupas. Nunca precisei disso.

  Estava revirando uns cabides, quando alguém parou ao meu lado e pegou um deles.

  _Acho que essa combina com você - disse a garota de cabelos pretos, curtos e repicados. Ela segurava uma blusa rosa com alguns babados. - Quer ajuda? - Disse ela, sorrindo.

  _Quero - eu disse, aliviada por ter alguém para me ajudar. - Tem certeza? - Perguntei, pegando a blusa.

  _Absoluta - disse ela. - Do que está precisando?

  _Tudo - eu disse, olhando outros cabides.

  _Posso te levar em outras lojas também, se quiser - disse ela. - A propósito, sou Alice Cullen.

  Ela estendeu a mão.

  _Renesmee - eu disse, pegando sua mão. Não tinha um sobrenome para dizer.

  _Então, Renesmee - disse ela. - Posso ser sua guia de compras hoje?

  _Claro! - Respondi, grata por existirem pessoas boas na Terra.

  Realmente fazer compras com Alice foi minha salvação. Ela sabia de tudo que combinava comigo, e sabia tudo sobre moda e esse mundinho. Fiquei grata. Meu segundo dia na Terra e já tenho duas amigas. Quero dizer, eu acho que Alice é minha amiga.

  Ela tinha um motorista, que carregava as nossas dezenas de sacolas toda vez que saíamos de uma loja. Se estivéssemos sozinhas e a pé, não estaríamos nos aguentando de tantas sacolas.

  Estávamos no carro, quando ela perguntou:

  _Qual é o seu celular? Temos que nos encontrar mais vezes.

  _Não tenho - eu disse.

  _O quê? - Disse ela, indignada. - Damen, pare o carro na primeira loja de eletrônicos que você encontrar.

  E depois de dois minutos, Damen estava parando em frente a uma loja.

  _O que vai fazer? - Perguntei.

  _Apenas pegue esse seu catãozinho maravilhoso e venha comigo.

  A segui até a loja.

  Alice nem me deixou falar, ela mesma escolheu o aparelho. E eu gostei dele. Era preto e vermelo. Acho que a marca é Motorola rokr.

  Depois disso, ela me deu uma carona até o prédio.

  _Vamos levar essas sacolas para dentro - disse ela.

  Quando já havíamos conseguido levar todas as sacolas, Alice me ajudou a guardar as roupas no guarda-roupa.

  _Você é nova por aqui, não é?! - Disse ela.

  _Sou - respondi. - Me mudei... ontem.

  _Mora com quem? - Perguntou.

  _Isabella Swan.

  _Não brinca! - Ela bateu palminhas. - A médica que trabalha com meu irmão, Edward? - Assenti. - Caramba! Ei, não conta nada não, mas meu irmão tem uma queda d'água por ela.

  _Sério? - Eu disse. - Bella me pareceu gostar dele também.

  _Acabo de ter uma ideia - disse ela, me pegando pelas mãos e sentando na cama. - E se a gente desse um jeito de juntar os dois?

  _É uma boa ideia - eu disse, pensando que Luv, o cupido, não ia gostar nada de me ver roubando o emprego dele.

  Ficamos um tempão tramando um jeito de fazer Edward e Bella ficarem sozinhos em uma casa abandona - claro, não ia rolar. Já estava ficando tarde, então Alice foi embora, e prometeu que me ligaria.

  Bella chegou tarde, mas trazia um envelope nas mãos.

  _Ele foi rápido - disse ela.

  _Quem? - Perguntei.

  _J. Jenks - respondeu. - Aqui está sua identidade e todos os documentos de que precisa. Você é uma prima que veio morar comigo. Seu nome é Renesmee Carlie Swan, filha de um irmão meu que morreu tragicamente com a esposa. Amanhã mesmo vou te matricular na escola e você começa a estudar na segunda.

  _Respira, Bella - eu disse, vendo que ela já estava ficando vermelha. Ela respirou fundo e me pediu para ver as roupas que comprei.

  No domingo, Bella estava de folga. Me levou ao cinema, ao shopping e jantamos fora - tudo depois de irmos à escola e fazermos minha matrícula.

  À noite, Alice me ligou e ficou super feliz ao saber que seríamos da mesma escola. Ela perguntou se eu queria uma carona e eu aceitei, pois Bella saia cedo para o trabalho.

  Para o meu primeiro dia de aula - quem diria -, coloquei um vestido branco e deixei meus cabelos cacheados soltos. Quando Alice chegou, desci correndo. Não queria atrasar a garota.

(N/A: o vestido da Renesmee: http://1.bp.blogspot.com/_qNGCvGUlkfE/TEcVhkrxaQI/AAAAAAAAAkQ/Gni2Hu4i_gw/s1600/taylorswift-dress.jpg)

  Minha mochila era bege, de colocar no pescoço, atrassada no corpo. Chegamos cedo na escola, então pudemos ficar andando pelo campus. A mochila ficava batendo em meus quadris.

  Era incrível ver tanta gente da minha idade - tecnicamente. Ficamos andando no passeio, perto da rua. Então vi, lá na frente, o meu castigo. Jacob Black. Continuamos a andar, indo na direção dele, mesmo sem querer.

  Quando viu uma garota do outro lado da rua, ele sorriu e caminhou para atravessar, eu já estava do seu lado.

  _Cuidado! - Gritei, o puxando pela camisa antes que o ônibus o atropelasse. Todos ficaram olhando para nós.

  Ele arfou, então olhou para mim.

_Você está bem? - Perguntei, fazendo o meu "trabalho".

  _Bem melhor agora - disse ele, sorrindo.

  Suspirei, aliviada. Aposto que se estivesse lá em cima, agora ele estaria sendo encaminhado para o hospital.