O olhar de Jacob me prendeu alí. Eu não conseguia me mexer, apenas encarar seus olhos que sorriam.

  _Nessie, vamos - disse Alice, puxando meu braço.

  _Alicinha! - Jacob disse, sorrindo para Alice.

  _Vê se me erra, seu comedor de garotinhas - disse ela.

  Eu me virei e acompanhei Alice, sem dizer mais nada a Jacob.

  _Não caia no papo dele - disse ela. - É um conquistador barato, Nessie.

  _Nessie?! - Eu disse, não entendendo o porquê de ela estar me chamando assim.

  _Sim! - Disse ela, batendo palminhas e parecendo mais alegre. - Criei um apelido para você. Você gostou?

  _Gostei - eu disse, mas eu achava que não precisava de um apelido. Para não chatear Alice, eu deixo ela me chamar assim. - Nessie é bem legal - completei.

  _O meu é Allie - disse ela. - E agora você vai vir para os braços da glória!

  _Braços da glória?

  _Sim. A minha turma.

  Ela me puxou para junto de um grupo de seis pessoas.

  _Oi, gente! - Disse ela. - Essa aqui é a Renesmee. Nessie para nós. - Ela deu uma piscada para mim e eu sorri. - Nessie, esses são Mike Newton, Eric York, Alec Volturi, Rosalie Hale, Jessica Stanley e Emily Young.

  _Muito prazer - eu disse, apertando a mão de cada um. Esse é o cumprimento dos humanos. Foi legal experimentar. Eu senti uma energia diferente sair da mão de cada um.

  Acalmei meus sensos celestiais e tentei parecer normal.

  _Nessie, a aula está quase começando. Você tem seus horários? - Perguntou Alice.

  Assenti e tirei o papelzinho dobrado de dentro da bolsa.

  _Que ótimo! - Ela exclamou. - Sua primeira aula é comigo. Como a segunda e a terceira. Acho que vai ter que me aturar por mais algumas horas.

  _Eu corro esse risco - eu disse, sorrindo.

  Então o sinal tocou e todos rumaram para dentro do prédio. Ví Jacob indo lá na frente. Ele olhava para trás, e sorriu quando seus olhos encontraram os meus.

  Olhe para frente para não tropeçar em uma pedra, pensei. E, felizmente, ele olhou. Soltei um suspiro de alívio.

  Felizmente correu tudo bem. Quero dizer, foi mais fácil do que eu imaginava. Achei que seria uma tonta e que não saberia de nada sobre as matérias, mas acho que Miguel me deu conhecimento dos estudos humanos enquanto me deixava nua, forjando um atropelamento. Na terceira aula, que era História, uma garota ficou me encarando. A reconheci. Era aquela para quem Jacob acenou quando ia atravessar a rua. Alice me disse que seu nome é Leah.

  Tentei não prestar atenção em seu olhar ameaçador. Ela deve só estar dando uma espiadinha na garota nova.

  Na hora do intervalo, me sentei no refeitório com Alice e sua turma. No meio de toda aquela gente, encontrei um rosto conhecido. Jasper. Podia sentir a prenença de Evy alí, olhando por ele. Mas não foi apenas eu quem encontrou Jasper no meio da multidão. Alice também. Ela se sentou suspirando enquanto olhava para ele. A encarei, com um sorriso de canto.

  _O que foi? - Disse ela, prestando atenção em mim.

  _Nada - eu disse. - Senhorita "estou apaixonada por Jasper Hale".

  Ela arregalou os olhos.

  _Conhece ele? - Disparou, quase sem ar.

  Foi a minha vez de arregalar os olhos. Ops!

  _Claro que não - eu disse.

  _Então como sabe o nome dele? - Ela insistiu.

  O que eu faço?! - Cantarolei em minha mente.

  _Eu o vi - eu disse. - Uma vez. No dia em que me mudei. Ele estava... estava comprando churros... - de onde tirei churros?

  _Ele estava comprando churros?! - Disse Alice, sem acreditar muito.

  _Sim, churros - eu disse. - Eu também comprei um e ele se apresentou enquanto estava do meu lado na barraquinha.

  Eu me odeio por mentir... Eu me odeio por mentir...

  _Então você falou com ele - ela sorriu. - Ah, Nessie! Isso é maravilhoso!

  _É?

  _É sim - disse ela. - Sabe, Jasper e Rosalie são irmãos, mas eu nunca tive coragem de contar para ela que sou apaixonada por ele. Então, você pode ser nosso cupido - disse ela num suspiro.

  Luv vai me matar se eu fizer isso. Mas ele pode fazer...

  Sorri com esse pensamento.

  _Acho que posso ajudar você - eu disse. Alice se animou.

  _Obrigada! - Disse ela. - Agora vamos pegar nossos lanches.

  Olhei para nossa mesa e vi que estava vazia. Os outros já estavam na fila comprando seus lanches.

  Segui Alice até a fila e peguei uma bandeja. Não havia muitas opções. No final, comprei apenas um pedaço de pizza e um refrigerante de cola. Alice foi na frente, e quando eu estava saindo da fila, escorreguei em uma coisa que me fez cair de bunda no chão. Não sei como, mas consegui segurar a bandeja, equilibrando com perfeição o que havia nela. Já ia me levantar, quando algo líquido caiu na minha cabeça, molhando todo o meu cabelo. E não foi só isso. Também senti um pedaço do bolo de chocolate em mim, escorrendo por meu rosto. A essa altura, todos no local já olhavam para mim.

  _Ops! - Disse alguém. Olhei para cima. - Foi mal. Novata. - Ela riu e saiu, acompanhada de mais duas garotas. Era a tal de Leah.

  Tentei me levantar, mas quanto mais tentava, mais eu escorregava e caia de novo no chão. Nesse altura, todos já riam. Senti alguém se agachar ao meu lado.

  _Você está bem? - Ele perguntou.

  _Não - respondi.

  _Vem, vou te tirar daqui.

  Ele pegou minhas mãos e me ajudou a me levantar. Escorreguei um pouco, mas me apoiei nele. Ele me acompanhou até a mesa de Alice, onde peguei minha bolsa.

  _Nessie, eu... - ela tentou falar.

  _Alice, tudo bem - eu disse. - Não foi culpa sua.

  Sem esperar Jacob nem ninguém, saí da escola apressadamente.

  _Ei! Espera - gritou Jacob, correndo para me alcançar.

  Eu parei, então percebi que meus olhos estavam molhados - e não era pelo suco.

  _Não, não chore - disse Jacob, se aproximando.

  Toquei meu rosto e passei o dedo na região dos olhos. Eu estava mesmo chorando, pela primeira vez. E não posso dizer que seja uma coisa muito legal.

  _Não liga pra Leah - disse ele, tocando meu rosto e secando as lágrimas com o polegar. - Ela é uma valentona. Não conseguem nada as valentonas. - Ele sorriu. Eu continuei a chorar. - Eu sou o Jacob. Jacob Black. - Ele estendeu a mão.

  _Renesmee. Renesmee Swan - eu disse, mas não peguei a sua mão. Permaneci com as minhas junto ao corpo.

  _Posso te dar uma carona até em casa? - Perguntou ele. - Você precisa de um banho.

  Por que ele estava sendo legal comigo? Ele não é assim. Mas eu tinha mesmo que tirar toda essa sujeira de mim, e não tinha outra opção.

  _Tudo bem - eu disse.

  Ele me levou até seu carro e rumamos para o prédio de Bella.

  _Acho que não foi uma boa experiência para o primeiro dia de aula - disse ele, olhando para a estrada.

  _Você acha? - Eu disse. Ele riu.

  _Leah não é muito hospitaleira com novatas - disse ele. - Principalmente quando a novata em questão é mais bonita que ela.

  Não sei se deveria sorrir ou fingir que não havia escutado. Optei por sorrir.

  _Acho que isso é um elogio - eu disse.

  _Você acha? - Disse ele, repetindo o que eu disse. - Escuta, sobre o que Alice disse...

  _Ela tem razão - eu disse.

  _Não, ela não tem...

  _Não foi uma pergunta - eu disse, olhando seriamente para ele.

  _Como pode saber? - Perguntou ele.

  Não poderia responder honestamente essa pergunta.

  _Simplesmente sei - eu disse.

  Não falamos nada o resto do caminho, só quando Jacob perguntava onde virar ou onde subir. Finalmente paramos na frente do prédio.

  _Obrigada por me trazer - eu disse, já abrindo a porta do carro. Jacob também saiu.

  _Posso subir? - Ele perguntou quando já estávamos na portaria do prédio.

  _Não - eu disse. - Acho que não seria certo.

  _Estou com sede - disse ele. - Não pode negar água à pobre alma que lhe ajudou.

  _Eu já salvei sua vida, lembra?

  _Nem se eu pedir por favor?

  A voz de Miguel inundou minha cabeça. "Mantenha-o perto de você". "Seja sua melhor amiga".

  Talvez eu esteja indo pelo caminho certo.

  _Tudo bem - eu disse. - Pode subir, pobre alma.

  Deixei Jacob a vontade para beber o que quisesse, enquanto eu fui tomar um banho. A água caindo no meu corpo e tirando aquele cheiro horroroso de mim, foi uma sensação maravilhosa de sentir. Quando terminei, me enrolei na toalha e saí do banheiro. Não encontrei Jacob pela sala nem pela cozinha. Deve ter ido embora.

  Quando entrei no quarto, deixei um gritinho assustado sair da minha boca.

  _O que está fazendo aqui? - Perguntei, segurando a toalha no corpo.

  _A porta estava aberta, então eu me atrevi a dar uma olhadinha no quarto - disse ele. - Desculpe se assustei você.

  _Não tem problema - eu disse, entrando no quarto e abrindo a porta do guarda-roupa. - Só vou me vestir. Acho que você deveria sair.

  _Claro - disse ele. - Embora quisesse muito ficar. - Ele rumou para a porta e parou antes de sair. - Ah! Aliás, seu cabelo fica lindo molhado.

  Não contive um sorriso de canto enquanto colocava uma mecha de cabelo molhado atrás da orelha. Então ele saiu.

  _Jacob - chamei. Ele voltou correndo. - A porta.

  _Ah, claro - disse ele, fechando a porta.

  Me troquei - uma calça jeans e uma blusa xadrez - e fui ao encontro de Jacob - que eu tinha certeza que ainda estava ali.

(N/A: roupa da Nessie: http://images.orkut.com/orkut/photos/OgAAAJGpNpQWOUCojIHnJ8HO6z3i4iSVD-lUQmt76upL8Bhhv4x96cAnug2vBDFQ2A2BwGsa-PuGfz_7n3XHaPT0J_YAm1T1UH1H2Dn305rCiLNup2FNkHLWftkJ.jpg)

  _Podemos fazer um lanche? - Perguntou ele, sentado no sofá. - Sabe, não comi nada na escola.

  Eu me senti culpada, mas não mandei ele dar uma de solidário de repente.

  _Podemos sim - eu disse. - Bella deve ter alguma coisa que você goste.

  Fui procurar nos armários da cozinha. Jacob veio me ajudar. Parece que ele estava bem a vontade na casa.

  _Que tal um sanduíche rápido? - Disse ele. - Pão, presunto, mussarela e bacon.

  _Parece ótimo - eu disse.

  Ele mesmo pegou o presunto, a mussarela e o bacon na geladeira, enquanto eu peguei o pão no armário.

  _Faca, por favor - disse ele. Abri a gaveta do armário e peguei uma faca.

  Ele já ia cortar o pão, quando o interrompi.

  _Deixa que eu faço isso. Não quero que se corte de novo.

  _Como sabe que eu já me cortei?

  Anja idiota!, me xinguei mentalmente.

  _Seu dedo - eu disse. - Tem uma marca bem visível.

  Ele levantou o dedo. Realmente a marca do corte estava lá, visível só para quem prestasse muita atenção. Felizmente ele deixou essa passar.

  _Pode deixar - disse ele. - Juro que não vou me cortar.

  Ele continuou fazendo os sanduíches, fritou o bacon. Ainda bem que ele não reclamou que eu não estava ajudando. Se eu tentasse fazer tudo aquilo, com certeza colocaria fogo no apartamento de Bella.

  Quando ele terminou, nos sentamos à mesa e saboreamos aquele lanche, que realmente estava delicioso.

  _Acho melhor você ir embora - eu disse quando terminamos de comer. Seu pais vai ficar preocupado.

  _É horário de aula - disse Jacob. - Se eu chegar lá agora é que ele vai ficar preocupado. Vai achar que levei outra suspensão, ou que finalmente fui expulso da escola. - Ele riu ao terminar. - Eu não deveria estar dizendo isso para você - disse ele, franzindo a testa. - Eu deveria estar dizendo coisas para te impressionar. Mas, sei lá, não consigo. Parece que com você é sempre melhor dizer a verdade.

  _Porque vou acabar descobrindo de qualquer jeito? - Eu disse.

  _É, acho que sim - disse ele. - Talvez seja melhor eu ir mesmo - disse, se levantando.

  _Aonde vai, se não pode ir para casa? - Perguntei, me levantando também.

  _Andar por aí - disse ele.

  _Posso ir junto? - Pedi. - Quem sabe se não vai ter outro ônibus prestes a te atropelar?

  Ele riu.

  _Claro que pode - disse ele. - Vai ser bom desfilar com você.

  Ignorei seu último comentário e me preparei para irmos.

  Jacob deixou o carro na porta do prédio, enquanto seguimos a pé pela cidade. Sabe, nunca pensei que pudesse ser divertido ter a presença dele. De lá de cima, ele sempre me pareceu o garoto encrenqueiro e conquistador que costuma ser. Realmente Miguel tinha razão: trabalhar aqui na Terra será bem melhor.

  _Acho melhor não entrarmos nessa rua - disse ele, me parando quando já ia entrar por uma rua estreita.

  _Por que não? - Perguntei.

  _Território proibido - disse ele, aos sussurros, como se alguém pudesse nos ouvir. - Vem, vamos continuar por aqui.

  Assim que demos o primeiro passo, uma voz masculina se fez ouvir atrás de nós.

  _Jacob! Que bom tê-lo aqui. Veio para o acerto de contas?

  Jacob olhou para trás, e eu me virei também, encarando os quatro caras que estavam de braços cruzados.

  _Na verdade, não - disse Jacob. - Quem sabe outro dia.

  _Nada disso - disse o rapaz, segurando Jacob pelo colarinho. - Vai ser agora.

  _Com licença! - Me ouvi dizer. O caro soltou Jacob e olhou para mim. - Terá coragem suficiente para fazer uma covardia dessa? Quatro contra um? Francamente. Já vi duelos de gladiadores mais justos que isso.

  _E quem a princesinha acha que é para nos impedir? - Disse ele. Os outros concordaram.

  _Um ser animado altamente perigoso - eu disse.

  _Nessie, cala a boca - Jacob murmurou.

  _É mesmo? - Disse o rapaz. - Rapazes, se divirtam com a Cinderela enquanto eu dou conta do playboyzinho.

  _Não encostem nela, seus cretinos! - Jacob gritou.

  O cara fez sinal para que os outros parassem.

  _O que você vai fazer para nos impedir de tocar nesses cachinhos de anjo?

  _Eu... eu... Eu pago vocês para esquecerem aquele ocorrido.

  _Quanto?

  _O quanto quiserem.

  O cara deu de ombros.

  _Feito. Amanhã a grana aqui, ou faço questão de procurar pela cidade inteira por essa belezinha aqui. - Ele ia tocar em meu rosto, mas desviei.

  _Vem, Nessie - disse Jacob, puxando minha mão.

  Saímos apressados, e com razão.

  _Cretino, desgraçado! - Jacob xingou quando nos afastamos. - Não acredito que ele ia realmente fazer isso.

  _Tem razão. Ainda bem que você se livrou da surra - eu disse.

  _Não é disso que eu tô falando - disse ele. - Eu não acredito que ele ia tocar em você. Cretino, imbecil! Tocar em uma mulher à força?

  _Você sempre está tocando nas mulheres.

  _Mas é por livre e espontânea vontade delas. Vem cá. Como você sabe disso?

  _Palpite?!

  Ficamos em silêncio por um tempo.

  _Sabe - eu disse -, depois disso, acho que prefiro voltar para casa.

  _Tem razão - disse Jacob. - Vamos passar por aqui. Ei, mas antes... Vem aqui um segundo.

  Ele me puxou para dentro de uma loja de vidro, onde se vendia vários bichinhos e bonequinhas. Ele me deixou olhando os produtos quanto adentrava mais a loja. Quando voltou, tinha uma sacolinha na mão.

  _Podemos ir agora - disse ele.

  _O que é isso? - Perguntei.

  Mas ele não respondeu, apenas me conduziu para a porta e fomos embora.

  Paramos em frente a entrada do prédio. De dentro da sacola, ele tirou um embrulho e me entregou.

  _Abre - disse ele.

  O obedeci. Tirei o embrulho rosa claro, o que revelou uma caixinha. A abri e tirei de lá de dentro um anjinho de porcelana. Cabelos loiros, olhos azuis.

  _Parece com você - disse ele. - Obrigado por ter me salvado hoje cedo e por tentar me proteger do Spite (Pirraça). Você foi um anjo em minha vida.

  Ele segurou meu queixo e me deu um beijo no rosoto.

  _Até amanhã - disse ele.

  _Até amanhã - eu disse. - Obrigada pelo presente.

  Ele assentiu, entrou no carro e foi, me deixando com falta de ar e o coração acelerado, não sei porquê. Tudo que sei é que já estava sentindo falta da presença dele, e talvez isso não seja uma boa coisa.