Lua e Sol

Capítulo 09

Hanabi estava com o kimono aberto, meio debruçada sobre mesa. Embora Naruto não pudesse ver com perfeição, percebia que ela estava tentando se soltar dos braços de um homem.

- Por que resistir, Hanabi-chan?

Hanabi sentia os músculos enfraquecidos, não respondendo às suas ordens.

- Vai ser a última vez que eu te mando me soltar!

- E não vai ser preciso mais nenhuma! – Naruto entrou como um furacão, atingindo o homem no queixo. Hanabi caiu no chão, fechando o kimomo. Naruto pegou o homem, que ativara o Byakugan, e lhe enfiou mais um soco. – Que espécie de verme é você?

O homem riu.

- Verme? Se uma garotinha insolente...

Naruto sentiu a raposa rosnando dentro dele, os olhos já apresentavam a coloração vermelha.

- Saia daqui. – Kento virou de costas para Naruto, encarando Hanabi, que havia levado as mãos à cabeça, sentindo-se zonza.

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O servente da casa dos Hyuuga olhava orgulhoso para a pintura que havia acabado de fazer com tanto esmero, quando ouviu uma voz masculina um tanto quanto alterada e, em um segundo, aquela mesma parede foi colocada abaixo! Uma verdadeira tropa de homens de laranja saiu de dentro do escritório de Hanabi-sama como uma tsuname, arrastando tudo que havia pela frente. Aquele bolo se concentrou em um ponto e tudo que se ouvia eram sons de pontapés, chutes e gritos roucos daquela massa destrutiva de gente. De repente, tudo aquilo se transformou em fumaça, restando apenas dois homens que se engalfinharam em uma luta corporal acirrada.

O loiro de laranja que o servente pesarosamente reconheceu como o Hokage de Konoha parecia nem sequer notar os golpes que levava do adversário, Kento-sama, o talzinho que o fez refazer todo o serviço da parede por causa de um pelo que achara na pintura. Por fim, ele começou a se esquivar e depois a fugir dos ataques do Hokage, correndo em direção à Hanabi-sama. Sem espera, ele se postou por trás da moça, agarrando-a pelos cabelos e sussurrando em seu ouvido:

_ Vai ter troco, sua desprezivelzinha, aquele bastardo não vai vigiar você a vida toda!- Nesse minuto, Hanabi sentiu todo o peso do corpo de Kento sobre as costas e o derrubou no chão. Ao olhar pra trás apenas notou o servente assobiando algo, olhando pra cima disfarçadamente. Havia uma lata de tinta bem ao lado de onde Kento caíra. – Bem, aqui é um lugar de obras, é perigoso. Coisas caem a todo tempo, não é?

Hanabi sorriu. Naruto pegou Kento pelo colarinho, não se importando com quem estivesse ali.

- ACORDA PRA APANHAR, SEU VI*** FILHO DA P*** , SEU MER**, SEM P**. SEU.....

- Naruto... – interferiu Hanabi, olhando em direção ao buraco no teto. A tontura que Hanabi tentava ignorar se mostrou mais forte do que ela. Desmaiou sem perceber que o servente descera pelas escadas e correra para a casa de Neji, onde sabia que Hiashi estaria.

Naruto cansara de esperar que Kento acordasse e o chutou para um canto. Ficou assustado quando percebeu que Hanabi não reagia, mesmo quando chamada pelo apelido.

Pegou-a no colo e mal conseguiu dar cinco passos quando escutou a voz de Hiashi:

- Onde pensa que vai com minha filha?

- Levar para a vovó examiná-la – Naruto respondeu, tentando ficar calmo. Não queria começar mais uma luta naquele dia.

- O que você...

Naruto apontou com o queixo para os homens que haviam bloqueado Kento.

- Se quer saber mais, acho que aqueles dois passarinhos vão ser mais úteis.

Virou-se e antes de começar a correr, Naruto foi surpreendido pela voz de Hiashi:

- Cuide dela até Neji ou eu irmos.

Quando Naruto se virou para o sogro, percebeu o servente meio ofegante, como se tivesse falado muito rápido. Assentiu antes de sair.

Quando entrou no hospital, por pura sorte Tsunade estava saindo.

- Vovó!

- Naruto, o que... – Tsunade arregalou os olhos ao reconhecer a mulher no colo dele.

- Depois que a senhora examinar ela, eu explico tudo!

Naruto ficou no corredor, andando de um lado para outro, agitado. Estava quase invadindo o quarto, quando a loira abriu a porta.

- Então, vovó? Como...

- Naruto, pelo que você me falou enquanto estávamos subindo, não há duvidas que Hanabi foi drogada. Já tirei amostras para saber que droga foi usada.

- Certo. Tem alguma coisa que posso fazer?

- Primeiro: se acalmar. Segundo: o que você acha que sua ação vai acarretar?

- Se eu pudesse, estaria agora lá no clã, mostrando para aquele...

- Naruto! – Tsunade o cortou.

- Eu queria matá-lo, vovó. Aliás, eu só não estou lá arrebentando com aquele via*** porque Hiashi me pediu para ficar com a vespa.

Tsunade ergueu a sobrancelha.

- Desde quando que você faz o que lhe pedem?

- Daria para pular essa parte? – Naruto se impacientou. - O importante, vovó, é que a vespa está bem, ou não?

- Quando acordar, talvez ela ainda fique zonza. Mas acho que no mais está tudo bem.

Naruto assentiu, o rosto frio.

- Vou repetir a pergunta: o que você acha que vai acontecer?

- Não sou vidente.

Tsunade suspirou.

- Você pode entrar e ficar com ela. Não se esqueça que, provavelmente, Hanabi só acordará pela manhã.

- Certo.

- Naruto? – A ex-Hokage encarou o homem de olhos tristes a sua frente. – Hiashi lhe deu a maior prova de confiança que ele consegue dar nesse momento: confiança e lealdade. Não jogue isso fora.

- O que quer dizer com isso?

- Algum dia você vai entender. – Tsunade lhe deu um sorriso encorajador, antes de sair.

Naruto ficou encarando a loira até ela desaparecer no corredor. Suspirou cansado, antes de entrar no quarto. Sentou-se em uma poltrona que estava ao lado da cama, encarando a cunhada com os olhos meio cerrados. Quando Hanabi crescera, tomando formas femininas?

A cada dia ele escutava comentários que fariam Hiashi enlouquecer de raiva. Deu uma risadinha abafada. Tinha pena do coitado que casasse com ela. A língua ferina da jovem fazia o diabo cantar hinos de louvor a kami-sama. Encostou as pálpebras por um momento, antes de mergulhar em um sono que era igualado ao da jovem ao seu lado, de tão profundo.

Despertou assustado, com Neji lhe sacudindo o ombro.

- Achei que Hiashi-sama tivesse lhe pedido para cuidar de Hanabi.

- O que aconteceu, depois que saí de lá? – Naruto moderou o tom de voz, embora tivesse quase certeza que Hanabi não o escutaria.

- Kento, Jun e Daisuke foram expulsos do clã, saíram de Konoha. E Hiashi-sama deixou bem claro a todos que quisessem ouvir, que o próximo que ousasse levantar os olhos ou a mão contra Hanabi ou Asuka, iria diretamente para o caixão. Que não se deixaria deter novamente pelas minhas mãos.

- Você devia ter deixado Hiashi matar os três – Naruto falou seriamente.

Neji deu um meio-sorriso.

-Havia muitas testemunhas. Se Hiashi-sama encontrar novamente Kento, vou ajudá-lo a mandar Kento para o inferno.

- Não. – Naruto se levantou. – Eu vou encontrar Kento primeiro. E eu lhe dou minha palavra de Hokage que vou matá-lo.

Naruto encarou Hanabi por um momento, então se lembrou de uma pessoa muito importante.

– Onde está o moleque?

- Hiashi-sama pegou Asuka nos braços, depois que Kento e os outros haviam saído, e provavelmente está tentando ensiná-lo a falar vovô...

- Você não sabe contar piadas, Neji. Então, nem tente.

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Naruto se ajoelhou, depositando o buquê de lírios brancos em frente à lapide.

- Oi Hinata-chan! – Ele tentou parecer empolgado, mas a verdade é que estava em frangalhos. – Vim aqui falar primeiro com você, antes de trazer o moleque. Você nem acredita no que está acontecendo na vila! – Ele riu, relembrando a cena. – Bom, nasceu a filha do Lee com a Tenten... – Naruto passou a mão esquerda nos cabelos, que estavam úmidos do banho. – Ela vai se chamar Sanae... E eu espero sinceramente que ela se pareça com a mãe, porque se puxar a cara feia do Lee... – Balançou a cabeça, expulsando os pensamentos que lhe vieram.  - Tomara que o moleque e ela sejam amigos. Quem não vai gostar muito é o Neji, mas contanto que eles não se casem... Acho que está tudo bem, não é? – Deu um sorriso forçado. – A vida para todo mundo continuou...

Naruto curvou a cabeça. Quando ergueu, a máscara que colocara para sair do hospital, finalmente ruiu.

- E a minha está sendo um inferno. Eu não sei mais o que fazer, Hinata. – Ele se sentou sobre a relva, o olhar distante. – Sei que tenho Asuka... Mas às vezes, nem o nosso filho é suficiente. Eu olho para ele, tentando ver você e... Não consigo! Dói demais, Hinata. Dói quando eu acordo e olho para o lado, só tendo uma parede vazia. Dói quando eu pego o moleque que coloca as mãos no meu rosto, arregalando os olhos, brincando comigo. Dói quando... – Naruto puxou ar, continuando a falar – quando eu penso na minha vida, no que ela já foi, no que ela é e no que vai se transformar. Eu não agüento mais de dor, Hinata. Me tiraram o ero-sennin... Ele podia ser um pervertido, mas me fez sentir humano... E quando encontrei o Sasuke daquele jeito... O meu irmão...

Lágrimas começaram a escorrer do rosto dele.

- E a morte da Sakura, na batalha final contra a Akatsuki... Minha irmã... Quando... quando aquilo aconteceu, eu achei que tinha chegado no fim do poço. Mas eu estava enganado, Hinata. Eu tenho vivido no fim do poço desde que eu toquei no seu corpo frio. Eu não consigo me sentir alegre de verdade. Quando, finalmente, ocupei o cargo de Hokage, eu só conseguia pensar: “Hinata-chan ia ficar orgulhosa do marido”...

Naruto se sentou, em seguida começou a alisar a fotografia da lápide.

- De todas as pessoas que eram importantes para mim, só o moleque é que está me segurando desse lado, Hinata. Eu não... não sei... Se alguma coisa acontecer com ele... – A brisa tocou o rosto do loiro, que não percebeu. – Eu não tenho mais ninguém, Hinata. Se alguma coisa acontecer com Asuka, eu não vou agüentar. – Fechou os olhos. – Eu... eu... eu vou desistir de tudo. Do cargo de Hokage, que eu tanto sonhei a minha vida inteira... Desistir desse sofrimento amaldiçoado que é carregar essa raposa dentro de mim... Desistir da minha vida...