Terminada a festa, é quase de manhã. Todos vão para seus aposentos descansar. Yasmin e Saga sentam-se na beira no vale, para ver o sol nascer de lá:

            - Saga, - diz Yasmin, virando-se para ele, apoiando-se em suas pernas – eu não agüentava mais ficar longe de você. Juro que tentei te esquecer, fingir que estava bem, mas não consegui...

            Saga a interrompe, pegando em suas mãos:

            - Comigo aconteceu o mesmo. Tentei esquecer todos aqui, minha vida aqui, mas não consegui. Se eu ficasse mais tempo lá, acabaria me esquecendo de tudo de vez. Quando pensava nisso, pensava em seu rosto, a dor era insuportável. Como eu poderia esquecer a pessoa que mais amo? – e pega carinhosamente no rosto de Yasmin.

            - Saga! – Yasmin sorri, com lágrimas nos olhos. – fiz dezoito anos, agora eu posso ser sua. – e se joga para cima de Saga, dando-lhe um apaixonado beijo.

            - Yasmin. – Saga se assusta e a afasta, fazendo-a sentar ao lado dele novamente. – Não pode fazer isso. Sou seu mestre.

            - Por que não posso fazer isso se te amo? Se sempre te amei. Só a você. A vida toda. E você me ama também que eu sei. Eu vejo. Eu sinto.

            - Yasmin...Nós temos um amor puro, tão bonito. Para que maculá-lo? Você é meu anjo. – diz carinhosamente, passando a mão no rosto de Yasmin.

            - Por que, Saga? Você ama outra pessoa? – pergunta Yasmin, brava.

            - Não se trata disso...

            - Eu não suportaria te ver com outra. – diz, abaixando o rosto.

            - Não, Yasmin, não amo outra pessoa.

            - Jura que nunca vai embora daqui? E nem que vai arrumar outra?

            Saga ri:

            - Juro, Yasmin, eu juro para você, meu anjo. – e abraça a menina.

            Yasmin acaricia os longos e belos cabelos de Saga. Só agora ela percebe que sua aparência está um pouco mais madura, aparentando ser pelo menos dez anos mais velho que Kanon. Saga também é bem mais magro que o irmão, mais ainda sim, uma magreza saudável.

...

            Na manhã seguinte, Yasmin acorda e olha pela janela, para ver a movimentação. Vê que Saga está com a turma de Kanon. Estranha. Desce para descobrir o que ouve:

            - Bom dia, Saga. – Yasmin dá um beijo no rosto de saga, que retribui:

            - Bom dia, meu anjo.

            - Cadê o Kanon?

            - Me pediu para ficar com a turma dele hoje. Disse que não se sentia bem.

            - Estranho. Vou subir e ver o que ele tem.

            Chegando no quarto de Kanon, a porta está entreaberta. Mesmo assim Yasmin bate:

            - Kanon, posso entrar?

            Ele faz sinal com as mãos para que ela entre:

            - O que é isso? – pergunta Yasmin, vendo que Kanon está arrumando algumas malas.

            - Eu vou embora. – responde, sem nem olhar para a menina.

            - O que? Você não pode ir embora.

            - Por que não?

            Yasmin se aproxima de Kanon, mas ainda sim ele continua sem olhar para ela:

            - Saga vai achar que você está indo embora por causa dele.

            - Não, não é por causa dele, é por sua causa. Vi você beijando-o ontem a noite.

            - Kanon... – Yasmin fica sem jeito – mas isso não é motivo para você ir embora.

            Kanon se irrita com as palavras de Yasmin, a pega pelos braços e a faz olhar para ele:

            - Como não é motivo? Você sabe que te amo...

            Yasmin o interrompe:

            - Kanon, eu nunca te prometi nada.

            - E por acaso Saga te prometeu?

            - Não. Mas não estou exigindo nada dele.

            - Também não te exijo nada. – diz, soltando os braços de Yasmin e voltando a arrumar as malas.

            - Está exigindo sim, no momento em que está indo embora.

            Kanon novamente encara Yasmin e diz:

            - Simplesmente não agüento mais isso. Tenho consciência do quanto fui bonzinho e desprendido durante todos esses anos, mas não dá mais. Passei cinco anos da minha vida só vivendo pelos outros. Eu cansei.

            - Não vai, Kanon. Não vai. – Yasmin se aproxima de Kanon e pega em seus braços, encarando-o, com lágrimas nos olhos. Kanon faz com que ela solte-o, pega em seus braços, encara-a quase beijando e diz:

            - Fico se você for minha. – mas não a beija, espera que a menina faça isso.

            - Não posso. – responde Yasmin, ainda encarando-a. – Não posso amar dois. Amo Saga.

            - Mas ele não te quer como eu te quero. Não te deseja como eu desejo.

            - Mesmo assim. Já jurei para mim que ficaria com ele, mesmo só como discípula.

            Kanon a chacoalha:

            - Você vai se arrepender muito ainda dessa decisão. Ah vai. Nós poderíamos cruzar o mundo. Eu conheço tantos lugares. Te levaria para ver os mais belos. Te amaria, te protegeria. Seríamos tão felizes, Yasmin. – Kanon solta Yasmin e vai até a janela.

            - Kanon, você não sabe como eu gostaria disso. Mas não pense que foi culpa do Saga, por ele ter voltado. Pois mesmo ele não voltando, eu não ficaria com mais ninguém. Já tinha tomado essa decisão.

            - Eu sei, por isso disse que estou indo embora por sua causa, e não dele.

            - Te peço novamente: não vá.

            - E eu respondo novamente: não agüento mais te ver e não te ter. Não dá mais. Cheguei no meu limite.

            - Kanon, eu vou ficar muito triste com sua partida, mas te entendo: se Saga arrumasse outra, ou se um dia ele arrumar, eu também não suportaria ficar ao lado dele. Então devo respeitar sua decisão. Seja feliz e apareça. Dê notícias de vez em quando, por favor. – diz Yasmin, com lágrimas nos olhos, e sai.

            Kanon senta-se na cama, furioso. Abaixa a cabeça e chora copiosamente.

            Yasmin chega lá embaixo e abraça Saga. Ele afana sua cabeça e pergunta:

            - O que foi?

            - Kanon vai embora.

            - Por que? – pergunta Saga, surpreso.

            Ainda abraçada a Saga, Yasmin responde:

            - Disse que cansou de viver só para os outros. Quer rodar o mundo, fazer coisas por ele.

            - Vou subir e falar com ele.

            - Entre. – diz Kanon, ao ouvir baterem na porta.

            - Por que vai embora, irmão?

            Kanon corre em direção a Saga e lhe dá um forte abraço, chorando muito:

            - Eu te amo tanto, e também à Yasmin. Você me conhece melhor que ninguém, irmão. Nunca fui de ficar muito tempo em um só lugar. Fiquei aqui cinco anos. Jurei proteger Yasmin e protegi. Até a ajudei a resgatar você. Agora que você está aqui, minha missão está cumprida. Chega.

            - Você está dizendo tudo isso e não mente, mas me esconde algo. Está indo embora por causa da Yasmin. No fundo, você ficou aqui, sonhando ficar com ela um dia, não é?

            - Como posso mentir para você, se sabe tudo. Sim, tem razão. Mas ela não me ama. Ela ama você, irmão.

            - Mas eu quero que ela fique com você.

            - Como assim?

            - Ora, as pessoas que mais amo, juntas.

            - Saga, você não pode exigir que as pessoas se amem. Ela ama você, não a mim. Eu conheço suficientemente o ser humano para perceber que o amor que ela tem por você é o mesmo que eu tenho por ela. O meu não é correspondido. O dela eu já não sei. Quem sou eu para te dar conselhos, mas lá vai: fique com Yasmin, ela merece ter seu amor correspondido. Sou testemunha do tanto que ela se dedicou por você. E você a ama. Talvez não admita por ela ser sua discípula e você achar isso errado, mas vocês dois merecem ser felizes juntos. E serão, tenho certeza. Agora, por favor, não perca mais seu tempo tentando me fazer ficar. Te amo. Adeus.

            Kanon dá um beijo no rosto de Saga e sai. Ele continua sentado na cama, pensando em tudo o que aconteceu desde que voltou.