Passa-se quase um ano desde que Yasmin e Kanon voltaram do Olimpo. Yasmin, pelo menos aparentemente, está mudada. Ela parece alegre, feliz. É sempre vista ajudando Kanon com sua turma:

            -Yasmiiiinnn! – é Shina, que chega gritando.

            - Fala, Shina, não vê que estou ajudando Kanon? – diz, apontando para ele.

            - Vejo que a aula já acabou. – Shina aponta para Kanon, que vem se aproximando, com a blusa nos ombros.

            - Tudo bem, Shina? – diz Kanon, sorridente, estendendo as mãos para ela.

            - Beeeemmm, mas não melhor que você. – diz, analisando-o de baixo para cima. Kanon ruboriza.

            - Shina! Que atrevida. – diz Yasmin, brava com a amiga.

            - Puxa, como vocês são caretas. Eu sei apreciar o que é bom, tá? Desculpa Kanon mas, saúde é o que não te falta. – diz Shina, rindo.

            - Para com isso. Você queria falar comigo, não queria, então vem. – diz Yasmin, puxando Shina. – Desculpa Kanon, até logo. – e saem.

            As duas amigas sentam-se à beira do vale.

            - Fala logo o que você queria.

            - Bem, chega de enrolar, né? – diz Shina, virando-se para a amiga, empolgada. – Mês que vem é seu aniversário...

            - Sim, maio. – Yasmin diz, com expressão pensativa, interrompendo a amiga.

            - É. Então. Nossa. Dezoito anos. Precisa ser especial. Eu já fiz, é uma data muito importante.

            - Sim. – responde Yasmin, olhando ao longe, com um prolongado suspiro.

            - Puxa, amiga, e você está tão bem. Sei que coisas materiais não são o mais importante, mas acho que você deveria pensar em algo especial. Você sabe do costume daqui. Todos se juntam e dão um mega presente. Fala pra mim, fala, o que você quer?

            - Shina, ainda não pensei nisso. Você sabe que não me ligo em nada material...

            - Só não vale pedir o Kanon. – diz Shina, rindo.

            Yasmin permanece séria e pensativa, como se não tivesse ouvido o que a amiga disse.

            - Maio...dezoito anos. – Yasmin abraça os joelhos e abaixa a cabeça. Depois olha ao longe e continua. – Sempre pensei que...quando eu estava em treinamento, longe dele. Meu pedido, meu desejo. Claro que queria estar com ele antes disso, mas minha última meta era passar meus dezoito anos ao lado dele...e agora...agora. – Yasmin abaixa novamente a cabeça. Depois olha para a amiga, com lágrimas nos olhos e continua. – Shina, você e todos são testemunhas do meu esforço. E eu juro, me esforcei o máximo que pude, por dentro e por fora...Mas não tem como esquece-lo. Não consigo esquece-lo. A vida sem ele é tão vazia que chega a ser feia. E dói, dói muito. – diz, batendo no peito. Shina a interrompe.

            - Mas, amiga, e o Kanon? Todos estavam pensando que vocês estavam se acertando...

            - O Kanon. Ah, o Kanon. Como eu gosto dele. Poderia até dizer que o amo. Como eu queria amá-lo. Fugir daqui com ele. Me casar com ele. Ter muitos filhos com ele...Como ele é lindo, amigo, agradável e gentil...

            - E por ele ser aparentemente igual ao Saga, achei que isso facilitaria as coisas...

            - Não amiga, penso até que isso atrapalha. Na verdade, nem acho ele parecido com Saga. Acho que por eu conhecer demais o Saga mas, quando ele sorri, isso me deixa muito triste. O único momento que vejo Saga em Kanon é quando ele sorri. Não que o sorriso seja igual, até porque Kanon tem um sorriso espontâneo e Saga até para sorrir parecia pensar antes...Mas, me dá medo, muito medo. Se eu ficasse com Kanon...tenho medo de enlouquecer. De ver Saga nele a todo momento e de desejar loucamente ficar com ele, até pirar.

            - Amiga. – Shina a interrompe. – não sei se te entendo muito bem mas, se você desprezar Kanon, pode se arrepender amargamente no futuro. Não encontrará outra pessoa que te ame tanto, que seja tão legal e que te trate tão bem como ele.

            - Eu sei disso...Kanon, eu amo como homem. Mas meu amor pelo Saga...sinto que é infinito, para sempre, para toda a eternidade. E o que é uma vida diante da eternidade?

            - E você disse isso ao Kanon?

            - Não, temo que ele me odeie por isso.

            - Mas, amiga, Saga não voltará mais. O que pretende fazer?

            - Ora, sou obrigada a ficar com alguém? Vou dedicar minha vida a Athena, a quem Saga dedicou a sua. Vou viver para esse ideal e, quem sabe, quando eu estiver bem velhinha e morrer, eu possa me reencontrar com Saga novamente.

            - Amiga?

            - Hun?

            - Saga sabe desse seu amor por ele?

            - Acho que não. Eu disse para ele várias vezes que o amava, mas acho que ele achava que era de uma maneira fraternal, se bem que amor é amor e eu o amo de todas as maneiras que se pode amar alguém...

            - Você o deseja?

            - Mais a alma que o corpo. Muito mais a alma que o corpo. Até penso que, se eu tivesse novamente a dádiva de estar ao lado dele e ele ficasse comigo, apenas como mestre, como sempre foi, isso já me faria bem feliz. Claro que eu me sentiria muito mais completa se ele me amasse como eu o amo, mas só o fato de estar ao lado dele, já seria tudo que eu sempre quis.

            Shina se levanta, coloca as mãos no ombro de Yasmin e diz:

            - Eu sinto muito por você, porque você vai sofrer muito ainda nessa vida.

            Yasmin olha para Shina, com olhar doce e diz:

            - Amiga: amar é sofrer. Só quem já sentiu amor de verdade sabe disso. E mesmo que às vezes o sofrimento seja quase insuportável, à beira da loucura, agradecemos aos deuses por tal dádiva: a de amar incondicionalmente. A de amar mais que a própria existência. Eu posso até fingir que estou feliz e satisfeita, para as pessoas não terem pena de mim, ou então não me encherem a paciência, mas no fundo, na minha alma, eu sei muito bem o que quero: quero o Saga.

            Shina sai, pensando em tudo o que a amiga disse. Yasmin continua ali, olhando para o vale, pensando na decisão recém tomada: a de que nada nem ninguém a separará de seu eterno amor.