Naquela manhã, Yasmin acorda sentindo uma angústia muito grande. Teme que algo tenha acontecido com Saga. Então corre para janela. Saga esta lá embaixo, treinando com sua turma. Ele olha para cima, acena e sorri docemente. Yasmin retribui o gesto, mas isso não alivia quase em nada sua angústia. Ela se distrai por alguns minutos, olhando para o céu. Respira fundo para ver se melhora. Nada adianta. Ela olha novamente para baixo. Fica reparando em Saga falando com as crianças. De repente, ele põe a mão na cabeça e se abaixa como quem sente muitas dores. Yasmin só tem tempo de pegar um roupão e descer correndo. No caminho, ele avisa Athena e Mu do que está acontecendo. Ambos a acompanham:

            - Saga! – Yasmin corre para acudi-lo, segurando-o em seus braços.

            Mu dispensa as crianças, dizendo que está tudo bem, que a aula já acabou e que eles podem entrar.

            - Saga, Saga, fala comigo!

            - Yasmin, meu amor... – Saga faz uma longa pausa e depois continua. – Eu te fiz uma promessa, tentei cumprir o máximo que pude. Eu nunca quis te decepcionar...

            Yasmin o interrompe, emocionada:

            - Não, nunca decepcionou.

            Saga continua:

            - Eu aguentei firme, o máximo que pude, e você sabe disso. Me alimentei, me esforcei, me mantive mentalmente são... – Saga faz uma pausa e aperta a mão de Yasmin. – Eu não quero te ver triste, por favor. Mas agora meu pai está me chamando, ele não pode esperar mais... Viva, seja feliz. Eu te amo...

            - Sagaaa! – Yasmin grita. Saga jaz inerte em seus braços.

            Kanon se aproxima, afasta Yasmin e segura o irmão. Ele tinha esperança de, como nas outras vezes, Saga estar respirando. Mas suas esperanças são vãs. Então, sem ter nem saber o que fazer, ele simplesmente abaixa a cabeça e chora copiosamente. Athena se aproxima, põe a mão em seu ombro e nada diz. Mu tenta, inutilmente, consolar Yasmin:

            - Yasmin, venha. – e a levanta do chão. Yasmin se apóia nele, totalmente sem forças e desorientada. Mu ainda tenta acalmá-la:

            - Venha, suba para seu quarto, vamos chamar o médico.

            Yasmin, depois de chorar bastante, entra em um estado de semi-choque: não responde a nada do que os outros dizem ou falam. Mu a coloca em sua cama e lhe faz companhia. Kanon fala com Athena:

            - O que vamos fazer, Athena? Como isso foi acontecer?

            - Kanon, ele já aguentou demais, melhor até que se tivesse tomado os medicamentos. Tenho certeza que fez isso por Yasmin.

            - Yasmin? – Kanon diz, preocupado. – E a Yasmin? Zeus do céu. – Kanon não sabe se sente mais pela perda do irmão ou pelo sofrimento de Yasmin.

            - Temos que cuidar dela agora, prestar atenção nela.

            - Onde ela está, Athena?

            - Mu a levou para cima.

            Nesse momento, os médicos chegam e levam Saga. Kanon sobe para ver Yasmin. Chegando no quarto, Mu está sentado ao lado de Yasmin, afanando seus cabelos. Ela está deitada, inerte, com os olhos fixos, como se sua mente houvesse se desprendido de seu corpo.

            - Mu, como ela está?

            - Eu estou preocupado, Kanon. Acredito que ela esteja em choque. Precisamos avisar o médico.

            - Eles estão ocupados com Saga agora, mas eu vou avisá-los.

            Kanon se aproxima de Yasmin.

            - Pode deixar que eu aviso. Faça companhia a ela. – diz Mu, e sai.

            Kanon se aproxima da cama de Yasmin, chorando muito. Fica de joelhos e diz, afanando a cabeça da menina:

            - Eu imagino o tamanho da sua dor, Yasmin. Eu trocaria, sem pensar duas vezes, de lugar com Saga, como você desejou naquele dia. Mas, infelizmente, eu não posso. Tenho que ficar aqui e sofrer duplamente: pela perda do meu irmão amado e pelo seu sofrimento. Eu faria qualquer coisa para que você não sofresse, meu anjo, qualquer coisa. – Kanon encosta a testa no peito de Yasmin. Ela continua inerte.

...

            Passa-se um mês desde a morte de Saga. Mu assumiu o posto de Grande Mestre e é um ótimo Pope, assim como Saga e seu mestre. Kanon assumiu a turma de Saga, além de continuar com a sua. Athena tenta tocar a vida na mansão para frente, mas todos sentem a falta de Yasmin, que não sai de seu quarto desde a morte de Saga, nem ao velório ela foi. O estado de choque passou, mas ela desenvolveu uma depressão crônica: não quer ver nem falar com ninguém. Ela come o mínimo porque as pessoas mais chegadas a ela praticamente a obrigam. Eles tentam animá-la, conversar com ela, mas ela come muito pouco e depois pede para ficar sozinha, e isso entristece a todos, principalmente Kanon.

            Todas as manhãs Kanon faz a mesma coisa: vai até o quarto de Yasmin, lhe dá um beijo na testa, a faz levantar da cama, se vestir e comer um pouco. Ela obedece, mas não responde a nada do que ele diz, e nem sorri.

            Certa manhã, ele fez o mesmo que em todas as outras, mas após ela comer, a obrigou a ir para a janela para ver a movimentação da mansão. Ele apontou para baixo e disse:

            - Vê, Yasmin, a vida continua. O dia está bonito, ensolarado. Você tem apenas 17 anos. É tão linda. – depois aponta para cima. – Olha, que céu limpo. Dá até para ver Zeus e seus filhos. E eles também conseguem nos ver, tamanha a limpeza desse céu. Saga pode ter ido lá, lhes fazer uma visita. Ele vai reperar que o céu está limpo, vai pensar em você e olhar para baixo. E o que você acha que ele gostará de ver? Sua amada menininha triste, trancafiada em seu quarto? Não, tenho certeza que ele procurará o ponto mais brilhante na terra, que é o seu sorriso: “Onde ele está? Onde ele está?” Saga pensará tristemente e irá embora... Então, Yasmin, sorria. Só com o seu sorriso, Saga poderá encontrá-la novamente. – Nesse momento, Kanon olha para Yasmin e ela está chorando muito.

            - Kanon. – ela diz, e o abraça, chorando copiosamente.

            Kanon se sente muito feliz. É a primeira vez depois da morte de Saga que Yasmin demonstra algum sentimento e diz alguma palavra.

            - Kanon, eu nem fui no velório dele.

            - Calma, Yasmin, isso não importa agora. Vem, vamos descer, falar com Athena. Vamos.

            Yasmin concorda e ambos descem. Athena não acredita no que vê:

            - Yasmin. – e corre para abraçar a menina. – Que grande felicidade te ver, que bom! – Athena sorri para Kanon, que pisca para ela.

            - Vamos lá para fora tomar um pouco de sol, Yasmin? – dia Kanon. A menina concorda e eles saem. Sentam-se em um banco em um canto do jardim.

            - Kanon?

            - Diga, Yasmin. – ele responde com interesse.

            - Apesar de acreditar em vida após a morte, eu ainda não havia conseguido pensar naquilo tudo que você falou. Você realmente acredita nisso?

            - Claro que sim, Yasmin, claro.

            - Então, onde você acha que ele está?

            - Eu não sei, Yasmin, eu realmente não sei.

            - E se a gente descobrisse onde ele está, você acha que teria como buscá-lo?

            Kanon sorri docemente e responde:

            - Eu não sei, Yasmin, mas eu juro pra você que se tiver um jeito de ir onde Saga está, nós vamos lá buscá-lo. É uma promessa.

            Nesse momento, Yasmin sorri como há muito não se via. Kanon não se contém. Lágrimas escorrem de seu rosto. Yasmin seca suas lágrimas, o abraça e diz:

            - Obrigada, Kanon, não sei o que seria de mim sem você.

            Kanon chora ainda mais e diz:

            - Não tem o que agradecer, Yasmin. Você me salvou uma vez, agora é minha vez de retribuir.

            Yasmin sorri, feliz. Kanon continua.

            - Você e o Saga são minha única família. Jurei dedicar minha vida a vocês. Obrigado por me permitir cumprir essa promessa.

            Yasmin está tão esperançosa que até mesmo se permite brincar:

            - Família, e o que eu sou sua?

            Kanon ri, um tanto sem jeito:

            - Esposa?

            Yasmin toma um grande susto, mas leva na brincadeira e quase tem um ataque de riso. Kanon, no fundo, não gosta de ela ter levado aquilo tão na brincadeira, mas está feliz demais para se irritar com alguma coisa, até porque foi ele que começou com tudo aquilo. Yasmin diz:

            - Até me fazer rir você conseguiu. Meu Zeus. – e dá um beijo no rosto de Kanon.

            Depois Yasmin olha para o céu, aponta para ele e diz:

            - Saga, nós vamos te buscar. É uma promessa.