Muito além do Desejo escrita por LoaEstivallet


Capítulo 18
OUTTAKE - O passado por Edward Parte I


Notas iniciais do capítulo

Oie gente! Pois é, depois de anos de concluída eu volto pra presentear vocês com o ponto de vista de Edward, em relação a tudo que aconteceu no passado. Com esses outtakes ficará mais fácil entender o que ele realmente viveu, sentiu e enfrentou.

Sem mais delongas, segue o cap!



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Eu precisava tirar aquela maldita dúvida sobre logaritmos. Era o único assunto de matemática no qual eu me perdia às vezes. Ainda assim eu nunca permitiría que alguém, muito menos o esnobe do Tyler Crowley, o maior nerd da turma, me batesse naquele desafio.

Estava marcado para as nove, e já eram oito e meia. Eu ainda tinha que tirar a maldita dúvida ou ariscaria a chance de esfregar minha inteligência superior na cara daquele panaca.

Me apressei pelo corredor estreito folheando o capítulo com os exemplos, totalmente concentrado.

Foi quando o acaso (ou como eu gosto de encarar, a “providência divina”) a fez se esbarrar em mim.

No momento do choque, tudo que eu pude pensar foi:

Mas que merda!

Então eu olhei para frente, puto da vida, assim que cai sentado no chão. E toda a minha irritação evaporou, rápido o suficiente para impedir o jorro de impropérios que já estavam pra sair de minha boca.

Ela não era linda.

Ela era... Eu não tinha palavras pra descrever aquele rosto.

Sua pele quase translúcida parecia cremosa e macia, e a fazia parecer esses seres mágicos e efêmeros que só imaginamos existir, com seus traços delicados e sua forma suave.

O cabelo era uma cascata de cachos largos, o tom negro me lembrando um céu noturno sem estrelas, ou uma noite de lua nova, muito escuro e brilhante, e parecia muito sedoso. Me fez ter vontade de enfiar os dedos por ele e sentir a textura.

O que tá acontecendo comigo? Pensei atordoado. Porque eu tava tão imediatamente fascinado por uma garota desconhecida?

Ela me olhou, claramente constrangida, e seus olhos quase me fizeram perder a sanidade.

Eram os olhos mais lindos, mais encantadores que eu já tinha visto na vida... Me lembrou chocolate, derretido, doce, e praticamente me fizeram provar o gosto, sentir o perfume.

Eu estava completamente embasbacado. Me perguntei se ela não me acharia meio retardado. Tinha certeza que estava encarando ela com cara de maluco, mas não pude evitar.

– Me desculpe, eu... – Ela falou me despertando de minha “viagem” insana. Sua voz era branda. Suas bochechas corando num tom perfeito e atraente de rosa.

Eu a interrompi, tentando desviar meu foco de seu rosto. Não fui bem sucedido.

– Não, me desculpe você... – Falei enquanto me colocava de pé, oferecendo a mão para ajuda-la a levantar – Eu vinha tão distraído que não te notei.

Óbvio que eu flertei. Era natural pra mim fazer isso quando qualquer ser do sexo oposto estava em minha frente. Mas no caso dela foi um flerte completamente diferente. Eu me senti meio desajeitado.

Uma sugestão de sorriso elevou o canto do seu lábio, e eu quase me vi babando.

Ela pegou minha mão, e eu senti como se o mundo tivesse dado um giro completo, 360 graus, e uma força invisível tivesse me pregado no chão, ali, naquele exato lugar, naquele exato instante.

– Normal – Ela murmurou desconcertada – Ninguém me nota.

Eu sorri com a frase enquanto ela largava minha mão, a minha totalmente relutante. Levei um segundo para absorver o sentido do que ela tinha dito.

O quê? Ela não tinha um espelho em casa? Era impossível alguém não notar ela!

– Eu não acredito muito nisso – Falei tentando controlar meu sorriso idiota – Você não é do tipo de garota que não se nota... Muito pelo contrário.

E minha voz saiu macia e sedutora como quando eu estava paquerando.

Bem, eu estava. Mas ela parecia completamente alheia a isso.

O tom de rosa nas bochechas da garota se intensificou, provavelmente envergonhada por meu comentário. Eu senti meus dedos formigarem de vontade de toca-la para verificar a temperatura nas maçãs de seu rosto. Ela parecia quente.

– Meu nome é Edward... – Falei como um paspalho, sem conseguir desviar os olhos de sua face de anjo.

– Cullen! – Ela completou num sussurro.

Eu não entendi a maneira meio assustada com que ela pronunciou meu sobrenome. Muito menos o fato de seus olhos terem ficado um pouco maiores e suas mãos terem automaticamente se tornado punhos. Ela estava com medo? Talvez com raiva?!

Claro que ela saberia quem eu era. Meu nome, e sobrenome, era conhecido em toda Forks por causa de meu avô. Eu era o neto mais velho do grande e temido Anthony Cullen, e seu principal herdeiro.

Tinha uma parcela de minha popularidade com as garotas do colégio que se aderia ao fato também.

Mas isso não seria motivo para ela ter medo ou raiva de mim, seria?

– E você é...? – Perguntei, ainda me questionando qual emoção sua atitude demonstrava.

– Isabella... Isabella Swan.

O nome era tão lindo quanto ela... Isabella...

– Prazer, Isabella. – Falei tentando manter o controle enquanto lhe estendendia a mão novamente.

Ela apertou minha mão com a dela muito rápida e fracamente, e eu me perguntei se ela estava se esquivando.

Enquanto isso meu coração parecia estar disputando uma maratona com minha mente. Eu não sabia dizer quem estava trabalhando num ritmo mais acelerado.

– Me chame de Bella... – A garota falou corando outra vez – Eu não gosto muito do meu nome.

Meu Deus! Tinha como aquela cor ser menos perfeita? Eu quase não podia mais controlar meus dedos de correrem para suas bochechas. Que diabos estava acontecendo comigo?

– Deveria... – Joguei charme. A garota devia estar pensando que eu era algum tipo de lunático, eu definitivamente não estava fazendo aquilo direito – É um nome muito bonito, assim como a dona. Mas acho que Bella faz mesmo mais sentido.

Tem mais haver com sua perfeição... Pensei sentindo um sorriso brotar em meu rosto.

Por acaso eu estava enlouquecendo? De onde estava surgindo aquilo tudo? Porque eu estava agindo como um demente?

Eu estava flertando de um jeito completamente sem noção. Me sentia intimidado por ela. E Isabella não parecia estar reagindo às minhas investidas. na verdade parecia nem nota-las. Aonde estava o Edward seguro e destruidor de corações?

Isabella sorriu, e então eu esqueci completamente sobre o que me debatia internamente.

– Você é do primeiro ano? – perguntei curioso. Eu precisava saber porque nunca a tinha visto pela escola.

– Não – Ela respondeu com um riso estranho, meio irônico – Eu estou no penúltimo.

Nossa! Como eu nunca a tinha notado? Por acaso eu estava ficando cego? Era impossível que ela já tivesse passado por mim e eu não a tivesse visto... Ela era impossível de não ser vista!

– E porque eu nunca te vi antes? – Expressei meu pensamento.

Só depois que a pergunta tinha saído notei o quanto soou como uma cobrança.

Quase me senti constrangido. Mas eu não seria Edward Cullen se tivesse.

– Talvez porque eu não faça parte da elite da escola. – Seu tom foi claramente irônico – Ou porque eu vivo escondida aqui, até que minha redenção chegue.

Eu simplesmente não entendi do que ela estava falando. Talvez meu cérebro tivesse fritado assim que meus olhos se conectaram aos dela. Afinal não era mesmo normal a maneira como eu estava agindo e me sentindo.

Eu ainda não tinha certeza se estava acordado ou sonhando. Talvez estivesse sonhando. Explicaria a perfeição da garota.

– Redenção? – Deixei minha dúvida escapar por minha boca.

– A formatura. – Ela respondeu num tom de obviedade e eu tive certeza absoluta. Ela estava me achando um retardado.

– Ah... – Foi tudo que consegui soltar, como um babaca – Você vai embora...

– Sim. Assim que conseguir concluir esse suplício.

Eu me senti meio estranho, meio perdido, meio atônito, meio confuso... A menina não parecia estar fazendo qualquer esforço para me fazer nota-la, como era muito comum às garotas agirem ao meu redor, mas ainda assim exercia um poder indescritível sobre mim... Eu não gostei de saber que ela iría embora, mas, por Deus! Eu mal conhecia ela!

Como eu podia estar sentindo tanta coisa diferente e ao mesmo tempo por uma garota que eu tinha acabado de conhecer?

Ela riu, e sua risada era tão linda, perfeita e delicada quanto ela... Meus pensamentos se perderam no esquecimento.

Eu a acompanhei, mas ri de um jeito esquisito, e tive mais certeza de que ela duvidaria de minha capacidade mental naquele momento.

Isabella se moveu para baixo, para pegar sua mochila, eu deduzi.

Segurei seus braços automaticamente, agindo como o cavalheiro que dona Esme me ensinara a ser. Fui praticamente nocauteado outra vez pela sensação que me tomou quando segurei sua mão.

– Deixe que eu faça isso. – Falei me adiantando para recolher as coisas do chão, lutando para não demonstrar o quanto estava sendo afetado por sua presença.

Assim que apoiei o livro em meu braço ela perguntou:

– Matemática aplicada? – Sua voz não era só descrente, mas escarnecedora também.

Eu deixei passar. Era bem comum as pessoas me subestimarem. Pensavam que só porque eu era um Cullen, tinha a vida garantida e não precisava estudar.

– Eu adoro matemática. Qualquer coisa relacionada com números e problemas a serem solucionados me interessa. – Falei completamente sério.

Ela pareceu ponderar por um segundo.

– Você será um ótimo administrador então... – Devolveu, agora num tom mais firme – ou contador, ou estatístico...

– Eu quero administração. Seguir os passos do meu avô é o meu objetivo. – Afirmei, e pude notar o quanto aquilo a surpreendeu.

Eu a observei por um instante.

Ela arqueava seus ombros para frente, os cabelos, muito provavelmente deliberadamente, caídos nas laterais de seu rosto escondendo parte dele, as mãos se retorcendo uma contra a outra, acreditei que inconscientemente.

Pude concluir que ela era tímida. Muito tímida e introspectiva.

Sua forma toda, seu corpo, sua postura, a maneira como ela estava ali, parada em minha frente, parecendo que esperava um ataque a qualquer momento, me deu a certeza de que ela era muito delicada... Frágil.

Senti um impulso curioso de protegê-la.

– E você... O que pretende fazer? – Perguntei, querendo estimula-la a falar mais.

Não só queria saber mais sobre ela, como estava quase atormentado pela possibilidade da conversa acabar. Queria mais tempo, ainda que não estivesse entendendo o motivo pra isso.

– Administração também. – Respondeu meio aérea.

Eu me perguntei se não estava sendo inconveniente. Talvez ela tivesse alguma aula, ou compromisso, e eu estivesse a atrasando.

Ela me olhava como se deliberasse sobre mim, me analisando, enxergando além do que estava ali na frente dela. Me senti exposto.

– Então você também é boa em matemática? – questionei um pouco cético, tentando distrai-la.

– Acho que sim. – Ela respondeu com a mesma seriedade com que afirmei meu objetivo – Eu... Tenho que ir. Tenho algumas coisas pra estudar antes do segundo horário.

A maneira como meu estômago se retorceu ao ouvir a última parte foi completamente estranha. Nunca tinha sentido aquele nível de insatisfação. Eu sabia que era porque ela estava claramente me dispensando, mas o nó que se formou em minha garganta não se tornou menos desconfortável por minha constatação.

– Tudo bem. Não vou te atrapalhar mais... – disse, surpreendentemente aborrecido e confuso – Te vejo por aí?

– Claro, claro – Isabella respondeu indiferente – A gente se bate pela escola.

– Tchau, Bella. – Eu disse, estendendo a mochila pra ela, completamente contrariado.

Pude sentir como se um vazio estivesse se rastejando lentamente sob meus pés, ameaçando me engolir.

Ela não pareceu notar minha chateação.

– Tchau. – Respondeu e virou as costas pra mim, completamente alheia à maneira como eu fiquei ali, paralisado.

Eu a observei se embrenhar por um dos corredores e sumir por uma das esquinas de estantes. Notei o quanto Isabella era meio desajeitada, seu andar hesitante me fazendo acreditar que ela tomava muito cuidado pra não cair.

Sorri, deslumbrado por sua maneira de ser. Ela era intrigante e única.

Mas meu sorriso rapidamente se transformou numa careta.

Porque eu me sentia como se uma luz muito forte tivesse acabado de me cegar? Como se a partir daquele momento eu não fosse mais ser capaz de ver coisa alguma, meu olhar ofuscado pela intensidade, pelo brilho luminoso daquela menina que eu nem conhecia?

Era assim que acontecia? Paixão? Ainda por cima “à primeira vista”?

Eu não sabia se sim ou se não, mas tinha certeza de uma coisa... Eu queria aquela garota como nunca antes tinha querido alguém...

Só depois de alguns minutos, ainda congelado olhando o nada e pensando em Isabella, me dei conta de que tinha um lugar onde deveria estar, alguma coisa que eu deveria fazer...

– Merda! O desafio! – Esbravejei enquanto batia com o livro em minha própria testa.

Olhei o relógio. Cinco minutos era tudo que eu tinha. Não daria tempo de tirar a droga da dúvida. Saí correndo da biblioteca.

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Eu entrei em casa completamente indignado.

Atirei a mochila na cama com raiva, xingando todos os nomes absurdos e sujos que conhecia.

– Edward! – Ouvi minha mãe bradar do corredor.

Baixei minha voz, não deixando de amaldiçoar cada uma das gerações de Tyler Crowley.

Óbvio que aquela merda de dúvida seria tema de uma das perguntas do desafio.

E mais óbvio ainda que eu, com a mente completamente absorta em Isabella, não tivesse capacidade alguma de raciocinar logicamente para responder com o mínimo de decência.

Esmurrei o travesseiro repetidas vezes, rosnando, querendo quebrar a cara do idiota que tinha me vencido. Depois bati com a cabeça contra ele, me punindo por ter me deixado distrair por algo que eu nem compreendia bem o que era.

Deitei exausto depois de extravasar, atirando meu corpo com força contra o colchão, a raiva ainda esquentando meu rosto.

Respirei fundo tentando me acalmar, ainda resmungando e me remexendo na cama de vez em quando. Liguei o som e olhei a janela, tentando me distrair. O sol lá fora estava se pondo, os últimos raios iluminando fracamente o céu e meu cômodo.

Ouvi o telefone tocar e minha mãe correr pelas escadas pra atender.

Alguns minutos depois ela batia em minha porta.

– Filho, a Tanya quer falar com você. – Disse com o aparelho já estendido pra mim.

Peguei o telefone, um pouco menos nervoso, e colei ele em meu ouvido.

– Está melhor? – Ouvi a voz suave de minha melhor amiga.

– Um pouco. Mas amanhã eu tenho certeza de que não vou me segurar.

Tanya riu.

– Ok. Mas... O que houve com você afinal, Edward? Parecia que tava em outro mundo... Aconteceu alguma coisa com os tios?

– Não, não. Eu só... Só tava meio distraído. – falei, imediatamente me lembrando da razão para minha dispersão.

– Percebi. – Ela falou desconfiada – Olha, amanhã você me explica tá? O John chegou aqui.

– Certo. Vai dar atenção ao seu namorado. Fala pra ele que eu mandei um oi.

– Tá. Até amanhã.

– Tchau.

Desliguei o telefone e me senti desligado do mundo.

Senti que a irritação tinha começado a dar espaço pra algumas outras emoções me dominarem.

Olhei pela janela outra vez, observando o céu quase negro... Lembrei dos cabelos dela...

O entorpecimento, o encantamento, a surpresa, a confusão, o desejo, a ansiedade. Tudo voltou com a potência de um murro na boca de meu estômago assim que pensei nos olhos daquela menina.

Isabella... Bella.

Meu coração assumiu um ritmo errático, e eu senti, completamente surpreso, um suspiro escapar por meus lábios.

Arregalei os olhos.

Eu nunca, nunca, havia suspirado por uma garota.

Mas imaginar aqueles olhos me olhando...

Um frio percorreu minha espinha e eu senti como se não pudesse respirar.

Minhas pernas pareciam feitas de gelatina.

Que porra tava acontecendo comigo?

Eu sabia bem a resposta, não precisava fugir de uma coisa que estava tão clara.

Eu estava mesmo apaixonado.

Eu, Edward Cullen, o pegador, o conquistador, o sedutor, perdida e completamente apaixonado por uma menina que tinha visto uma única vez.

Era realmente inacreditável.

Respirei fundo.

E o pior era que ela nem parecia ter se abalado com minha presença. Ao contrário das outras meninas, Bella não tinha ficado toda derretida e facinha pra mim. Ela definitivamente não era como as outras meninas do colégio, e eu estava ainda mais intrigado com ela por isso.

A ansiedade me pegou e eu tentei encontrar uma forma de me aproximar.

Eu a queria... Muito.

Precisava de uma desculpa.

Ela parecia estudiosa, inteligente... Talvez esse fosse o caminho. Pedir pra que ela me ajudasse em alguma matéria.

Ri com a ironia do meu próximo pensamento.

Ela tinha dito que era boa em matemática. Seria algo que tinhamos em comum, então quis usar isso a meu favor.

Pediria a ela pra me ajudar. No dia seguinte mesmo, não aguentaria esperar muito pra olhar de novo naqueles olhos.

Me atirei na cama outra vez, imaginando se ela aceitaria... Uma sensação gelada fez meu estômago retrair e eu soube... Essa menina ia mexer comigo como nenhuma outra.

***********************************************************

Eu cheguei na escola meia hora mais cedo que o normal, no dia seguinte. Era costume eu chegar atrasado devido à minha dificuldade em levantar da cama todas as manhãs, mas naquele dia estava ansioso o suficiente pra não conseguir dormir nem mais cinco minutos além do necessário. Como eu não tinha certeza se ela almoçava no refeitório todos os dias, não sabia seus horários ou as salas em que ela tinha aula, preferi não arriscar. Parei meu carro praticamente na entrada do estacionamento, e esperei sentado no capô.

Não fazia idéia do carro que ela dirigia, ou se ela tinha carro. Mas ali eu estava num ponto estratégico. Conseguiria ve-la mesmo que ela entrasse andando pelo portão principal, que ficava a pouco mais de dez metros de onde eu estava.

Doze minutos depois uma caminhonete vermelha caindo aos pedaços trovejou enquanto passava pela guarita, estacionando a seis carros do meu. Pude facilmente identificar os cabelos negros de Isabella dentro da cabine, e caminhei naquela direção, observando-a se preparar para saltar do carro.

Ela não tinha me visto. Estava de costas para o lugar de onde eu vinha, ajeitando a alça da mochila em seu ombro frágil e trancando a porta do veículo com a mão livre.

Eu me aproximei mais, parando logo atrás dela.

Só então me dei conta. Eu tremia. Tremia ridiculamente, como um mariquinhas.

Eu estava total e completamente nervoso, como nunca antes tinha me sentido. Meu estômago se retorcia dolorosamente, e tinha uma força me puxando de volta pro meu carro.

Eu estava com vontade de fugir?

Sim, eu queria correr dali e me refugiar em algum canto seguro.

Mas porque aquela garota me causava essas sensações? Eu parecia uma criancinha assustada e ela nem tinha se virado de frente pra mim ainda!

Absolutamente ridículo.

Então a próxima atitude de Isabella me surpreendeu, e desviou o foco de meu conflito mental e emocional.

A garota beliscou o próprio braço, os olhos concentrados no ato, as sobracelhas unidas numa careta.

Mesmo assim ela era absurdamente linda.

– Ai... – Ela gemeu baixinho, esfregando o machucado.

Aquele gemido fez um arrepio percorrer minha pele de cima a baixo.

Engoli em seco.

– Você é masoquista? – Perguntei caçoando. Na verdade estava tentando era me distrair de meu nervosismo.

Isabella se virou de frente pra mim, os olhos arregalados.

Ela tinha mesmo que me dar uma visão privilegiada de suas íris maravilhosas? Ela tinha alguma noção do que aqueles olhos me causavam? Ou de quantas horas eu passei tentando me afastar da lembrança deles pra conseguir dormir na noite anterior?

Claro que não Edward, não seja idiota! Me repreendi.

– O-oi... – Ela me cumprimentou hesitante – Eu só... Só estava testando uma coisa.

Com essa eu tive de rir. Mas não pude deixar de notar que ela parecia subitamente desconfortável com minha presença.

– Você é estranha, Bella Swan... – Flertei de leve, num tom divertido – E eu me sinto estranho perto de você...

É bem verdade que a última parte escapou sem querer, mas o que eu podia fazer? Ela estava me hipnotizando!

Lutei para retornar ao meu foco. Eu tinha um objetivo a cumprir ali.

– Eu queria saber se pode me ajudar... – Comecei cauteloso – Sabe, você disse ontem que é boa em matemática, e eu tenho tido alguns problemas com a matéria...

– Você afirmou ser bom com números... – Ela me cortou.

Meu Deus! Além de linda, delicada, intrigante e aparentemente inteligente ela ainda era perspicaz? Tinha como ser menos perfeita?

Putz. Eu meio que fiquei sem saber o que dizer.

Sorte que o dia anterior estava muito fresco em minha mente por motivos óbvios, então eu consegui encontrar meu argumento com rapidez.

– Eu disse que adoro matemática, que me interesso pela disciplina, não que sou bom nela.

Minha voz saiu relativamente segura, mas eu estava me sentindo pateticamente vacilante. Estava até controlando minha respiração, pelo amor de Deus!

Ela estreitou os olhos pra mim, logo assumindo uma expressão de entendimento.

– É verdade. – Sua voz saiu num sussuro e ela mordeu o lábio inferior em seguida.

Ela estava me provocando, só podia!

Ela não podia estar fazendo aquilo sem preceber o quanto era sexy, podia? Podia?!

Seu olhar era tão inocente, seu semblante tranquilo...

Não, ela não tinha a menor noção do quanto era tentadora...

Naquele momento eu queria poder ser os dentes dela, só pra provar o sabor da pele, que parecia bem macia e suculenta, de seus lábios...

Agora eu estou soando como um psicopata! Pensei.

Pisquei os olhos repetidamente para me manter lúcido. Com muito esforço consegui desviar meu olhar da boca para os olhos dela. O que não ajudou em coisa alguma.

– E então? Pode me ajudar? – Pressionei sorrindo.

Isabella demorou mais do que o realmente necessário para me responder, um pequeno vinco enrugando a testa. Ela parecia pensar muito sobre aquilo.

Meu coração se comprimiu de um jeito estranho e eu senti o ar me faltar.

E se ela recusasse?

Eu abri a boca para argumentar, jogar charme, pedir e até implorar se fosse o caso, mas ela me poupou do constrangimento.

– Tudo bem... – Isabella falou com um tom dúbio – Do que precisa?

Eu sorri, completamente aliviado e satisfeito.

Ela disse sim. Ela disse sim. Ela disse sim.

O mantra se acomodou em minha mente, e eu sabia que seria bem difícil tirar aquele sorriso bobo de minha cara, pelo menos até o final do dia.

– Eu estou com umas dúvidas em logaritmos... – Disse sem pensar, incapaz de perceber a ironia assim que a frase saiu.

– Certo. – Ela suspirou – Eu tenho aula agora, e vou ter até o terceiro horário depois do almoço, então... Que horas você quer me encontrar e aonde?

Agora? O dia todo? No meu quarto... talvez na minha cama... Foram as respostas que dançaram em minha cabeça, automaticamente. Um reflexo dos meus hábitos cafajestes. Mas eu me repreendi imediatamente por cada uma delas.

Bella não parecia ser como as garotas que eu normalmente pegava. Eu percebi como ela levou completamente a sério o meu pedido. Além do mais, sua delicadeza, sua suavidade, a doçura que eu enxergava em seus olhos, me fizeram certo de que ela, além de não ser facilmente conquistavel, merecia muito mais do que um encontro qualquer. Na verdade eu soube, no momento em que ela ignorou minha primeira investida no dia anterior (tudo bem que foi um flerte completamente desajeitado, mas, ainda assim...), que se eu fosse agressivo demais, claro demais em relação ao que eu queria, isso a assustaria.

Ainda tinha o fato de minha fama não ser das melhores no colégio, o que com toda certeza a colocaria com os dois pés atrás em relação a mim. Eu precisava ser cauteloso quanto à maneira com que agiria ao redor dela, ou ela acreditaria que estava sendo usada como as outras. O que não poderia estar mais longe da realidade.

O que eu estava sentindo ia muito além do desejo, era muito mais que um desafio ou uma simples conquista...

Eu nem tinha conhecido ela direito ainda, mas podia dizer com absoluta certeza que Isabella iria ser muito especial e importante em minha vida.

Eu a queria. Não por uma tarde, um dia ou algumas semanas... Eu realmente a queria. Pra mim.

E sabia que pra isso precisava ser cuidadoso. Muito cuidadoso.

– Às cinco fica bom pra você? É que eu tenho treino hoje, então só vou estar livre depois das cinco. – Minha voz soou implorativa.

Isabella sorriu (e que sorriso!) e eu só faltei derreter diante dela.

– Ok. Na biblioteca então? – Eu me limitei a assentir – Até mais tarde, Edward.

Ela disse, e foi se afastando, ainda me olhando, enquanto eu sorria pra ela, o efeito de sua voz dizendo meu nome reverberando por meu corpo.

Continuei ali até ela sumir de meu campo de visão, imaginando se eu teria alguma chance...

***********************************************************

Os fios sedosos escorreram de trás de sua orelha, cobrindo parcialmente o rosto delicado que eu fitava com uma concentração obsessiva.

Isabella passou o dedo indicador com suavidade neles, os posicionando no lugar novamente, enquanto eu suspirava pelo que seria a milésima vez.

Eu queria tanto poder passar os meus dedos em seus cabelos, cheirar seu pescoço, sentir a pela rosada de suas bochechas...

Deus, eu iria morrer! Teria um ataque cardíaco a qualquer momento...

Já tinha uma semana que nós estávamos naquilo, mas eu ainda não tinha tido coragem de chama-la pra sair, nem ao menos sabia como deveria fazer isso. Tinha muito medo de assustá-la.

E passar aquelas horas com ela, todos os dias, estava se tornando viciante e insuportável ao mesmo tempo.

Eu simplesmente não conseguia mais controlar a maneira como a olhava, intensa e insistentemente. Era certo que ela percebia que eu estava babando por ela, mas Bella se mantinha focada em me ajudar a compreender logaritmos, que devo confessar, estava entendendo cada vez menos.

Eu não prestava atenção em nada que ela dizia sobre a matéria, me concentrava apenas em sua voz e em seus gestos, me perdendo completamente em seu perfume, em seu sorriso, em seu olhar, nela toda...

Eu estava obcecado!

Contava as horas pra estar com ela e não conseguia me prender um segundo em qualquer coisa que fosse. Até o futebol estava sem graça!

Eu só pensava nela, só queria estar com ela...

– Eu posso te pedir uma coisa? – Perguntei num impulso.

E ai eu me dei conta de que não tinha jeito, eu precisava inventar alguma coisa pra fazer com ela, qualquer coisa, só pra ter Bella por mais algumas horas perto de mim. Nunca parecia suficiente duas horas na biblioteca. Eu poderia passar um dia inteiro com ela, um mês inteiro. Uma vida inteira.

Pega leve Edward... Não vai assustar a menina. Minha consciência me alertou.

Como ela não respondia, parecendo meio absorta, eu repeti.

– Posso?

Bella pareceu confusa, mas assentiu, os lábios convidativamente entreabertos.

Ah, como eu queria só toca-los... Já seria suficiente. Por hora.

Controle-se! Foco! Me repreendi de novo.

– Toma um sorvete comigo?

Foi o que me veio à cabeça naquele momento tenso.

– Hã?! – Ela balbuciou, parecendo não compreender.

– Toma um sorvete comigo, hoje, quando a gente sair daqui. – Falei devagar, morrendo de medo que ela recusasse.

– Você está me convidando para um encontro? – Bella me perguntou alarmada, e sua voz me pareceu incrédula.

Imaginei que tinha sido rápido demais. Eu devia ter assustado ela.

Oh merda!

– Não. – Me apressei a dizer, sentindo meu rosto esquentar – Ainda...

E mais uma vez eu deixei escapar algo que não devia. Mas era bom que ela começasse a entender que eu tinha intenções.

Percebi que ela prendeu a respiração.

Ela estava nervosa? Isso era bom ou mal sinal?

Droga, ela ainda ia me matar de tanta curiosidade...

– Bom... Tudo bem... Eu não vou fazer nada mesmo depois daqui. – Bella respondeu quase indiferente, mas eu notei algo como uma leve ansiedade em seu tom, e me senti um pouco mais confiante.

Sorri, sendo correspondido de imediato.

Ah, como eu queria tocar seu rosto! Eu quase não podia me impedir...

Respirei fundo, tentando demonstrar atenção quando ela retomou as explicações.

– Edward, não precisa, sério... – Ela falou pela terceira vez, rindo – Eu conheço Forks como a palma da minha mão! Além do mais são só duas quadras até minha casa... Sério.

Eu neguei com a cabeça.

Estávamos na frente da sorveteria, havíamos acabado de sair.

Não foi um encontro rápido, mas não durou o suficiente pra me satisfazer. Na verdade nem havia sido um encontro de verdade.

O fato é que eu ainda não estava preparado pra deixar ela ir. Parecia que naquela noite eu estava no limite de meu controle, eu precisava definir as coisas...

Não sabia bem como fazer isso sem assustá-la completamente, mas tinha de fazer, não ia esperar mais.

Tudo bem que eram apenas oito horas, e Bella tinha razão quando dizia que estava perto de casa. Mas eu não iria voltar atrás na minha decisão.

Eu havia argumentado sobre as ruas estarem desertas e escuras para convencê-la de que eu seguir seu carro até a frente de sua casa era uma atitude necessária. Eu a seguiria mesmo que ela não dissesse sim, como vinha fazendo todos os dias depois das nossas aulas, mas estava cansado de fazer as coisas escondido. Queria que ela me permitisse estar perto dela, fazer as coisas por ela, com ela. Queria sua permissão para me aproximar mais.

Então a verdade era que eu estava apenas usando uma desculpa horrível pra ter mais uma chance de agir.

Eu abri a porta da pick-up e ela entrou, negando com a cabeça, ainda rindo.

– Te vejo na sua casa... – Disse com um tom sugestivo.

Entrei em meu carro e logo seguimos pelas ruas nem um pouco perigosas.

Chegamos cinco minutos depois, e Bella desceu do carro com uma expressão estranha no rosto, talvez um pouco mais estranha do que a minha.

Eu estava completamente hesitante. Minhas pernas pareciam gelatina, e minhas mãos suavam. Eu estava tremendo outra vez.

Caminhei ao lado dela imitando seu silêncio, a mão coçando pra pegar a dela.

Bella subiu dois dos três degraus da escada de sua varanda, e se virou de frente pra mim. Eu parei na frente dela, plantando meus pés no primeiro degrau, retorcendo minhas mãos em aflição.

Eu havia parado ali de propósito, para que seus olhos estivessem no mesmo nível dos meus. Eu queria que Isabella enxergasse a veracidade em minhas palavras quando eu me declarasse pra ela.

– Foi legal... – Eu falei, me sentindo ainda mais estranho, mais intimidado com a proximidade.

– É... Foi legal... – Bella concordou, meio distraída.

Eu precisava tomar coragem pra falar o que eu tinha que falar... Que tava apaixonado por ela.

Não, eu não podia dizer isso assim... Sem uma preparação, eu iria assustar ela.

Eu precisava ser sutil...

– Eu gostaria de repetir a dose... Se você quiser... – Sugeri, tentando abrir uma brecha pra convida-la pra um encontro de verdade.

Bella apenas assentiu, seus olhos um pouco maiores e totalmente concentrados nos meus.

Eu não ia conseguir me impedir dessa vez. Não tinha como me controlar. Não com ela me olhando daquele jeito, seus olhos me puxando pra ela com uma potência esmagadora.

Eu vi minha mão assumir controle de si própria e realizar, finalmente, um de meus maiores desejos... Senti sua pele macia corar e esquentar delicadamente sob meus dedos, e minha respiração ficou presa em minha garganta.

A maciez da pele de Isabella era, de longe, muito superior à que eu tinha imaginado. E então eu queria abraça-la, pra ter certeza sobre sua fragilidade...

Me aproximei um pouco, bem devagar. Olhei fundo em seus olhos, mergulhando na profundidade deles...

– Você é linda, Bella... – Murmurei, incapaz de conter as palavras por mais tempo – Eu me sinto... Como se fosse sugado por seus olhos... Eles me fascinam...

E então eu não queria mais me impedir, não tinha mais forças pra evitar. Meus olhos estavam completamente presos nos dela e eu não pensava mais direito.

Estava sendo movido pelas emoções. Pela primeira vez na vida eu não tinha qualquer controle sobre mim mesmo.

Deixei minha mão escorregar até sua nuca, a envolvendo com um pouco de força.

Os olhos de Bella aumentaram ainda mais seu tamanho, e eu já não conseguia diferenciar suas íris de suas pupilas. Prendi a respiração num jesto involuntário, hesitando em expectativa.

Eu ia fazer isso devagar, para dar espaço a ela, caso ela quisesse me impedir.

Puxei seu pescoço lentamente, nunca deixando seus olhos. Ela não demonstrou resistência, e eu não podia estar mais contente por isso. Seu rosto estava a centímetros do meu quando soltei o ar num suspiro, e ela fechou os olhos, me dando sua permissão.

Quando senti seus lábios nos meus, foi como se explodisse.

Eu nunca saberia explicar aquela sensação, a maneira como meu corpo foi tomado por choques e formigamentos, como se uma corrente elétrica estivesse passando por mim. A forma como meu coração parecia querer abrir meu peito e correr pra ela, o jeito como minha respiração assumiu um ritmo descompassado...

Minhas mãos seguiram por conta própria até sua cintura, circulando o corpo de Bella. Então eu pude confirmar o quanto ela era frágil e delicada.

Precisei me controlar para conter o impulso de aperta-la com força contra mim.

Seus labios se moviam delicados, seguindo meus movimentos, pedindo cada vez um pouco mais.

Senti suas mãos delicadas, um pouco trêmulas e frias, envolverem meu pescoço, e eu não pude evitar a tentativa de aprofundar nosso contato.

Nossas bocas se encaixaram e eu soube... Bella tinha sido feita pra mim. Não existia outra explicação para a sensação de completude que senti quando nossas línguas se tocaram no mais breve dos momentos.

Senti que o limite entre o suave e o selvagem estava ficando meio confuso pra mim. Achei que era hora de deixa-la respirar.

Fiz uma força enorme pra liberta-la, me obrigando a ser o mais gentil possível ao quebrar o beijo.

A sensação que me tomou quando seus lábios abandonaram os meus foi completamente confusa. Um vazio incoerente me fez vacilar, quase me obrigando a puxar Bella de volta pra mim. Mas ao mesmo tempo eu me senti o cara mais sortudo do mundo.

Ela me queria, eu podia afirmar.

Sorri pra ela.

Nossas respirações estavam ainda descontroladas, e seus olhos me deslumbraram. Ela estava corada e sorridente, e seu olhar era brilhante.

Ela me quer... Repeti pra mim mesmo.

Não pude evitar tocas seus lábios com os meus repetidas vezes, roubando selinhos. Eu sentiria dor física se me afastasse dela agora.

– Agora eu posso confessar... – Sussurrei entre um selinho e outro.

Bella me olhou claramente confusa.

– Eu nunca precisei de sua ajuda com matemática... – Adimiti meio envergonhado e receoso – Não fique zangada comigo... Mas foi a única idéia que eu tive pra me aproximar de você... Eu não consegui tirar você de minha cabeça desde que a gente se esbarrou na biblioteca...

Bella arregalou os olhos, em surpresa, eu acreditei.

– Eu nunca senti isso, Bella... E tão rápido. – Desabafei. Eu precisava faze-la entender o que eu estava sentindo. E que era sério – Já fiquei com algumas garotas, mas... Não é conversa, acredite... Com você é diferente. Eu nem sei bem explicar...

Esperei pelo pior.

Que ela me empurrasse ou corresse dizendo que eu não valia nada. Mas Bella me surpreendeu.

Ela sorriu.

Um sorriso singelo que iluminou seu olhar. Suas mãos em meu pescoço fizeram um pouco mais de pressão sobre minha pele.

Imediatamente me senti aliviado.

– Tudo bem... Eu acredito em você. – Ela disse ainda sorrindo, fazendo meu coração palpitar.

Eu a abracei com um pouco mais de força e colei minha boca na dela outra vez.

Dessa vez não tive medo de aprofundar o beijo.

Ela tinha me aceitado.

A intensidade com que ela correspondia aos pedidos de meus lábios era bem clara. Significava que ela me queria como eu a queria.

Eu me perdi no tempo em que ficamos ali, abraçados, nos beijando e suspirando e trocando carinhos num silêncio cúmplice.

Apenas quando os faróis de um carro virou a esquina no final da rua, e Bella ficou repentinamente tensa, percebi que era hora de ir.

– Vejo você amanhã? – murmurei em sua boca.

Ela apenas assentiu.

– Seu pai? – Perguntei já me afastando, notando o olhar tenso que ela direcionava ao veículo que se aproximava lentamente.

– Sim – ela balbuciou – melhor você ser rápido.

Fiz como ela me pediu, insatisfeito por não ter conseguido um beijo de despedida. Entrei no carro e sai com ele ainda com os faróis desligados, pra não chamar atenção.

Cheguei em casa pisando em nuvens.

Tanya estava me esperando.

– Oi, maluco! Esqueceu que eu vinha? – Perguntou assim que eu me sentei ao lado dela no sofá da sala.

– Tan, eu beijei ela... – Falei com a voz meio arrastada – Eu beijei a Bella...

Tanya arregalou os olhos e se recostou no sofá.

Eu entendi a surpresa dela. Nem eu esperava que aquilo acontecesse tão cedo.

Tanya sabia de tudo, eu havia explicado a ela como estava me sentindo no dia seguinte ao meu esbarrão com Bella. Durante toda a semana eu comentei com ela todos os momentos que passava ao lado da menina, a maneira como ela se comportava e como eu agia.

Minha melhor amiga tinha total ciência de meus sentimentos, e estava me dando todo o apoio. Havia inclusive me aconselhado algumas vezes, mas Tanya era um pouco ousada demais e com Isabella eu sabia que teria de ser sempre muito cuidadoso.

– Nossa... – Ela murmurou olhando o nada – Isso foi rápido.

– É, eu sei... Eu achei que aguentaria ser mais cauteloso mas, não deu...

– E agora? – Tanya me perguntou, se virando de frente pra mim – Você vai namorar com ela?

– Já estou. – Falei num tom de obviedade, dando de ombros – Bella não é garota pra ficar, Tan. Além do mais, eu tô mesmo apaixonado.

– É, eu tô vendo isso... – Ela falou num tom que não reconheci – mas Edward... Você precisa ter cuidado, ao menos agora nesse começo. Sua fama não é lá muito boa e você sabe como aquelas meninas do colégio são invejosas e loucas por você. Elas vão fazer de tudo pra humilhar a Bella e atrapalhar o namoro de vocês se souberem... E eu acho, pelo que você me fala dela, que Bella seria facilmente envolvida numa trama pra separar vocês dois. E seu passado te condena meu amigo. Você nem poderia contestar as fofocas porque todas elas seriam verdadeiras...

Eu parei pra pensar um minuto sobre aquilo e conclui que Tanya estava coberta de razão.

Se Bella soubesse da metade das coisas que eu aprontei até algumas semanas atrás ela fugiria de mim, com absoluta certeza. E eu não podia, de forma alguma, perde-la. O simples pensamento já doía como ferro quente em minha pele.

– O que você acha que eu devo fazer? – Perguntei a minha amiga da vida inteira, completamente inseguro.

– Bom, eu acho que, pelo menos nesse começo, seria melhor você proteger sua namorada. E seu namoro. Tente não dar muita bandeira do que tá rolando entre vocês, pelo menos na escola. Isso vai manter afastados os olhos das sirigaitas. Agora, faça isso de uma maneira que ela não perceba, se não ela vai querer entender o porquê e você vai ter que explicar todo o seu passado tenebroso...

Tanya riu de leve e eu acompanhei ela meio sem graça.

Estava sentindo uma emoção estranha. Algo próximo ao medo, mas não entendi bem o que era.

– Certo. – Assenti – Vou fazer isso.

– E se lembre de me apresentar sua garota – Ela falou sorrindo – Eu vou te ajudar com isso, afinal você é meu melhor amigo.

Nós sorrimos cumplices um pro outro, e me senti agradecido à Tanya, que sempre me apoiava no que quer que fosse.

***********************************************************

As coisas correram bem pelos dois meses seguintes.

Eu e Bella não nos desgrudávamos. Passávamos todo nosso tempo livre juntos, e nos finais de semana tinhamos o dia inteiro só pra nois dois.

Eu estava no céu.

Ela era a garota mais especial que eu já tinha conhecido na vida. Amorosa, carinhosa, delicada... E muito, muito atraente.

Meu corpo queimava pelo dela, principalmente porque eu desejava ela como um insano, mas o fato de eu estar mau acostumado com minha prévia vida sexual ativa estava intensificando um pouco o meu desejo.

Obviamente eu controlava meus impulsos, com alguma dificuldade, era verdade, mas controlava. Eu queria que tudo entre Bella e eu fosse diferente de qualquer coisa que eu já tinha vivido. Já estava sendo, mas esse aspecto, eu queria que fosse especialmente diferente.

Bella não era uma garota qualquer e eu estava completa, absoluta e totalmente apaixonado por ela. E ela era virgem. Eu era o primeiro namorado dela, e tinha esperanças de que fosse ser o único. Então era tão importante pra mim, como eu sabia que era pra ela, que a primeira vez dela fosse realmente especial.

Como tínhamos pouquíssimo tempo juntos, eu decidi que o ideal era não apressar as coisas.

Eu ainda nem conhecia o pai dela!

Bella tinha um medo meio esquisito de que seu pai soubesse sobre nós dois, então eu simplesmente respeitava sua vontade e esperava pelo dia em que ela me apresentaria a ele.

Ela também não conhecia minha famíla ainda. Na verdade nós meio que estávamos namorando escondido. Só Tanya, que havia sido apresentada a Bella alguns dias depois que começamos a namorar, sabia sobre nossa relação, e nos ajudava.

Aquele era só mais um dia comum, e eu estava indo me encontrar com minha namorada em uma das praças que era nosso ponto de encontro.

Estacionei meu carro no meio-fio já vendo minha menina sentada em um dos bancos.

Saí do carro e me dirigi a ela quando a vi se levantar com uma expressão meio aborrecida e começar a caminhar para longe dali.

Como eu já estava próximo tive tempo de impedi-la, segurando seu pulso.

– Hei... Eu nem estou atrasado... Porque não ia me esperar? – Perguntei confuso.

Bella se voltou pra mim com os olhos cheios d’água, seu rosto tinha um tom de vermelho forte e seus lábios estavam cerrados numa linha firme. Ela estava com raiva.

Não entendi o motivo pra ela estar agindo daquele jeito e o medo me envolveu de repente.

Será que uma das garotas do meu passado haviam conseguido alcançar Bella? Mas ninguém, além de minha melhor amiga, sabia sobre nós dois!

– O que houve, Bella? – Perguntei já sentindo desespero – Está chateada?

– Você ainda pergunta? – A voz dela estava trêmula, mas pude ouvir nitidamente o aborrecimento em seu tom.

Meu coração se contorceu em meu peito. Segurei o rosto dela pelo queixo para que ela me olhasse.

– O que tá acontecendo? – Questionei com cuidado – Está aborrecida comigo? O que eu fiz?

– O que você não fez... – Ela disse, e sua voz estava quebrada.

– Eu não tô entendendo...

– Você tem vergonha de mim, não é? – Bella perguntou, e eu notei que ela estava com muita raiva.

Definitivamente não estava entendendo o que estava acontecendo ou o motivo pra ela ter me perguntado aquilo, mas fiquei absurdamente constrangido com a questão em si.

Eu vinha escondendo Bella de todo mundo e isso dava o que pensar, afinal eu não tinha falado a ela o porquê de eu evitar que fôssemos vistos juntos no colégio.

Como ela tinha chegado a uma conclusão tão ridícula eu não sabia, e até imaginei que alguém teria colocado aquela bobagem em sua cabeça. Mas o fato era que ela estava coberta de razão em sentir raiva de mim e desconfiar de minhas atitudes. Se eu tivesse parado pra analisar aquilo tudo com mais atenção teria chegado à mesma conclusão que ela.

Um sensação gelada correu por minha espinha e fez meu estômago se contorcer quando senti Bella se soltando de mim e andar apressada pra longe.

– Bella, espera... – Eu gritei desesperado.

Ela não olhou pra mim, nem parou de caminhar.

Eu caminhei atrás dela tentando alcança-la, estranhamente lento e desajeitado pelo medo que estava me consumindo. Eu não queria, não podia perdê-la.

Bella começou a correr, e então eu corri, e corri o mais rápido que pude para impedi-la de se afastar um milímetro mais que fosse.

Alcancei seu braço e a puxei, fazendo ela se voltar de frente pra mim.

– Escuta, droga! – Falei de um jeito um pouco rude, me apressando pelas palavras pra fazer com que ela entendesse – Eu tô apaixonado por você! Eu te amo! Não tenho vergonha, eu só quis te proteger, nos proteger...

– Proteger do quê? – Bella me perguntou esbravejando.

– Eu não tenho a melhor reputação do colégio, Bella... – Desabafei, ainda receando que ela fosse embora, desistindo de mim – Antes de você aparecer eu... Eu fiquei com muitas garotas... Garotas como eu, do meu círculo de amizades... Eu ando no meio dessas pessoas e sei como elas podem ser cruéis... Principalmente se sentirem que existe uma ameaça a elas...

Bella me interrompeu.

– Eu não sou ameaça a ninguém, Edward! Eu sou ninguém!

Meu Deus! Será que eu não estava demonstrando o suficiente? Ela não via o quanto era importante pra mim?

– Você é alguém pra mim... – Falei sentindo a intensidade que coloquei em cada uma das palavras me arrepiarem – Alguém muito importante que eu não quero arriscar perder... Eu tenho medo do que essas pessoas podem fazer pra me separar de você, apenas pelo simples prazer de te espezinhar por você não fazer parte da “elite”. Eu não me importo com o que eles pensam... Só não quero colocar em evidência o que tenho com você. Se eles notarem o quanto você é importante pra mim... Eu nem quero pensar no que eles são capazes... – Expliquei.

– E você quer manter amigos assim? – Seu tom era de desprezo.

– Eles não fazem por mal, Bella... Não são pessoas ruins. Apenas são assim, porque foram criados pra serem assim. Até pouco tempo atrás eu era como eles... Você me fez mudar... Mas eu não quero arriscar nosso relacionamento só pra fazer vista à escola toda que você é minha namorada... Eu prefiro...

– O quê? – Ela me interrompeu novamente.

– Não quero que a escola saiba que namoramos. – Repeti – Eu prefiro manter isso protegido.

– Espera... Você disse, namorada? – Ela questionou com a expressão confusa.

Não entendi porque ela estava me perguntando aquilo.

– É o que você é... Minha namorada. Ou não? – Agora era eu quem estava confuso.

– Eu não sei... Sou? Você nunca me pediu.

E mais uma vez eu notava o quanto eu estava sendo descuidado em relação a Bella. Ela tinha razão, eu nunca a havia pedido em namoro. Como eu assumi aquilo pra mim desde o nosso primeiro beijo, acreditei, estupidamente, que ela também teria assumido assim.

– Desculpe... Eu não achei que precisava. – Tentei me redimir – Eu não desgrudo de você... Achei que estivesse meio óbvio.

– Não me importo tanto com isso. Mas quando você diz “protegido” na verdade quer dizer “escondido”. E isso me mata. – Bella falou num tom mais calmo.

Eu me aproximei sabendo que que ela estava coberta de razão por pensar e sentir daquela maneira. Eu havia sido mesmo um idiota por não ter conversado com ela sobre isso antes. A abracei pela cintura.

– Eu posso exibir você pra todo mundo amanhã então, se você precisar disso pra ter certeza de que eu te amo...

– É a segunda vez que você diz que me ama... – Ela murmurou, corando.

Percebi que aquela havia sido a primeira vez que tinha dito aquilo a ela com todoas as letras... Em meio à nossa primeira briga.

– Eu te amo... – Repeti com toda a intensidade do meu sentimento – Muito. Eu nunca amei ninguém... E acho que nunca vou amar mais alguém além de você... – Confessei.

– Não me iluda, Edward...

– Não tô te iludindo... – falei com suavidade – Eu só não quero... Não posso perder você... Eu faço o que você quiser, Bella. Eu coloco no jornal da escola que estamos namorando... Eu só mantive segredo até agora pra nos preservar... Mas se você quiser...

– Tudo bem, Edward... – Bella me interrompeu mais uma vez, parecendo entender minhas motivações – Se você acha que é o melhor, eu confio em você...

Eu sorri, me sentindo aliviado por ela ainda estar ali, me querendo, mesmo depois de eu ter agido como um completo abestalhado. Tomei sua boca na minha com desespero, o medo de perder ela ainda me estremecendo.

Nós ficamos ali algum tempo, perdidos em nós mesmos. Mas mesmo depois que ela foi pra casa, e eu segui pra minha, o medo não me abandonou. Eu não podia nem pensar em perdê-la, isso me matava. Eu sabia que sem Bella eu nunca seria feliz.

Mais do que nunca eu precisava ser cuidadoso e cauteloso.


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Notas finais do capítulo

Me diga o que acharam! Amanhã ou depois posto a segunda e última parte, dependendo da resposta de vocês.

Beijos!