O Anjo Perdido escrita por VanNessinha Mikaelson


Capítulo 8
Capítulo 8. O Sonho




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Capítulo 8 – O sonho

A tranqüilidade da morada de Deus se fazia notar pela aparente serenidade de todos os que a habitavam. Não existia notícia alguma de conflitos internos desde que Samael fora expulso pelo arcanjo Miguel.

            Mas a realidade se anunciava como uma maldita praga que dividiria o mundo angélico. Nada de mais relevante havia. Apenas um terrível segredo descoberto até então. E era essa a hora perfeita para contar a Deus tudo quanto sabia a respeito do diabólico plano que alguns anjos tramavam.

  – Como, porém, o Senhor acreditará em mim? Sou somente um humilde servo de Seu exército... – perguntou-se ele, baixando a cabeça. – Talvez seja bem mais fácil se eu conversar com Uriel, ou quem sabe com Azrael? tornou a refletir. Mas era fato: Alguém teria de saber de tudo que armavam – concluiu.

  Ainda atônito com o que desvendara, o anjo decolou para um local no Terceiro Céu que gostava muito de contemplar. Os campos verdejantes, as límpidas e cristalinas águas, o brilho intenso da luz celestial – que lá pairava mais do que em outros lugares –, a brisa refrescante, enfim, tudo mais nesse local o fascinava. Ele sentou próximo à cachoeira de que mais tinha afeição e passou a meditar; pretendia que Deus lhe dissesse se acreditaria no que falaria, antes de tudo.

  Após instantes imprecisos de concentração extrema, o ser celestial foi abruptamente interrompido por uma falange numerosa – composta por no mínimo mil e duzentos soldados.

  Todos de armas em punho, vinham em direção a ele que, agora de pé, e também armado, procurava compreender os fatos.

  – Vieram atrás do pergaminho – pensou. – Não posso entregá-lo; essa é a prova cabal de que tramam algo contra o Pai e contra Seus filhos.

– Devolva-nos o que roubou ordenou o comandante da falange. – Eu não vou repetir...

  – Não, irmão. Aquilo é importante...

  – Não quero saber – interrompeu-o, de modo áspero. – Se não nos devolver o que é nosso por direito, seremos obrigados a tomar atitudes violentas.

  O anjo pensou por alguns instantes; analisava se seria salutar enfrentar uma batalha tão desigual. Mas não havia saída para ele. Se entregasse o pergaminho que guardava no bolso do manto que vestia, certamente seria morto depois.

  – Querem atentar contra Deus e contra a Criação – falava ele ao líder do destacamento. – O que pretendem com isso? O Pai promove mudanças significativas em nossa grande família, e vocês, desordeiros, que querem além de comprometer tudo que o Senhor criou?

– Tirar você do Céu! – bradou o comandante, que, com um aceno, ordenou aos soldados que partissem para cima do anjo.

  A partir daí, uma batalha sangrenta se desenrolou. Mesmo que fossem muitos contra apenas um, ele conseguia eliminar os irmãos rebeldes; sem, contudo, deixar de sentir em suas essências se eles estavam realmente certos de que queriam fazer parte de mais esse atentado contra os desígnios de Deus.

  Segurando a espada, de um violeta intenso, que contrastava com um branco puro, Castiel teve de matar muitos de seus irmãos – alguns foram amigos dele em tempos antigos. Agora, porém, a situação era outra e bem distinta. Não havia ninguém para ajudá-lo ali. Ele precisava se defender a qualquer custo. E não poderia entregar-lhes o pergaminho; se o fizesse, fracassaria em seus propósitos. Lágrimas desciam de seus olhos quando os atingia mortalmente.

A luta se desenrolara em uma localidade sagrada, envolvida com a energia de bondade que o Todo-Poderoso emanava das Alturas. Castiel tentou arrastar a batalha para um canto mais retirado do Terceiro Céu, ou, quem sabe, para fora do plano celestial, entretanto não obteve êxito. Inúmeros foram os anjos que caíram, ensangüentados, no lago próximo ao feroz duelo. Quando sobraram somente trezentos soldados da falange, Castiel foi pego por Ediel. A exaustão não o deixou prosseguir na luta.

  – Da próxima vez que tentar defender um Pai omisso, não continuará vivo. Mas sou generoso o bastante para deixar você ir para a Terra. Terá uma vida digna, porque é o que merece. Alguém como você, com convicções doentias e errôneas, não pode exercer o cargo ao qual foi promovido: o de Arcanjo de... Deus. A ingenuidade, bondade em excesso, e a forma como encara as coisas é tão patética, que será um excelente jovem, mas não permanecerá aqui. Antes, porém, vai me entregar a jóia preciosa de que preciso, não é?

  – Não – a resposta soou, curta e firme.

  – Ótimo. A escolha é sua. Torturem-no!

  Cerca de cem seres alados, que compunham o pequeno grupo, foram destacados para flagelá-lo. Após golpeá-lo por diversas vezes na cabeça, os desertores raspavam as lâminas de suas armas nas asas do anjo. Ele, porém, sequer esboçava alguma reação. Apenas mantinha sua espada presa à cintura.

  Castiel tentava tramar um plano para escapar das cordas que o detinham. Mas era inútil refletir sobre o tema. Os supostos irmãos o retalhavam de maneira tão implacável, que não conseguia se concentrar e divisar uma fuga bem elaborada. Muito sangue verteu dos ferimentos que ele tinha. Então, os rebeldes partiram para uma nova tática: passar as lâminas em locais já feridos. Nada, entretanto, o fazia se render. Frustrado e irritado com aquilo tudo, Ediel forçou os olhos e vislumbrou o pergaminho, que caíra ao chão, devido à tortura horripilante que impuseram ao ser celestial.

  Assim que o leu, para se certificar de que se tratava do mesmo documento que estava escondido na sala onde trabalhava, Ediel mandou que os soldados parassem de retalhá-lo.

– Acho que isso me pertence, seu maldito, ingênuo e inútil – o líder do grupo arrancou a arma de guerra que Castiel empunhara. – Você pagará caro por tudo que fez aos irmãos que matou. E, além do mais, se roubou nosso pergaminho, posso pegar sua espada e guardá-la onde ninguém a encontrará depois. Olhe bem para todos os planos criados por... Ele; nunca mais os verá de novo.

  O comandante da falange ordenou que os soldados se afastassem; sem, contudo, desamarrá-lo. E depois iniciou uma sangrenta forma de tortura. Com somente um golpe do tridente que empunhava, o rebelde Ediel perfurou-lhe os olhos. Primeiro o direito; depois o esquerdo. A extrema dor sentida por ele o fez gritar.

– Isso é para aprender a não me desafiar, anjo insolente. Agora não faz mais parte do Reino de Deus, ser patético! – em um rápido e violento golpe, Ediel lhe cortou a conexão divina com a Criação e o enviou ao planeta Terra, para que vivesse no físico do primeiro garoto que encontrasse.

  Ao mesmo tempo em que caía, Castiel perdia todo e qualquer contato com Deus e com os outros arcanjos, ainda que tentasse, desesperadamente, obter alguma resposta deles. E perdia, também, a memória angelical. Agora ele era um ser humano.

  Enquanto isso, Ediel levava a espada dele consigo e ordenava aos soldados que limpassem toda aquela bagunça. O anjo, por sua vez, registraria que Castiel fora enviado por ele a uma missão urgente em Plutão. Nenhum Arcanjo desconfiaria de absolutamente nada.


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